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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

BIRIBICO, UM CANDEENSE QUERIDO.


 Natal e ano novo, nos oferece um momento de reflexão. É hora de dar um balanço em nossa vida, saber como foi, como está e como será. E neste balanço o que mais temos são as lembranças de outros natais, uns muito felizes outros já nem tanto. Anos que foram novos e que já estão muito velhos. A nossa prosperidade e quem sabe alguns deslizes? Afinal ninguém está livre deles. --- Contudo, as perdas de amigos e parentes são, naturalmente a parte mais triste dessas reflexões.

 Aqueles amigos com quem tivemos uma convivência maior, com os quais trocamos favores e gentilezas. Companheiros que estavam sempre presentes nas alegrias e nas tristezas. Enfim, resumindo: Um amigo da cozinha. São esses os amigos mais raros, mas que a distância e nem a morte os fazem esquecidos. A lembrança é o que sobra dessa amizade que se transforma em saudade.

 Entre o meu rol de amigos, eu quero destacar hoje neste texto, o nome de um grande amigo meu e de toda a minha família. Colega de escola de minha mãe, e durante anos, companheiro de pescaria do meu pai. -- O amigo Miguel Tortura Albanês, o meu querido BIRIBICO.

 Descendente de italianos, Biribico nasceu no dia  26 de julho de 1929, em Candeias, filho de  Miguel Albanez e Carmelia Tortura Albanez.,  Era o caçula de uma prole de 10 irmãos sendo eles:  Silvio Albanez,  Luzia Albanez, Maria Albanez, Francisco Albanez, Afonso Albanez, Ângela Albanez, Carmelita Albanez, José Albanez (Padre) Tereza Albanez e Miguel Tortura Albanez.

Biribico não conheceu a sua mãe, pois esta faleceu após o seu nascimento levando-o a ser criado pelos irmãos. Ainda jovem, ajudava o seu pai na fabricação de móveis, concertar relógios e sanfonas. Na década de 50, foi para o Rio de Janeiro prestar concurso para o IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Após permanecer por algum tempo no Rio de Janeiro, voltou para Minas Gerais transferido, para a agência do IBGE da cidade de Cristais, onde conheceu a jovem Maria Aparecida Santos, com quem se casou em 28 de setembro de 1956, indo morar, então,  na cidade de Oliveira, MG e posteriormente veio para Candeias, em Substituição ao Sr. Edson “Pachá”(*), então transferido para a cidade de Divinpópolis. Biribico permaneceu por muitos anos como o Agente da Agência do IBGE em Candeias.

Residiu à rua Expedicionário Rui, mas anos depois transferiu sua residência, quando adquiriu       o sobrado situado na esquina da Rua João Caetano de Faria, com a Rua Vereador Sidney Galdino, antigo Bazar Talita, onde permaneceu até ao seu falecimento. Da sua união com Dona Aparecida nasceram os filhos Miguel Ângelo, Marco Antônio, Marinês e Claudio Marcelo.

Biribico e meu pai, José Delminda, foram grandes amigos e companheiros de pescaria e caçadas. Quantas e quantas vezes ele aparecia em nossa casa combinando uma pescaria com o meu pai, nos ribeirões do município. Era uma pessoa bem humorada, estava sempre sorrindo e sempre tinha um caso para contar. Eu também muitas vezes os acompanhei nessas pescarias. E lembro-me até hoje assustado, uma vez num ribeirão na estrada que vai para Itapecerica, Biribico não era desses pescadores que muda de pesqueiro a todo momento, ele ficava ali, tranquilo, fumando o seu cigarrinho e esperando o peixe e quando o dia amanheceu foi que ele viu, que tinha passado a noite toda junto de uma cobra venenosa bem próximo dele.

Sua imagem era caracterizada pelo seu chapeuzinho de palha e sempre assentado no Banco do jardim próximo da residência do Sr. Nestor Lamounier. Foi um cidadão candeense dos mais participativos. Participou da fundação do Círculo Operário São José; do S.O.S. Serviço de Obras Sociais que dava assistência aos menos favorecidos. --- Em 1973 foi transferido para a cidade de Curvelo, e logo veio para Perdões, cidade mais próxima, onde permaneceu até a sua aposentadora. Durante o tempo em que esteve em Curvelo e Perdões, continuo residindo em Candeias quando ia e voltava.

Lembro-me de quando vi e conheci Biribico. Isso foi em 1954, ele era Inspetor Escolar e a minha professora Maria do Carmo Alvarenga escreveu no quadro negro esse nome:

 MIGUEL TORTURA ALBANEZ

 E disse: Olha meninos, amanhã nós vamos receber a visita desse senhor, ele é o nosso inspetor. Na hora que ele chegar vocês se levantem e façam o maior silêncio e só vão assentar quando ele ordenar. --- O nome do Biribico, foi assunto durante o recreio, depois da aula e antes no outro dia. A nossa curiosidade de conhecer um homem não por ser o inspetor, mas porque tinha o nome de  Tortura. Foi um feliz encontro porque ele com aquele seu sorriso sorrateiro, disse: Vocês pensaram que eu era torto, não é? --- E já deixou a turma descontraída.

 Miguel Tortura Albanez, o Biribico, faleceu no dia 05 de agosto de 2018 aos 87 anos, após ter convivido com Alzheimer. Deixou um grande número de amigos que muito o respeitava ele era o tipo de amigo que entra pelo cérebro e desce ao coração para fazer morada.

Está sepultado no Cemitério São Francisco.

 Armando Melo de Castro.

SAUDADE QUE NUNCA MORRE.

De ontem para hoje o meu coração que já bate há 75 anos, bateu mais forte. Isso porque ele foi tomado pela saudade dos meus natais do passado. Saudade essa que me transportou lá para o princípio da estrada da minha vida. Estrada que começou na Rua Coronel João Afonso Lamounier, na minha querida Candeias, que hoje já não sou tão dela, mas ela continua sendo minha. ---

A saudade às vezes se transforma no sentimento que transcende as forças de nossa alma. Se nós a matamos ela ressuscita e essa ressureição chega a ser dorida. É verdade que esse tipo de sentimento às vezes, dói mais como se fosse uma dor sem nome. Trata-se de algo que entra pelo cérebro e desce ao coração para ali permanecer, todavia nem sempre fazendo parte da felicidade do nosso coração.

