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sexta-feira, 29 de maio de 2015

COMO É BOM O DESPERTAR DA INOCÊNC IA.




Esse cara da foto sou eu no ano de1964 quando contava 18 anos. Eu já tinha me curado um pouco da minha timidez e do meu tipão bobo. Eu já podia notar que bobo também era grande parte dos meus contemporâneos. Mas comparando-se com a rapaziada de hoje, eu ainda era um jacu. Pouco antes desse tampo uma vizinha minha me deu uma cantada e eu quase morri de vergonha. Acho que fiquei vermelho igual um tomate. Depois fiquei um bom tempo puto da vida comigo mesmo, por ter perdido uma oportunidade daquelas na vida.

No ano de 1962, aos 16 anos, no auge da adolescência, eu na busca do desconhecido me entusiasmei com o chamado correio sentimental. Eram endereços que os jovens colocavam nas revistas, juntamente com os seus dotes físicos a fim de trocarem correspondência. E diante disso, muitos namorados começavam por ai e muitos chegavam ao casamento.

Os jovens tímidos e bobos como eu gostavam muito disso. E eu ao folhear uma revista de fotonovela, captei um endereço desses e comecei a me corresponder com uma jovem de Belo Horizonte, residente na Rua Pitangui, 570, Bairro Floresta.

 Era uma carta por semana, uma ia e outra vinha. Quando eu ia até ao correio e tinha carta para mim era como se fosse um presente dos céus. (Naquele tempo não havia carteiros.) Foram mais de um ano ano de correspondência; as nossas vidas já teriam sido destrinchadas. Eu, um rapaz pobre, me preparando para ir embora para fora de Candeias, esperava apenas a maioridade, ou seja, completar 18 anos. Isso porque não havia para mim, futuro algum na minha tão querida  terra. Eu já teria feito de tudo e não via futuro.

E ela, a minha correspondente, era filha do dono de uma loja de materiais elétricos na Avenida Olegário Maciel 303 em Belo Horizonte. Sua família gostava muito de viagens por onde havia balneários. Passeava muito com os pais. Sua mãe, conforme ela dizia, adorava viajar e conhecer novos lugares. Ela estudava, mas não tinha nenhum objetivo sobre um curso definido. Às vezes dizia que iria ser médica, outra veze queria ser dentista. Eu às vezes me sentia tão pobre tão humilhado diante de uma vida tão rica. Uma vida, talvez sonhada por qualquer pobre. Mas diante das circunstâncias eu sabia que aquilo não passaria de uma simples amizade. Eu ainda não entendia que o coração tem certas razões que a própria razão desconhece. E assim fui levando aquela amizade de sonhos que só transita nas cabeças dos adolescentes. Até que num belo dia eu me vi em Belo Horizonte, após uma longa economia para fazer essa viagem.

Comprei uma camisa de gola rolê vermelha, um par de sapatos brancos; escovei os dentes com creme dental “kolinos,” usei desodorante Lever, ensopei-me de perfume, "Madeira do Oriente", besuntei os cabelos com brilhantina glostora, chupei uma bala de hortelã, treinei um sorriso no espelho de um velho guarda roupa, num hotel da Rua Curitiba... E assim, quando me senti o homem mais bonito do mundo, mais sorridente, tentando jogar o acanhamento fora, para bem longe de mim, sai até à porta daquele pobre hotel e tomei um taxi estacionado bem próximo, e como faz um rei, determinei ao motorista: Rua Pitangui, 570, Floresta...

Eu acho que nunca teria me sentido tão feliz na vida... O céu mais azul, o sol mais brilhante, quem sabe iria pintar o meu primeiro beijo? Afinal isso era sábado, eu iria ficar até no outro dia domingo. Teria economizado para essa aventura, centavo por centavo, e o bolso estava suprido. Parecia, até que eu estaria a caminho de receber um prêmio da loteria. O meu coração jovem batia diferente como nunca houvera batido. A cada metro que o carro rodava ele batia mais forte. De repente o táxi parou. O motorista morenão, tranquilo com um baita bigode carijó, estica o peito e diz: Rua Pitangui 570.

O meu coração nesta hora quase parou. Fui saindo sem pagar; fui chamado pelo taxista e paguei. Esperei o táxi se afastar. Aproximei-me bastante temeroso da casa do número 570. Tinha ali uma pequena árvore; fiquei debaixo dela buscando coragem para chamar na campainha, daquelas de botão preso no portal de entrada. Uma casa antiga, no alinhamento da rua e sem garagem; portas meio vermelhas; telhas coloniais. Um portão do lado. Vi sair por ele uma mocinha com uma sacola nas mãos. Ela era morena, bem morena de cabelo lisos. Após a minha averiguação vi que aquela cabrita poderia ser a Maria de Lourdes Felisberto... Assim era o nome da minha ninfa  encantada. A cor e os cabelos batiam. Mas foi impossível identifica-la apenas naquele lance. Finalmente criei coragem. Chamei na campainha, parece que o meu dedo tremia como se estivesse tomando um choque elétrico.

A porta se abre. Surge um senhor idoso de uns oitenta e tantos anos mais ou menos:

---Pois não, disse ele.

E eu meio engasgado, meio assustado, bobo inteirado, pergunto:

---Aqui mora a Maria de Lourdes Felisberto?

---Sim... Disse ele...
-
--Ela está?

---Sim, vou chama-la.

O velho adentrou-se para o interior da casa, e eu ali desesperado, ansioso, curioso, na maior aventura, então, da minha vida. Agora sim, agora o meu coração não batia ele apanhava. Ia conhecer a Maria de Lourdes Felisberto, há mais de um ano trocando correspondência, recebendo dela poesias, palavras carinhosas, elogios; dizia sempre que a minha boca era linda e que gostaria de beija-la um dia... Que os meus cabelos eram sedosos e de um castanho maravilhoso... Tudo isso observado segundo ela pelas fotos preto e branco produzidas por uma velha Kodak, a mim emprestada, pelo Vicente Melo, quando eu lhe comprava o filme. Ah! e como era bom ouvir aquilo tudo! Eu recebia aquelas palavras escritas com uma caligrafia meio quadrada, num tempo em que a letra bonita era chamada de redonda.

Era o momento! Meu Deus! Será que esse povo vai me convidar para entrar? Pensava eu! E ela será tão meiga quanto nas cartas, será tão linda como nas fotos. Naquele desespero emocional, surge uma senhora idosa cabelos brancos, gorda, um vestido preto de bolinhas brancas com a barra entre a canela e o joelho. Uns olhos esbugalhados, dentuça igual à Dilma...

---Sim senhor, pois não!

Eu queria falar com a Maria de Lourdes Felisberto!

---Sou eu, o que o senhor deseja?

E eu apavorado, disse, eu queria falar com a moça que me escreveu, com o nome da senhora!

---Ah! Isso é mais uma arrumação da empregada aqui de casa. Ela saiu agora eu a mandei lá na Olegário Maciel, na loja do meu filho. Você volta aqui a tarde ela sai do serviço às 4 horas.

Eu pensei cá comigo eu quero é que ela vai para o meio do inferno. "Égua veia!!!" Naquele momento eu tive a minha primeira desilusão de adolescente. Um tipo de sentimento que somente os adolescentes conhecem. Eu estava com raiva e com vontade de chorar. Agora eu só não sei se era vontade de chorar só de raiva.

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.

domingo, 17 de maio de 2015

UM PASSEIO PELO PASSADO.

                                                            Foto Clara Borges




Este texto foi transferido para o livro Candeias MG Casos e Acasos.

domingo, 10 de maio de 2015

O PRIMEIRO CHUVEIRO ELÉTRICO EM CANDEIAS.



