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terça-feira, 30 de agosto de 2011
A BOCA E A VAGINA
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sexta-feira, 26 de agosto de 2011
terça-feira, 23 de agosto de 2011
BRINCANDO DE FAZER QUEIJO
-----Às vezes, eu
não tenho o que fazer e começo a inventar coisas. Afinal, é bem cansativa esta
vida de aposentado, o dia todo no aposento. Eu sempre digo: aposentadoria é tal
qual o cachorro que corre atrás de um carro e quando o pega não sabe o que
fazer com ele. Eu fiquei a vida toda aguardando a minha aposentadoria, agora
que sou aposentado, tenho que ficar enrolando o tempo.
-----E assim, de quando em vez, vou para a cozinha, mas sempre vigiado pela minha mulher que está sempre me acusando de fazer muita sujeira ali no seu gabinete culinário. Com certeza, eu vou sujando a louça porque não tenho nenhuma vocação para lavar os “trens”. Dai a implicância comigo quando me vê na cozinha.
-----Quando eu estava sempre em visita a Candeias, ainda nos tempos de minha saudosa mãe, eu funcionava como um marido de aluguel quando lá chegava. Além disso, sempre arrumava algo para fazer e enrolar o tempo. ---- Certa vez eu improvisei um defumador de ladas usadas, dessas de 20 litros, e produzi uns defumados, lombinho de porco, linguiça, bacon, queijo e outras coisas mais. Ficaram talvez melhores do que muitos desses caseiros que compramos.
-----Eu sempre gostei da arte culinária. Na área de forno e fogão, já fiz muitas coisas entre doces, pães, assados e cozidos, etc. Tudo sempre elogiado pelo sabor e asseio. Contudo, sempre criticado pelo fato de deixar os utensílios expostos e fora de seus lugares.
-----Certa vez quando eu estava em Candeias e numa dessas oportunidades me deu na cabeça a ideia de fazer um queijo. Imaginei eu comendo um queijo feito por mim. Parecia até fantasia de menino, mas, um velho aposentado fica mesmo cheio de fantasias. E, com essa ideia fincada na mente, fui estudar e pesquisar a fim de entender a arte do laticínio.
-----Perguntei para a vizinha, procurei na internet, li um livro sobre o assunto e concluí que já estaria apto para fazer o meu queijo-de-minas. Fiquei até imaginando com qual o doce eu iria saborear aquele manjar especial fabricado pelas minhas mãos. Já teria pensado em pedir umas laranjas-da-terra para a vizinha, Dona Maria do Antero, e fazer um doce caldeado. Eu gosto muito de queijo fresco com doce de laranja-da-terra. Enfim, eu sempre fui um consumidor de queijo e, para mim, sempre foi uma incógnita o jeito de fazê-lo. Eu cá, com a minha intimidade, fiquei exaltando a minha ideia. Fazer o queijo e o doce de laranja-da-terra e, depois, saboreá-los à moda dos abades. Eu então, já estava até engolindo seco.
-----Tendo já tomado os conhecimentos teóricos, foi chegado o momento de por a mão na massa. A primeira providência foi comprar a forma e o coagulador, ou seja, o coalho vendido em qualquer supermercado.
-----Era hora de buscar o leite puro, direto da fazenda, o produto principal para a execução do meu projeto. Peguei um balde e fui até à residência do senhor João Cassiano a fim de comprar cinco litros de leite. Eu faria um queijo pequeno, como experiência, no sentido de depois fazer outro maior.
----Com o balde de leite nas mãos, eu mais parecia um menino. Eu, então, com sessenta e oito anos, de idade, voltei para dez. Sentia-me tal qual uma criança que teria esperado o Papai Noel e, agora, seria a hora de estrear o brinquedo.
-----Logo que saio no portão da casa do João Cassiano e atravesso a rua, ali na esquina do Nélio Gianasi, encontro-me com aquela senhora, a minha velha amiga, que tem uma língua que mal cabe dentro da boca. Quando ela conversa, a impressão que se tem é que a língua está empurrando a dentadura para fora.
