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quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O MEU AMIGO LULU.


Hoje, de manhã, ao mexer nos meus guardados defrontei-me com a foto de meu amigo, do meu grande amigo Lulu, um candeense polêmico, que tinha a língua solta, xingava os amigos sem fazer inimigos.

Lulu era aquela pessoa dessas abençoadas sem ser muito rezador. Lembro-me de tê-lo visto duas vezes na igreja; no dia do seu casamento, de terno marrom e gravata borboleta, quando eu ainda era menino e na sua morte durante a recomendação do seu corpo. ------ Mas com certeza Lulu foi um grande cumpridor dos desígnios de Deus. Bom filho, bom pai, bom marido, bom amigo e muito caridoso. ---- Falo sobre o Lulu com muita convicção porque convivi com ele durante uma boa temporada quando, aos 16 anos, trabalhei no seu Bar e Restaurante Pinguim, numa velha casa onde hoje esta estabelecida a Casa do Vaqueiro.

Anos depois, Lulu se transferiu para onde se encontra hoje o Restaurante da Cidinha. Ali ele trocou o nome de seu restaurante, de Pinguim para Bifão. ---- Nesse tempo eu já não trabalhava mais com ele, pois já me residia fora. Mas sempre estive presente quando me via em Candeias. 

Estar perto do Lulu era registrar um fato interessante ou engraçado todos os dias. Figura polêmica que não se engasgava com as palavras. Palavrão na sua boca era doce quando ficava nervoso. E principalmente no tempo quando, ainda bebia uns goles.

Com a morte do Monsenhor Castro, a paroquia de Candeias ficou totalmente desorganizada. Uma hora era padre de Oliveira, outra era padre de Campo Belo, de Cana Verdade etc. Não havia um pároco responsável. 

Nessa época a Diocese de Oliveira recebeu alguns sacerdotes vindos da Holanda, dos quais um deles foi designado para Candeias, era o Padre João. ---- Estatura alta, muito branco, meio careca, com um palavreado misturado de português e holandês. Esse padre resolveu fazer um curso de "não sei o quê" em Divinópolis, e como a renda da igreja pouco lhe dava, ele vivia numa lona danada. Almoçava no restaurante do Lulu, e quando lhe faltava dinheiro, falava abertamente com algum fiel: “Eu está com fome” e aquele fiel normalmente o levava a tomar a refeição daquele dia em sua casa.

Certa vez ele falou assim para o amigo Biribico: “Sr. Birabica: eu está com muita fome”. --- E como Biribico era um gozador disse brincando: “Pois eu vou levar o senhor para comer lá em casa”. E deu aquela gargalhada, ---- e o padre se esforçando para rir sem saber da graça, disse: “Eu vai achar muita bom”. E foi ai que o Biribico riu pra valer.

Certo dia, um freguês do Lulu, desses que vindo de fora e parecendo nunca ter entrado num restaurante, pediu um almoço e quando acabou de almoçar começou a chupar dentes. Era cada sugada que parecia até que ia sair dente voando de sua boca.

 Lulu detestava gente que chupava dentes e ficava limpando as panelas de seus dentes com palito depois de comer. ---- De repente o saco do Lulu começou a se entornar e ele se apróxima daquele cidadão e diz: “Olha aqui rapaz, cê qué chupá dente vá chupá na cozinha da sua casa. Isso aqui é um restaurante e chupá dente aqui num dá não”.
E o cara, levantou-se e ao pagar a comida, numa forma de revanche, pediu desconto, pois teria achado a comida não muito boa. Isso deixou o Lulu ainda mais irritado quando disse ao freguês: “Não precisa pagar merda nenhuma não, mas não volte aqui mais não seu chupadô de dente”.

Nisso vem entrando Padre João, com aquele seu jeitão tímido, falando tudo enrolado, e pediu para que lhe fosse providenciado um prato de comida: “Sior Lólu, favor arumá comida para mim, eu querer comida pouco sal, comida muito sagada faz mal. Na minha teurá eu comer comida pouco sal”.

Lulu que já se encontrava com uns goles na cabeça, puto da vida com o freguês que acabara de sair, disse: --- “Por que então o senhor não manda vir comida de lá”? "Ora essa! Quem vem de lá, tem que acustumá com o rango daqui, se lá come sem sal vai vê é porque num tem sal... É cada coisa que me aparece!!!!!".

Diante daquela tempestade o reverendo, sem entender direito aquele falatório do Lulu, assentou, aguardando a comida.

Lulu que tinha um coração de ouro veio logo beirar o padre e disse-lhe, a partir de amanhã vou temperar a comida do senhor separada. E o padre quase que assustado disse: “nô, nô, nô, eu acostuma... eu acostuma”... 

No final, ao pagar a conta Lulu disse: “Não é nada não padre...”. E o padre: " óh nô, nô, nô senhor Lólu!”“. 
---  E o Lulu: “Eu já falei que não quero o seu dinheiro padre, isso é para dar um alivio na sua pitimba. (já estava nervoso de novo)

E o padre João saiu um pouco sem entender. Mas no outro dia estava lá aguardando o seu prato novamente.

Armando Melo de Castro.

Candeias MG Casos e Acasos