Há quem diga que a saudade e a felicidade andam de mãos dadas. Eu acho que não. Eu entendo que a saudade e a felicidade são sentimentos diferentes e sendo a saudade muito mais forte, pode transformar uma felicidade em tristeza principalmente quando moram no coração quem sabe amar, aí são dois sentimentos que se unem. É natural lembrarmos de uma fotografia feliz e chorarmos de saudade.

A vida é assim: Nascemos, vivemos e morremos de saudade, antes de morrer para Deus. Quando mais tempo a pessoa vive, mais lembranças estarão embaladas no saudosismo que habita o coração. Cabe, então, a cada um de nós administrar esses sentimentos que se transformam. ---- Afinal, não vivemos no mesmo mundo em que nascemos. Ele se transforma e nós também nos transformamos em monstros em comparação de quando nascemos. Afinal, quem compara um idoso de oitenta anos, com uma criança de 10 sendo a mesma pessoa?

O natal é uma festa significativa, afinal uma festa que comemora o nascimento de Jesus Cristo, já é por si um símbolo de felicidade. Mas nos dias atuais essa religiosidade vai se esvaindo; não é uma felicidade generosa e nem generalizada. Porque cada um tem o seu natal diferenciado. Para mim o natal se transformou completamente. Era uma festa religiosa. Uma festa apenas do papai Noel e do menino Jesus.

---- As igrejas em Candeias ficavam cheias com a entrada e saída de pessoas visitando o grande presépio montado junto a um dos altares da igreja matriz . As crianças adoravam o natal porque sempre, por mais humilde que fossem ganhavam um presentinho, muitas das vezes caseiro, de coisas que naturalmente já estavam precisando, mas aquilo seria como se fosse um presente de papai Noel. A missa a meia noite, era a chamada missa do galo que lotava tanto a igreja, que foi um dos motivos que levaram o Monsenhor Castro a se entusiasmar em construir uma grande matriz. Essa missa fazia com que as pessoas permanecessem na rua até tarde pois o seu horário era à meia noite. --- Logo após essa missa as pessoas voltavam para casa quando iam cear com a família. Muitos teria se jejuado nesse dia para participar da ceia para festejar a chegada do menino Jesus.

---- Os filhos do Sr. João Bernardino Langsdorff , Antônio e Olímpio, criaram um presépio elétrico onde os personagens bíblicos do presépio se movimentavam. Um invento tão extraordinário que vinham pessoas de fora para conhece-lo.

A noite de natal em Candeias era muito movimentada, pois vinham das roças o pessoal para habitar as suas casas que ficavam fechadas para essas oportunidades e assistir a missa do galo, como também visitar o menino Jesus então exposto. Nesse tempo o pessoal da comunidade rural permanecia mais em suas terras e só apareciam na cidade em épocas de festas ou por outras necessidades. Portanto, as festas religiosas como, Festa do Rosário, Semana Santa e Natal, a cidade ficava lotada, pois aqueles que residiam fora, também, vinham nessas oportunidades visitar os parentes.

Eu, no verdor dos meus anos não havia recebido essa frase “Feliz Natal Armando” Eu nunca teria sequer visto um cartão de natal. Quando a cidade toda movimentada, naquela noite de natal de 1959, com a espera da missa e duas seções de cinema antes da missa, eu entro no Bar Piloto, com as mesas todas ocupadas, eu entro, procurando o meu pai, quando eu vejo o Cabo comandante do destacamento policial da cidade, pegando na mão de todo mundo. E logo ele veio para o meu lado, me estendeu a mão e perguntou o meu nome e me disse: “Feliz Natal Armando” deixando-me trêmulo de susto, pela minha timidez. --- Foi a primeira vez que eu ouvi alguém me dirigir aqueles votos. Eu nunca o esqueci, pena que não me lembro o nome daquele senhor. Mas onde quer que ele esteja está sempre no meu natal recebendo a minha resposta. “Para o senhor também sô Cabo”.

O badalar do sino e os dobrados e as músicas natalinas tocadas na matriz antes da missa; os sermões do monsenhor Castro; A grande parte daquelas pessoas que não existem mais e que estavam sempre presentes nas solenidades religiosas. São como um grito da minha saudade.

Armando Melo de Castro.

HOJE, A MÃE MARIA VAI DAR A LUZ AO MENINO JESUS.


Estamos em plena véspera de natal. 24 de dezembro de 2021. As pessoas se comunicam desejando uns aos outros uma noite feliz. --- É tão bonito isso, essa confraternização. Contudo, merece uma reflexão, para saber se a humanidade está verdadeiramente se confraternizando nessa data tão querida que registra o nascimento de nosso Senhor Salvador.

Longe de mim ser um “grinch” ou alguém que não gosta do natal. Contudo, entendo que o natal de Jesus Cristo, deveria ter um comportamento humano diferenciado, principalmente por aqueles que vivem com o nome de Cristo na boca, mas não imitam a humildade do seu nascimento. A frase “Feliz Natal” expressa felicidade, e será que esta felicidade existe realmente? ---- Eu não a vejo nos dias atuais o natal como já pude ver na minha infância, quando o mundo ainda era estranho para mim. Infelizmente o natal que comemoramos trata-se acima de tudo de uma convenção criada para um aspecto inteiramente comercial. A bem da verdade não se trata de uma felicidade religiosa e universal quando deveria ser.

A felicidade para muitos é uma mentira. ---- O Papai Noel, que não visita os pobres. A fome em certos lares enquanto se esbanjam em outros que sequer se lembram do menino Jesus. Não seria isso que o Pai Celestial ia querer para os seus filhos. Temos então o livre arbítrio do Pai, para que possamos escolher o certo ou o errado. Assim, temos os natais felizes e os infelizes.

