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sábado, 22 de agosto de 2015

O DUPLO SENTIDO DA MANDIOCA.


O meu amigo Mozart Sidney, para mim o filósofo candeense, certa vez disse que o homem colocando algo pela porta da sala com uma pá, e a mulhe tirando pela porta da cozinha com uma colher de ferro, ela consegue tirar mais do que ele. O tempo me mostrou que o Mozart apesar de não ter sido um homem casado, estava coberto de razão.

Na economia doméstica o homem não compara com a mulher. Se por ventura houver um homem que possa se identificar com a mulher, ele não será considerado econômico e sim um pão duro de mão cheia. Isso porque existe a diferença de comportamento que a gente pode verificar entre mulheres e homens que se destacam na hora de comprar algo para casa, num supermercado, numa feira livre, num sacolão ou numa loja... A mulher sempre se destaca. -- Lembro-me de minha mãe e sinto isso aqui na minha casa. A mulher e a filha vivem dizendo que eu não sei comprar. ---- Quando eu vou até a feira confesso que fico um pouco encalistrado diante do feirante.

A mulher olha todos os tomates antes de comprar e depois escolhe um por um. Eu sinto que aquilo é um princípio feminino, porque vejo as demais fazerem isso também. Portanto, confesso que passei a ter um pouco de nojo do tomate. Esse fruto eu só me sirvo dele na minha casa. Em restaurante nem penso. Aliás verduras em restaurante, principalmente nesses “seven’s”... Eu já vi cada lambança... E eu quando jovem trabalhei como ajudante na cozinha de um restaurante... Quem vê lá fora, não vê lá dentro.

Na escolha dos ovos o que para mim são todos iguais, para ela parece que estão todos trincados. Olha atentamente um de cada vez, escolhe pega outro, cujas diferenças eu não consigo observar. --- E as verduras? Ai a exigência é muito maior. O coitado do caramujo é procurado como o bandido da luz vermelha, ou uma chave perdida. --- Na escolha das frutas o bicho pega. --- Eu confesso que jamais eu seria capaz de ser um feirante.

Dando uma olhadinha no retrovisor da minha vida, vejo lá atrás a rua onde nasci, em Candeias, a minha querida Rua Coronal João Afonso Lamounier, minha família tinha como vizinha defronte, a Sra. Marica da Melada, aquela mesma que puxou o terço na casa de Dona Joana do Galdino e saiu danada da vida pelo pum que a velha soltou na hora do terço. ----- Dona Marica mulher nervosa; falava alto brigava com a sua mãe Dona Melada, irmã do Sr. Erasto de Barros e encrencava com os vizinhos dos lados de sua casa.

Às quartas e sábados descia à nossa rua um vendedor de verduras, frutas e legumes, era o Zé Morais, que junto de outro irmão, produziam esses produtos na sua chácara chamada “dos Morais”, situada no final da Rua Expedicionário Lázaro Alvarenga. ---- Zé morais era um velho alegre,  estatura  mediana, rosto cheio, barba e cabelos crescidos e brancos chapéu de palha corroído, um sorriso largo e alegre mostrando dois dentes naturalmente reservados para chupar as deliciosas jabuticabas produzidas no seu pomar.

Às quartas e sábados ele descia com a sua carroça cheia dos seus produtos. Descia gritando e as mulheres já saiam às portas para comprar. Não havia muita variedade. Por exemplo: Se num dia era só couve e Alface; no outro vinha repolho e almeirão; batata doce e mandioca e assim por diante. --- As mulheres compravam pouco. Quase não existia geladeira nesse tempo e vendedores às portas não faltavam. --- Farinha, frango na manguara e outros produtos das roças aos sábados choviam nas portas.

Dona Marica, sempre exigente, botava defeito em tudo. Nesse dia Zé Moraes trazia mandioca entre os seus produtos. Só que ela achou as mandiocas muito finas e disse de forma muito clara: “Nem Zé! Deus me livre de mandioca fina elas são duras demais. Eu só gosto de mandioca grossa. Essa mandioquinha sua tá muito rasteira. ---- E daí aquelas pessoas que estavam ao redor da carroça, ficaram com olhar de riso, quando o meu tio João Delminda arriscou um palpite: Mandioca grande e grossa é a do Chico Freire, (Chico Freire era um vendeiro que existia um pouco acima daquele local.) você já experimentou dela Marica? Falou e riu com aquela cara mais lambida do mundo, quando todo mundo caiu na rizada.

