O bom comerciante já nasce
pronto. Nem sempre os exemplos podem ajuda-lo porque ele, às vezes, não tem o
temperamento suficiente para tolerar os fregueses dentro da sua maior
modalidade. --- O comerciante nato não perde a paciência com o freguês nunca.
Ao contrário está sempre a ganhar mais um porque esta é a sua meta. Para ele o
mesmo interesse que ele tem de vender a sua mercadoria ele tem de conquistar um
novo freguês. O comerciante é um lutador numa luta desproporcional; ele estará
vendendo a sua imagem para todos. Conheci em Candeias um comerciante que via e
atendia todos os fregueses que entravam em sua loja num só tempo. Ele sempre
tinha um bom dia, um aguarde um pouquinho, um sorriso e um olhar. Foi o
comerciante mais competente que eu conheci até hoje. Era o Vicente Vilela.
Aqui próximo de minha
residência tem uma feira, no Parque Halfeld, todas as quintas feiras. Trata-se
de uma pequena feira onde os feirantes oferecem os produtos diretamente de seus
sítios, vindos das cidades da região próximos de Juiz de Fora: leite direto da
vaca, ovos caipiras legítimos, frango caipira daqueles criados no terreiro,
enfim os produtos são muito bons e legítimos lá da roça. E eu gosto muito de
dar lá uma chegada logo de manhã para comprar algo do meu agrado,
principalmente o franguinho caipira, o queijinho de Minas artesanal, a goiabada
cascão e outras coisas mais. Uma forma que encontro de ir até Candeias sem sair
de Juiz de Fora.
Certa vez, quando cheguei lá,
vi numa barraca de um fornecedor desconhecido umas mexericas ponkan muito
bonitas. E o preço dessa fruta na quitanda nas proximidades estava 50% mais
barata. --- Eu então, num impulso natural, disse-lhe, o seu preço está muito
acima do preço de mercado... E ele me respondeu de forma muito desencontrada
com a de um bom vendedor. “Então vai comprar lá uai” ---
Eu fui saindo e a esposa dele
me chamou de volta com toda a educação e disse. Dependendo do tanto de mexerica
que o senhor levar eu faço uma diferença. Os nosso produtos são um pouco mais
caros porque nós temos a despesas de viagem para chegar aqui, não são produtos
que vem de longe, como lá na Quitanda, o senhor pode ver que são produtos que
vem do Rio de Janeiro ou então do Ceasa. Essas nossas mexericas foram colhidas
à noite pra chegar aqui bem fresquinhas. Deu um sorriso e me disse: “ Eu
garanto que o senhor vai ver superioridade nos nossos ovos, nas verduras sem
agrotóxicos, o nosso leitinho direto da vaca. --- E eu já estava aflito para a
mulher parar de falar para que eu pudesse começar a comprar. E comprei na época
80 reais de mercadoria, pelas mãos da mulher, enquanto o marido dela ficou
assistindo a compra e venda. --- Ao sair eu olhei para o homem e lhe disse, a
sua esposa é uma excelente vendedora, agora você precisa lembrar que eu já ia
embora depois de você ter me dispensado.
Ele ficou um pouco acanhado,
mas não disse nada. --- Todas as quintas feiras eu voltava lá na barraca dele,
e quando ele vinha me atender eu lhe dizia: Vou aguardar a sua esposa. E assim
foi por muito tempo, ele já nem me atendia, mas me cumprimentava. --- Certo dia
eu casualmente o encontrei na rua, ele me abordou dizendo: Eu tenho vontade de
pedir desculpas para o senhor, mas eu sou tão desajeitado que eu tenho até
vergonha.
Eu lhe disse, você tem uma
coisa que supera os seus problemas, é a vergonha e a humildade. Eu não tenho o
que lhe desculpar. Naturalmente você deve ter visto que o comerciante por
dentro de um balcão está lidando com todo tipo de gente. E ele é preciso
entender que antes de vender a mercadoria, ele estará vendendo a sua imagem, o
seu sorriso, as suas palavras. Você tem uma grande professora ao seu lado. ---
Fique tranquilo que a próxima compra minha será feita a você. E hoje nós somos
grandes amigos. E ele já me disse:
“ chega o tempo de mexerica
ponkan eu me lembro de você!”
Armando Melo de Castro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário