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sábado, 24 de novembro de 2018

ANTES DO VIAGRA CHEGAR.


Eu tenho a impressão que antigamente não havia tanta hipocondria entre as pessoas. Parece que o povo tinha mais saúde ou era menos preocupado. A medicina, por sua vez era bem atrasada, não existiam tantos remédios nas prateleiras de farmácias e a grande parte das receitas médicas eram aviadas pelos donos das farmácias e os preços não eram esses verdadeiros assaltos ao bolso do doente, como se verifica nos dias atuais depois que transformaram os nome de farmácias em drogarias.

Eu pertenço à era do chá. No meu tempo de criança era difícil tomar um remédio de farmácia. Às vezes, um comprimido de cibalena ou cibazol; fortificante; lombrigueiro feito de semente de abóbora ou bucha. Lombrigueiro do tipo sal de Glauber, sal amargo ou óleo de rícino. Esses purgantes eram tão fortes e ruins que os pais botavam boca-a-baixo nos seus filhos, no que deu o termo “goela a baixo” ---. Não sei, mas parece que o povo tinha mais saúde... Nesse tempo o ditado de que “De médico e louco, todo mundo tem um pouco” era bastante exercido.

No mais eram chás de folha de laranja;  chá de casca de lima de bico; chá de canela;  chá da casca de limão; chá de picão;  chá de hortelã; chá de gengibre;  chá de macela; chá de losna, chá de jalapa... Vejam que eu guardo ainda em minha memória uma verdadeira farmácia fitoterápica.  Eram tantos os  chás que o espaço aqui seria curto para expô-los. Antigamente a fitoterapia caseira é o que falava a verdade. Para cada problema existiam diversos tipos de medicamentos caseiros. Hoje em dia, por qualquer coisinha procura-se uma farmácia ou um médico. Toma-se um medicamento para um mal e cria-se outro, os chamados efeitos colaterais.

Não se conhecia o câncer. Dizia-se “doença ruim” ou então ulcera no estômago. Não existia essa quantidade de exames que os médicos pedem hoje e nem o corpo humano era tão loteado como nos dias atuais. Um médico especialista, praticamente só se encontrava em Belo Horizonte, ou em cidades maiores. No mais, era clinico geral. E mesmo quando o médico tinha uma especialidade, acabava exercendo o ramo da Clinica Geral.

Antes de existir o Viagra os homens viviam buscando fitoterápicos a fim de restabelecer a disfunção erétil.  Eles tinham as suas terapias para não negar o fogo às mulheres fogosas. --- Os afrodisíacos naturais em forma de frutas e raízes eram procurados. ----- Entre eles o jatobá, a casca da fruta ou do tronco em infusão ----  Era o chamado vinho de jatobá, uma fruta silvestre muito comum no cerrado. ----- Uma segunda opção era uma raiz de uma planta rasteira chamada “piãozinho”, colocado na pinga deixava esta vermelha. Muitos faziam uma garrafada das duas. Alguns homens que já não estavam “dando no couro” usavam e abusavam desse tipo de coisa

No sítio do Sr. Américo Bonaccorsi existia uma árvore com o nome de “Quentalha” diziam ser um “tiro” de boa para fazer o homem levantar a moral com a patroa. Certa vez eu perguntei ao Wandinho do Américo se essa árvore ainda existia e ele disse: “Mataram-na de tanto tirar lascas no tronco”.

Às mulheres um medicamento fitoterápico muito usado por elas para uma vida sexual saudável e os problemas ginecológicos, era a casca de barbatimão, principalmente para banhos de assento e banho íntimo. -----

Chico do Viriço, o curador, que falava muito alto, ---- cá de fora se ouvia o que ele dizia com os seus pacientes num quartinho do interior de sua casa, ----- disse, certa vez, a um casal de consulentes: “Se a muié fica muito tempo no banho de barbatimão, ela fica virge de novo”. E deu aquela gaitada... --- E o povo lá de fora, na sala ouvindo tudo. Imaginem a cara deles quando saíram lá fora hem?!

Quando a gente andava pelos matos, as árvores de barbatimão eram vistas com os troncos lascados. As lenheiras recebiam sempre essas encomendas de forma reservada, mas como língua de lenheira não tinha compromisso com o silêncio, elas davam sempre com a língua nos dentes, quem eram usuárias do produto. E ai a língua comia: fulana é larga...

Sendo visto um homem lascando o tronco de uma árvore de barbatimão, --- coitada da mulher dele ---- já o boato corria. A mulher do fulano é usuária da casca de barbatimão. ---- Portanto, isso era sempre feito às escondidas ou de forma astuciosa.

Eu era menino, mas tinha os ouvidos muito afinados e afiados. Lica do João Passatempo era uma lenheira que fornecia por encomenda as cascas de barbatimão. O feixe de lenha custava cinco cruzeiro e o chá de barbatimão era 3. E língua de lenheira não dava nó e nem cabia dentro da boca, as usuárias do barbatimão eram sempre comentadas.

Certa vez eu ouvi a Lica do João Passatempo, que era lenheira e atendia encomendas de casca de barbatimão, falar para Dona Ester, minha amiga, que a Aparecida Pitanga, irmã do Pedro Pitanga, dizia que num tinha um trem mais bão do que casca de barba timão para deixa-las apertadas.

 Eu que nunca tinha ouvido essa palavra guardei-a e muito tempo depois eu pude vir, a saber, o que seria buc... Tite. Pode ser entendido como algum problema de saúde, mas quem explica melhor é a etimologia da palavra de onde vem. --- Bem! Eu sei, mas não conto!...

 A mulher que não se engravidava, ou vivia brigando com o marido; se queria arrumar namorado... Essas gostavam era de um banho de rosas brancas.

 Armando Melo de Castro.





terça-feira, 20 de novembro de 2018

OS VIZINHOS.