O primeiro chuveiro elétrico que se tem notícia de ter sido instalado em Candeias, foi na residência do eletricista Américo Pereira, pai da Sra. Aparecida, esposa do Juca Melo. Isso ainda no princípio da década de 40, quando a “Usina do Bonaccorsi” ainda tinha Watts com sobra. Mas, à medida que a cidade foi crescendo, o consumo foi aumentando, e a Empresa e Força Luz Candeense, de propriedade do Sr. Celestino Bonaccorsi, foi ficando insuficiente e carente de investimento, essas inovações foram se tornando inviáveis; pois a potência da geradora mal dava para iluminar as casas.

 Além disso, estava sempre com problemas técnicos que faziam com que a cidade ficasse dias e mais dias aguardando a volta da iluminação. Nessas oportunidades voltava-se ao uso da lamparina a querosene. O fornecimento era limitado em apenas 200 watts para cada residência, através dos chamados “Pica-Pau”. O único aparelho que funcionava com essa quantia de watts fornecida era o rádio a válvula, caro e ainda um artigo de luxo. Portanto, a ideia do chuveiro só voltou à tona com o advento da Cemig.

 Até então a forma de tomar banho era bem diversificada. A classe mais aquinhoada usava o sistema de serpentina, um equipamento formado por uma chapa de fogão de lenha composta por um tubo por onde aquecia a água que era depositada num caixa de zinco, instalada nas imediações do fogão; dali canalizada para o cômodo de banho.

 --- Outras formas de se banhar era com o chuveiro frio, bacia ou caneco. Grande parte de pessoas tomavam banho apenas duas vezes por semana, ou seja, nas quartas feiras e aos sábados. Os homens lavavam os pés e as mulheres o famoso banho do tiaca-tiaca. Parece que as pessoas naquele tempo não tinham muito conceito com a higiene como nos dias atuais. Tinha um tal de meio banho durante a semana e banho geral aos sábados. Era comum ouvir falar isso. Uma roupa era sempre estreada no dia de banho geral. 

 Quando um filho começava a cochilar a mãe gritava logo: “Fulano, vai lavar os pés para dormir.” Aos sábados parece até que as pessoas estavam mais claras e polidas porque tomavam banho e trocavam de roupa. O sabonete mais popular era de marca “Carnaval” da embalagem verde. Muita gente tomava banho com sabão minerva. Desodorante era pomada Minâncora. O sabão mais usado para lavar roupa era o sabão preto, feito de ossada de boi, comprada dos açougues.

Roupa remendada era comum. As mulheres às portas de suas casas remendando roupas ouviam dos passantes: “Remende seu pano que ele dura mais um ano... Remenda outra vez que ele dura mais seis meses.”.

Hoje é o dia das mães. Quero lembrar aqui da minha mãe contando agora 87 anos de vida. Com a renda escassa do trabalho do meu pai, não tínhamos chuveiro em casa. Minha mãe fazia milagres, num tempo tão difícil que era. Vestia-nos com dignidade. Outros meninos poderiam ir à missa com roupas mais caras, mas nenhum mais limpo ou mais bem cuidado. Para a escola era aquela peleja de esquentar água e usar a bacia e posteriormente o caneco. E daí era feita uma imprescindível revista. Era a cabeça para ver se não tinha piolho, mãos e ouvidos rigorosamente verificados.

Obrigado minha mãe, hoje eu vejo o quanto você foi amorosa, cuidadosa, corajosa e heroica entre as paredes humildes da nossa casa. Grande beijo minha querida mãe e que Deus lhe abençoe.

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

DELICIAS DA ROÇA


Quem disser que em nossa cidade de Candeias não tem aonde ir para passar umas horas agradáveis com a sua família, estará enganado ou não conhece as “DELÍCIAS DA ROÇA”, localizada à beira da BR 354, KM 537 entre Candeias e Formiga, a 10 km do centro da cidade. Um local especialmente preparado pelo  Sr. Sudarinho e sua familia para atender as famílias que ali vão à busca de lazer e momentos de descontração.

Em “DELÍCIAS DA ROÇA” o visitante vai deparar-se com aquilo que é essencial na vida do campo. Uma ampla área de lazer e um ar puro junto de um grande lago onde se pratica a pesca esportiva; além de churrasqueiras e duchas e mais o serviço de bar, lanches e restaurante.



