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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CELESTINO BONACCORSI

Numa de minhas idas a Candeias, assentei-me num banco do jardim localizado frente ao prédio onde pude ver ainda, cravado na parede, o nome “Casa Celestino Bonaccorsi” e logo abaixo “Supermercado do Vovô”. --- Dali, por certo tempo, fui tomado por um sentimento de saudade e recordação da antiga, Casa Celestino Bonaccorsi, onde outrora era o maior centro comercial da cidade de Candeias e talvez um dos maiores da região.

---Fiquei ali pensando: como as coisas mudam nesta vida! Pois, quem viu, outrora, o entra-e-sai de pessoas naquele local, comprando e vendendo, e ver hoje aquele paradeiro de um supermercado que, a bem da verdade, não tem nada de super, nem de mercado e nem é do vovô, dá para ficar triste... Muito triste. Isso porque para mim, Candeias, tem dois tempos: Antes e depois dos Bonaccorsi.

---Busco nos labirintos da minha memória uma imagem amiga e muito bem guardada do Sr. CELESTINO BONACCORSI e pergunto: Candeias terá sido justa com esse homem que tanto fez por ela? Não teria sido preciso render-lhe maiores homenagens para que justiça lhe fosse feita? ----- Sua ida sem volta para a Itália foi praticamente sem comentários.

---E o que pensam os jovens de hoje sobre Celestino Bonaccorsi? Saberão por acaso que esse homem foi o maior empreendedor do município em todas as áreas? O maior empregador. Eu me sentiria muito triste se soubesse que aquele prédio fechado representasse a imagem do fim do Sr. Celestino Bonaccorsi.

---A história do município precisa ter um capitulo especial para esse nome: Celestino Bonaccorsi. Imagino que as crianças e jovens não têm uma ideia de quem foi o empresário Celestino Bonaccorsi, a quem nós candeenses tanto devemos pelo bem que nos fez.

---Se a semente de Candeias foi lançada por Domingos Tendais, temos a certeza de que Celestino Bonaccorsi foi quem mais a cultivou.

---O povo de Candeias somente veio vê-la progredir após a chegada desse italiano destemido que teria deixado a sua longínqua pátria para unir-se a nós... Trabalhar e contribuir com o nosso progresso.

---Celestino Bonaccorsi, trabalhou e amou a nossa cidade como se sua fosse. Ninguém jamais produziu tanto e pode dar tantos empregos diretos e indiretos para o povo candeense.

---Tomamos conhecimento da lâmpada elétrica, quando foi trazida pelo Senhor Celestino Bonaccorsi; O movimento que justificava a existência da estação ferroviária era graças ao Sr. Celestino Bonaccorsi.

---Quantos empregados prestavam serviços nas suas diversas áreas comerciais e produtivas, como, laticínio, produção e comercialização de grãos, além de beneficiamento de café e arroz. A usina hidroelétrica; sua grande casa comercial de atacado e varejo que fornecia aos diversos comerciantes da zona rural em forma de consignação; e ainda comprava a produção dos produtores rurais. Enfim, todo progresso que chegava a Candeias, era trazido pelas mãos do Sr. Celestino Bonaccorsi.

---Após muitos anos, já com a idade avançada, resolveu voltar à sua terra levando as lembranças que seriam sepultadas consigo em terras italianas. Hoje, temos ainda, felizmente, em nosso meio a Sra. Julieta Bonaccorsi, como ultima de suas filhas ainda viva e residente em Candeias, contando 105 anos de Idade, rodeada pelos seus filhos. O nome Bonaccorsi é merecedor de todo o carinho e respeito do povo candeense.

---Eu tenho guardado dentro de mim uma imagem amiga; a mais amável das lembranças do Sr. Celestino Bonaccorsi. ----- Portanto, onde quer que ele esteja, estará sempre recebendo o meu simbólico abraço e o meu agradecimento por tudo que fez em prol da nossa Candeias.

 Armando Melo de Castro.

Candeias MG Casos e Acasos.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

TEREZA E O DESDENTADO



Dando um giro pelos cafundós da minha infância encontro-me em Candeias, exatamente na Rua José Furtado de Sousa.

