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terça-feira, 29 de junho de 2021

DITE FREIRE E A CIGANA CARMENCITA.


 

DITE FREIRE E A CIGANA CARMENCITA

A praça Antônio Furtado em Candeias até o principio da década de 60 foi o ponto determinado para receber os circos, parques, ciganos, comerciantes circulantes, em ônibus etc. ---- Às vezes estava ali estacionado um circo, quando tinha um parque esperando para chegar. Era muito comum ver por ali armada uma barraca de cigano. --- Os ciganos chamavam muito a atenção do povo candeense por ser o candeense um habitante de cidade pequena, bastante curioso e os ciganos serem de uma cultura muito diferente.

A origem dos ciganos é muito confusa até nos dias atuais é envolta em um grande mistério. Existem diversas versões sobre  eles. Muitos acham que eles são oriundos da Índia dado aos indícios da língua. Mas não há nada de concreto sobre isso. O cigano é uma gente sem nação. Eles estão espalhados no mundo todo. A etnia cigana é muito variada; no Brasil, por exemplo, temos três delas, e os Estados onde eles estão mais acumulados são Minas Gerais, Bahia e Goiás. A comunidade cigana no Brasil conta 800.000 pessoas.

Os primeiros ciganos que chegaram ao Brasil foram enviados por Portugal  já nas primeiras caravelas junto aos degredados. A vida deles por serem nômades foi sempre muito difícil. Sempre foram tratados com preconceito e, às vezes, até expulsos do país. Sua cultura é preservada. E eles não se misturam para a conservação da cultura que trouxeram da sua origem. --- O Nazismo matou mais de 400 mil ciganos, confundindo-os com os judeus. Em outros países, como na Europa, quase sempre pode ser vista a notícia de um assassinato de cigano. No Brasil os ciganos são bem recebidos e não são perseguidos.

O casamento de cigano é feito entre eles, quase sempre entre primos. As moças a partir dos 14 anos já estão prontas para o casamento e o rapaz com 16. Vivem em grandes barracas num estilo centenário. Os ciganos são como uma nação diferente dentro do país que ocupam. O ritual do casamento é amplo. O casal não se casa por amor. É feito entre as duas famílias dos noivos um acordo. Às vezes os noivos nem se conhecem e ficam se conhecendo no dia da união. Acontece sempre de os noivos serem escolhidos na mesma família, quando o casamento acontece entre primos. Se algum cigano ou cigana decidirem se casar com alguém que não seja da mesma raça, eles serão expulsos da comunidade e não são mais considerados ciganos.

O casamento cigano é feito sob pagamento de dote pelo pai da noiva. As famílias que fizeram o acordo se unem em negócios, pelo pai  da noiva, podem barganhar, negociar dívidas e fazer acordos para que o dote venha a ser pago de maneira que satisfaça ambas as partes. É bom lembrar que existem ciganos ricos e ciganos pobres.

Mas falando em cigano, lembro-me de quando, na década de 50 chegou a Candeias um grupo de ciganos ricos. Montaram as suas barracas na praça Antônio Furtado e ao redor do grande acampamento uma cerca com apenas um fio de arame. Apenas para que os curiosos não se aproximassem muito deles. Ali montaram uma tenda e fabricavam tachos, enquanto outros saiam vendendo, e lendo sorte e trocando carros e cavalos. Faziam qualquer tipo de negócio. A água para eles quem fornecia era a vizinha, Fina Teixeira viúva do patriarca da família Teixeira, Sr. Francisco Teixeira. --- Nesse tempo que a luz de Candeias era um tomate nos postes, eles tinham uns lampiões que deixavam a praça Antônio Furtado como um dia. 

Nesse intervalo a praça Antônio Furtado se transformou num ponto turístico para atender a curiosidade das pessoas e observar a cultura diferenciada. Lembro-me do Zé Souto, um fabricante de tacho artesanal, que ficava excomungando os ciganos por terem tomado os seus fregueses por um bom tempo, pois encheram a cidade de tachos. E ele achava que durante um bom tempo não venderia nem um tacho.--- Lembro-me, também, da Maria de Dona Joana Gorda, ela ia todos os dias apreciar os ciganos e observando o que eles faziam e depois saia contando para a vizinhança. Certo dia ela ficou apreciando uma cigana preparar uma carne. E no outro dia ela comprou um belo de um pedaço e imitou a cigana até no jeito de mexer a panela.  Ela só não copiou a forma que eles usavam para matar um frango, era batendo com a cabeça da pobre ave num esteio da barraca.