---- Eu fui um menino muito feliz nos natais da minha infância, mas hoje, após conhecer a verdade sobre o natal, trata-se de uma festa, sem brilho e sem importância. Já não sinto aquela noite silenciosa quando o meu coração batia de emoção como sendo a noite do nascimento do meu querido Jesus Cristo. Era um tempo do mundo desconhecido para mim. Mas aprendi que Jesus Cristo está presente em meu coração todos os dias e todos os anos. Hoje, eu me contento em relembrar as noites de natal de minha infância com uma saudade que me serve de oração. Éramos uma família pobre; meu pai era sapateiro em tempos difíceis. Quando naquela noite o meu pai puxava o terço e nós o acompanhava ajoelhados de frente a um pequeno quadro do menino Jesus, Mãe Maria e São José.

Depois desse ritual da oração era ora de colocar os sapatos atras da porta da sala. ---- Lembro-me que tínhamos o cuidado de engraxar os nossos sapatinhos para esperar os presentes de Papai Noel. Eu o irmão mais velho, fazia esse serviço. Depois disso, trocávamos os beijos e após recebermos as bênçãos de nossos pais, deitávamos para adormecer e aguardar o amanhecer mais feliz de nossas vidas. Era realmente uma noite muito feliz, sem ostentação, sem jantares, sem bebidas e sem discursos. Era uma noite silenciosa, e o meu coração sentia com força, a chegada do nascimento de um menino santo e que veria para nos abençoar e melhorar o mundo. Era assim que eu pensava sobre o natal.

Na manhã seguinte corríamos rumo a porta quando, sobre os nossos pequenos calçados, estavam um saquinho de balas para cada um, --- bonecos de papelão com cara de adultos fabricados numa fabriqueta, então existente na cidade de Formiga, para as minhas irmãs. Para mim era sempre um brinquedo fabricado pelo meu pai às escondidas antes do natal. Meu pai foi sempre um homem muito habilidoso e eu ainda me lembro nitidamente dos caminhõezinhos e instrumentos musicais infantis que ele fabricava para mim, quando eu ia para a rua brincar à porta de chegada de nossa casa para todo mundo ver a minha felicidade trazida pelo Papai Noel. Posso ainda me lembrar da felicidade dos meus pais, vendo a felicidade minha e de minhas irmãs.

Cresci e conheci a verdade sobre o natal. Hoje, quando me vem à memória de que Jesus nasceu em uma manjedoura, entre os ruminantes, posso entender que o natal é uma festa paradoxal, principalmente se houver carne de boi ou de porco. Isso porque o primeiro recebeu Cristo e O acolheu em sua manjedoura, assistiu ao Seu nascimento e Lhe deu aconchego com o seu bafo. ------ E o outro, por ser impuro e indigno, em uma festa oferecida a Jesus Cristo.

Portanto, eu imagino que o natal deveria ser uma festa de pobre para pobre e que os mais aquinhoados acabaram, insensivelmente, alterando o seu real sentido. A prova maior disso é recebermos de um judeu ou de um ateu os votos de “Feliz Natal”.

Eu desejo a todo o mundo e em especial aos meus amigos, não apenas um natal feliz, mas uma felicidade completa, todos os dias de suas vidas.

Armando Melo de Castro


domingo, 19 de dezembro de 2021

EU, UM CANDEENSE MINEIRO, POBRE BAIRRISTA.


Sou um candeense, mineiro e brasileiro bairrista. Eu nunca tive vontade de conhecer um país estrangeiro. ---- Para que essa vontade me viesse à tona necessário seria que eu já conhecesse todos os cantos do Brasil. Como isso nunca foi e nem me será possível continuarei sem esse desejo e feliz.

 O bairrismo às vezes é mal entendido como herança do coronelismo reconhecido pelo poder social e patrimonial. É claro que neste sentido o bairrismo pode ser justificado não apenas por amor a terra onde a pessoa nasceu, mas pelo apego às terras de sua propriedade. A literatura brasileira insiste em comentar que o bairrismo foi uma das causas que muito atrapalharam para que o Brasil tivesse uma república consolidada. É, todavia, inegável que o Bairrismo econômico é uma perversa herança do coronelismo e sua política.

Mas o bairrismo o qual me refiro neste texto, não é desse pacote... Não é desse saco de farinha... Não se trata dessa ambição dos antigos proprietários de terra. O meu bairrismo é o bairrismo do amor à terra que me viu nascer. Das mais belas lembranças que guardo dentro de mim, da serra do Sr. Bom Jesus; a igreja matriz onde fui batizado; o Santuário do Senhor Bom Jesus reservado aos domingos para as reuniões dos irmãos de São Vicente; no mês de maio para as coroações da Mãe Maria; do meu querido Grupo Escolar Padre Américo; do Bar do Bóvio, Bar Piloto; Casa Celestino Bonaccorsi e a chegada do calçamento das ruas e das tantas praças que foram criadas em Candeias. Tudo isso me viram nascer e crescer até aos 18 anos na minha querida Candeias.

Eu tive que sair de Candeias para ganhar a minha vida fora. Fiz isso aos 15 anos e voltei... Aos 16 e voltei... Aos 17 e voltei, mas após os 18 anos parece que Candeias não quis ser mais minha, mas eu continuei a ser dela. A minha terra cantada em prosa e verso nas salas e no pátio da escola. Tudo isso ficou entranhado em mim como se fosse uma marca candente, como aquelas que se faz no gado.

Certa vez, aqui em Juiz de Fora, quando eu conversava com um baiano e ele me perguntou onde eu nasci, e eu disse-lhe que era de Candeias, ele pirou e me disse: “ Nois somo conterrano cumpanhero? --- Mas ele com aquele sotaque de baiano matuto, me fez logo entender que se tratava de um candeense da Bahia, no que eu naturalmente exaltei a minha Candeias de Minas Gerais.