Os bons costumes estão ligados a moral. Mas nas residências nem sempre está o morador ligado a moralidade. Seria necessário, por exemplo, que um morador, principalmente de um apartamento, entendesse que não é apenas ele que habita a morada; a morada também o habita apesar de não ser isso uma questão determinada. 

 É uma questão de consciência para discernir o que é moral e o que é moralidade. ---- A meu ver os bons costumes têm que estar de acordo com a moral ----- Saber se comportar a uma mesa; respeitar idosos: evitar barulhos, enfim por em prática os princípios da boa educação são os bons costumes que se juntam a moral como não roubar; ser honesto; ser honrado etc. ----.

 Meu pai sempre dizia que a política da boa vizinhança tem que ser bem administrada, porque o vizinho é o parente mais próximo. 

 Eu como gerente de Banco morei em diversas cidades, e convivi com diversas pessoas e nunca tive problemas com vizinhos, porque dizem que quando um não quer dois não brigam.  E, eu sempre procurei me enquadrar nos conceitos da moralidade. ---- Quando eu tinha alguma coisa que me incomodava, eu procurava um jeito amigável de resolver, como foi na cidade de Patrocínio, MG uma médica vizinha com um baita cachorro que latia debaixo das janelas do meu quarto e da minha gerência. Ali se localizava o canil há dois metros de distância da divisa. ----  O latido do seu cão perturbava-me durante o trabalho e durante à noite no meu sono.

 Eu conversei com ela a primeira vez, educadamente, porém ela não me atendeu. ---- Conversei a segunda vez e ela também não me atendeu. ---- A terceira vez eu bati pesado, e disse-lhe que daria a ela três dias para retirar o cão de debaixo da minha janela, pois caso contrário ele amanheceria morto e depois a gente iria resolver o problema na justiça. ----– porque na prefeitura não adiantaria minha queixa dada a sua amizade como médica da prefeitura e parentesco com o prefeito. -------

 No outro dia o cão sumiu. Ela mandou fazer, às pressas, um canil bem nos fundos do seu quintal, e eu passei a ter sossego. ---- Quero ressalvar, contudo, que jamais eu mataria o seu cão, isso seria contra o meu princípio de amor aos animais, principalmente aos cães. A ameaça foi apenas uma estratégia de guerra de um inimigo mais fraco. ----- Este foi, portanto, o meu único problema com vizinhos durante quase vinte anos de vida de cigano. 

 Já depois de aposentado, vim morar em Juiz de Fora, trazendo a minha filha para estudar.  ---- Aluguei um apartamento bem no centro da cidade, à Rua Barbosa Lima.  Escolhi com carinho o local, e o apartamento. Fiquei conhecendo logo no primeiro dia da mudança o vizinho dos fundos cuja divisa era um vão que separava as nossas janelas da sala e do banheiro. ---- Era ele um aposentado da Rede Ferroviária Central do Brasil, chamava-se Plínio, careca, estatura média, dentes bem tratados, camisa esporte e bermuda coloridas; sandálias de boa qualidade e um relógio de chamar a atenção. Era, o vizinho, realmente um tipo gente fina. ----- 

 E eu fiquei entusiasmado com ele. Perguntei-lhe pelos seus gostos e vi tratar-se de um contemporâneo amante da cervejinha, da pinguinha e do bolero e ainda completou dizendo que gostava de violão, cantar principalmente aqueles boleros de Gregório Barrios e Anísio Silva... Pensei: o cara é dos meus...  

 Diante da simpatia daquele vizinho e das parecenças de nossos costumes eu fiquei entusiasmado. ----- Mas o meu entusiasmo durou pouco. ---- Logo no segundo dia em que me mudei o porteiro já me disse: “Tomara que o senhor demore aqui Sô Armando. Naquele apartamento do senhor num para ninguém”.  ----  Pronto! Com isso eu já fiquei “cabreiro” O que será isso meu Deus!? ------------- 

 Como eu disse, havia apenas um vão que separava os nossos apartamentos – E todo o som do apartamento dele era como se estivesse acontecendo dentro do meu. --- No outro dia, já de manhã, quando ele estava no banheiro dava nojo à barulhada. Raspava a garganta como se estivesse raspando uma lama numa área cimentada. E aquilo não era rápido... --------

 Com uma semana de moradia, já vi que seria difícil aguentar aquele ritual de “raspação” de garganta, “escarração” no banheiro. E o pior: a “soltação” de flatos... Quer dizer de puns... ou melhor dizendo, para ser bem claro. A “peidação” daquele homem.  Eu nunca pensei que houvesse no mundo alguém tão peidorreiro. Ele peidava em todos os tons e em todos os sons. Na hora do almoço na hora da janta e na hora do café. Sua esposa era acamada há mais de dois anos. E pouco ligava pelos seus peidos. Era ele que cuidava da faina da casa.

 Sabe-se que um homem entre duas mulheres acaba sendo dominado. Minha mulher e minha filha, falando na minha cabeça dia e noite que não aguentaria mais quando havia pouco mais que uma semana naquela moradia... Eu saí logo procurando outro apartamento. Paguei multa contratual; não tomei cerveja; não ouvi boleros de Gregório Barrios, não pude ouvi-lo tocar violão... Ora o que eu queria era sumir daquele local.

 A.M.Castro.


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

APAGUE A LUZ GERALDO!



Nós mineiros temos o hábito de pronunciar muitas palavras pela metade; ---- ki de feijão; li de leite; pedá de carne; belezz! Cumpá Zé; cumá Maria e assim vai.  ----

 Até certo tempo eu não sabia que “li” era litro; que ki era quilo; pedá era pedaço; belezz era beleza; e cumpá era compadre. ---- Eu era, então, do tipo de uma anta; ou um tatu de galocha. ------ E o pior: eu não sabia disso. ------ Quando cheguei à capital de são Paulo em 1965, um danado dum paulista, a fim de me encher o sado, quando eu chegava à cantina dele, dizia: “Uai, vai cumê um trem mineiro?”.