Mas o caso mais engraçado aconteceu foi com um amigo meu, o Djalma Freire, mais conhecido pelo nome de Dite do Chico Freire. Rapaz bem aparecido, ainda jovem, bom jogador de futebol, participou da Associação Esportiva Candeense e do meu glorioso Rio Branco Esporte Clube. Foi motorista do caminhão da prefeitura onde se aposentou.

Dite assediado por uma cigana muito bonita, para ler a sua sorte, apaixonou-se por aquela flor cigana. E durante alguns dias dite ficou beirando os olhos do futuro, e já não bastava a quiromancia, no dia seguinte a cartomancia, alomancia, e outras coisas mais... Até que o Dite pensando que a cigana topava algo mais sério com ele em troca de dinheiro, perguntou-lhe o quanto ela cobraria para dormir uma noite com ele. --- A cigana deu um sorriso e não se assustou com a proposta do Dite, e disse-lhe: “Só se for no acampamento”. Fora eu não posso. E apesar da insistência Dite não obteve sucesso. A cigana só topava dormir com ele na sua barraca, preparada para tal. E assim foi marcado o encontro pelo valor, naquele tempo, de 100 cruzeiros e o encontro amoroso aconteceria dois dias depois, numa quinta-feira, as 11 horas da noite depois que a comunidade se recolhesse, ele poderia chegar que a alcova estaria preparada.

Pobre Dite! Ao chegar todo untado de desejo, imaginando coisas e coisas. Naturalmente pensando que aquela seria a sua noite mais feliz de toda a sua vida, foi recebido amigavelmente pelo marido da  cigana Carmencita que lhe solicitou o pagamento antes de entrar o que lhe foi feito deixando o Dite um tanto assustado. Quando foi levado ao cubículo destinado num canto do acampamento, ali havia uma cama no chão, a mulher deitada vestida como manda o figurino cigano, e um grande sarrafo de madeira separando a cama de forma que um não poderia se encostar no outro.

O marido da cigana, gentilmente já foi indicando o lugar que ele deveria se deitar. Ele não estava querendo mais o encontro, mas o cigano disse, não o senhor pagou o senhor vai dormir aqui do jeito que foi combinado. Dite tentou ir embora e sair logo dali, mas não lhe foi permitido e ele teve que permanecer até as 5 horas da manhã deitado com a cigana, separados por um sarrafo e com o marido dela assentado numa banqueta no canto do cubículo, quando foi liberado para ir embora.

Djalma, que para uns tinha o apelido de Dite e para outros o apelido era “Chô”, saiu contando para muito pouca gente esta história e falava:

Nocha shinhora chô, eu nunca pachei tanto aperto na minha vida.

Armando Melo de Castro.

 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

VICENTE DA GERALDA DA NITA E O OLEO LIRIO.

 Grande parte dos candeenses tem em seus nomes uma espécie de dono. É uma cultura a inclusão  do nome do pai ou da mãe para identificar a pessoa. Por exemplo: João do Nestor; Wandinho do Américo; Zé da Zenóbia;  Juca do Nico; Armando da Quinha; Getúlio da Virgínia; Maria do Firmino. Em outros casos acrescem, também, o nome do cônjuge, como Maria do Erasto, Rola do Estevão etc. O nome do qual eu vou falar da sua história, leva até o nome da avó: Vicente da Geralda da Nita.

Vicente, era funcionário da Casa Celestino Bonaccorsi. Fazia parte do grande grupo de caixeiros que exercia a função nos balcões daquela loja. Entre eles, ali estavam os irmãos, Paulo, e Aurélio Vilela, Wantuil e Francisco de Castro, meus tios. Os irmãos Aurélio e Antônio Breias, Cristóvão Alvarenga e seu filho Tovinho, Lulu, Bebé da Mariazinha, Zé Mori,   e muitos outros, que no momento me falham a memória e que prestaram os seus serviços ali na grande casa comercial,  tão bem lembrada. --- O gerente era o Pedrinho Bonaccorsi. Todos aqui citados são de saudosa memória.

