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sábado, 31 de agosto de 2013

A FREIRA E O PINTO PELUDINHO.

Foto para ilustração do texto.

Certa vez, assistindo o programa Fantástico da Rede Globo de Televisão, eu vi o repórter Zeca Camargo em uma excursão pelo mundo, experimentando as iguarias pelos países em que passava. Chegando às Filipinas, ele tentou comer um ovo cozido, após dezoito dias de incubação, ou seja, o denominado ovo choco para nós brasileiros.

 O rapaz apesar de ser um repórter experiente e de estar imbuído da missão jornalística de mostrar aos brasileiros os variados costumes alimentares de outros países e mesmo, ainda, sendo um cidadão viajado e de ter experimentado os diferentes e exóticos tipos de alimentação de outros povos, não deu conta de comer o tal ovo galado e encubado por dezoito dias. Ele tentou, contudo, por mais que se esforçasse não conseguia provar aquele tipo alimento de aparência horrível que para nós brasileiros seria, simplesmente, uma coisa repugnante.

 

Eu que, então, residia na cidade de Lagoa da Prata e tinha como vizinha uma irmã de caridade filipina, corri para comentar, com a mesma, sobre a referida reportagem em que um repórter brasileiro não teria suportado sequer sentir o cheiro daquela “coisa”.  A freira que, também, assistira o dito programa, disse-me que teria ficado com água na boca e que desejou muito estar ao lado daquele jornalista para que não fosse desperdiçada aquela delícia.

 

Naquele momento, comentou que aquele tipo de ovo era uma das iguarias mais apreciadas em sua terra natal. Repetiu com ênfase os termos da reportagem, dizendo ainda, que tanto o ovo incubado de pato quanto o de galinha tinha a mesma aceitação entre a população. Mencionou que aquele alimento pode ser adquirido em qualquer feira das cidades e que é chamado, por lá, de “balut”.

 

Continuou explicando que quando o ovo completa dezoito dias de incubação está no ponto ideal, pois o pintinho já se encontra cabeludinho, o que fica uma delícia. Concluiu dizendo que, infelizmente, desde que viera para o Brasil não tivera como degustar tal acepipe tão comum em sua terra, tendo em vista se tratar de um petisco impossível de ser conseguido no nosso meio.

 

Eu que criava galinhas, em meu quintal, e no intuito de agradar a minha vizinha estrangeira, resolvi lhe prometer colocar alguns ovos sob uma galinha para que, após os dezoito dias ideais, ela pudesse se deliciar com uma iguaria tão difícil de ser conseguida aqui no Brasil.

 

Diante dessa promessa, a freira deu até pulos de alegria. Logo, preparei uma galinha e a coloquei para chocar quinze ovos, cuidadosamente, escolhidos e já comecei a aguardar o dia de fazer a entrega para a pretendente.

 

Chegado o dia “D”, preparei os ovos em um tacho de água fervente e, após cozinhá-los, os entreguei à freira que os recebeu na maior felicidade. E eu, feito uma besta, lhe disse que gostaria de vê-la experimentar um ovo daqueles visando confirmar a minha cortesia. E ela, em um verdadeiro orgasmo, tomou-se de sal e pimenta do reino, quebrou um ovo daqueles e começou a comê-lo na minha presença. Aquele pinto peludo exalando um cheiro horrível e a velha senhora comendo aquilo como que se estivesse degustando o alimento mais saboroso do mundo.

 

Diante daquilo, apressei-me em me retirar dali haja vista que, por mais um pouco, eu teria vomitado na presença dela. Foi uma coisa horrível ver aquela freira comer aquele ovo mal cheiroso, além de acumular em mim o remorso de ter cozinhado vivo os pobres viventes que estavam para nascer. Todavia, como eu fiz aquilo com a melhor das intenções, acredito que fui perdoado ao pedir perdão aos céus diante daquela extravagância.

 

No dia seguinte, a minha mulher que estava cheia de curiosidade quis saber da irmã o que teria achado do agrado que eu lhe teria proporcionado e a velha freira toda empolgada, parecendo uma nubente na noite de núpcias, disse sem titubear:

--- Pintinho cabeludinho munto gotoso! Delicioso! Adorê e comê tudo!..