 Geraldo do Orcilino e Dona Chiquinha era um casal muito amigo de meus pais, fato que os fizera ser levados para padrinhos de minha irmã Maria Amélia. ---- Dai então era cumpá Geraldo e cumá Chiquinha de lá e cumá Luca e cumpá Zé de Cá. Portanto, até certo ponto, aquele dialeto teria feito parte da minha vida.

 Geraldo era um cabritão alto, fala mansa, sempre usando camisas com mangas compridas e colarinho preso. Chapéu de lebre e bigode pirâmide. Era comerciante da Rua Professor Portugal, estabelecido com o comercio e residência onde hoje está o Bar do Marcelo. ---- Conhecido como Geraldo do Orcilino, mas o seu nome real era Geraldo Cândido da Costa. Pessoa de muitos amigos, que viera da roça ainda jovem, não sabia ler e nem escrever e aprendeu fazer isso sozinho trabalhando no comercio.

 Sua amizade com meu pai começou quando ele foi desertor do exercito. Sendo então uma pessoa recém chegada da roça, não entendia da gravidade de se negar ao chamado do exercito, foi considerado como desertor e preso em Juiz de Fora. --- Meu pai foi quem o apoiou e o acompanhou durante o tempo em que esteve preso. Dai nasceu uma grande amizade.

 Talvez fosse ele o homem que mais afilhados tinha em Candeias, tendo em vista a sua facilidade de fazer amizade e ser bom vendeiro. ------ Foi vereador em mais de uma gestão e foi homenageado com o seu nome na praça que fica no final da Rua Pedro Vieira de Azevedo.  Ele era tio do atual vereador, Jésus do açougue.

 A sabedoria do silêncio diz que devemos falar menos e ouvir mais. Mas meninos daquele tempo; --- do meu tempo --- só ouviam, não falavam nada. Porque se falassem eram repreendidos. E eu como menino silencioso e sempre em companhia do meu pai, ouvia os seus assuntos, em profundo silêncio, enquanto meu pai, naturalmente, imaginava que eu não os entendia. E muitos desses assuntos estão bem guardados até hoje em minha memória no que faço abri-la agora, para relembrar um pequeno diálogo entre meu pai e o seu tão amigo compadre Geraldo, numa tarde assentados num banco à porta da sua venda:

 

Meu pai: Eu fico bobo de vê como ocê combina tanto com a cumá Chiquinha cumpá Gerardo, o que cê arruma qui ocêis tá sempre rino?”. --- E o Geraldo dando aquela sua risadinha sorrateira de boca sem dentes, (não conseguiu se acostumar com a dentadura) --  começa:

 Cumpá Gerardo:  Muié cumpá Zé é um trem danado. Cê tem qui sabe cutuca nela. Se ocê cutuca no lugá errado ela num dá. --- A Chica é uma casquinha de ovo qui ocê num imagina. Mais cumo eu já sei as mania dela tudo, eu faço de jeito. ------ Na hora de nois deitá, se eu quero dá uma cruzadinha, eu vô divagá. Invento um assuntinho ou conto arguma coisa que eu sei qui ela vai gosta. Dai, vira e mexe eu pergunto se ela tá cum dor de cabeça. Ai ela já sabe que eu tô quereno fuçá, Ai intão ela já pega a baciinha e já vai pá latrina lavá as parte. ----- Ai eu tamém dô uma lavada nas parte, e já vejo que eu Tô no jeito de cumeça o sirviço ---- Se dá num dia que eu tô frôxo, ai intão eu é que tenho que me ajeitá e falo: hoje eu trabaei dimais, tô numa cancera danada! -----Nesse dia, intão, cada um vira pá parede. Ai, cumpá zé, é bunda cum bunda. ---- ôta coisa: As vêis dá num dia que eu cumi uma vitela, e o butão fica assanhado quereno sopra, eu saio dipressa e vô pá latrina e fico lá até isvaziá a caxa de vento.  Ôta coisa é o paquete. Muié quando tá de paquete cê num pode dá sinal qui tá quereno fuçá não, sinão elas fica danada da vida. A Chica dana a dá indireta que só veno.

 Meu pai: Ocêis fais isso é com a luiz acessa ou no escuro cumpá Gerardo?

E Geraldo,  dando aquela risadinha sorrateira de boca sem dentes de novo aremata:

 Cumpá Zé cê ficô doido! Se eu acendê a luis a Chica nunca mais me dá.

 Armando Melo de Castro

 


















quarta-feira, 14 de novembro de 2018

VAI SER CHATO TREM.


Viajando pela estrada de minha vida, fiz uma parada num ponto do qual eu guardo vivas lembranças de um fato que me ocorreu no principio dos anos 60, quando ainda eu era um adolescente.

Na década de 50 o correio brasileiro chegou a ser considerado o pior do mundo. Na década de 90 chegou a ser o melhor do mundo, segundo a Revista Forbes. ------- A partir da era PT, as roubalheiras nos correios foram tantas que hoje se pode dizer que os Correios brasileiros estão falidos, à vista do que foram.

  Naquele tempo o transporte das postagens era feito de trem. Os jornais chegavam às mãos dos leitores com até dez dias de atraso. Eles vinham com vagar, de trem, do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Eram poucos os assinantes.

As cartas e outras correspondências eram, comumente, extraviadas. Uma carta, por exemplo, para São Paulo, se não fosse aviada através de porte registrado, constantemente era consumida pela viagem. Remessas de dinheiro extraviavam-se, para onde? Só Deus sabe. E o pior, a responsabilidade não era arcada pelo correio. Não adiantava reclamar. Se reclamasse, ai então, a coisa piorava: os funcionários do correio detestavam reclamações.

