Eu tenho a impressão que antigamente não havia tanta hipocondria entre
as pessoas. Parece que o povo tinha mais saúde ou era menos preocupado. A
medicina, por sua vez era bem atrasada, não existiam tantos remédios nas
prateleiras de farmácias e a grande parte das receitas médicas eram aviadas
pelos donos das farmácias e os preços não eram esses verdadeiros assaltos ao
bolso do doente, como se verifica nos dias atuais depois que transformaram os
nome de farmácias em drogarias.
Eu pertenço à era do chá. No meu tempo
de criança era difícil tomar um remédio de farmácia. Às vezes, um comprimido de
cibalena ou cibazol; fortificante; lombrigueiro feito de semente de abóbora ou
bucha. Lombrigueiro do tipo sal de Glauber, sal amargo ou óleo de rícino. Esses
purgantes eram tão fortes e ruins que os pais botavam boca-a-baixo nos seus
filhos, no que deu o termo “goela a baixo” ---. Não sei, mas parece que o povo
tinha mais saúde... Nesse tempo o ditado de que “De médico e louco, todo mundo
tem um pouco” era bastante exercido.
No mais eram chás de folha de
laranja; chá de casca de lima de bico; chá de canela; chá
da casca de limão; chá de picão; chá de hortelã; chá de
gengibre; chá de macela; chá de losna, chá de jalapa... Vejam que eu
guardo ainda em minha memória uma verdadeira farmácia
fitoterápica. Eram tantos os chás que o espaço aqui seria
curto para expô-los. Antigamente a fitoterapia caseira é o que falava a
verdade. Para cada problema existiam diversos tipos de medicamentos caseiros.
Hoje em dia, por qualquer coisinha procura-se uma farmácia ou um médico.
Toma-se um medicamento para um mal e cria-se outro, os chamados efeitos
colaterais.
Não se conhecia o câncer. Dizia-se
“doença ruim” ou então ulcera no estômago. Não existia essa quantidade de
exames que os médicos pedem hoje e nem o corpo humano era tão loteado como nos
dias atuais. Um médico especialista, praticamente só se encontrava em Belo
Horizonte, ou em cidades maiores. No mais, era clinico geral. E mesmo quando o
médico tinha uma especialidade, acabava exercendo o ramo da Clinica Geral.
Antes de existir o Viagra os homens viviam
buscando fitoterápicos a fim de restabelecer a disfunção
erétil. Eles tinham as suas terapias para não negar o fogo às
mulheres fogosas. --- Os afrodisíacos naturais em forma de frutas e raízes eram
procurados. ----- Entre eles o jatobá, a casca da fruta ou do tronco em infusão
---- Era o chamado vinho de jatobá, uma fruta silvestre muito comum
no cerrado. ----- Uma segunda opção era uma raiz de uma planta rasteira chamada
“piãozinho”, colocado na pinga deixava esta vermelha. Muitos faziam uma
garrafada das duas. Alguns homens que já não estavam “dando no couro” usavam e
abusavam desse tipo de coisa
No sítio do Sr. Américo Bonaccorsi
existia uma árvore com o nome de “Quentalha” diziam ser um “tiro” de boa para
fazer o homem levantar a moral com a patroa. Certa vez eu perguntei ao Wandinho
do Américo se essa árvore ainda existia e ele disse: “Mataram-na de tanto tirar
lascas no tronco”.
Às mulheres um medicamento fitoterápico
muito usado por elas para uma vida sexual saudável e os problemas
ginecológicos, era a casca de barbatimão, principalmente para banhos de assento
e banho íntimo. -----
Chico do Viriço, o curador, que falava
muito alto, ---- cá de fora se ouvia o que ele dizia com os seus pacientes num
quartinho do interior de sua casa, ----- disse, certa vez, a um casal de
consulentes: “Se a muié fica muito tempo no banho de
barbatimão, ela fica virge de novo”. E deu aquela gaitada... --- E o
povo lá de fora, na sala ouvindo tudo. Imaginem a cara deles quando saíram lá
fora hem?!
Quando a gente andava pelos matos, as
árvores de barbatimão eram vistas com os troncos lascados. As lenheiras
recebiam sempre essas encomendas de forma reservada, mas como língua de
lenheira não tinha compromisso com o silêncio, elas davam sempre com a língua
nos dentes, quem eram usuárias do produto. E ai a língua comia: fulana é
larga...
Sendo visto um homem lascando o tronco
de uma árvore de barbatimão, --- coitada da mulher dele ---- já o boato corria.
A mulher do fulano é usuária da casca de barbatimão. ---- Portanto, isso era
sempre feito às escondidas ou de forma astuciosa.
Eu era menino, mas tinha os ouvidos
muito afinados e afiados. Lica do João Passatempo era uma lenheira que fornecia
por encomenda as cascas de barbatimão. O feixe de lenha custava cinco cruzeiro
e o chá de barbatimão era 3. E língua de lenheira não dava nó e nem cabia
dentro da boca, as usuárias do barbatimão eram sempre comentadas.
Certa vez eu ouvi a Lica do João
Passatempo, que era lenheira e atendia encomendas de casca de barbatimão, falar
para Dona Ester, minha amiga, que a Aparecida Pitanga, irmã do Pedro Pitanga,
dizia que num tinha um trem mais bão do que casca de barba timão para deixa-las
apertadas.
Eu que nunca tinha ouvido essa
palavra guardei-a e muito tempo depois eu pude vir, a saber, o que seria buc...
Tite. Pode ser entendido como algum problema de saúde, mas quem explica melhor
é a etimologia da palavra de onde vem. --- Bem! Eu sei, mas não conto!...
A mulher que não se engravidava,
ou vivia brigando com o marido; se queria arrumar namorado... Essas gostavam
era de um banho de rosas brancas.
Armando Melo de Castro.