Mas veja só: O baiano teve a ousadia de dizer: “Eu nunca vi falar dessa Candeias sua”. E depois de dar um sorriso sorrateiro e malicioso, disse em bom tom  --- “Oceis intão ficou com inveja de nóis” e deu aquela risadinha de esnobe, como estamos vendo entre Atleticanos e cruzeirenses.

E bairrista como sou, tive que engolir aquele sorriso insultante

Bairrista como sou tive que engolir aquela frase embrulhada naquela risada, mas tentei me desabafar e disse:

Pelo contrário meu amigo, foram vocês que nos imitaram. A nossa Candeias emancipou-se em 1938 e a sua foram 20 anos depois. Disse-lhe.

“Mais a sua deve ser muito piquena né”

E eu pela força do bairrismo o interpelei: não é tão pequenina não. Tem quase 20 mil habitantes... E ele soltou na minha cara agora um sorriso daqueles bem reprochados e não se conteve em abrir o verbo, dizendo que a sua cidade daria umas cinco da minha, que lá tem isso e tem aquilo, de uma forma indireta dizendo que a minha Candeias, a minha pobre Candeias não devia nada quase nada. Notei então que eu estava à frente de outro bairrista.

Assim, me vi derrotado diante de uma competição, onde eu não teria argumentos e isso levou-me a um pensamento. Onde estão os políticos de minha Candeias que nunca tentaram uma mudança do nome da cidade para CANDEIAS DE MINAS, através de um plebiscito. --- Eu como um candeense mineiro, tenho “birra” dessa Candeias da Bahia, desde menino, quando o meu avô foi para São Paulo a fim de ser operado, e como naquele tempo as coisas eram diferentes, pois não existiam as facilidades de comunicação, como existem hoje. As cartas que o meu Tio  escreveu para o meu pai, foram todas parar na Bahia, e demoravam um mês para chegar em nossas mãos.

Na internet é triste ver a nossa Candeias se misturando com a Candeias da Bahia, a diferença é  só o MG pelo BA. E quando os baianos se referem a nossa Candeias é como se nós estivéssemos tirando-lhes até a nossa padroeira, Nossa Senhora das Candeias. A quem eu peço, Mãe! Dá um jeito nisso

Armando Melo de Castro

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

UMA LEMBRANÇA BENDITA DAS CANDEIAS!


Eu peço licença aos meus amigos, para que hoje, eu possa falar de mim. Entendo que aquele que se propõem a falar de outras vidas, deve, no entanto, falar da sua também. Falar sobre si mesmo é assumir a sua condição, seus percalços e as mudanças que a vida oferece. Não falar de si sem uma afirmação, ignorando os buracos da estrada da vida; isso seria criar uma condição para a própria ignorância. Afinal cada ser humano escreve a sua história. Uma história naturalmente verdadeira.

Eu fui um menino feliz, mas tinha um problema que custei a me livrar dele. Eu entendo que se a pessoa não sabe que o tem, tudo bem. Mas se o tem e não aceita tê-lo é terrível. Trata-se da timidez. Eu era um menino acanhado, portador de uma timidez precária que me impedia de alcançar o meu proposito o qual seria perder aquele maldito medo de ser abordado

Eu queria ser um menino sorridente, alegre, respondão, e não aquele bobão que quando chamado a atenção por um erro involuntário, não sabia se defender e sim abrir a boca a chorar. Eu queria ser um menino igual os outros e não aquele que me sentia ser. --- Na escola quando a professora se aproximava de mim eu baixava a cabeça. ---- Cinquenta anos mais tarde, eu visitei a minha primeira professora, então moradora na cidade de Formiga, a minha querida Dona Maria do Carmo Alvarenga, esposa do amigo Alberto do Sr. Nico da Estação, e ela se lembrou de mim e disse: “Eu me lembro muito de você Armando, caladinho no seu canto...” --- E a minha mãe que estava presente, e teria sido amiga de infância de Dona Maria do Carmo disse, a frase que eu tanto gostava de ouvir: “Pois é Do Carmo, quem o viu e quem o vê agora, não faz ideia”... Como era bom ouvir isso da boca de minha mãe.

Mas desde que aprendi a jurar, jurei e cumpri o juramente de deixar de ser aquela vítima de mim mesmo, e poder me inteirar de forma social. Mas posso garantir que isso não foi fácil.

Eu não conhecia a palavra “Timidez” e sim as palavras, acanhado e bobo. Uma hora ouvia dizer que eu era bobo, outra hora acanhado. E eu não queria ser nenhuma das duas coisas. O meu papo maior era comigo. Eu falava comigo mesmo: Um dia eu perco essa vergonha; um dia eu deixo de ser bobo e acanhado. --- E jurava para Deus pai, Jesus Cristo, a Mãe Maria e o meu Santo Antônio.

A postagem neste grupo, do meu amigo Júlio Cezar Viglioni, quando pergunta a quem se lembra o nome do dono da budega em que o leitor comprava na infância, coloca os meus olhos no retrovisor da estrada da minha vida, quando existia a venda do Sr. Zé Lara, estabelecido ali na esquina da Rua Professor Portugal com a Rua Coronel João Afonso Lamounier, onde hoje reside a família do Sr. Vicentinho Vilela.

A nossa casa ficava próximo dali e qualquer moeda que me chegasse às mãos, eu corria até a venda do Sr. Zé Lara para comprar a bala nata a minha preferida. Eu deveria ter nesse tempo os meus 6 anos de idade, por volta do ano de 1952. E minha mãe deixava eu ir até a venda, para, naturalmente, combater a minha timidez que não vinha acompanhando o meu crescimento. No princípio era preciso escrever o nome da bala. Eu só entregava o bilhete para o Zé Lara. Eu chegava correndo e saia correndo. Se alguém me perguntasse de quem eu era filho não tinha resposta.

Na então, Rua José Maria Alkmin, hoje, João Caetano de Faria, abaixo da esquina com a Rua Professor Portugal, numa tapera ali existente, morava uma velha prostituta, que vivia bêbada, gaforina e suja. Os meninos morriam de medo dela e não passavam naquela rua porque ela não gostava de criança, talvez por um trauma da sua vida pregressa. E se um menino tivesse medo dela, ela ameaçava bater nele o que já teria feito com outras crianças. Essa mulher tinha o nome de Sá Orozina.