 

Armando Melo de Castro

 

 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

PULANDO O MURO PARA COÇAR O INHAME.

Dona Zica era uma mulata de meia idade que morava na Rua José Furtado, no Bairro da Gruta, em Candeias, na época em que fomos vizinhos, no final da década de 50, quando minha família residiu naquela rua até que meu pai construísse a nossa nova casa na minha querida Rua Coronel João Afonso Lamounier.
De estatura média, rosto bem traçado, cabelo hirsuto, ela gostava de uma saia de brim grosso na cor marrom. Dizia que essa cor sujava pouco, portanto, era a sua preferida e na parte superior do traje usava sempre uma blusa de algodão encardida. Tinha uma falha no dente da arcada superior que jamais lhe intimidou na hora de dar uma de suas boas gargalhadas. Possuía, ainda, os traços bem feitos, contudo, faltava-lhe um bom trato.
Seu marido era um desses chamados “brancão”. Olhos esbranquiçados, cabelos amarelados, sujos, mal cuidados e a barba por fazer. Parecia ser bem devagar  ou bem pachorrento. Não parecia ser um homem do padrão agradável para uma mulher. Quando passava perto da gente, exalava um forte cheiro de gambá morto. Dava a impressão que fazia uso da água somente para beber. Eu suponho que ele nunca teria usado um desodorante na vida.
Suely, a filha caçula do casal, tinha 16 anos de idade. Era uma donzela de encher os olhos de qualquer adolescente. Tinha a bundinha estufada, a cintura fina, com pernas grossas e gostosas, o cabelo liso, os dentes perfeitos e uma voz doce. Tudo na Suely era de tirar o chapéu.
Raimundo, o filho mais velho, era a cara do pai. Os dois viviam pelas roças e, somente nos fins de semana, estavam em casa. Dona Zica, que mandava e desmandava na família, dizia que aqueles dois homens que Deus lhe pusera na vida eram dois pamonhas e que seriam capazes de pedir tempo a Deus para morrer de repente.
Eu gostava muito de dona Zica. Eu, com os meus 12 anos, era bobo feito um tatu de galocha e respondia, quase sempre, somente as perguntas que me faziam. Sentia-me muito inibido para puxar um papo com alguém, dando a aparência que tinha vergonha, inclusive, da minha voz. Mas eu tinha uma coisa comigo: pensava mais do que todo mundo. Aliás, como diz o provérbio árabe: “Alá fez o homem com dois ouvidos e uma só boca para que este falasse menos e ouvisse mais”. Conseqüentemente, dado ao meu jeito de ser, eu falava pouco e ouvia muito, muito mais. Além disso, eu via muita coisa boa lá na casa da dona Zica. Como eu estava entrando na adolescência e apesar de ser mais novo do que a sua filha Suely e como ela era muito fresca, dada feito uma franga de galinheiro se enfeitando pra botar começava a brotar em mim aquela sensação de um frango querendo virar um galo. Ela, com certeza, pressentia que eu gostava de encarar as suas belas pernas desnudas, assim, salientava-as sem muito pudor para mim. Logo, a minha vergonha era incubada e os meus instintos obedeciam aos meus olhos que catavam toda a safadeza da Suely.
Mas, como eu ia dizendo, eu gostava muito de dona Zica. Talvez, por eu ser um menino tímido, ela me dava muita atenção e eu acabei ficando cativo dela. Ela ria, contava caso e xingava ao mesmo tempo. Brigava todos os dias com a sua filha e, aos fins de semana, com a família toda.
Certo dia, por volta da meia noite, quando a rua estava silenciosa, deu-se a impressão que uma bomba havia caído na casa de dona Zica. A Suely passou mal, teve enjôo e foi chamado, imediatamente, o médico da cidade, o Dr. Daniel Barbato. Ele, após medicá-la, comunicou aos familiares que a menina estava grávida. O médico saiu corrido da casa de dona Zica imaginando, naturalmente, que o mundo estava acabando.
O rol de palavrões saiu quase que num tempo só da boca de dona Zica, referindo-se ao suposto pai da criança, Roberto, filho de um empregado da Ferrovia. O rapaz andava manso, bem solto dentro da casa de dona Zica, prometia casamento e agora se descobria que ele estava, silenciosamente, era sangrando a coruja bem devagarzinho e, com isso, vinha ao mundo, agora, mais um candeense, um mineiro e um brasileiro.