Alguns dos balconistas da Casa Celestino Bonaccorsi,  entrosados no ramo de comércio, resolviam sair do emprego e montar um negócio e começar a vida de comerciante, como o caso  do Lulu e o Zé Mori que montaram um Bar no cômodo de comercio do casarão do Sr. Torquato Viglioni, localizado onde hoje está o Banco do Brasil. Posteriormente Zé Mori foi ser o porteiro do Grupo Escolar Presidente Kenedy e Lulu continuou até se aposentar. --- Vicente e Paulo Vilela, também ao deixarem a Casa Bonaccorsi, abriram as suas lojas. ---- Os nomes citados neste texto se referem a amigos meus já falecidos, porque foram pessoas com as quais eu convivi.

O caso que estaremos especificando, o Vicente da Geralda da Nita, foi um dos vendedores que resolveu deixar o emprego e começar um pequeno negócio. E o fez num limitado cômodo de venda junto a sua residência, uma pequena casa por ele construída na Rua Celestino Bonaccorsi,  onde hoje se encontra a antiga  residência do Sr. Antônio Virgílio, já falecido.

Vicente, era filho único;  casado e tinha uma escadinha de filhos. Lembro-me de ver a esposa dele sempre gravida. --- Ele era um tanto ágil e não parava dentro do seu pequeno balcão. Se visse um produto mal colocado na prateleira estava ele lá o colocando o seu lugar certo. A sua pequena venda tinha pouca mercadoria, porque o seu capital era curto, mas o seu esforço era muito grande.

Tendo trabalhado na Casa Celestino Bonaccorsi, ficou amigo de muitos fregueses e como era um bom vendedor, foi conquistando a simpatia de muitos. Assim, quando abriu o seu pequeno comercio, começou a trabalhar no peito a peito. E as vezes deixava a sua mulher tomando conta do negócio e saia pelas ruas no sentido de encontrar fregueses que ele estava acostumado a atender no seu antigo emprego. Enfim, o seu ponto não era estratégico para comercio. --- Lembro-me o dia em que ele se encontrou com o meu pai, bem próximo do Hotel do Américo, quando ele disse:

--- Zé, estou precisando de você.

---O que foi Vicente?

---Eu abri uma vendinha e eu preciso que você compre alguma de mim para me ajudar.

--- Onde é o seu comercio?

--- É perto da padaria do Mozart, junto de minha casa.

--- Vicente, lá é muito longe; e u moro lá na Rua da Ponte,      (R.Cel. João Afonso) E quem faz compra é o menino(eu)...

--- Não Zé, eu estou lançando um produto que é só eu que o tenho. Breve ninguém mais vai comer gordura de porco, porque a gordura de porco tem um tal de colesterol que faz dar derrame. E eu já tenho esse óleo de fazer comida, Chama-se Lírio e é feito de amendoim e sai mais barato que a gordura de porco, cheia de vermes e lombrigas.

E o Vicente acabou convencendo o meu pai. Que se propôs a comprar pelo menos o óleo de cozinha Lírio, de amendoim. O primeio óleo de cozinha que apareceu em Candeias, pelas mãos do Vicente. Logo depois vieram óleo de caroço de algodão, soja e milho, já de outras marcas, e as propagandas contra a banha de porco foi crescendo, e o comercio de porco foi sendo abalado.

Era de entender que Vicente iria prosperar no comercio. Dinâmico, educado, humilde, e parecia que gostava da sua profissão de comerciante. Ele era tão atencioso com a sua freguesia que parecia que os fregueses além de serem bem servidos, tinham o prazer de comprar dele com o fito de ajuda-lo. A sua vendinha foi crescendo a ponto dá área física não o atender mais e ele teve que procurar um espaço maior.

Na avenida 17 de dezembro, onde se encontra o Salão do Nenê, Sorveteria Celinho, Planeta Vídeo, era uma área ocupada por uma grande casa de comercio e residência que se encontrava fechada. --- Vicente a alugou e mudou-se para lá com a família e o comercio. Todos viram o quanto Vicente teria melhorado de vida graças ao seu esforço. Homem honesto, educado e dedicado a família e ao trabalho. Hoje sua loja teria se transformado no que dava para observar o quanto vale um trabalho bem feito, com amor e dedicação. Desde o tempo em que Vicente teria começado com o seu pequeno negócio, eu vinha o acompanhando, porque meu pai sempre lembrava, de mandar comprar alguma coisa na sua venda dada a sua atenção.

Comumente a gente via a sua mãe assentada numa cadeira num canto da loja e a sua esposa com um filho no colo.