Zé Lara era um homem sistemático, e não atendia e nem servia pessoas embriagadas que entrassem no seu estabelecimento. Às vezes ele entrava para o interior da residência e o freguês ficava esperando por algum tempo. E nesse dia aconteceu isso. No exato momento em que adentrei a venda, essa mulher chegou atrás de mim. E ao vê-la foi como se tivesse visto o diabo. Comecei a chorar e ela então ameaçou me bater, o que levou Zé Lara chegar, me pegar e colocar do lado de dentro do balcão, e pediu a alguém ali presente, que fosse à casa de meu pai chama-lo.

Meu pai chegou correndo, quando a velha bêbada já o recebeu com palavras de baixo calão, daquelas bem próprias de prostitutas bêbadas. Eu no colo do meu pai, e essa mulher levanta o vestido e expõe uma grande bunda branca me deixando totalmente assustado com a sena e ela disse por mais de uma vez “Ocê e esse “muleque” seu, beija aqui oh! Beija meu rabo! Beija meu c... beija minha b... ---- E o meu pai, então insultado, lascou um baita tapa na bunda dela e disse-lhe: tai o seu beijo.

O fato correu a cidade. Candeias nesse tempo era ainda uma cidade bastante pequena, no tempo dos velhos partidos políticos da UDN e PSD. A UDN do Sr. João Pinto de Miranda e o PSD do Dr. Zoroastro Marques da Silva.

Em três dias chegou a nossa casa um cabo da política Militar e disse ao meu pai, que o delegado Sr. José Resende de Almeida, teria mandado lhe pedir para dar uma chegada na delegacia para expor o ocorrido. ---- Mas que não precisava acompanha-lo que isso poderia ser mais tarde. --- Mas quando eu vi o cabo, eu agarrei na perna do meu pai e não soltava e chorava alto, chamando inclusive a atenção dos vizinhos que teria visto o cabo à porta de nossa casa. E eu só fui acalmar após a retirada do militar. ---- Mais tarde o meu pai foi até a delegacia onde reconheceu o seu erro, mas que aquilo teria sido um efeito do susto que levara, pois o rapaz que o teria chamado dissera que a Sá Orozina, queria bater em mim.

O delegado dissera que a iniciativa junto a delegacia, e que inclusive teria ido ao Dr. Zoroastro pedir uma punição para o meu pai era uma mulher, então muito conhecida de meu pai, mas não disse o nome de quem. Era uma senhora casada, muito conhecida na cidade por seu temperamento briguento. E que seria bom esquecer o ocorrido porque o marido dela era muito amigo do meu pai. E que na delegacia já havia diversas queixas de pais que tiveram seus filhos ameaçados por aquela mulher bêbada. ---- Meu pai agradeceu o delegado, após reconhecer que um homem não pode agredir uma mulher, mas o fato teria acontecido num momento de muita tensão.

Anos depois, o Dr. Zoroastro Marques da Silva, numa conversa com meu pai disse-lhe o nome da mulher que chegou a encher a paciência dela por causa do fato, e ele ainda deu nela um chega pra lá dizendo: “O Zé é meu amigo, ele é da UDN, mas política não se faz desse jeito. ---- Dr. Zoroastro Marques da Silva, um exemplo de político. E a surpresa não foi tão grande para o meu pai. Essa senhora, teria sido namorada dele, e ele a teria dispensado para se casar com a minha mãe.

Mas voltando ao assunto da minha timidez eu acho que o Pai, o Filho e o Espirito Santo, com a presença da Mãe Maria e Santo Antônio, fizeram uma reunião para resolver o meu caso, que ficou tão bem resolvido.

Armando Melo de Castro.

MEMÓRIAS DE UM ADOLESCENTE BOBO.


 

Antigamente, talvez pela falta de chuveiros e o uso das bacias, a falta de higiene era muito maior. --- Esse descuido com a higiene é uma coisa terrível e as pessoas que não se cuidam são propensas a vários tipos de doenças. --- Eu não sei como existem pessoas que dormem sem tomar banho depois de viverem um dia de trabalho e ou encalorado.

Lembro-me de quando eu morei e trabalhei na cidade de Oliveira, na Churrascaria Fátima, às margens da Rodovia Fernão Dias, no princípio da década de 60. Tendo em vista a facilidade de locomoção através de uma carona que eu pegava com um conterrâneo, o Rui da Ponica, sobrinho do Sr. Willian Viglioni, que transportava leite de Oliveira para Três corações todos os dias. E eu que trabalhava 24 horas e folgava 36, tinha tempo para passear.

Assim, eu arrumei uma namoradinha, cujo pai tinha um sítio num lugar chamado São Sebastião da Estrela, um distrito da cidade de Santo Antônio do Amparo, mas que fica mais próximo da cidade de Perdões. Os poucos encontros que tivemos foram limitados e aconteciam quando ela ia até a casa de sua madrinha na cidade de Perdões. Chamava-se Maria de Lourdes, era quatro anos mais velha que eu, que contava apenas dezessete. Conhecemo-nos num pequeno parque de diversões armado nas proximidades da estação ferroviária de Perdões. Ela zoou sobre mim, aproximou-se com a desculpa de saber se eu era parente do Joãozinho da Prefeitura, porque éramos parecidos. Eu quase que engolindo a palavra perguntei-lhe se o Joãozinho era bonito, e ela abriu o verbo. Ele é lindo, muito lindo. Ai então, eu bobo e com cara de pobre, me senti assim como um verdadeiro Dom Juan.