Dona Zica ficou tão furiosa que ordenou ao seu marido que matasse o garanhão, pai da criança, no caso dele não assumir o casamento. Afinal, ela não queria ter um neto posto no mundo através de uma filha, tipo mosca varejeira. E o seu marido, coitado, que estava acostumado a obedecê-la em tudo, ficou bravo pela primeira vez na vida:
Cê tá doida, Zica! Onde já se viu matá um home! Eu nunca matei nem uma galinha, vô, agora, matá um home!? Sô cê ocê quizé matá! Eu não! Dijeito nium!...”
E o rapaz, irmão da moça, chamado Raimundo, para não dizer que não opinava, gritou do canto da sala, em apoio ao pai:
---Quem mandou ela se arreganhá! Agora, tem qui guentá!
E assim, o rapaz, pai da criança, debaixo daquele frege todo devido à gravidez da moça, sumiu, escafedeu-se, cascou fora como diziam os comentaristas do alheio.
A casa de dona Zica era uma bagunça danada. Parece que via vassoura uma vez por semana. Os utensílios de cozinha eram mal lavados em uma bacia no terreiro sobre um pequeno estaleiro feito por ela mesma, não havia água corrente em casa, o urinol ficava sempre cheio debaixo da cama, existia um gato no canto do fogão, era cachorro apostando comida e a água usada na casa era colhida na cisterna do vizinho. Naquele tempo, nem todas as casas possuíam água corrente e nem luz elétrica. Todo mundo que passava pela rua escutava, naturalmente, a falazada de dona Zica no interior da sua casa:
---Se eu morrê, oceis tá é  frito, cambada de pamonha! Aqui, tudo puxou a lesma do pai. Aquele já nasceu com a bunda caída e os óio branco. Eu bem que divia era de tê arrumado pá casá um criolo com mais sustância.
Diziam as más línguas que dona Zica era bem chegada a um negão das bandas do Juca do Nico. Muitas pessoas já o teriam visto pular o muro do fundo do quintal para sangrar a coruja às altas horas da noite. Outras vezes, viam-no em visita durante o dia, quando dona Zica dizia que se tratava de um primo por parte de mãe. Todavia, ninguém acreditava nesse suposto parentesco. A verdade é que os dois coçavam o inhame, tranquilamente, quando o marido e o filho estavam para as roças e a filha na aula de costura.
Certo dia, dona Zica que já falava alto, começou o dia falando mais alto ainda. O motivo era que o pai do rapaz que engravidara sua filha apareceu em sua casa tentando fazer um acordo com ela, uma vez que o filho ainda estava foragido devido àquela situação, saindo da cidade com medo que lhe acontecesse algo de ruim, pelo fato de ter engravidado a moça com quem prometera casamento, mas que não estava disposto a cumprir tal promessa:
---Bom dia, dona Zica!
---Bom dia, mas, se o sinhor tá vino aqui pá pidi pinico, pode é tirá o cavalo da chuva e dipindurá os arreio.
---Eu vim aqui, dona Zica, é porque nóis precisa intrá num acordo, sô. Vamo isperá o minino nascê prá nois vê o que nois fais, uai. Se ele fô paricido com o meu fio, eu sô o primeiro a fazê ele casá, nem qui seja na marra. Agora, se num parecê, aí a senhora vai me discurpá, mais num vai tê casório não.
----Some daqui, seu disgraçado! Ocê tá pensando que a minha fia é dessas vagabunda, tá?
---Eu num tô pensano nada, dona Zica! É que o meu fio falô que só deu umas pincelada na sua fia e pincelada num dá pá fazê fio, não? E dispois já tá na boca do povo que ela é iguarzim a mãe! É chegada num neguinho. A senhora já oviu falá num cabritão, chamado Zico Barba das banda do Juca do Nico? Pois é! A sinhora diz que ele é primo da senhora, Dona Zica, acuntece que ele é muito amigo meu e eu sei de tudo da vida dele e o meu fio tamém sabe. O que a senhora acha então de aceitá o meu acordo, dona Zica?!
Assim, dona Zica, teve que se render e acabou assentando em seu próprio rabo.
Armando Melo de Castro
Candeias Casos e Acasos mg
 