Naquela busca de adolescente, querendo se firmar numa vocação ou numa profissão, eu, envolvido nas fortes propagandas que circulavam, resolvi fazer um curso de rádio por correspondência. ----- Matriculei-me, portanto, no até hoje, existente, “Instituto de Rádio Técnico Monitor”, de São Paulo. Pagava por mês CR$ 15, 00 e o quanto me era difícil o dinheiro para esse meu projeto!

Bastara-me uma só vez para que o meu dinheiro sumisse e eu desistisse de continuar estudando rádio. Foi uma frustração. Mas o que mais me chamava à atenção eram os funcionários da agência dos correios de Candeias. Eu não sei quantos funcionários têm hoje aquela agência, mas imagino que não se compara com o quadro daquele tempo.

Com o fato de incrementar o telégrafo na Agência de Candeias, teria vindo o telegrafista, Sr. Nelson e Chefe da casa. O governo teria criado diversos benefícios para os soldados da Força Expedicionária, na II Guerra Mundial. Os chamados pracinhas. Nada mais justo. Eram pessoas com problemas financeiros... Problemas psicológicos, etc. Mas, o governo os colocou nos interstícios dos correios; tivesse ou não vagas, lá entraram. Haviam também os apadrinhados políticos. E nessa leva a agência dos correios de Candeias, tornou-se num verdadeiro trem da alegria.

Os guerreiros beneficiados foram os Srs. Clovis Cambraia Alvarenga, e Humberto Pulhez. Teriam, com certeza, merecimento para receber um benefício do governo, tendo em vista trazerem consigo a maldição da guerra, ou seja, os traumas involuntários. Justo se vê, todavia, tratar-se de duas pessoas totalmente despreparadas para o cargo a que foram submetidos; apesar de louváveis e merecedores.

De outra forma, um remanejamento da ferrovia, foi levado para os correios o Sr. Ovídio Ferreira. Um cidadão, então, visto pelos jovens como esquisito, mal-humorado e excêntrico... 

Um carteiro fardado tal qual um soldado, teria ganhado o cargo como um presente político.  Para ter uma ideia, apenas o carteiro, naquele tempo, tinha um salário de vinte e quatro mil cruzeiros mensais e causava admiração em todo o mundo, como diziam, para entregar uma meia dúzia de cartas. Na época, lembro-me de vê-lo comentar que o seu salário era de dois mínimos e meio. E raramente ele era visto pela rua entregando alguma carta.

Grita-me aos olhos aquele quadro de funcionários da agência dos correios de Candeias quando eu lá chegava e perguntava humildemente:- -- Tem carta para mim Sr. Ovídio? “E uma seca resposta.” Não! Você já esteve aqui ontem!...” “Dá um tempo ai uai"!... Vejam só a incoerência daquele servidor, porque se a carta não chegasse ontem, poderia chegar hoje. Mas...

No outro dia, eu empanado na minha timidez, na minha vergonha e no medo da resposta perguntava de novo: Tem carta para mim Sr. Ovídio: "Não! Esse trem de rádio demora mesmo... Você vem aqui todo dia, vai ser chato trem"!

Vi que falava sério. Para o Sr. Ovídio que trabalhou muitos anos de sua vida na ferrovia, era um homem que morava sozinho, sem descendentes familiares, solteirão, não era de se estranhar o seu habito de tratar a tudo e a todos como trem.

Senti-me humilhado e para completar o dinheiro enviado pelo correio para pagar a prestação teria sido extraviado. Abandonei a ideia. E as raras vezes em que voltei ao correio, nunca mais me dirigi ao Sr. Ovídio. ---- Mas hoje agradeço a ele  uma lição de vida. Do lado de dentro de um balcão, fiz tudo para não ser um trem chato. A sua falta de jeito fez-me mais precavido. Foi um limão do qual eu fiz uma limonada.

Armando Melo de Castro


Candeias MG casos e acasos

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

ERA UMA VEZ, A CACHORRINHA QUICA.


O cachorro parece ser o animal que mais se identifica com o homem, em termos de convívio. A cada dia, o cão vem sendo mais amparado e integrado ao meio da família humana.

Quantas e quantas vezes, eu pude ver uma madama conversar com o seu cãozinho e dizer: "Filhinho, vem aqui, na mamãe!". E, normalmente, essas senhoras não tiveram filhos. Apegam-se ao animal de tal forma que passam a considerá-los como verdadeiros filhos. Eu fico, às vezes, pensando como pode uma coisa dessas. Por que não adotar um filho ao invés de um animal? Parece até que o cachorro substitui o homem apesar de não existir, entre ambos, nenhuma semelhança.

O focinho de um cachorro é gelado e úmido. E isso se explica porque ele não sua como nós. Portanto, ele sente muito calor. O cachorro está sempre ofegante. A rapidez da respiração lhe dá um alívio do calor através da evaporação pelo nariz.

O faro de um cachorro é incomparável. Enquanto 0 homem conta com cinco milhões de células olfativas, o cachorro tem mais de duzentos milhões delas.

Eu acho que é uma incoerência chamar algum humano de cachorro para qualificá-lo como errado ou sem vergonha.

Minha mãe tem uma família de seis filhos, dezesseis netos, dez bisnetos, um trineto e um cachorro. Alguém dirá que cachorro é cachorro e não é gente para ser considerado da família. Entretanto, quem tem um cachorro em casa jamais dirá isso e sustentará que o cachorro faz parte da família sim.

No princípio da década de 60, esteve residindo na Rua Vereador José Hilário da Silva, na casa onde reside atualmente a família do João Alemão, um cabo da Polícia Militar, então comandante do destacamento de Candeias. Naquele tempo, este destacamento era formado por apenas um cabo e dois soldados.

Fazia parte da família do militar uma pequena cachorra que atendia pelo nome de "Quica". A cachorrinha sem raça, melhor dizendo, era uma vira-lata de cor parda, com orelhas grandes e focinho comprido, tendo uma grande mancha preta na cara. Na rua, não havia quem não conhecesse a cachorra do cabo.