No verdor dos meus anos, tive uma passagem por essa rua quando minha família esteve morando ali durante uma temporada, enquanto meu pai construía a nossa nova casa, na Rua Coronel João Afonso. A Rua José Furtado de Souza fica no Bairro da Ponte e começa onde faz esquina com a mercearia do Sr. Rogerio Ferreira; e vai até ao Bairro da Gruta. -- Por estar nela situado o antigo cabaré do Pedro Pitanga, ficou conhecida, também, como rua do Pedro Pitanga.

A curiosidade - a inocência e a esperteza psicológica, natural das crianças, fizeram com que durante os dois meses que residi ali, me proporcionassem um constante divertimento graças à infelicidade alheia. Aliás, os deslizes humanos, infelizmente, às vezes, são jocosos até mesmo para os adultos.

A casa que alugamos era de um pessoal da zona rural que vinha para a cidade somente em tempos de festas. Assim, teria ficado um quarto separado para que os objetos dos proprietários ficassem reservados. Ocupamos apenas o restante da casa: dois quartos, uma cozinha e mais uma pequena sala.

A casa não possuía banheiro e nem água encanada. Tomava-se banho de bacia ou de canecão, e as necessidades fisiológicas eram feitas nos fundos do quintal numa latrina fétida. Infelizmente, aquela cloaca nunca me saiu da lembrança. Aquele negócio de agachar e expor as partes sobre um orifício que dava para um fosso cheio de merda, sobre o zum zum de moscar verdes, nunca teria sido bem aceito por mim. Afinal, eu não estava disposto a dar um viva para a pobreza. Estava aflito para mudar para a nossa casa nova onde haveria de ter como uma melhora vida, um banheiro dentro de casa.

Com o desjeito da coisa e o problema das necessidades noturnas, meu pai foi à Casa Bonaccorsi e comprou três penicos. Foi a pior experiência que eu tive na vida, quando fiquei conhecendo esse utensílio chamado penico. Aquele negócio de encher o penico e coloca-
lo debaixo da cama era duro de suportar.

Frente a essa morada provisória havia uma tapera, ou seja, uma velha casa de pau-a-pique, num espaço sem tapumes, cujas paredes degeneradas me proporcionavam satisfazer a minha curiosidade de menino. Quando na ausência dos moradores eu ficava por ali escarafunchando com os olhos o que possuíam. Por dentro e por fora o cenário seria um prato cheio para o realismo de Gustave Courbet.

Mas, o que me inspirava a maior satisfação e a curiosidade dos meus olhos indiscretos, era o momento da chegada dos donos da casa.

O homem que contava mais ou menos uns vinte e cinco anos era tratado pelo apelido de Nego do Sodré. Elemento alto, claro, cabelos quase louros, bem aparados, barba rala e lanugem amarelada, contrastando-se com o seu apelido. Pescoço comprido e um sorriso pobre. Faltavam-lhe os dois principais dentes do maxilar superior. Quando falava, via-se a língua passear no céu da boca. Quando ria a pobreza do sorriso aumentava e a saliência das presas lhe dava a afeição de vampiro.-- Dizia-se pedreiro, mas segundo os patrulheiros do alheio, era um simples, meia-colher, que mal sabia assentar tijolos.

A mulher que se chamava Tereza era temperamental: cantava, ria e chorava em um só tempo. Brigava diariamente com o marido por causa da cachaça. Estatura frágil, rosto bem feito, contava uns vinte e poucos anos; morena cor de cuia, tipo cabritinha, cabelos curtos e lisos; dentes claros; mal trajada, sempre com um vestido bate-enxuga. Desse-lhe um trato, seria páreo para a escrava Isaura... --- Vivia maior parte do tempo na casa da mãe.

Ele, no seu estado sóbrio, era tranqüilo, mas se estava sob efeito da goteira tipo João Cassiano, ou seja, com a cara cheia de pinga, o pau comia, mas comia direito. E o que era difícil era vê-lo sóbrio. Isso só acontecia de manhã quando saia para o trabalho. Portanto, todos os dias havia espetáculo à tarde. Logo que ele chegava já começava a discórdia pelo fato de estar bêbado. E como a casa era pequena, a briga começava lá dentro e continuava pelo terreiro amplo à frente da rua.