 
 
 

domingo, 11 de agosto de 2013

O MEDO.

Foto para ilustração do texto.

O medo, a meu ver, nada mais é do que um problema de inquietação imaginária, de ordem psicológica, criado pelas religiões. Existem religiões que falam mais do diabo do que em Deus. Afinal, dominar alguém com medo é muito mais fácil. Para mim, o medo é um verdadeiro diabo que vive dentro de nós. Será que existe alguém que realmente nada tema? Eu duvido. Parece que, para cada caso, existe um tipo de medo. É o medo da morte, o medo de feitiço, medo de avião, medo de assombração, medo de doença, medo da velhice, medo disso e medo daquilo, enfim, são tantas situações causadoras do medo que seria difícil enumerá-las todas aqui.

 

Eu não acredito que exista alguém, em sã consciência, que possa dizer que não tem medo de nada. Entretanto, no caso de existir alguém que, na realidade, não sinta qualquer tipo de medo, com certeza, um medo lhe estará reservado: o medo do diabo.

 

Conheci um candeense chamado Lázaro da Dica. Um homem enorme que bebia um litro de cachaça, que brigava com a polícia e se escondia no cemitério. Um dia, ele fez a seguinte confissão: tinha muito medo do diabo.


Zé Queijo, um padeiro candeense, que também foi coveiro no cemitério São Francisco, não tinha cismas, contudo, um dia ouviram-no dizer que o seu medo era do diabo porque esse bicho andava solto...


Joaquim Meia-noite, um roceiro das bandas da localidade dos Arrudas, andava somente à noite e, principalmente, depois da meia noite. Dizia ser um apreciador do barulho das matas na madrugada. Mas, em compensação, dizia sempre ter medo dos malefícios oriundos de um feiticeiro porque eles tinham parte com o diabo.

 

O medo, do ponto de vista científico, é um sentimento inerente ao ser humano. Pode ser definido como uma sensação de que algo ruim está para acontecer a qualquer momento seguindo-se por sintomas físicos que incomodam ou por um sentimento vivenciado diante do perigo. Quando esse medo é excessivo e irracional em relação à ameaça, apresentando fortes sinais de perigo e acompanhado de comportamento de esquiva diante das situações causadoras do medo transforma-se em fobia, crise de pânico e outras situações específicas. A fobia é, portanto, um dos transtornos de ansiedade mais apresentados pelo ser humano e um dos distúrbios psicológicos mais estudados.


Sob o ponto de vista religioso, as crenças criaram um conjunto de dogmas doutrinários no sentido de cultuar a Deus onde o medo do diabo é ingrediente indispensável para aqueles que se dizem evangelizadores. Existem, por aí, igrejas que vivem assustando os seus fiéis com ameaças psicológicas. Criam-se um diabo que causa medo e que faz oposição a Deus. Ora, se Deus é onipotente, onipresente, onisciente e bom; se Deus é o Criador de todas as coisas, por que ter medo do poder desse diabo? Mesmo se existir, não será opositor a Deus. 


Tanto Deus quanto o diabo estão dentro de nós mesmos. Agora, o que me implica são esses pastores vigaristas, exploradores da fé de pessoas humildes sem qualquer conhecimento teológico e sem qualquer cultura. Pessoas que vivem em um clima místico, criado por esses ladrões da ingenuidade humana que vão infiltrando na cabeça dessa pobre gente ignorante uma pressão psicológica, um temor imensurável, inclusive, ameaçando-lhes diante do medo do diabo, colocado na cabeça desse povo, ao lado de Deus, propondo-lhes curas milagrosas. É claro que milagres existem, mas não do jeito que prometem. As religiões se tornaram um comercio onde se vendem milagres.

