José Alvarenta de Sousa.
O meu pai, tinha o hábito de sentar-se
num tamborete que ele chamava de banqueta, quando rodeava os filhos junto de si
para contar casos. E nunca faltava nessas oportunidades, as histórias da
família, desde o seu tempo de solteiro, do namoro com a nossa mãe; o parto de
todos os filhos, as alegrias, as tristezas e sobretudo as dificuldades e
facilidades que a vida sempre nos oferece. --- E foram através desses momentos
em que ouvi por mais de uma vez, a dívida de gratidão que ele tinha com um
senhor que teria lhe feito um favor num dos momentos mais difíceis,
naturalmente num desses momentos em que conhecemos os verdadeiros amigos. Era o
dia do meu nascimento em 1946, logo após o encerramento da guerra, que teria
deixado uma grande recessão, até hoje tão bem lembrada pelos mais antigos.
No dia do meu nascimento meu
pai estava completamento desprevenido de dinheiro. E como fazer? Enfim, tinha
as despesas que uma criança causa aos seus pais no dia do seu nascimento. ---
Nesse dilema, meu pai que nesse tempo era sapateiro, recorreu-se a um amigo. Um
comerciante estabelecido junto a sua residência na esquina da Rua
Expedicionário Jorge, com Sebastião Guimarães, na contra esquina com o
Divino Machado. ---- Ali estava o amigo, José Alvarenga de Sousa, mais
conhecidoi por ZÉ CHORÃO a quem lhe fora oferecido alguns produtos de pronta
entrega de sua oficina de sapatos, onde a maioria da produção era feita por
encomenda, num tempo em que era difícil encontrar calçados nas loja em
Candeias.
Zé Chorão não precisava no
seu comercio dos produtos de meu pai, disse que as vendas estavam muito ruins,
dada a crise em que o comercio atravessava. Afinal faltava produtos de primeira
necessidade. Para se ter uma ideia, para comprar um quilo de açúcar, teria
que apresentar a necessidade do açúcar para a prefeitura que autorizava a
compra. Diante do argumento de meu pai, Zé Chorão, abre a gaveta, pega o
dinheiro entrega ao meu pai e diz: “Toma Zé, tá resolvido o seu problema,
depois a gente acerta isso.
José Alvarenga de Souza, era mais
conhecido por Zé Chorão. --- E porque esse apelido?
Acontece que José era
apaixonado por futebol. E quando o seu time perdia o jogo ele reclamava com a
voz de choro... Quando o Juiz roubava, ele xingava, também com voz de choro e
quando vencia, ele sorria chorando também. ---- E assim era o seu choro por
causa de futebol. O que lhe valeu o apelido, que o levou a ser inteiramente
conhecido por Zé Chorão. ---
Mas a bem da verdade era um
homem alegre e sorridente. Grande colaborador com o seu time de futebol e com a
Banda da qual era músico, colaborava muito na confecção de uniformes. ----
O seu comércio era de
produtos bastante variados. Armarinho, secos e molhados, utensílios
domésticos e muitas outras miudezas. --- Não seria um homem designado para
ser rico, isso porque era demasiadamente caridoso e generoso. Tinha um coração
que não cabia dentro de si. Num momento de crise, o comercio ruim, o povo na
miséria por causa da crise devida à guerra, grande parte dos produtos de
primeira necessidade desaparecidos, Zé Chorão não se poupava do fiado e nem
do seu espírito caritativo. E assim não se prosperou como merecia, no
comercio.
Casou-se em 1937, com Dona
Onofrina Freire, filha do Sr. Chico Freire e Dona Mariquinha, quando tiveram 7
filhos, Luci, Neli, Paulo, Zeli, (falecida) Clarice, Cleonice e Marli. --- Em
Candeias residem hoje, apenas a Neli e o Paulo o único filho homem. Clarice e
Marli, residem nos Estados Unidos e Cleonice na cidade de Barão de Cocais –
Luci, a filha mais velha, casada com o Sr. Eurides Lamounier faleceu
recentemente, avó do Padre Yuri Lamounier, da paróquia de Nossa Senhora das
Dores, em Itaguara MG. Naturalmente Zé Chorão teria grande história com esse
bisneto padre, pois foi muito católico.
Zé faleceu no mês de agosto
de 1956 aos 40 anos de idade, morreu no mesmo mês em que nasceu, deixando a
esposa com sete filhos dependentes dela, que depois de algum tempo se
transferiu para a cidade de Formiga. ---- Não foi uma vida fácil, mas como
Deus está sempre recompensando as pessoas caridosas e de coração puro, como
Zé Chorão, hoje seus descendentes estão todos muito bem de vida, são
trabalhadores e muito respeitados pelos amigos de nossa querida Candeias.
Onde quer que esteja meu
querido Zé Chorão, receba o meu abraço e a minha eterna gratidão.
Armando Melo de Castro.