Dona Marica largou todo mundo falando sozinho, indignada saiu pisando duro e dizendo: “Eu não sei como a Elisa aguenta um homem descarado desses”. ( Elisa era a esposa do meu tio)

Dona Jovina, a carioca, esposa do enfermeiro Domingos, que morava ao lado dela e era seu desafeto comentou: “Gente! A papa-hóstia entende de metáforas. E eu que pensei que ela só entendia de verseto...”

E eu sai correndo para olhar no dicionário o que era verseto...

Armando Melo de Castro

 


domingo, 9 de agosto de 2015

MEU PAI ZÉ DELMINDA.





Há 17 anos o meu pai se encantou para mudar de morada. Dizem que quando alguém deixa de estar presente, vai para os céus, para junto de Deus. Eu não sei, mas isso de dizer que a gente morre e vai direto para o céu, é, para mim, uma coisa tão vaga!... Fico aqui imaginando, será que realmente todo mundo que morre vai direto para junto de Deus?... Eu aprendi no catecismo da catequista, Maria Brasileira, neta do Padre Américo, que Deus está aqui onde estamos --- nos céus --- e em todo lugar.

Portanto, eu ouso imaginar que quando dizemos que alguém morreu e foi para os céus, estamos apenas desejando-lhe um bom lugar, isso porque dá a nos entender, em tese, que lá é a morada oficial do Criador de todas as coisas...  Isso me leva a crer que o meu pai, fica às vezes no céu, outras vezes aqui na terra junto de seus amigos, dos seus parentes, da minha mãe, dos seus filhos...  Afinal o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, Gêneses 1: 26-27. Sendo assim, estando sendo lembrado estará presente.

Se o amor é uma das forças do Espírito Santo de Deus, Deus não iria separar pais e filhos a partir do momento em que um deles estaria abandonando um corpo impotente que já teria prestado a sua contribuição à obra da Sua criação. Portanto, para mim, meu pai ainda não morreu, ele encontra-se apenas encantado. Se vivos fazemos tudo para não irmos embora desta vida, lutamos tanto contra a morte que tememos tanto, Deus na sua infinita bondade não nos daria a morte em forma de castigo. Podemos, a meu ver, irmos definitivamente para os céus onde está Deus, mas sim, depois de 
deixarmos de sermos amados aqui na terra.

Hoje, 9 de agosto de 2015 é o dia dos pais. E eu estou muito feliz porque no salão do meu coração, grande festa esta acontecendo ao som do bandolim do meu pai; e eu estarei ouvindo os seus conselhos e sendo fluidificado por seu amor, através das lembranças eternamente cravadas bem no centro do meu coração.

Nesse seu dia meu querido pai, receba o meu beijo de filho amoroso. Receba essas lágrimas de alegria por tê-lo eternamente dentro do meu coração.

Com a sua bênção,

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

CAMINHONEIROS CANDEENSES.






     

A indústria automobilística no Brasil chegou com o advento do governo de Juscelino Kubitschek no final da década de 50. Juscelino que teria prometido ao povo Brasileiro fazer do Brasil cinquenta anos em cinco de progresso, trouxe a indústria automobilística para o país quando foram fabricados os primeiros veículos. Até então, o Brasil só tinha montagens de carros estrangeiros. Em 1959 chegou a Candeias o primeiro caminhão chevrolet-Brasil, de propriedade do Waldir do Zé Alves. E logo apareceu o primeiro fusca de propriedade do Zé Pulhes.

 Os proprietários de automóveis em Candeias na década de 50 eram poucos e todos importados, e se limitavam à família Furtado, Nestor Lamounier, Dr. Renato Vieira, João Bernardo; José Pinto de Resende, João Pinto de Miranda, Monsenhor Castro, Ângelo Afonso. --- Algumas poucas caminhonetes dos fazendeiros mais abastados, como João Pinto, Mariano Bernardo e família Carrilho. E um único carro de praça pertencente ao Sr. Edson Cordeiro. Um Ford 1946. Os demais que existiam afora esses citados, eram os chamados ximbicas que viviam mais na oficina mecânica do Nestor Lamounier.