 

À bem da verdade, esses hipócritas acharam o caminho da mina, pois, Deus e o diabo, por uma questão cultural bíblica, sempre andaram juntos e é muito mais fácil alimentar o medo do que eliminá-lo, mesmo tendo Deus como forte e bom. Afinal, o diabo é o símbolo do mal que causa medo e que pode ser transformado em fobia, cuja cura está em Deus. 


Esses pastores são como baratas: “mordem e depois assopram” e o lamentável é que essa gente que não tem uma condição cultural lógica para se livrar desses mercenários do Cristo, tiram o seu alimento da boca para enfiá-lo nos bolsos desses exploradores. O que muitos não sabem é que para se aproximar de um desses pastores, durante um programa de televisão, é feito uma triagem na qual são aproveitados os pobres alucinados e fanáticos.

 

É de todo patente que as pessoas, em um estado emocional desajustado, têm uma reação orgânica cujas dores somem. Outros são hipocondríacos e sofrem de doenças criadas pela própria mente. E existem ainda as chamadas dores fantasmas quando alguém, por exemplo, tem uma perna ou um braço amputado e continua a sentir a dor e a coceira na parte do corpo atingida. E, assim, diante dessas lavagens cerebrais, veem, temporariamente, os seus males extirpados que, entretanto, logo depois estão de volta. A mente humana inventa, acrescenta, destrói e guarda coisas impressionantes e, para isso, esses vigaristas são bastante organizados.

 

Eu tenho um amigo morador na Avenida JK, no Bairro Bom Pastor, em Divinópolis. Trata-se do Silvano, técnico em consertos de geladeiras. Ele tem um problema sério de coluna. Já teria consultado com diversos médicos e feito vários tratamentos e nada de se curar. Envolvido como telespectador desses programas de televisão religiosos, nos quais aparecem esses religiosos milionários como RR Soares, Valdomiro Santiago, Edir Macedo e outros tantos que se dizem curadores em nome de JESUS CRISTO, Silvano foi parar em Brasília por intermédio de parentes que afirmavam que um vigarista dessa estirpe o curaria do seu grave problema de coluna.

 

Silvano voltou curado de Brasília para a surpresa de pessoas que, como eu, jamais dava crédito a esse tipo de conversa fiada. Chegou quase que pregando o evangelho, dizendo ter encontrado Jesus e, enfim, ter sido curado pelo Senhor Jesus. Dizia-se curado por obra do Divino Espírito Santo. Dizia-se curado pelas mãos de um pastor curador.

 

Ao me encontrar com o Silvano, cheguei a ficar assustado e, no meu íntimo, pensei: “Será que estarei errado em meus pensamentos meu Deus?!” Cheguei, sinceramente, a ficar em dúvida com os meus conceitos e imaginei, talvez, que eu, no fundo, não acreditasse suficientemente em Deus?! Assim, me questionei: “Será que falta a fé cristã em mim”?!

 

Após vinte e um dias ou três semanas, encontrei-me, novamente, com o Silvano, em plena Rua Goiás, centro de Divinópolis e num impulso perscrutável, perguntei:

 

---E aí, Silvano! E a coluna? Sarou mesmo?

 

E ele, com um semblante desanimado, doentio e de pouca esperança disse:

 

---Ah! Nada, Armando... Voltou tudo de novo! Sinceramente, parece que estou até pior. O meu medo é ficar prostrado em uma cama.

 

Todavia, como esses religiosos costumam dizer: Foi a fé do Silvano que foi fraca... Então, por que não o alimentam com a fé? Se eu devo levar a fé para ser curado é como se eu devesse levar o banco para me assentar dentro da igreja porque de pé eu não suportaria as dores nas pernas. E depois tem mais: 

                          
Jesus Cristo ressuscitava os mortos e o seu último milagre foi curar uma orelha decepada de um judeu na hora da sua prisão. (Lucas 22.49.51) Onde se encontrava a fé dessas pessoas? Puro efeito placebo.