Certo dia quando eu entrei ali para comprar alguma coisa, Vicente teria recebido um estoque de papel higiênico e já teria preenchido as prateleiras com as unidades e recolhendo algumas caixas do produto para o interior da casa. Disse numa força de expressão:

Tenho papel higiênico para o resto de minha vida! Sua mãe exaltando-se disse: “ O que é isso Vicente, como você fala uma bobagem dessas? --- e ele sorrindo disse: “Ora mãe, quem sabe?”

Uma semana depois Vicente morria de repente. Deixando na orfandade uma escadinha de filhos, a esposa e a mãe.

Armando Melo de Castro.

 

segunda-feira, 7 de junho de 2021

FESTA E TRAGÉDIA CANDEENSE (Reedição)

                                        Corpo do capitão Leônidas Henrique Lannes   (Reedição)

 Candeias, na década de 50, ficou marcada pelo dinamismo do jovem prefeito, Dr. José Pinto de Resende, que era filho de outro ex-prefeito, o sr. João Pinto de Miranda. --- O Dr. José Pinto de Resende era inteligente, muito instruído e honesto, mudou completamente o perfil da nossa cidade. Abriu inúmeras ruas e fez terraplenagem em vias desconsertadas. Entre os seus grandes feitos, três coisas importantes aconteceram na sua gestão:

1) Início das obras de calçamento da cidade;

2) Inauguração do Horto Florestal;

3) Inauguração do Campo de Aviação.

A cidade, até então, não tinha ruas calçadas. Quando os carros passavam, deixavam rastros de poeira que faziam as donas de casa sonharem com a possibilidade de um dia verem suas ruas pavimentadas. Outros logradouros eram cheios de buracos onde um veículo não conseguia circular. O mato nas ruas era tão comum que facilmente eram vistas cobras soltas por ali. As casas da rua em que fui criado, ou seja, na Rua Coronel João Afonso Lamounier (saída para a cidade de Formiga) eram todas da cor da poeira. Era comum ver cavalos pastando e galinhas soltas pelas ruas.

O Dr. José Pinto de Resende foi quem deu início ao calçamento das ruas de Candeias. Daí para frente, todos os prefeitos participaram do processo de manutenção da cidade calçada. Sabe-se que a pavimentação, em forma de paralelepípedo, deixa a cidade menos aquecida em comparação às ruas asfaltadas. Com isso, aproveitou-se a grande reserva de pedras existente no município, o que pode proporcionar, também, uma boa demanda de mão de obra.

Outra importante realização do prefeito, José Pinto, foi trazer para Candeias um horto florestal. Uma área reservada para reproduzir espécimes vegetais e que ficava situado no espaço que se destina, atualmente, ao Estádio do Rio Branco Esporte Clube e ao matadouro municipal. Mudas de árvores variadas eram ali distribuídas gratuitamente. A instituição era administrada por um engenheiro Agrônomo e um gerente que vieram de fora, todavia, empregou-se um grande grupo de funcionários, principalmente meninos no tempo em que não era proibido menino trabalhar. O Horto Florestal de Candeias foi, durante o seu tempo, um ponto turístico que recebia a visita constante de namorados e familiares. O fim desse horto é para mim desconhecido.

A terceira obra importante do prefeito José Pinto foi o Campo de Aviação construído no Bairro da Parmalat e que ocupava um grande espaço no qual se encontra instalada, nos dias de hoje, uma indústria de tábua de granito bem como os eventos referentes às festas do tipo exposição agropecuária.

O campo de aviação e o horto florestal seriam inaugurados no mesmo dia. A previsão era de que seria uma festa de grande repercussão. Pode-se, portanto, acreditar ter sido esta a maior festa de todos os tempos anotada nas lembranças do povo  candeense. ---  Na parte da manhã, seria a inauguração do campo com a presença de autoridades locais, regionais, estaduais e visitantes das cidades vizinhas. Um palanque foi montado e a maior parte da população de Candeias estava presente

Candeias é o berço de um ilustre , da Força Aérea Brasileira, hoje aposentado, o coronel aviador, Renato Paiva Lamounier, filho do Sr. Olinto Lamounier e da professora, Dona Eliza Paiva Lamounier. O Coronel Renato é neto do Coronel João Afonso Lamounier, mais um personagem ilustre da nossa história. --- Nunca esteve ausente de sua Candeias. Sempre aparece, para ver os seus parentes e hospedar-se no Hotel Fazenda Álamo. E sempre leva para o Rio de Janeiro, onde mora, as delícias de nossa terra. O coronel Renato Paiva é um candeense detentor de um currículo brilhante, por ter prestado relevantes serviços à nação brasileira, inclusive à  Presidência da República como comandante aviador do Presidente Ernesto Geisel.