Ele a puxava para fora, e o terreiro se transformava em picadeiro de circo ou ringue de luta livre. Assegurava-lhe os braços enquanto ela muito agitada não parava de falar e trocar palavrões:
--“Mardito! Iscumungado de Deus! Atentado do diabo! Cachaceiro... Disdentado!”.
--“Égua, cadela, vaca... Eu ainda te mato maritaca danada.”.

Como ele era muito forte, apenas a segurava para não apanhar, pois caso contrário ela o avançava tal qual uma galinha choca.

Para a minha contrariedade, logo aparecia um vizinho da turma do “deixa disso”, e acalmava os ânimos dos briguentos. Às vezes recomeçava, outras vezes, parava e saiam novamente. Sei dizer que eu ficava ali, o tempo todo, aguardando o espetáculo.

Certo dia, quando o pau comia solto, chegou o promotor de justiça da Comarca, Dr. Fernando de Souza Lima, levado até ali pelo irmão da dona da casa. Conversa vai, conversa vem, ficou ali estabelecida à separação. Não sei se aquilo seria um ato legal, o comportamento do promotor. Sei que esse lhes ameaçou de prendê-los caso voltassem a se juntar ou brigar.

Nego Sodré foi para São Paulo e Tereza foi para a companhia da mãe, Dona Joana Gorda, vizinha do Vicente Vilela. Eu achei ruim aquela separação, já que com isso, terminou a minha diversão de todas as tardes. Lembro-me, ainda, de ver a carroça do Serafim, virar a esquina levando os trastes e badulaques com a mudança, deixando-me um vazio egoísta.

Passou-se um ano de separação. O tempo, fenômeno incumbido de resolver certos problemas participou nesta questão... Um dia, Nego veio passear em Candeias e trouxe consigo a intenção de se juntar com a mulher e levá-la para São Paulo...

Novamente, conversa vai conversa vem e a turma do “deixa disso” conseguiu convencer Tereza a ir com o marido para São Paulo. Dois meses se passaram e Tereza aparece de volta. Meu pai, curioso procura saber o motivo da volta e tem dela uma resposta decisiva:

“O senhor é doido sói Zé! O nego rancou os dente e pois uma dentadura. De noite pega a mardita da dentadura e põe dentro dum copo dágua. Com aquela boca fedendo pinga, e murcha sem dente, vem querendo... querendo, quer dizer... Querendo me beijá... Ai eu não dou... Quer dizer eu não deixo... Dorme! Ronca igual um capado! Acorda de madrugada com sede e bebe a água do copo da dentadura... Teve um dia que eu quase gumitei em riba da cama...

Parece que dipois qui o home foi pá São Paulo ele viu o diabo. Ele arrumou umas vontade doida... Inventou de querer umas coisas contra a natureza... contra a riligião... coisa qui eu num tenho nem corage de falá... Umas coisa mais aturdida do mundo... Eu já num tinha sono... Na hora de ir pá cama eu pingava era de medo e de nojo... Eu passano por aquilo sói Zé todo dia com o istâme imbruiano... Tem base? Nem se eu fosse de ferro, pá guentá um trem desse!... Ai eu tive que cascá fora”.

Armando Melo de Castro -
Candeias MG Casos e Acasos

CHICO COLETOR










           Prefeito Chico Coletor - 

Os meios de comunicação vivem atualmente denunciando a imoralidade da classe política... Já não faltam adjetivos para desqualificar essa classe enodoada pela corrupção; pela falsidade ideológica; pela compra de votos, pela incompetência, pela ociosidade pela inoperância, pela falta de capacidade para administrar o dinheiro público. Enfim por tudo que lhes possa tirar a confiança então depositada através do voto popular.

A honestidade vai se tornando dia após dia, numa decência rara no meio político. O político ao se candidatar pensa em si... Poucos são aqueles que cumprem com louvor, com honestidade, com respeito o poder que recebem nas urnas. O povo, por mais humilde que seja, sabe distinguir o joio do trigo... Por mais inocente ou incompreensível que seja, sabe votar e julgar aqueles que não cumpriram a missão de seus representantes, com a honradez necessária.

