Sou um candeense, mineiro e
brasileiro bairrista. Eu nunca tive vontade de conhecer um país estrangeiro.
---- Para que essa vontade me viesse à tona necessário seria que eu já
conhecesse todos os cantos do Brasil. Como isso nunca foi e nem me será
possível continuarei sem esse desejo e feliz.
Mas o bairrismo o qual me refiro neste texto, não é desse pacote... Não é desse saco de farinha... Não se trata dessa ambição dos antigos proprietários de terra. O meu bairrismo é o bairrismo do amor à terra que me viu nascer. Das mais belas lembranças que guardo dentro de mim, da serra do Sr. Bom Jesus; a igreja matriz onde fui batizado; o Santuário do Senhor Bom Jesus reservado aos domingos para as reuniões dos irmãos de São Vicente; no mês de maio para as coroações da Mãe Maria; do meu querido Grupo Escolar Padre Américo; do Bar do Bóvio, Bar Piloto; Casa Celestino Bonaccorsi e a chegada do calçamento das ruas e das tantas praças que foram criadas em Candeias. Tudo isso me viram nascer e crescer até aos 18 anos na minha querida Candeias.
Eu tive que sair de Candeias para ganhar a minha vida fora. Fiz isso aos 15 anos e voltei... Aos 16 e voltei... Aos 17 e voltei, mas após os 18 anos parece que Candeias não quis ser mais minha, mas eu continuei a ser dela. A minha terra cantada em prosa e verso nas salas e no pátio da escola. Tudo isso ficou entranhado em mim como se fosse uma marca candente, como aquelas que se faz no gado.
Certa vez, aqui em Juiz de Fora, quando eu conversava com um baiano e ele me perguntou onde eu nasci, e eu disse-lhe que era de Candeias, ele pirou e me disse: “ Nois somo conterrano cumpanhero? --- Mas ele com aquele sotaque de baiano matuto, me fez logo entender que se tratava de um candeense da Bahia, no que eu naturalmente exaltei a minha Candeias de Minas Gerais.
Mas veja só: O baiano teve a ousadia de dizer: “Eu nunca vi falar dessa Candeias sua”. E depois de dar um sorriso sorrateiro e malicioso, disse em bom tom --- “Oceis intão ficou com inveja de nóis” e deu aquela risadinha de esnobe, como estamos vendo entre Atleticanos e cruzeirenses.
E bairrista como sou, tive que engolir aquele sorriso insultante
Bairrista como sou tive que
engolir aquela frase embrulhada naquela risada, mas tentei me desabafar e
disse:
Pelo contrário meu amigo, foram vocês que nos imitaram. A nossa Candeias emancipou-se em 1938 e a sua foram 20 anos depois. Disse-lhe.
“Mais a sua deve ser muito
piquena né”
E eu pela força do bairrismo o
interpelei: não é tão pequenina não. Tem quase 20 mil habitantes... E ele
soltou na minha cara agora um sorriso daqueles bem reprochados e não se conteve
em abrir o verbo, dizendo que a sua cidade daria umas cinco da minha, que lá
tem isso e tem aquilo, de uma forma indireta dizendo que a minha Candeias, a
minha pobre Candeias não devia nada quase nada. Notei então que eu estava à
frente de outro bairrista.
Assim, me vi derrotado diante de uma competição, onde eu não teria argumentos e isso levou-me a um pensamento. Onde estão os políticos de minha Candeias que nunca tentaram uma mudança do nome da cidade para CANDEIAS DE MINAS, através de um plebiscito. --- Eu como um candeense mineiro, tenho “birra” dessa Candeias da Bahia, desde menino, quando o meu avô foi para São Paulo a fim de ser operado, e como naquele tempo as coisas eram diferentes, pois não existiam as facilidades de comunicação, como existem hoje. As cartas que o meu Tio escreveu para o meu pai, foram todas parar na Bahia, e demoravam um mês para chegar em nossas mãos.
Na internet é triste ver a nossa Candeias se misturando com a Candeias da Bahia, a diferença é só o MG pelo BA. E quando os baianos se referem a nossa Candeias é como se nós estivéssemos tirando-lhes até a nossa padroeira, Nossa Senhora das Candeias. A quem eu peço, Mãe! Dá um jeito nisso
Armando Melo de Castro
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