 

Armando Melo de Castro.
Candeias MG Casos e Acasos.




quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O CANDEENSE ZÉ GALINHA.

Foto para ilustração do texto.
Hoje, pela manhã, quando eu descia a Avenida Barão do Rio Branco, em Juiz de Fora, defrontei-me com um anão. O pigmeu, que deveria ter no máximo um metro de altura, tinha uma pose de artista de circo e vestia-se, exageradamente, com uma camisa de várias cores, uma calça azul celeste, uma bota branca e estava acompanhado por uma mulata que, da mesma forma, parecia se tratar de uma figura circense.
Apesar do minúsculo talhe, o pequeno cidadão não se intimidava com o olhar curioso das pessoas, principalmente, os das crianças. Ele impunha uma postura elegante. Sorria para as pessoas enquanto as crianças paravam para observá-lo. Até que um engraçadinho, talvez torcedor do Galo, falou alto:
---“Peida aí, anão, pra gente ver a poeira levantar”.
Daí, o anãozinho virou-se para trás e deu uma enfezada fisgada no olhar e gritou:
---“Vai à puta que lhe pariu, seu desgraçado!”.
Isso foi um show a céu aberto para as pessoas que estavam por perto.
À vista da reação do anão, veio à borda das minhas lembranças o nome de uma pessoa que há muitos anos se encontra guardado no armário das minhas memórias: Zé Galinha.
Zé Galinha era um candeense dos mais viajados. Estatura mediana, cabelo liso, barba bem feita, pele branca, contudo, sempre foi bem chegado a uma neguinha. Chegou até mesmo a se casar com uma que, logo depois da noite de núpcias, deu um jeito de cair fora. Diziam as más línguas que a mulher não o teria aguentado. É que ele era bem avantajado quanto a sua sexualidade. Alguns diziam que ele era um raro cavalo de cinco pernas e outros, ainda, afirmavam que Zé Galinha era um autêntico jumento.
Certa vez, recém-chegado a Candeias, ele recebeu uma carta pela qual o missivista, um gay, naturalmente, iniciava a sua narrativa assim:
---Querido, como o seu “Falo” me deixou sem fala. Você é maravilhoso!!!
Eu era um menino bobo, sem maldade e ainda não sabia interpretar o que as más línguas diziam de forma metafórica e nem como os gays se expressavam relativamente a uma adoração.
Sei apenas que Zé Galinha era um cara legal, muito alegre e brincalhão. Era como um meninão. Gostava de fazer mágicas para as crianças, enfiava um palito de fósforo pela boca e o fazia sair pelo nariz. Até hoje eu não consigo entender como que o Zé Galinha fazia aquilo. Acho que aprendeu essas coisas acompanhando os circos. Nos vários circos que chegavam a Candeias, Zé Galinha, rapidamente, se enturmava com os membros da trupe. Às vezes, fazia papéis de figurantes nas peças teatrais, outras vezes era contratado para ajudar a montar e a desmontar o itinerante. Não foram poucas as vezes que Zé Galinha foi embora acompanhando um circo ou um parque. Entretanto, depois de algum tempo, sempre acabava voltando, fazendo as suas graças e mágicas. Entre as inúmeras piadas e casos que eu ouvira de Zé Galinha, houve um que jamais me esqueci cujo tema era um anão:
Dizia para todos que havia trabalhado em um circo no qual havia um anão maneta, ou seja, que possuía apenas um braço normal, e, nesse caso, era o esquerdo. O braço direito ele já não o tinha desde o nascimento. Existia apenas um cotó com dois dedinhos e neste cotó ele usava o relógio de pulso.
Certo dia, Zé Galinha sugeriu ao anão que usasse o relógio no braço esquerdo. Afinal, costumeiramente, usa-se o relógio no braço esquerdo. E depois, este braço do anão era normal. Foi quando o anão, muito irritado, lhe disse:
---E na hora de dar corda no relógio, eu chamo a puta da sua mãe, seu corno?!
É isso aí, aquele que pensa que anão é manso porque é pequeno, está muito enganado.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.