Felizmente entre os homens públicos que trabalharam na construção da história de Candeias, existem, em sua maioria, nomes dignos e honestos que tudo fizeram para honrar a confiança depositada pelo povo candeense.

Um desses nomes que saiu sem mácula do poder, com certeza, é do candeense por adoção, Francisco Coelho dos Santos, popularmente conhecido, entre nós, como Chico Coletor. 

Chico Coletor foi prefeito de Candeias no período de 1973 a 1976. Nasceu na cidade de São João Del Rey no dia 21 de dezembro de 1921, sendo filho de Abner Coelho dos Santos e Alzira de Oliveira Coelho. 

Chico tinha nove irmãos, são eles: João, Elvira, Abner Junior, Cecília, Juracy, Iracema, Zélia, Renato e Maria das Mercês. De sua terra natal foi transferido, juntamente com os seus pais, para a cidade de Formiga. Tornou-se funcionário da Receita Federal. E por ocasião dos problemas surgidos com um incêndio ocorrido na sede da Coletoria Federal, em Candeias, veio para apurar o caso e a partir daí juntou-se a nós na construção da nossa história.

Casado com Dona Zilda de Paiva Coelho, de cuja união nasceram três filhas: Maria Luíza, Tereza Cristina e Maristela. --- Pai de família muito querido. Gostava de se reunir com a família para saborear o seu prato predileto, um canelone ou um ravioli, caprichosamente preparado por sua esposa.

Como prefeito, infelizmente, não chegou ao seu alcance tudo aquilo que almejava para Candeias, mas administrou com segurança, honestidade e competência os poucos recursos que lhe caíram às mãos. Entre os feitos na gestão de Chico Coletor está o Hospital Carlos Chagas, até então, tão prometido, mas nunca concluído. O desejo de um hospital para Candeias era antigo.

Chico não mediu esforços na construção desta obra tão necessária para o povo de Candeias. Acompanhado de sua esposa, estava sempre em campanha em busca de recursos para atingir tal objetivo. Ele achava que as outras coisas poderiam esperar um pouco; mas, um hospital para Candeias era demasiadamente necessário. E tudo fez para atingir esse objetivo.

Chico era um homem bom. Simples honesto e trabalhador. Nunca esteve envolvido em fatos que pudesse manchar o seu bom nome. Portanto, foi sempre muito respeitado pelo povo candeense diante da sua lisura.

Dentre o seu grande círculo de amizade em Candeias, citamos alguns amigos dos quais Chico recebeu relevante colaboração: durante a sua administração: Afonso Ferreira de oliveira, Juquitinha, Marconi Paixão, Mariano Lamounier, Rosarinha do Quinho, Zé do Torquato, William Viglioni, Francisco Quintino, Rafael Martins, Joaquim de Castro (Lindico) Erasto de Barros e muitos outros.

Cumprido o seu mandato, com dignidade, Chico Coletor voltou para assumir o seu cargo na Receita federal. Após a sua aposentadoria recolheu-se em seu sítio localizado na comunidade da Boa Vista, no município de Candeias.

Faleceu no dia 27 de setembro de 2009, aos 87 anos num leito do Hospital Carlos Chagas, para o qual tanto trabalhou para vê-lo construído. Seu corpo está sepultado no Cemitério do Rosário na cidade de Formiga, no túmulo de seus pais. 

Nesta oportunidade não poderíamos deixar de registrar um voto de louvor para a sua esposa, Dona Zilda de Paiva Coelho, pela companheira que foi junto ao seu marido, bem como, pelo dinamismo de primeira dama do nosso município.

Manifestamos, ainda, de forma extensiva às suas filhas, o nosso pesar pelo falecimento desse que foi, para o povo de Candeias, um exemplo de honestidade.

Muito obrigado Francisco Coelho dos Santos! Muito obrigado Chico Coletor!

Armando Melo de Castro
Blog Candeias MG Casos e Acasos.