A Igreja Matriz, no tempo do Monsenhor Castro, era dividida ao meio através de duas grandes cancelas em suas naves. A parte da frente era destinada aos homens. E a parte de trás, às mulheres. Portanto, os homens saíam pelas portas laterais e as mulheres, pela porta principal. Não se misturavam homens com mulheres lá dentro da igreja. Isso quer dizer que um casal não assistia um missa juntos.

Imaginemos, há cinquenta anos, o término de uma missa dominical no horário das 10 horas da manhã! Era muita gente.

Ao terminar a missa, bem defronte à porta principal, havia um grande número de cachorros rodeando uma cadela no cio sendo acoplada, enfalada, penetrada por um enorme cachorro do tipo perdigueiro e que teria imposto respeito pelo seu tamanho diante dos outros candidatos àquele congresso sexual, ou melhor, aquela suruba canina.

As senhoras com suas almas lavadas, comungadas, imaculadas, ao sair se deparam com aquele quadro vergonhoso, pecaminoso para quem ainda sentia a fluidificação e o hálito do pão sagrado.

Diante daquele quadro, ouve-se um grito:

---"Quica!!!" O quê que é isso minha, fifia! Larga disso!

Era uma senh0ra baixa e gorda, morena de cabelos lisos em coque, cara fechada, uma voz forte, contando com uns 50 anos, mais ou menos. Era a esposa do cabo e dona da cadela. E continuou:

"Quica"! Vem cá! "Quicaaaaaaaaaaaaaa!!!"

Desesperada, a mulher se envolve no meio dos cachorros e dá um chute naquele que abusava da sua querida "Quica". Consequentemente, a manada se dispersa e o cachorrão sai arrastando a pequena "Quica", dependurada no seu engate.

Enquanto a dona da "Quica' corria, pedindo socorro para ela, as outras senhoras saíam como se não estivessem vendo nada, olhando para os lados contrários. E os homens apreciavam o espetáculo e comentavam.----- Posso ainda me lembrar de um comentário sucinto do Sebastião Redondo, antigo dono da mercearia, hoje, de propriedade do Divino:

---Bichinho safadinho é o tal de cachorro né?

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.












quarta-feira, 7 de novembro de 2018

ONDE ESTARÁ A RAZÃO?


Enquanto me ofusco em meio aos meus 74 anos de idade, vou vendo que à medida em que vamos vivendo vamos mudando de mundo para mundo. Para mim o mundo no qual eu me aportei em 1946, dele só restam lembranças. ---
O que é lamentável é que tudo muda. Menos o ser humano que continua pecando, roubando, matando, desrespeitando, explorando, mentindo, fingindo, traindo e muito mais que tudo isso.

O ser humano apesar de ser um animal racional ocupante do primeiro lugar na escala zoológica é um desigual entre todos e entre si.  ---- As pessoas se imitam fisicamente. Mas a ideologia do bem continua como uma grande falta humana.

Os conflitos de gerações continuam a cada dia piores. Os jovens continuam a não se entenderem com os velhos. Casais ainda se atracam, se separam se matam, se desrespeitam.

Lembro-me, na década de 60 a revolução musical deixou o mundo em pânico, foi quando eu comecei a entender do que seria o conflito de gerações. ---- Cabelos compridos, camisas vermelhas e musicas extrovertidas, tiravam o jovem de um mundo tímido e o colocava num mundo mais expansivo. ----
Eu experimentei várias mudanças no decorrer de minha vida até hoje. ---- Eu e minha geração usamos cabelos compridos, vestimos camisas vermelhas e calças apertadas; contudo tivemos que ouvir por causa disso, que éramos pederastas (viados) e porcos pelos cabelos compridos.

Hoje a minha geração corta os cabelos e não somos mais chamados de pederastas. ---- o tributo agora é a minha geração que cobra.

---No ano passado, quando eu viajava de ônibus, eu presenciei um cenário que me levou a uma reflexão: Na lotação do ônibus apareceram para o embarque três rapazes de estirpes diferentes, pois não se comunicavam entre eles e tomaram assento em poltronas separadas.

Os três usavam brincos de argola, barbas espessas, sem nenhum cuidado ou aparo. Cabelos compridos presos em forma de cocuruto. Não eram hippies, estavam limpos e de roupas bem cuidadas. Apenas um deles me chamou mais a atenção. Este vestia uma camiseta cavada, salientando os sovacos peludos e suados. Acompanhava-o uma jovem bonita, elegante e bem cuidada dando a entender serem namorados.

Tento buscar algo no rifão “Eu já fui o que tu és um dia tu serás o que eu sou.” ---- Quando a geração antiga nos chamava de porcos, pederasta etc. nós nem ligávamos. Pelo contrário, foi ai que teria nascido à palavra “Coroa” ----- para classificar os moralistas. ------- Hoje eu e meus colegas antigos, somos os coroas da atualidade, mas temos algo mais para dizer. --- 

As moças do nosso tempo não admitiram jovens porcos, e elas até nos defendiam das más línguas e diziam que cabelo grande não é porcaria. ----- Mas aquele jovem de camiseta cavada, com aquele sovaco cabeludo e suado, abraçando aquela moça bonita e asseada... Leva-me a perguntar a mim mesmo: ---- “Do meu tempo para cá quem mais piorou”? ---- O homem ou a mulher? ---- Camiseta cavada, sovaco molhado, barba tapando as narinas e a boca, e brincos de argola... Sei não, não dá para comparar não... Onde está a razão?! Eu sei, mas não conto.

Armando Melo de Castro.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

O VENDEDOR DE BROAS.