Nesse tempo, Renato Paiva, era cadete da Aeronáutica, e seria um futuro piloto da Esquadria da Fumaça. Entretanto, em uma das visitas a Candeias o prefeito, José Pinto, procurou saber dele  se existia a possibilidade de  conseguir a vinda à Candeias da Esquadrilha da Fumaça, para a inauguração do campo. Renato disse-lhe que sim. Porém ele teria que ir ao Rio de Janeiro e se encontrar com o comandante da Aeronáutica.

O prefeito candeense bastante entusiasmado com a ideia, e acompanhado do deputado federal João Nogueira de Resende, dirigiu-se ao Rio de janeiro, então a capital do país. E na Escola da Aeronáutica, junto também ao cadete candeense, se encontraram com o comandante daquela instituição ficando assim agendada a data de inauguração do campo com a presença da Esquadria da Fumaça para o dia 18 de julho de 1958. Notícia esta que veio trazer ao povo candeense grande alegria. As emoções de ver as acrobacias dos aviões era um assunto que colocava muita gente em dúvida, o que aguçava a mente de todos.

Tendo chegado o “Dia D”, logo de manhã o campo de aviação a ser inaugurado encontrava-se lotado para ouvir os discursos e a chegada da tão prometida Esquadrilha da Fumaça, prometida para as 9 horas daquela manhã.

E ela não chegou. Esse atraso seria um fato anormal porque a esquadrilha teria já chegado a Campo Belo no dia anterior e lá iriam pernoitar e aguardar o momento de vir para Candeias, tempo que seria de apenas três minutos de Campo Belo a Candeias. E esse atraso causou uma grande inquietação nas autoridades candeenses e no povo em geral. O meio de comunicação em Candeias era precário; praticamente apenas pelos telegramas da estação ferroviária. E por isso a notícia desastrosa demorou muito a chegar, abalando e frustrando toda aquela expectativa do povo, não só de Candeias, como também de cidades vizinhas. Afinal, a Esquadrilha da Fumaça era uma coisa nova, com poucos anos de existência. E numa cidade de interior isso era muito raro. -

Ocorreu, todavia, que ao levantar voo para se dirigir para Candeias, a uma velocidade de 400 quilômetros por hora, o que não levaria mais de 3 minutos, o comandante, Capitão-aviador, Leônidas Henrique Lannes, decidiu dar uma pequena apresentação para o povo de Campo Belo, e nessa demonstração, o seu avião perdeu o controle e foi bater com a ponta da asa na torre da Igreja Matriz em Construção e foi cair num terreno onde morava a família do Sr. Clóvis Rios, atual esquina da Rua Ana Jacinto Rios com a Rua Joaquim Murtinho. Morreram o piloto, comandante da Esquadrilha e  duas crianças filhos do Sr. Clovis e Dona Tereza Trindade. A notícia trouxe para Candeias uma grande comoção.

Os outros três aviões, durante a festa de inauguração do campo, passaram timidamente pelos céus de Candeias sob os nossos olhares tristonhos. Mas enquanto aqueles aparelhos sumiam nas nuvens, com certeza, estava havendo uma reciprocidade de sentimentos quando o nosso povo sentia uma grande tristeza e frustração, enquanto  aqueles três aviadores voltavam as suas origens com os corações partidos por deixarem para trás o seu companheiro e comandante.

O capitão Leônidas Henrique Lannes, era um homem tido como prudente e cauteloso que além de ser o comandante da Esquadria era instrutor de voo de cadetes do ar, morto quando teria vindo com o objetivo de alegrar o nosso povo. Esse acidente de repercussão nacional foi, por muitos anos, lembrado pelo povo candeense num sentimento de frustração por ter perdido uma oportunidade que nunca mais, talvez, pudesse vir tê-la de novo. Mas como tudo não estaria perdido, o nosso cadete, hoje, aposentado, coronel Renato Paiva Lamounier, nas suas vindas a Candeias, em visita a sua mãe, vinha num desses aviões e sempre nos dava uma mostra do que teria sido feito por quatro aviões num só momento. O avião pilotado por ele subia como uma flecha e depois vinha cambalhotando, o que deixava o povo da nossa cidade assustado e imaginando o que seria aquilo feito por quatro aviões, como poderia ter sido feito na inauguração do noss campo.