A década de 60 chegava para balançar o mundo. E Candeias não poderia ficar indiferente. Foi quando começou uma grande revolução comportamental como a onda do feminismo e os movimentos de defesa dos negros e dos homossexuais. O Papa João XXIII deu uma remexida forte na Igreja Católica, o movimento hippies protestando; a revolução musical; o começo da anarquia em Cuba o que levou Fidel Castro ao poder. Enfim o espaço aqui é curto para falar da mudança que o mundo teve a partir da década de 60. Portanto, vamos limitar a falar da época antes de antevir a década de 60.

O Brasil experimentava a revolução industrial muito bem orientada pelo governo Juscelino Kubitschek, já iniciado com a Construção de Brasília. A impressão que se tinha antes de Brasília, seria de que o Brasil era Rio e São Paulo. O Nordeste dava a entender que estaria do outro lado do mundo. Goiás era sertão. Aliás, em Candeias, por exemplo, chamava Bambuí de sertão. Qualquer coisa que vinha de Bambuí para baixo, era produto do sertão, queijo, farinha de mandioca, feijão roxinho... eram produtos do sertão.

O termo “caminhoneiro” era simplesmente motorista de caminhão. E os motoristas que viajavam para outras cidades eram chamados de Chofer de Estrada. Eram poucos os caminhões em Candeias na década de 50. Posso até citar todos aqui e seus respectivos proprietários e motoristas.

--- Sebastião Redondo, tinha um chevrolet 1940 o qual ele usava para transportar tijolos de sua olaria. Ele o motorista.

---Chico de Assis tinha um Ford 1942 com o qualfazia pequenos transportes dentro da cidade. Motorista era ele mesmo.

---João Sidney de Sousa tinha um chevrolet 1946 que era usado para transporte de dormentes para a RMV. (Rede mineira de viação) o motorista era o meu amigo, o meu grande amigo Henrique Pinheiro.

---Celestino Bonaccorsi tinha um chevrolet 1946 para fazer os transportes de seu grupo empresarial. O motorista era o Sr. Geraldo do Emídio.

---Sebastião Freire tinha um Ford 1946 para carretos dentro da cidade. Motorista era o Nenê seu filho.

---João do Artur tinha um chevrolet 1949 para carretos em geral, motorista era ele.

---César Paixão, tinha um Internationale 1950 leiteiro de Candeias a Campo Belo.

---Joãozinho da Fazenda, tinha um Ford 1960 para os seus transportes rurais.

---Prefeitura, tinha um chevrolet 51 e o motorista era o Zé Cacheiro.

---Américo Bonaccorsi tinha um GMC, para transportar galinhas para o Rio de Janeiro. O motorista era o Vandinho seu filho.

---Zico do Carrinho, tinha um chevrolet 51 com o qual era para transporte de leite para Campo Belo. Ainda não existia a CACISA.

---Zé Maria, tinha um chevrolet 51 com o qual ele

atendia os carretos dentro da cidade e nas roças.

-- Barroso tinha uma caminhonete Ford com o qual ele fazia transporte de Creme das

roças para o seu depósito num açougue onde hoje está localizado o Labbioclinicas.

Até então não existiam caminhões fabricados no Brasil. A partir de 1960 já começaram a aparecer os caminhões, outros automóveis. Com o advento da fábrica de laticínios CACISA, vinda de Cristais, do Sr. Calimério Alves Costa, os transportes de leite cresceram e surgiram outros caminhões para atender a demanda.

Não existiam nesse tempo grandes transportes rodoviários em Candeias. A maior parte dos produtos era transportada através da ferrovia. Os carroceiros  faziam ponto na estação, porque quando as mercadorias chegavam, eles já as levavam para os seus destinatários. Lembrando alguns deles: Serafim, Arlindo Barrilinho, Juca Cordeiro, Nego da Zenóbia, João Branco e outros mais. Hoje, eu nem sei se ainda existem carroceiros em Candeias.

Nesta oportunidade eu quero lembrar aqui um grande amigo meu, o motorista Renato do Zico do Carrinho, que era o motorista do seu pai. Começou a dirigir o caminhão ainda garoto. Ele tinha como ajudantes o seu irmão Zé do Zico, casado com a Dalva do Cassinho. e o Geraldo que tinha o apelido de Cigano.

Os personagens deste texto estão sendo lembrados em memória. Que eu saiba, apenas a Dalva do Acassinho, esposa do Zé do Zico, felizmente ainda se encontra entre nós.

Armando Melo de Castro

Candeias MG Casos e Acasos.

reeditado em 25 de agosto de 2023