Fiz-lhe companhia até a casa de sua madrinha, a quem fui apresentado e suponho que esse foi o dia da minha vida em que fiquei conhecendo a semente da felicidade a qual eu só teria ouvido falar. --- Os nossos encontros se limitavam na cidade quando ela iria visitar a sua madrinha. Depois de quatro encontros, ela me disse que estava aguardando o sinal verde de sua mãe para que eu fosse visita-la lá no sítio e conhecer os seus pais. Eu até tremi quando ela disse isso, mas como eu disse, eu era aventureiro e queria jogar a minha cara de bobo fora.

Era um tempo difícil porque os pais quando recebiam a visita de um namorado faziam um questionamento sem limites. Eu não sabia nada disso, e como tal aconteceu, a minha visita se resultaria no nosso último encontro.

Nos seis encontros em que tivemos, ela se apresentou com dois vestidos, um cinza e outro cor de rosa. Parece-me que ela tinha um vestido para sair com o namorado, um para ir à missa e um terceiro para variar, e outro para estar em casa. Mas isso não me importava muito. A forma do seu vestido é que me atraia. Aquele corpinho violão e aquela boquinha colorida com um batom vermelhinho como sangue. --- Eu que não entendia nada de beijo, ficava só apreciando aquela boquinha linda, com aquele dentinho torto. Mas a verdade é que eu nunca provei o sabor daquela boca. As vezes que eu tive chance, não tive um escurinho por perto. E depois eu era muito desajeitado.

Finalmente chegou o dia em que eu iria passear à sua casa lá nesse tal São Sebastião da Estrela. Eu teria sido convidado para jantar na casa dela, e disse-me que os seus familiares falavam em me conhecer como se eu fosse um deputado. Parece que deputado naquele tempo tinha valor. E isso me deixou meio preocupado.

Ela me aguardou num determinado ponto da Rodovia, e lá chegamos por volta das 5 horas da tarde. --- 15 minutos após, eu já estava submetido a um interrogatório, mais parecido com uma investigação policial:

O VELHO: O sinhor é de onde? Trabalha aonde, ganha bem, faiz muito tempo que o senhor trabaia lá em Oliveira? O que o senhor faiz lá? Eu menti, para eles, havia dobrado o meu salário e o velho ainda achou pouco para me casar. Ora, mas quem estava falando ali em casamento?

A VELHA: Seu pai mora junto com a sua mãe? Num é separado não? O senhor tem irmão, num tem ninguém largado não. É católico ou crente? Ninguem é cachaceiro não né?

Numa terceira investigação vem um dos irmãos e pergunta: Arguem tem carro na sua famia?

Chegou o momento da janta. Essa até que eu gostei. Galinha caipira com arroz, tutu e macarrão. Da janta eu não tive o que me queixar. Eu pensei em me esticar logo dali após o jantar, mas Deus mandou uma trovoada e uma chuva daquelas de causar enchentes. E para chegar a esse sítio tinha um ribeirão, que logo impediu a passagem. Eu ali na sala, sem poder dar um beijinho, sem pegar na mão,

Sem falar o que penso e vigiado pela irmã mais nova que de vez em quando vinha com uma pergunta chata, assim como: “Cê já teve ota namora? Cê gosta mesmo da Lourdinha? Cê tá pensando em casá quando?

Pelo amor de Deus. Eu fui ficando zonzo com aquele ambiente; com aquela gente. Quando deu mais ou menos umas 8 horas da noite, o velho grita lá do quarto: “Lurdinha! Põe água isquentá pu sô Armando lavá os pé, porque tá na hora de deitá."

E eu fazer o quê? Não tinha como ir embora debaixo de chuva e atravessar o ribeirão. O caminhão que me dava carona já devia ter passado. --- Meu Deus que desespero. Ainda me colocaram a dormir junto com um daqueles cunhados que trabalharam o dia todo e só teria lavado os pés. Aquele bafo, aquele odor. E eu pensava, será que a Lordinha tem só tres vestidos e uma calcinha só, ou duas? Coloquei na minha cabeça que uma mulher quando fica uma semana sem trocar de vestido fica sem trocar de calcinha. Um homem que só lava os pés para dormir, fica sem... Bom deixa isso pra lá.

No outro dia bem cedo eu sai, fui. Parecia um passarinho que se escapuliu da gaiola. As vezes que voltei em Perdões eu dava voltas para não passar perto da casa de sua madrinha.

Esse é o tipo de história que a gente foge dela, mas ela não foge da gente porque aconteceu na juventude. Hoje eu beirando os 76 anos e ela ja com os 80. Será que ainda vive? Será que se lembra de mim? ---- O que bom é que essas lembranças nos fazem sorrir e não chorar.

Armando Melo de Castro.

 

O DESEJO DA MULHER GRÁVIDA E OS ESPINHOS DA ROSEIRA.


Nada tenho contra as diferenças culturais na alimentação. Já experimentei, e até gostei, da carne de alguns animais exóticos como cobra, rã, gambá, tatu, etc. Contudo, certa vez, um amigo meu que esteve na África contou-me que, quando esteve por lá a serviço de uma empreiteira brasileira, conviveu com princípios culturais extraordinários. E na alimentação, por exemplo, ele chegou até a experimentar o sabor de insetos temperados, desidratados e hidratados, formigões, grilos, gafanhotos e outros ortópteros. E quando me disse que o povo de lá come o bicho de pau podre com melhor boca do mundo, eu quase me desventrei de tanto nojo.

Certa vez, por muito pouco, eu não morri de asco ao ver uma reportagem na televisão sobre essas diferenças, o repórter tentando experimentar um ovo de galinha choco nas Filipinas, país no qual se faz feijoada com açúcar.

É sabido, também, que na China comem tudo o que para nós é porcaria. Brincam até que, por lá, se come tudo aquilo que se mexe. Assim, comem filhotes de ratos vivos retirados dos ninhos e afogados no molho de massa de tomate quente, à medida que são servidos. Outra iguaria, pela Ásia, é a carne de cachorro que por aqui, entre nós, é um bicho praticamente sagrado. É cada coisa que aparece que nos deixa morrendo de nojo ao invés de morrermos de fome.