                                                                    





A broa é um alimento difícil de ser definido. Em cada ponto do Brasil, é conhecida por nomes diferentes. Para uns, é pão redondo; para outros, é um tipo de biscoito. Há quem diga que a broa é um bolinho. ---- Em Candeias, a broa é considerada uma espécie de quitanda e pode ser encontrada entre várias receitas de sal ou de doce. Qualquer quitanda que seja do formato de uma bolacha redonda pode ser chamada de broa. --- O dicionário do Aurélio define a broa como pão arredondado, feito de fubá de milho, arroz, cará, ou polvilho, etc. e ainda como uma pessoa gorducha. ---- No dicionário chulo, há quem diz que broa é sinônimo da vulva feminina.

Em Candeias, pode ser encontrado com facilidade um tipo de broa não muito comum no mercado. É a broa de amendoim. Eu, por exemplo, nunca a vi em padarias de outros lugares. Não conheço a receita, sei apenas que é muito gostosa e tradicional nas padarias e quitandeiras candeenses.

Ainda na década de 50 não havia calçamento e nem jardins no centro da cidade. Uma linha de postes de iluminação pública cortava o centro do chamado Largo. E, no local onde se encontra, atualmente, o coreto havia um poste com duas luminárias. Ali, era o ponto vigoroso da cidade, principalmente, nos fins de semana, com as atividades da igreja, e o movimento dos dois bares que existia (um no sobrado da esquina, do Leley irmão do Carmélio, e o outro ao lado do cinema, do Sebastião Cassiano.). Normalmente, nos fins de semana, havia duas sessões de cinema no Cine Círculo Operário São José.

A televisão nem sonhava de chegar a Candeias. Sair à tarde e ir para o Largo era um hábito de grande parte da população.  Os homens acomodavam-se nos bares e os jovens faziam a chamada avenida defronte ao cinema enquanto aguardavam os sinais da sirene.

Nesse tempo era muito comum o vendedor de rua, com balaios e tabuleiros. Muitas donas de casa faziam doces, pasteis, e colocavam à venda nos bares, mas um produto fresquinho normalmente era encontrado através dos vendedores de rua ou nas casas das quitandeiras. As padarias não tinham novidades como hoje. Era o pão de sal; o pão tatu, o São José (sovado) e a rosca de doce. E nesse movimento do Largo, sempre aparecia um vendedor de doce, ou outra coisa qualquer.

Debaixo do poste, acima citado, estava sempre um senhor magro com rosto miúdo, de chapéu de lebre, camisa surrada, de mangas compridas, mas bem cuidada, abotoada até ao colarinho que escondia o gogó; um bigode tipo Cantinflas, rosto bem escanhoado, vestindo calças bem frisadas e com as botinas bem engraxadas. Esse senhor atraia as pessoas pelo seu jeito de falar corretamente e os elogios que tecia à sua esposa. ---- Sob a luz do poste ele se postava com um tabuleiro cheio de broas de amendoim, colocado sobre um suporte, coberto com um pano bem alvejado. ---

 Algumas pessoas paravam próximo daquele vendedor para apreciar o seu jeito de falar e os elogios que tecia à sua esposa, à medida que fosse alguém se aproximando:

------------------Meus amigos eu vendo a melhor broa de amendoim. Feito caprichosamente por minha senhora, uma mulher muito asseada e entendida de broas.

Entretanto, mais do que a qualidade das broas e a higiene da esposa do quitandeiro, ênfase maior havia de ser observada na postura daquele cidadão humilde, no seu jeito de trabalhar. Gostava de falar ao pé da letra e, diante da sua simplicidade, a rapaziada nadava e rolava, colocando maldade no seu palavreado. Sem, contudo, deixar de comprar o delicioso produto. Todavia, havia sempre alguém puxando a conversa para vê-lo falar

----Como vai o senhor, Sô Juca?

----Na paz de Deus Pai e Deus Filho, vou bem, obrigado!

----E a patroa? Como vai?

----Com aquelas coisas de mulher, mas felizmente, vamos levando na Graça de Deus Pai e Deus Filho.

----Tem vendido muitas broas?

----Sim, na Graça de Deus Pai e de Deus Filho, tenho vendido todas. Tenho voltado sempre para casa com o tabuleiro vazio.

----É o senhor mesmo quem faz essas delícias?

----Não, senhor! Essas deliciosas broas são obradas pela minha senhora. Ela aprendeu com a minha sogra e a minha sogra aprendeu com a mãe dela. A fabricação de broas na família de minha mulher vem de longe. Todos nós somos chegados a uma boa broa.

---Faz muito tempo que o senhor vende a broa da patroa?

--Desde que vim para Candeias. Há uns dois anos, mais ou menos. E, Graças a Deus Pai e a Deus Filho, eu suponho que grande parte do povo candeense já conhece a deliciosa broa da minha mulher.

--Zé da Zenóbia, irmão do Mozart da Padaria, pai do Bola, era rapaz novo e um dia estava com umas pingas na cabeça e tomou um papo com o Sô Juca:

---Eu quero comer a broa da sua patroa é na sua casa, Sô Juca! Cumé qui fica?!

---Como é que fica? Vai ser o maior prazer servir o senhor na minha residência! Agora, escuta aqui, Sô Zé: acredito que o senhor não está falando com má intenção, não é? Um dia desses esteve aqui um filho de mulher da vida, um desses filhos que não conheceu o pai e na conversa ele misturou broa com precheca. Acontece que a minha esposa é uma senhora de respeito! E aquele que lhe faltar com o respeito eu o entregarei nas mãos do diabo, lá nos quintos dos infernos.

E o Zé, meio assustado, e com uma voz meio pastosa de quem tivesse tomado umas e outras disse logo:

---O que é isso Sô Juca?! Isso é brincadeira. Eu nunca comi broa não. Meu irmão tem padaria e eu num aguento nem vê o cheiro de broa. Precheca?! Eu nem sei o que é isso!?

---Vejamos, então, que o senhor está apenas me atordoando?! Pois, pode ir baixar em outro centro porque aqui não tem médiuns para recebê-lo.

Armando Melo de Castro

Candeias MG Casos e Acasos

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

OS ENFERMEIROS.