Pelo encontro com a natureza e do saboroso cardápio à disposição dos visitantes, a visita vira festa diante de delicias generalizadas. Produtos frescos e preparados com o carinho da dona da casa, como peixe frito pescado no local; galinha caipira criada ali no terreiro; carne de panela, essa tradição deliciosa da nossa famosa cozinha mineira; produtos de milho verde, como mingaus, pamonhas e os deliciosos bolinhos, também, uma tradição mineira. Queijos e doces caseiros variados e muitas outras delícias que poderão ser encontradas e que agradam todo e qualquer paladar. Tudo isso sem falar da cervejinha geladinha, variedade de bebidas e a famosa cachaça “João Cassiano”.

Todo esse requinte ambiental e alimentar é administrado e supervisionado em loco pelo casal proprietário cuja esposa Dona Rosalba é uma “expert” da cozinha mineira.

Os candeenses que residem em outras cidades não podem perder a oportunidade de quando em visita a Candeias, ir conhecer as “DELÍCIAS DA ROÇA” e lá passar algumas horas de lazer junto aos seus familiares e conhecer esse simpático casal proprietários da casa.

Almoço aos domingos com reservas através do telefone (35) 9951-5456 ou pelo E-mail: deliciasdarocamg@hotmail.com

Eu tenho certeza que você que ainda não conhece as “DELICIAS DA ROÇA” em Candeias, vai sentir-se numa fazenda comendo aquela galinha caipira e uma saborosa carne de panela, iguarias raras de serem encontradas e preparadas dentro do rigor tradicional.

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.


domingo, 3 de maio de 2015

A CONFISSÃO DE UM CANDEENSE.



                                                             

Um conterrâneo meu cujo nome guardarei comigo, desses que acha que todo mundo que anda limpo sabe tudo; que vai com a cara da gente e começa fazer todo tipo de pergunta, sem saber que a gente não sabe quase nada, me fez a seguinte interrogação:

---Sô Armando, o que é que é bão pá cocêra no saco?

Para uma pergunta fora dos padrões eu dei uma resposta, também, fora dos padrões:

---Unha, Unha é bom para coceira!

Ele deu uma risadinha e disse:

---Isso ai eu sei uai! Eu quiria um trem que é bão pá cocêra.

---E coçar não é bom?

---Mais num acaba uai!

---Você quer uma coisa que seja boa para coceira ou que acabe com ela?

---Eu quero é pará de coçá uai!

---Você então quer eliminar os ácaros?

---Acro?

---É o bicho que causa a coceira...

---Curuis credo!  Mais cumé qui eu num vejo nada?

---Eles são minúsculos, são tão pequenos que você nem os vê...

---Num intindi o que o senhor falô? Acro o que qué isso memo?

---Ácaro é o bicho que está causando a coceira no seu saco!

---Curuis credo, mais eu já oiei e num vi nada?...

Agora o sôr tá falano nesse tal de acro? Que Deus me defenda! Mais o quê qui pode dá cabo desse trem?

---Água! Água neles!

---Mais se ês é piqueno, eu nem inchego, cumé qui eu vô dá água pra eles?

---Lavando o saco com sabão! Eles detestam água com sabão. Quando você lavar o 
saco eles vão beber daquela água e vão morrer de nojo da limpeza.

---É isso pode sê memo Sô Armando! Eu vô fazê isso! E o sor num sabe, lá in casa tá todo mundo quessa diaba dessa cocêra. A muié intão! Tá in tempo de rancá o trem fora.

E já que ele imaginou que eu pudesse curar a coceira do saco dele, eu pensei, ele pode estar também, com uma puta de uma candidíase, e com tudo isso já deve estar com as unhas infestadas de toda essa lambança... Quer saber? Vou me esticar daqui antes que ele saia primeiro e venha se despedir com um caloroso aperto de mão. E nesse caso me apressei e FUI!

Armando Melo de Castro

Candeias MG Casos e Acasos