Entretanto, nada disso me surpreende tanto quando ouço falar nos desejos das mulheres grávidas, tão estudados pela ciência e sem qualquer resposta positiva, definitiva e concreta. Sabe-se que, entre esses desejos incomuns, encontra-se o desejo de mulheres em experimentar cacos de prato de barro, giz, bunda de tanajura e sola de sapato. Isso é uma situação tão estranha que deixa qualquer um com a cabeça oca.

Eu era ainda menino e morava na Rua Coronel João Afonso, em Candeias, quando tínhamos, como vizinha de frente, a Dona Marica. Marica da Melada como era chamada, sobrinha do Sr. Erasto de Barros. --- Tinha ela um grande quintal e o seu grande hobby era uma plantação de rosas que ocupava grande parte do seu quintal.

No tempo em que os defuntos eram preparados nas residências, assim que morria alguém logo chegava Dona Marica com as suas rosas. Além disso, fornecia, também, flores para as jarras da igreja. Certa vez, alguém lhe pediu algumas rosas para produzir licor e recebeu um sonoro “não”, bem no meio da cara. Ela disse ao pedinte que suas rosas eram sagradas e que jamais seriam misturadas ao álcool que seria coisa do diabo.

Dona Marica tinha um pé de laranja da terra em seu quintal cujas frutas eram por demais amargas usadas, constantemente, para a produção de doces, contudo, sem qualquer preferência para ser chupada.

A casa da esquina em que reside, atualmente, o Sr. Carminho Machado, encontrava-se sempre com um novo morador. Eram constantes as mudanças. Diante deste fato, veio morar, naquele imóvel, um jovem casal. Ele com os seus vinte e poucos anos, com cara de nortista, corpo franzino, amorenado, pescoço fino, imberbe, cabelo duro e bem aparado, um tipo ingênuo e meio calado. Era visto somente nos fins de semana e se chamava Alberto.

A mulher era o seu contraste. Falava muito alto, tinha a voz pouco fanhosa, tendo o aspecto de um alto-falante enguiçado. Estilo bem briguenta, gordinha, com pescoço grosso e curto, cabelo tipo masculino e um buço quase comparado ao bigode do marido. Chamava-se Tininha, estava grávida e como era baixinha a barriga, ficou muito redonda e, caso levasse um tombo, sairia rolando rua a fora. Vivia zoando nas casas dos vizinhos exceto na casa de Dona Marica, haja vista a ocorrência, entre as duas, de uma briga motivada pelas travessuras do gato Mimi pertencente à Maria das Graças, filha de Dona Marica.

O gato era um inferno, dizia Tininha. Não se podia esquecer uma panela destampada que o desgraçado fazia valer a sua gordura. E quem falasse mal do gato, por pouco que fosse, comprava uma briga cara e foi isso que aconteceu. Dona Marica dizia que aquela fulana teria se engravidado não se sabe como porque ela tinha cara de homem. Ademais, o seu marido tinha um tipinho de “franga” para o seu gosto. Tininha dizia que Dona Marica era uma gata velha, borralheira e vovó do tal Mimi, considerando que sua filha tratava o bichano por filhinho. E assim as duas viviam trocando desaforos.

Certo dia, os moradores do quarteirão acordaram de madrugada com um falatório danado. Acontece que a Tininha, por estar grávida, desejou chupar, às duas horas da manhã, uma laranja da terra do pé existente no quintal de Dona Marica. De nada valeu a argumentação de seu marido diante da impossibilidade de se conseguir a fruta naquela hora. Além disso, de onde sairia à fruta! Parece até que o desejo da grávida aumentava diante da dificuldade fazendo com que a mulher quase entrasse em desespero total o que levou o marido a resolver pular o quintal alheio e se apoderar da fruta para satisfazer o desejo descontrolado da mulher.

Acontece que, dias antes, havia chegado à lua nova de julho, fase lunar bastante esperada, durante o ano, por Dona Marica que pretendia podar as suas rosas. Com isso, teria acumulado, à beira do muro, um grande monte de galhos de rosas espinhentos. Na ação de Alberto, em transpor o muro para chegar ao pé de laranja, ele cai deitado sobre o monte de espinhos das roseiras podadas. E o pobre rapaz, quanto mais se mexia, mais se tornava fisgado pelos espinhos em meio à escuridão da noite enquanto sua mulher, que ficara aguardando do outro lado do muro, compreendendo o que teria acontecido ao marido, gritou por socorro, acordando vários vizinhos que correram a acudir o acidentado.

Dona Marica vestida de camisolão, com um lampião na mão, ouvia o infeliz dizer:

---Óia, Dona Marica! A sinhora me discurpa. Eu num quiria qui o meu fio nascesse com a boca aberta, Sá.

E Dona Marica, com um sorriso sorrateiro, responde:

---Tudo bem! Agora, pode apanhar a laranja. Apanha logo uma dúzia pra entulhar ela de uma vez! --- Engraçado! Quando eu estive grávida da Maria das Graças eu nunca tive esses enjoamentos e nunca amolei o Quinca...

Quinca era o seu marido.

Armando Melo de Castro

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

MÁRIO GIANASI, UM NOME BEM LEMBRADO.

                                                              Mário Gianasi
 

A condição humana não tem mudado em si para melhor e sim para pior. Apesar dos avanços que o mundo atinge em termos de tecnologia e progresso, podemos notar que o poder que Deus deu ao homem em Gêneses, vem sendo acrescentado, contudo, o próprio homem vem sendo desmembrado da imagem e semelhança de Deus.

A cada dia podemos entender que o ser humano tem levado mais em conta o livre arbítrio para o mal; isso porque esse o torna mais alimentado da vaidade, da mentira, da criminalidade e da ganância. O poder que Deus lhe deu vem sendo usado para explorar os mais frágeis e o que impede a pobreza de ser combatida.

Estamos vendo que tudo na vida vem melhorando, menos o homem, que continua matando, roubando, traindo, mentindo e cometendo crimes de toda ordem. É triste saber que a mesma boca que produz o sopro e lastra uma brasa pode produzir um cuspe e apaga-la. Existem pessoas lastrando brasas ao invés de apaga-las... Tão triste, também, é ver a verdade ser trocada pela mentira; a honra pela desonra, a honestidade pela imoralidade... E o pior as vítimas são sempre os mais pobres.

