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quinta-feira, 29 de junho de 2023

UMA INTROMETIDA CANDEENSE.



 

     


 -----Para alguém que inicia uma dieta, e começa a ter resultados satisfatórios, nada melhor  do que ouvir alguém dizer: “Como você emagreceu"!? "Por acaso, está fazendo dieta?” ---Isso é uma observação agradável para quem tem passado fome, caminhando sem destino para se livrar da barriga, do mal estar e das inconveniências que a obesidade proporciona. --- Esse comentário que eu faço sobre esta questão, é porque já tive a experiência de ouvir alguém me analisar cara a cara num momento em que estive fazendo dieta.

     Eu sempre gostei muito de incluir na minha alimentação a beterraba. Faço uso desse alimento, constantemente, seja ela crua, cozida ou nos sucos. E como no Supermercado Teixeira há sempre uma diversificação maior de verduras, certa vez lá estava eu, a procura de beterrabas.

     Ao sair daquele estabelecimento, encontro-me com uma pessoa, há muito minha conhecida e que nunca me poupou com a sua franqueza ou com a sua ignorância ou, talvez, digamos, com a sua humildade. É quem eu costumo chamar de Rainha do Cochicho. Vive preocupada, constantemente, com a vida alheia. Chega às casas dos outros, em horários inconvenientes, se alguém passa com uma sacola por perto quer saber o que vai ali. Vendo-me, aproximou-se com aquela sua admiração desdenhosa:

 ----- Olá, Sô Armando, sumidão! Ondé qui o sinhor tem andado?

 -----Nesse tempo, minha mãe ainda viva e eu morando em Juiz de fora, tirava uma semana para passar com ela em Candeias. E respondi:

 -----Dias em Juiz de Fora e dias aqui em Candeias!

 -----Mintira, eu num tenho visto o sinhor aqui nas Candeia não, só se tá iscundi den de casa. O senhor sabe que eu dô nutícia, né---Claro que sei! E como sei!

-----Mais me conta uma coisa, que magreza é essa? O pasto lá de Juiz de Fora tá tão ruim assim?

 -----Não, é que eu estou fazendo uma dieta e já emagreci 10 quilos?

 -----Deis? Não, Sô Armando!  balança do sinhor tá robano. O sinhor num emagreceu isso tudo nunca. A barriga tá do mesmo tamanho. A anca continua larga. Só a cara que miudou um pouco.

 -----Não sô, eu me pesei em mais de uma balança...

 -----Engana eu que eu gosto, Sô Armando! ----  Bão, Miorou um poco. Mais tem uma coisa, Sô Armando, o senhor tá meio marelo, e o seu pescoço tá  pelancado. O lugar que pudia dechá, o senhor tirou que é na cara ,. Parece que até a vóis do senhor tá meia fraca! Essa bobagera de passá fome pra ficá magro. Eu, hein! Nem morta! Mais o que qui o sinhor come? O que vai levano aí dentro dessa sacola?

 -----Beterraba! Deu-me vontade de comer beterraba cozida, hoje. Isso é muito bom!

 -----Bão!? O senhor fala que esse trem é bão? Eu num como isso pur nada, Sô Armando! Sabe purquê? Eu era casada de pôco e fui cumê na casa da minha sogra. Eu nunca tinha visto esse trem. Cheguei lá tinha uma travessa cheia dessa porcaria com arface. E eu intrei naquilo. Cumi até; eu até qui achei bão. Tudo bem! Fui imbora, quando foi no ôto dia cedo eu fui no banhero. Assim que eu eu fiz a minha necessidade, eu dei uma olhadinha pra dar discarga no trem, e vi que era sangue puro. Eu quase murri de tanto susto. Meu marido tinha viajado e eu curri na casa da minha sogra. Mais o meu sogro é que tava lá querendo sabê o que qui eu tinha. E eu cum vergonha de falar que tava obrano o puro sangue. Fiquei naquele disispero!

----Vortei pa minha casa, rezava, rezava e pidia a Deus e Nossa Senhora pra me curar. Eu pensei que tava com doença ruim, daquelas bem braba. Passei uma noite in claro, chorando e rezano. No ôto dia a minha cunhada apareceu lá in casa eu falei que tinha obrado o puro sangue. Aí que ela me falou que era essa tal de beterraba que nóis tinha cumido. Ai intão eu nunca mais quis sabê de comê essa merda.

 ----Ah! Se eu pudesse contar quem é essa figura!

 Armando Melo de Castro

 

 

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