                    
                                                          ENFERMEIRO FRANCISCO JOSÉ VILELA BATISTA
                                                                                                   
Hoje, quando eu navegava pela internet deparei-me com uma postagem do meu amigo Francisco José Vilela Batista, o que chamou bastante a minha atenção. ----- Francisco que pertence a uma tradicional família candeense, a família Vilela, é filho da minha grande amiga e condiscípula do Grupo Escolar Padre Américo, Ivanilda Vilela e neto do nosso histórico seresteiro José Alves Vilela.    -----    Portanto, tomo a liberdade de reproduzir aqui, a sua postagem, e comentá–la:

Francisco José Vilela Batista
“Engraçado, postaram uma foto minha dormindo dentro do meu carro (pago com meu sagrado dinheiro) na porta do Supermercado Faria enquanto eu aguardava minha mãe e minha esposa fazerem compras. Bom como todos sabem trabalho da área da saúde, enfermagem. Dou plantão em dois hospitais trabalho no pronto socorro do HCC, e na Santa Casa de Campo Belo plantão este noturno trabalho dioturnamente faço 24horas de plantão e folgo 24horas isso inclui sábados, domingos e feriados. Muitas das vezes não tenho natal, carnaval, festa da família na escola, réveillon, entre outros. Estou aproveitando a postagem do meu amigo Diego Saldanha pra lembrar que atrás da roupa branca tem um ser humano, e que os profissionais da saúde em geral fosse mais respeitados no exercício do seu dever, e também fora dele. Não somos super-heróis, somos diferentes porque amamos o que fazemos e não tem dinheiro que pague o salvar de uma vida. Diego Saldanha, obrigado pela brincadeira e sei que não teve má intenção, aproveitei a brincadeira pra desabafar. Abraços a todos.”

Meu querido amigo Francisco:
Não se deixe levar pelo sentimento diante da ação do Diego Saldanha. Talvez tenha sido uma brincadeira no momento errado. ---- Parece-me que você ficou realmente magoado, Eu quero aqui lhe dizer o quando a sua profissão de enfermeiro é respeitada  além de ser maravilhosa. ----------------- Apesar de entender que o poder público deveria valorizar mais os profissionais da saúde, é inegável o reconhecimento da sociedade, que por mais hipócrita que seja tem pela ciência da enfermagem uma grande reverência. Pois se trata de uma das profissões mais reconhecidas e respeitadas do mundo. 

Todo aquele que já esteve sobre os cuidados de um hospital, vê em loco a ação do enfermeiro e pode fazer a avaliação de quão difícil é esta profissão. ---- O enfermeiro é tão importante quanto o médico que faz a cirurgia. É ele que prepara o enfermo; assiste o médico e atende o doente na sua recuperação.

A noite chega e o clima de um hospital nesta parte do dia é mais dramático e cansativo. Na madrugada ouvem-se apenas os passos de enfermeiros e enfermeiras pelos corredores; portas que se abrem e fecham indo e vindo, levando e trazendo aquilo que a medicina lhes recomendou. ----- Buscando sempre atender o alívio da dor e o conforto do doente. --- Às vezes são surpreendidos com a chegada de alguém acidentado ou em estado grave. --- O enfermeiro não tem tempo, pois vive numa vigília constante. ---- 

Vejamos o que disse Florence Nightngale, uma famosa enfermeira inglesa por ser a pioneira no tratamento de feridos de guerra:
A enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto à obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes!”

Nesta oportunidade eu quero render uma singela homenagem a todos os enfermeiros e enfermeiras, do nosso querido Hospital Carlos Chagas, de Candeias, especialmente a você Francisco, com este lindo soneto  de Ary Bueno:

O ANJO BRANCO

Em meio ao sofrimento, a tristeza e a dor. 
Surge um anjo de branco espalhando esperança e amor
Com carinho trata a todos que dele necessita cuidado
Sempre com um sorriso nos lábios, apesar do semblante cansado.

Pois às vezes vara noites e noites, cuidando com ternura o paciente,
Que devido às dores ao sofrimento, se torna irritado, impaciente,
E ele com doçura e educação, procura ao mesmo aliviar sua dor Aplicando o medicamento com cuidado, com desvelo e com amor.

É você, enfermeiro, que sempre esta prestando socorro ao doente.
Está cuidando de todos, evitando que o mal se agrave no paciente.
Mesmo com os problemas inerente a toda família sua, que pode estar sofrendo.
Ele alivia da forma mais humana e carinhosa, o sofrer de quem está quase morrendo.

Nunca esmorece no seu trabalho cotidiano, corre pra lá e pra cá, sem parar.
A todos procura medicar na hora certa, e com carinho todo seu trabalho realizar.
Por isto és abençoado por Deus, de quem você com certeza é uma extensão.

Pois cabe tantos e tantos doentes, e você com carinho os carrega no coração.
E se por acaso algum venha, por força da doença, e do destino a morrer.
Você chora se entristece, e junto com a família também ficas a sofrer.

---Por isto está profissão,  tão bonita, tão cheia de ternura e de calor humano
 os enfermeiros trazem dentro de si apenas... RENUNCIA TRABALHO E AMOR.

O meu abraço e o meu respeito a todos os enfermeiros do Hospital Carlos Chagas e do mundo inteiro.

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.