Apresentava-se com um visual diferente e meio desencontrado com o seu
perfil. Um lenço estampado de preto e vermelho cobrindo apenas o topo da
cabeça. Acho que estava tentando esconder a raiz dos pelos descorados. Calçava
um tênis desinteirado para pés femininos. Quando bati o olho naquilo, quase
adivinhei tratar-se de um aproveitamento masculino, talvez, herdado de algum
sobrinho. Mas, como eu não entendo bem dessas coisas, preferi o benefício da
dúvida. E, naquele encontro, meio fora de hora para mim, ela, como sempre, já
veio fazendo o seu questionamento indiscreto:
---Uai, Sô Armando! Vai nadá no leite? Parece que comprou o leite tudo?
---Não! Só comprei cinco litros. Deixei muito leite lá pra você...
---Eu vou comprar dois litro. Sei lá se o senhor deixou pra mim...
---Claro que deixei! Mas Parece que você bebe bastante leite! Na sua casa vocês devem gostar muito de leite hem?!
---É, mais eu fervo e refervo. Boto na geladeira, gela e regela e nóis vai bebeno com café. Às veis, eu faço um bolinho de fubá.
---Eu adoro um bolo de fubá.
---Bolo de fubá engorda. Purisso qui o sinhor tá com essa barrigona. E o que o sinhor vai fazê cum tanto leite, Sô Armando?Tem bizerro lá na sua casa?
---Vou tentar fazer um queijo.
---Queijo!? O sinhor fazeno queijo!? Kákakaka, só fartava isso pro sinhor inventá né, Sô Armando? O sinhor deve é bebê um litro duma vez pá inchê essa barrigona!...
---Eu quase não tomo leite. Mas, vou sim. Vou experimentar fazer um queijo.
---Sô Armando, o sinhor tem umas ideia meia doida, num tem?
---Ideia doida? Por que doida?!
---Uma vez, eu vi o sinhor falano, lá no Zé Cabeça, que sabe fazê pinga na panela de pressão. Eu contei pro meu marido e ele falou que esses Derminda é tudo meio doido.
---Eu não me considero doido não! Eu fiz um litro de pinga de rapadura na panela de pressão e ela ficou bem boa como experiência!
---Meu marido falou que o avô do senhor, João Delminda, inventou, uma vez, uma espingardinha de cano de guarda-chuva e, quando foi dá um tiro, vuô pedaço de espingarda pra todo lado. Isso é verdade, Sô Armando?
---Isso é conversa do povo. Meu avô era um homem muito inteligente. Ele fez uma espingarda de atirar pedras. E não usava pólvora não...
---O sinhor me discurpa, Sô Armando! Mais uma pessoa que sai falano que fabrica pinga, na panela de pressão, num tá muito bão da cabeça não, Sô Armando!
---Você dizendo que eu não estou bem da cabeça?!Engraçado!!!
---Aonde já se viu isso, Sô Armando!? Fazê pinga na panela de pressão? Panela de pressão serve pra cuzinhá os trem. E cumé que vai fazê pinga cuzida?
--- É por que você não entende do mecanismo e como ele funciona. Se entendesse,
veria que a fabricação de pinga é simples e não iria ficar tão admirada.
--- Intão, me explica isso, Sô Armando! Esse trem pra mim tá muito esquisito! O sinhor cuzinha a rapadura e ela vira pinga? E pinga num é feita de garapa?
--- Ah meu pai do céu!!!!! ----- A pinga em si é o vapor que sai da panela com a fervura do mosto. Mosto é a água de rapadura ou a garapa fermentada que passa por um processo de resfriamento, através de uma serpentina. Esse se liquidifica transformando-se em pinga. Chama-se pinga porque o vapor que se liquifaz sai aos pingos. Os primeiros e os últimos 15% da pinga extraída não servem para ser consumidos, apenas os 70% entre o princípio e o fim. O aparelho de fazer pinga se chama alambique e o que eu faço é apenas uma adaptação transformando a panela de pressão num pequeno destilador.