Naquele momento não havia clima para a festa de inauguração do horto Mas não havia como cancela-la. Tratava-se da parte mais festejada das comemorações. Um consórcio de fazendeiros teria proposto uma churrascada para todo o povo de Candeias. Diversas rezes haviam sido abatidas para esse churrasco. Muito refrigerante estava pronto para ser servido. Assim, apesar da frustação da nossa população, a inauguração do horto, marcada para a parte da tarde, estava de pé, quando o povo já ia diretamente do campo, para o horto, do outro lado da cidade.

Eu que já contava os meus 12 anos, não perdi um foco sequer dessa grande festa. De manhã sofremos, mas à tarde carnívoro como é o ser humano, deu-se um branco na cabeça de todo o mundo, sobre a ausência da Esquadrilha da Fumaça. Carne e refrigerante à vontade. Cerveja eu não me lembro se existia, eu não bebia nesse tempo, mas refrigerante... Meu pai! Eu jamais vira tanta fartura. --- Para o churrasco foram abertas várias valas onde grandes espetos eram expostos. O povo comia, levava para o parente de casa, e apanhava no chão para levar para o cachorro.

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. (Chaplin)

NB) Neste texto eu fui auxiliado pelo meu amigo, Coronel Renato Paiva Lamounier, que me falou sobre a Esquadrilha da Fumaça. Mas a festa frustrada do campo, e a alegria no horto florestal, eu estive o tempo todo presente, e teria muito mais o que falar... Muito mais!

Armando Melo de Castro


12 comentários:

Giuliano de Souza disse...

Está é a Memória de CANDEIAS!
Nunca soube disso!
Ainda bem que alguém a contou e a eternizou.
"A importância da escrita para a história e para a conservação de registros vem do fato de que estes permitem o armazenamento e a propagação de informações não só entre indivíduos, mas também por gerações"
Nota: Gostei da data, 18 de julho de 1958, exatamente 30 anos após eu sentaria praça na Marinha Brasileira, 18 de julho de 1988...

5 de setembro de 2012 18:34 

Giuliano de Souza disse...

Está é a Memória de CANDEIAS!
Nunca soube disso!
Ainda bem que alguém a contou e a eternizou.
"A importância da escrita para a história e para a conservação de registros vem do fato de que estes permitem o armazenamento e a propagação de informações não só entre indivíduos, mas também por gerações"
Nota: Gostei da data, 18 de julho de 1958, exatamente 30 anos após eu sentaria praça na Marinha Brasileira, 18 de julho de 1988...

5 de setembro de 2012 18:36 

josefina disse...

estive lá.

22 de janeiro de 2013 13:21 

Anônimo disse...

Pois eu morava em Campo Belo nessa época justamente na rua onde caiu o avião. De fato, o avião bateu na torre da nova matriz e se espatifou a menos de 50 metros de minha casa. Como eu era uma pequena criança corri para me esconder debaixo da cama, mas sem antes subir no terraço de minha casa para ver o alvoroço causado pelo acidente. Vai que caísse outro ...

Gambogi

6 de janeiro de 2015 22:26 

Anônimo disse...

Olá, obrigado a quem fez esta matéria, pois só quem viu e esteve no local ou arredores pode realmente detalhar com fidedignidade.

Gostaria de que por favor disponibilizassem fotos ou imagens deste acidente para que eu possa conhecer mais a fundo o ocorrido do Lannes.

Qualquer coisa, enviar para este email: demontiervieira@hotmail.com

5 de abril de 2015 20:30 

Mário Moreira de Resende disse...

Que fato triste que passara o povo da região nesta época, mas fico satisfeito em saber hoje desta história, embora triste porém rica em detalhes, mais uma para eu contar para os meus filhos.. Obrigado Armando.

1 de junho de 2015 18:23 

Unknown disse...

"Me lembro muito bem daquele fatídico dia. Não era igreja em construção. Ele bateu na torre da nova Matriz, e parte da asa caiu na porta da nossa casa, passando bem rente ao teto do nosso banheiro onde, no momento eu tomava banho. Em seguida caiu no quintal de Tereza......(me esqueci o sobrenome) ceifando também a vida de 2 crianças desta senhora," comentário de minha prima Theresinha filha do tio Antonio Machado Alvarenga.