A política, por exemplo, um modelo de poder sobre uma nação, vem sendo tomada por políticos, hoje em dia, tão difamados, tão criminosos, tão alheios aos problemas do povo... Eles se esquecem que são parte do povo que os elege. --- O homem é um produto do seu meio disse o filósofo suíço, Rousseau assim, sabemos que pode ser eleito até então honesto, mas a política tem o poder para transforma-lo num ladrão. Assim está a criatura humana.

Nem todos entram para a política e saem como entraram. Mas, não podemos entender que todos os homens são desonestos. O mundo ainda comporta pessoas de bem. Deus deu ao homem o livre arbítrio, mas nem todos partem para o lado do mal.

É uma felicidade quando podemos conviver e ouvirmos falar bem de alguém, que veio ao mundo e cumpriu o seu compromisso com Deus e que pode voltar para Deus com a alma lavada.

A nossa querida Candeias, por exemplo, apesar de registrar na sua história política, capítulos que não a isenta dos desencontros com a moral, podemos insistir, garantir e sentir, que sempre existiram e ainda existem homens de bem, honestos, excelentes filhos e pais de família. Homens que honraram os seus princípios familiares, cidadãos que se transformaram em políticos não para buscar o dinheiro fácil, mas para servir ao seu município e ao povo de sua terra.

Entre os bons cidadãos, brindados com a dignidade humana e que representaram a nossa história de Candeias, fielmente com os bons princípios com à cidadania, o trabalho, à família e os desígnios de Deus com lealdade, hoje, estaremos lembrando aqui o nome de nosso amigo, MARIO GIANASI um modelo de cidadania.

Mario Gianasi nasceu em Candeias no dia 12 de dezembro de 1933, descendente de pai italiano, filho de Emílio Gianasi, conceituado comerciante candeense e Dona Maria José Gianasi, tia do nosso querido Monsenhor Castro.

Após os seus estudos primários em Candeias, foi para Varginha, onde cursou no Colégio Marista. Concluindo os seus estudos naquela cidade, voltou para Candeias onde fez parte do quadro de funcionários da Casa Celestino Bonaccorsi. ---- Ao completar 21 anos de idade, Mario partiu para São Paulo, onde permaneceu por mais de 2 anos.

De regresso a Candeias, casou-se em 19 de outubro de 1957, com a jovem Lucy Lopes Pacheco, agora, Lucy Lopes Gianasi, filha do conceituado lojista e dono da Alfaiataria Lopes, Sr. José Pacheco Lopes e sua esposa Dona Nica Teixeira. Após o casamento, Mario foi com a esposa morar na comunidade da Boa Vista, onde se dedicou ao cultivo da terra e ao comercio, onde mantinha uma casa comercial.

Da união dessas duas famílias de melhor gema candeense, nasceram seis filhos, bem criados e bem orientados: Toninho, Aldo, Heloísa, Emílio, Adriana e Luciana. A sua presença e experiencia na área rural era de entendimentos, troca de ideias e orientação aos seus pares.

Gostava muito de um carnaval e assíduo frequentador do Clube Recreativo Candeense, onde fui funcionário e com ele tive muitos contados.

Estive por duas vezes na sua residência na boa vista em companhia do Miguelzinho da Mariquita, seu grande amigo, onde o Miguelzinho e outros companheiros, cantaram e tocaram violão, enquanto uma galinha cozinhava, organizada por Dona Lucy e esta foi uma noite inesquecível.

Mário era um esportista nato. Amava o futebol. A sala de sua casa era um verdadeiro acervo de fotos antigas do futebol Candeense. Ele foi jogador, organizador e um dos fundadores do Clube Atlético Candeense, como também organizou um time na sua comunidade rural. Amava o futebol. Certa vez eu conversando com ele na sua residência numa visita que lhe fiz, não muito antes de sua morte, ele contava a história de cada foto. E eu lhe falei: “Mário como eu gostaria de amar o futebol como você. E a sua resposta foi positiva e sorridente: “Eu gosto mesmo”.

Mário ficou viúvo em 2001, quando faleceu sua esposa e fiel companheira durante 43 anos.

Na política Mario Gianasi foi um dos mais conceituados representantes do povo. Durante muitos anos na sua época os vereadores não eram remunerados. Os vereadores praticamente pagavam para ser vereador. Mario foi um desses e nunca se omitiu. Foi um vereador honesto nas campanhas eleitorais e os seus feitos eram vistos por todos. Certa vez ele me contou fatos do tempo em que foi vereador, e eu lhe disse, me orgulho de ser seu conterrâneo e saber que o povo de Candeias tem um representante como você. Ele foi um grande defensor da ecologia e outras causas mais.

O espaço aqui é muito curto para falar de Mario Gianasi. O seu falecimento deixou Candeias mais pobre. Ele não foi um vereador qualquer, ele foi um senhor vereador, que lutou, trabalhou, e amava defender o município de Candeias e sua nação.

esta oportunidade eu quero deixar aqui um voto de louvor ao vereador Lindomar Ferreira, e aqueles que o apoiarem, pelo seu projeto de lei de denominar o prédio da Câmara Legislativa de Candeias, o nome de “Edifício Vereador Mario Gianasi”. Trata-se de uma homenagem justa a um homem que não se assentou numa dessas cadeiras da Câmara por acaso, ele trabalhou com o corpo e a cabeça em benefício do nosso município e do nosso povo. Mario não foi um simples vereador que será esquecido, ele poderá assim, ser sempre lembrado pelas gerações que virão e tê-lo como exemplo de homem público.

Faleceu no dia 26 de outubro de 2021, deixando a sua missão cumprida com louvor e foi sepultado com as honras que fazem jus ao seu nome.  – Onde quer que esteja, amigo Mário, receba o nosso abraço.

 Armando Melo de Castro.