DITE FREIRE E A CIGANA CARMENCITA
A praça Antônio Furtado em
Candeias até o principio da década de 60 foi o ponto determinado para receber
os circos, parques, ciganos, comerciantes circulantes, em ônibus etc. ---- Às
vezes estava ali estacionado um circo, quando tinha um parque esperando para
chegar. Era muito comum ver por ali armada uma barraca de cigano. --- Os
ciganos chamavam muito a atenção do povo candeense por ser o candeense um
habitante de cidade pequena, bastante curioso e os ciganos serem de uma cultura
muito diferente.
A origem dos ciganos é muito
confusa até nos dias atuais é envolta em um grande mistério. Existem diversas
versões sobre eles. Muitos acham que
eles são oriundos da Índia dado aos indícios da língua. Mas não há nada de
concreto sobre isso. O cigano é uma gente sem nação. Eles estão espalhados no
mundo todo. A etnia cigana é muito variada; no Brasil, por exemplo, temos três
delas, e os Estados onde eles estão mais acumulados são Minas Gerais, Bahia e
Goiás. A comunidade cigana no Brasil conta 800.000 pessoas.
Os primeiros ciganos que
chegaram ao Brasil foram enviados por Portugal
já nas primeiras caravelas junto aos degredados. A vida deles por serem
nômades foi sempre muito difícil. Sempre foram tratados com preconceito e, às
vezes, até expulsos do país. Sua cultura é preservada. E eles não se misturam
para a conservação da cultura que trouxeram da sua origem. --- O Nazismo matou
mais de 400 mil ciganos, confundindo-os com os judeus. Em outros países, como
na Europa, quase sempre pode ser vista a notícia de um assassinato de cigano.
No Brasil os ciganos são bem recebidos e não são perseguidos.
O casamento de cigano é feito
entre eles, quase sempre entre primos. As moças a partir dos 14 anos já estão
prontas para o casamento e o rapaz com 16. Vivem em grandes barracas num estilo
centenário. Os ciganos são como uma nação diferente dentro do país que ocupam.
O ritual do casamento é amplo. O casal não se casa por amor. É feito entre as
duas famílias dos noivos um acordo. Às vezes os noivos nem se conhecem e ficam
se conhecendo no dia da união. Acontece sempre de os noivos serem escolhidos na
mesma família, quando o casamento acontece entre primos. Se algum cigano ou
cigana decidirem se casar com alguém que não seja da mesma raça, eles serão
expulsos da comunidade e não são mais considerados ciganos.
O casamento cigano é feito sob
pagamento de dote pelo pai da noiva. As famílias que fizeram o acordo se unem
em negócios, pelo pai da noiva, podem
barganhar, negociar dívidas e fazer acordos para que o dote venha a ser pago de
maneira que satisfaça ambas as partes. É bom lembrar que existem ciganos ricos
e ciganos pobres.
Mas falando em cigano,
lembro-me de quando, na década de 50 chegou a Candeias um grupo de ciganos
ricos. Montaram as suas barracas na praça Antônio Furtado e ao redor do grande
acampamento uma cerca com apenas um fio de arame. Apenas para que os curiosos
não se aproximassem muito deles. Ali montaram uma tenda e fabricavam tachos,
enquanto outros saiam vendendo, e lendo sorte e trocando carros e cavalos.
Faziam qualquer tipo de negócio. A água para eles quem fornecia era a vizinha,
Fina Teixeira viúva do patriarca da família Teixeira, Sr. Francisco Teixeira.
--- Nesse tempo que a luz de Candeias era um tomate nos postes, eles tinham uns
lampiões que deixavam a praça Antônio Furtado como um dia.
Nesse intervalo a praça
Antônio Furtado se transformou num ponto turístico para atender a curiosidade
das pessoas e observar a cultura diferenciada. Lembro-me do Zé Souto, um
fabricante de tacho artesanal, que ficava excomungando os ciganos por terem
tomado os seus fregueses por um bom tempo, pois encheram a cidade de tachos. E
ele achava que durante um bom tempo não venderia nem um tacho.--- Lembro-me,
também, da Maria de Dona Joana Gorda, ela ia todos os dias apreciar os ciganos
e observando o que eles faziam e depois saia contando para a vizinhança. Certo
dia ela ficou apreciando uma cigana preparar uma carne. E no outro dia ela comprou
um belo de um pedaço e imitou a cigana até no jeito de mexer a panela. Ela só não copiou a forma que eles usavam
para matar um frango, era batendo com a cabeça da pobre ave num esteio da
barraca.
Mas o caso mais engraçado
aconteceu foi com um amigo meu, o Djalma Freire, mais conhecido pelo nome de
Dite do Chico Freire. Rapaz bem aparecido, ainda jovem, bom jogador de futebol,
participou da Associação Esportiva Candeense e do meu glorioso Rio Branco
Esporte Clube. Foi motorista do caminhão da prefeitura onde se aposentou.
Dite assediado por uma cigana
muito bonita, para ler a sua sorte, apaixonou-se por aquela flor cigana. E
durante alguns dias dite ficou beirando os olhos do futuro, e já não bastava a
quiromancia, no dia seguinte a cartomancia, alomancia, e outras coisas mais...
Até que o Dite pensando que a cigana topava algo mais sério com ele em troca de
dinheiro, perguntou-lhe o quanto ela cobraria para dormir uma noite com ele.
--- A cigana deu um sorriso e não se assustou com a proposta do Dite, e
disse-lhe: “Só se for no acampamento”. Fora eu não posso. E apesar da
insistência Dite não obteve sucesso. A cigana só topava dormir com ele na sua
barraca, preparada para tal. E assim foi marcado o encontro pelo valor, naquele
tempo, de 100 cruzeiros e o encontro amoroso aconteceria dois dias depois, numa
quinta-feira, as 11 horas da noite depois que a comunidade se recolhesse, ele
poderia chegar que a alcova estaria preparada.
Pobre Dite! Ao chegar todo
untado de desejo, imaginando coisas e coisas. Naturalmente pensando que aquela
seria a sua noite mais feliz de toda a sua vida, foi recebido amigavelmente
pelo marido da cigana Carmencita que lhe
solicitou o pagamento antes de entrar o que lhe foi feito deixando o Dite um
tanto assustado. Quando foi levado ao cubículo destinado num canto do
acampamento, ali havia uma cama no chão, a mulher deitada vestida como manda o
figurino cigano, e um grande sarrafo de madeira separando a cama de forma que
um não poderia se encostar no outro.
O marido da cigana, gentilmente
já foi indicando o lugar que ele deveria se deitar. Ele não estava querendo mais o encontro, mas o cigano disse, não o senhor pagou o senhor vai dormir aqui do jeito que
foi combinado. Dite tentou ir embora e sair logo dali, mas não lhe foi
permitido e ele teve que permanecer até as 5 horas da manhã deitado com a
cigana, separados por um sarrafo e com o marido dela assentado numa banqueta no
canto do cubículo, quando foi liberado para ir embora.
Djalma, que para uns tinha o apelido de Dite e para outros o
apelido era “Chô”, saiu contando para muito pouca
gente esta história e falava:
Nocha shinhora chô, eu nunca
pachei tanto aperto na minha vida.
Armando Melo de Castro.
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