11 de setembro de 2016 17:53 

hilton disse...

Parabéns ao autor do blog pelo registro que abrange a tragédia com o avião da FAB pilotado pelo Capitão Leônidas. Minha família mudou-se de Campo Belo para Brasília no final de 1959 e nunca mais ouvira relatos precisos do acontecimento que marcou minha infância/juventude (sou de 1945). Caminhava nas proximidades da nova matriz, estava maravilhado com os aviões e pude ver o acidente de perto. O avião esbarrou na cúpula da Igreja, descontrolou-se, passou próxima da casa do meu tio Antonio Machado e espatifou-se mais adiante! Foi terrível!
Em família, cheguei a tocar no assunto, mas sem lembrar os dados precisos (a data exata). Pensava até que a apresentação da Esquadrilha teria sido no aniversário de Campo Belo – 28 de setembro - e também não lembrava o ano do acontecimento.
Minha mãe – a dona Nega – é candeense e aos 93 não lembra do acontecido. Meu pai – Anésio - lembra, mas achava que a data era anterior ao 18/julho/1958.
Congratulo-me com a minha prima Terezinha (filha do Tio Antonio) por informar-nos sobre o BLOG.
Hilton M. Ferreira

12 de setembro de 2016 03:40 

peathon disse...

Gostei muito do artigo, queria saber a data em que minhas primas haviam falecido naquele acidente, na época eu tinha pouco mais de um ano, agradeço pela informação.

13 de novembro de 2017 10:43 

Edson disse...

A matéria acrescentou muito para minhas pesquisas sobre a FAB, aviões e acidentes.
Li que o Museu da cidade de Campo Belo ou Candeias mantem em seus acervos fotos sobre o avião acidentado.Interessa-me saber o número de matrícula da aeronave T-6D sinistrada?
Alguém ajudaria?
Atenciosamente,
Edson Pom

30 de abril de 2018 15:32 

Unknown disse...

Não tinha conhecimento desse fato ocorrido em Candeias, muito bom receber notícias de nossa terra,nos trás muitas lembranças de nossa juventude.

14 de agosto de 2019 16:58 

Anônimo disse...

Bom dia, Edson Pom!
Também pesquiso sobre acidentes da FAB (data, matrícula FAB, tripulação, mortos, local, etc). Estou fazendo também uma lista de todas as aeronaves da FAB desde a criação do Ministério em 1941, com informações de acidentes e de monumentos. Poderíamos trocar informações para enriquecer nossas pesquisas. Meu contato é (51)99500-0427. Fort

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 4 de junho de 2021

                                                                      Eliana Felício

Mesmo sabendo que um dia todos nós vamos morrer, isso nos assusta fazendo invadir em nós uma grande tristeza. A perda de um ente querido deixa-nos transtornados, envolvidos numa emoção sem tamanho. Todos nós estamos sempre numa fase da vida esperando um encontro com a morte, principalmente quando se trata de alguém selecionado em nossas vidas.

Ninguém duvida de que Deus sabe o que faz, mas com todo esse conforto celestial perder um ente querido nos causa uma dor maior. Partir da vida é um grande mistério de onde nasce uma grande saudade para quem fica; um mistério difícil de entender. Seria tão bom se a gente entendesse que a morte vem nos buscar porque fomos chamados por Deus! Que a partir dela não vamos mais sofrer todos os males dos quais convivemos com eles desde o nosso nascimento. Mas ela nos mostra um sentindo totalmente diferente.

Eu quero enviar um abraço e os meus mais profundos sentimentos à FAMÍLIA FELÍCIO, pela falecimento de sua tão querida Eliana Felício.

Uma família de guerreiros honestos, amigos e religiosos. Fui muito amigo de seu patriarca Chiquinho Felício, que nos deixou uma tão boa lembrança com o seu sorriso alegre. Sua esposa, Maria Morais; lembro-me de vê-la, sempre com uma criança no colo. Uma família, unida, amorosa, exemplar e respeitada.

Que Deus os abençoe a todos fazendo-lhes acreditar no tempo. Eliana partiu para Deus, mas deixou para os seus familiares e amigos, uma grande saudade.

Armando Melo de Castro.