Descrição: Francisco José Vilela Batista
Francisco José Vilela Batista Ao Sr. Armando Melo de Castrovenho agradecer pela linda homenagem que fez a minha pessoa. Gostaria de estender a todos meus colegas de profissão, e as equipes em que componho no Hospital Carlos Chagas e na Santa Casa de Misericórdia São Vicente de Paula em Campo Belo. É na ombridade dos companheiros, e nos brilhos dos olhos do doente com a saúde restaurada que se vem o pago pelo seu trabalho bem feito. A população das cidades em que trabalho e que sirvo me sinto muito bem confortável e confesso que fiquei admirado pelo reconhecimento a minha pessoa e minha profissão. O desabafo que fiz não foi pela simples publicação do Diego Saldanha mais por alguns comentários que achei de tal forma maldosos na publicação do Diego que já foi excluída. Como se diz o velho ditado: ... "Educação se vem de berço". A todos os adjetivos dirigidos a minha pessoa se deve aos meus Pais, meu saudoso já falecido pai Francisco Batista e minha mãe Ivanilda Vilela Batista que sempre souberam reger com maestria os passos dos filhos. Agradeço também minha esposa Beatriz De Alvarenga Linhares e Minha filha Maria Júlia que entendem e respeitam minhas ausências em casa devido o meu trabalho. E é isso amo o que faço e trabalho com prazer e alegria pois meu trabalho preenche minha alma e me sinto mais perto de Deus. Obrigado.
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quinta-feira, 6 de setembro de 2018

NO TEMPO DO SARAPATEL E O MOCOTÓ.


Hoje, nós vamos recordar os açougues e seus proprietários candeenses. Sabemos que o açougue é o tipo de comercio que faz parte de todas as famílias porque ninguém fica sem provar um pedacinho de carne. Seja de boi ou de vaca, seja de porca ou de porco. 

O sarapatel e o mocotó eram pratos muito apreciados pelos candeenses. Nas festas do Rosário, eram comuns esses pratos oferecidos pelos festeiros. As fressuras de porco eram de baixo custo e, às vezes, doadas e isso dava um prato farto. Saborear um sarapatel nos dias de hoje ficou muito difícil porque não se encontra mais as fressuras em açougues ou supermercados.

Muita gente não sabe diferenciar, mas existe diferença da carne bovina e suína entre o macho e a fêmea. A carne de vaca, por exemplo, não é encontrada em supermercados, porque eles negociam com os produtores apenas o boi.  ----- Nos açougues nós encontramos com mais facilidade a carne de vaca, sendo que ela tem a gordura amarelada que encontramos entremeada na carne. Isso é devido à lactose em seu organismo pela produção do leite. ---- A carne de vaca é mais dura em comparação à carne de boi tendo em vista o seu tempo de vida em virtude da produção de leite. O boi já é criado para o consumo o que se dá após a passagem de carne verde para carne vermelha.

Lembro-me quando menino eu trabalhei num açougue em Candeias. A minha tarefa era sair com um tabuleiro entregando as encomendas. E tinha freguesa, como a Dona Julita Lamounier, irmã do Sr. Nestor Lamounier que a sua primeira pergunta era se a carne era de porco ou de porca. Se fosse de porca e a gente falasse que era de porco, na próxima encomenda teríamos que ouvir um belo de um sermão.

Outra freguesa que não comia carne de porca era Dona Ester de Paiva. Dizia ela que a carne de porca fedia, tinha cheiro de urina porque eram mal castradas.  --- Mas já existiam aqueles fregueses que beberiam até a urina da porca ou do porco sem reclamar. Meu tio João Delminda era um desses.

Na década de 50 e 60 existiam diversos açougues em Candeias: Na Rua Professor Portugal havia dois, os proprietários eram dois irmãos: Um do Geraldo do Orcilino, e o outro do Antônio do Orcilino. --- Este o único que vem resistindo ao tempo, hoje como Açougue São Judas Tadeu, de propriedade do Jesus do Açougue, filho do seu antigo proprietário. Naquele tempo servia carne bovina e suína e hoje se limita em apenas carne suína.

Outros açougues eram do Zé Chorão, na Rua Expedicionário Jorge, posteriormente levado pelo Sr. Expedito Cordeiro que funcionou ali durante muitos anos. --- Também servia carne bovina e suína.

Logo adiante o açougue do Estevão, que só abatia suínos. --- O interessante é que Estevão era um açougueiro que trabalhava de gravata e com as mangas da camisa branca arregaçadas. --- Dava vontade de comer a carne do açougue dele até mesmo crua, de tão limpo que era. Este açougue ficava junto da sua residência, onde hoje está situada uma clinica. Ao lado o Armazém, também de sua propriedade, posteriormente repassado para o Sr. Sebastião Redondo e ultimamente para o Divino Machado que ali também funcionou por muitos anos. 

No Beco Belmiro Costa, onde hoje está a Sorveteria do Magno Machado, existia um açougue que foi movimentado por muitos proprietários. Entre eles o Chico do Sudário e o Juquita de Assis e seu filho Nilo.

Ao lado da Loja do Carlinhos do Emílio, havia outro açougue do Sr. Emílio Gianasi, ali também só abatia suínos. E como o preço era o melhor, fazia fila o dia que matava um porco, normalmente aos sábados.

Na Praça da Bandeira, onde hoje está a Papelaria Candeias, era o açougue do Zé Canarinho, pai do Zé Canarinho filho.

Mais recentemente surgiram outros açougues, entre eles o Ermino na Praça Antônio Furtado, e Domingão na Praça da Bandeira.

O Matadouro ficava na Rua Expedicionário Moncef.  ---- Meu pai, Zé Delminda, quando jovem foi admitido como empregado no matadouro. Mas não deu conta do recado na profissão de magarefe. --- Ele seria o responsável por matar os porcos e o outro seu colega seria o carrasco das vacas. ---- Meu pai no primeiro porco que foi abater deu cinco facadas e esse animal saiu correndo pelo quintal do matadouro até ao córrego que ficava nos fundos. ----- Foi uma mão de obra terrível para leva-lo de volta até ao ponto de abate. ---- No mesmo dia ele saiu à procura de alguém que quisesse ficar em seu lugar e encontrou o Lico da Sinhana, que lá ficou por mais de quarenta anos pelo resto de sua vida.

Uma saudade eu tenho desse tempo. Era do sarapatel e do caldo de mocotó, pratos comuns naquele tempo e que hoje estão se tornando desconhecidos em Candeias,

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos