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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

AS CANDEIAS DOS MEUS TEMPOS.


No local onde se encontra estabelecida a Casa do Vaqueiro, foi, no principio da década de 60, o Bar e Restaurante Pinguim, de propriedade do Sr. Luiz de Sousa Andrade, o meu amigo Lulu. Antes, esse pequeno estabelecimento teria sido a farmácia do Sr. Antônio do Bieca, de quem teria sido discípulo o nosso amigo Divino, hoje proprietário da Farmácia Divifarma.

Lulu, um personagem folclórico da cidade de Candeias, foi primeiramente balconista da Casa Celestino Bonaccorsi. Depois esteve nos Baiões, município de Formiga, onde a Casa Bonaccorsi tinha uma filial. E após deixar de ser funcionário da Casa Bonaccorsi, dedicou-se ao ramo de bar e restaurante. O seu primeiro estabelecimento foi no cômodo de comercio que havia no antigo casarão do Sr. Torquato Viglioni, onde hoje está a sede do Banco do Brasil.

Daquele endereço Lulu transferiu o seu estabelecimento para o antigo Bar do Bóvio, que ficava onde hoje está à residência do Sr. Willlian Viglioni. ----- Neste endereço o comercio do Lulu não foi para frente. Ele teve alguns desencontros com o ramo e fechou o comércio, ficando afastado de suas atividades durante algum tempo.

Posteriormente Lulu reabriu o seu Bar e Restaurante com o nome de “PINGUIM”. Eu contava dezesseis anos e fui seu empregado nesse tempo, o que me foi uma coisa bem divertida.

Eu em pleno aprendizado da vida, em plena adolescência posso dizer que aprendi muito com o Lulu, isso porque eu não era apenas um balconista do bar; eu fazia de tudo, por exemplo: Varrer o quintal que era enorme; tratar dos porcos e lavar o chiqueiro; (Era permitido criar porcos na cidade) tratar das galinhas, ajudar na lavação da louça, guardar a lenha, (não havia gás) ----- pajear os meninos, ou seja, o Marcos, o Sergio e o Claudio. Eles eram pequeninos e o Claudio (Tibau) ainda no colo.

Lembro-me que um dos fregueses diários do restaurante era o Pedro Pitanga, almoçava e jantava, eu o aguardava para vê-lo tomar a sua refeição, principalmente quando era peixe. Eu nunca vi na minha vida, uma pessoa comer um peixe tão depressa. Era uma coisa impressionante, ele ia cuspindo a espinha do peixe e não se engasgava. Lembro-me, ainda, de alguns dos fregueses mais constantes como, Domiciano Pacheco; Miguel Pacheco; Marianinho Lamounier; Altivo do Estevão; Miguel Lara; Antônio Eleutério; Turquinho da Pedreira (aquele que fez o pirulito de pedra existente na praça próximo ao Sansão) Zé Belarmino; Maré e muitos outros.

O estabelecimento era pequeno e havia no refeitório apenas quatro mesas e na área do bar apenas três.

O que mais me divertia como funcionário do Lulu era o seu humor que na mesma hora que estava no sul ia para o norte e quanto estava no norte poderia ir para o leste ou oeste. Era muito engraçado.

Lulu teria saído para fazer umas compras e entre elas estaria a uma galinha caipira para atender uma galinhada de um freguês que queria comemorar o seu aniversário com uns amigos, com essa iguaria.

Dona Teresinha, a esposa do Lulu a cozinheira oficial da casa, fora para o Rio de janeiro visitar os seus familiares. Para isso teria arrumado uma empregada para lhe substituir.

E ai deu-se inicio a uma nova novela de relacionamento. A empregada protagonizou um belo show que tinha como plateia os fregueses do bar.

Lulu chegou trazendo uma galinha, um pacote de feijão e um filé de boi. ---- Ao chegar deixou as compras na cozinha e veio para o balcão.

Na parede da cozinha tinha uma janelinha por onde a cozinheira se comunicava com o Lulu. A empregada espicha o pescoço naquela janelinha e fala bem alto:
-----Sô Lulu, essa galinha é pra matá?
-----Não! Ela veio para cantar na galinhada...
Passa mais um momento e volta a emprega:
----Sô Lulu, esse feijão é para cozinhar?
----Não, é para assar e bem assado...
Não demorou quase nada volta à empregada:
----Sô Lulu, e essa carne?
----Essa é para comer hoje e cagar amanhã...

Dai a pouco a empregada pegou a sua trouxa e partiu, resmungando... Deus me livre nunca lidei com um trem desse não...

Não sei o que aconteceu, mas no outro dia a empregada que se chamava Antônia estava lá de novo. ----- Lulu era assim, brigava com o mundo todo, mas amava todo o mundo.

Armando Melo de Castro

Candeias MG Casos e Acasos.