--- Ah nem Sô Armando!!! Pode pará...Eu num intendi nada, Se eu ficar aqui, conversando com o sinhor, eu vô acabá ficano doida igual o sinhor. Eu vou pegá o meu leite, senão ele acaba.
Saiu. E logo vem a mulher quase correndo atrás de mim gritando:
---Sô Armando! Espera aí.
--O que foi?
---O leite cabô. Fiquei conversano com o sinhor inquanto eles vendeu o resto
do leite. ---- Tamém, o senhor me prendeu nuns assunto doido né Sô Armando!
Agora, eu fiquei na mão.
--Fui eu que prendi você?!
---O sinhor bem que podia me imprestá do seu leite e, amanhã, eu compro otro e pago o sinhor.
---E o meu queijo?!
---Mais qui mané queijo, Sô Armando! O sinhor num sabe fazê queijo coisa ninhuma. Dêxa essa duidura pra ôto dia, sô! E me impresta logo esse leite.
E o menino de sessenta e oito anos teve que esperar por mais um dia para poder brincar de fazer queijo.
Vou parar por aqui, senão o texto fica muito longo... Noutro dia eu falo mais dessa amiga.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e acasos.
sábado, 20 de agosto de 2011
O MEU AMIGO CANDINHO.
----Aquele que ama a sua
terra natal, e ter que deixa-la, dependendo da sua condição econômica e financeira, sofre muito
durante essa transição. --- Sofre porque o seu sentimento o leva a sentir-se
subtraído. É como as circunstâncias estivessem lhe roubando a possibilidade de
viver preso às suas raízes. – E quem se vê arrancado de sua terra e levado para
outras plagas sem a vontade de seu coração, leva sempre consigo um olhar para a
melancolia; um suspiro para a saudade; um pensamento para a tristeza; uma voz
abafada; e um coração saudosista.
---A infância e juventude
quando vividas no seu rincão natal, dificilmente serão esquecidas. Isso tem
sido observado através de nosso GRUPO SÔ DAS CANDEIAS COM MUITO ORGULHO... Através das participações de candeenses
ausentes. --- Eu, por exemplo, por mais que tenha me acostumado fora de
Candeias, amo a minha terra que já não é mais tão minha, mas eu faço questão de
ser dela.
---Hoje, quando eu
mergulhava nas águas do lago das minhas recordações candeenses, encontre-me com
um grande amigo. Um candeense que amava Candeias. Ele fez tudo para viver
debaixo do céu de Candeias, mas as circunstâncias e ou os destinos designados
por Deus, não lhe permitiu. ---- Esse amigo foi Candido Roberto Teixeira, o
Candinho do Vico.
---Filho do casal Álvaro
Teixeira (Vico Teixeira) e Dona Laura Barreto Teixeira. Casado com Terezinha
Melo Teixeira, em 19 de abril de 1952, com quem teve quatro filhas: Arlete Melo
Teixeira Gontijo, Laura Lídia Teixeira Santos, Marilúcia Teixeira, e Izildinha
Melo Teixeira.
---Candinho, com certeza, foi um dos filhos de Candeias
que mais amou a sua terra. --- Ele tentou de toda maneira viver junto de seu torrão
natal, mas não lhe foi possível. --- Em Candeias ele foi vereador e Presidente
da Câmara. Teve um caminhão de transporte do qual era o motorista. Fotógrafo,
oficina mecânica, proprietário de taxi, proprietário de três bares, pesca
profissional nas águas de furnas e muito mais coisas.
---Foi sempre um empreendedor. Fez tudo para permanecer em Candeias. Mas não conseguiu. Proprietário de uma oficina mecânica na Rua Coronel João Afonso, onde hoje se encontra uma igreja evangélica. ---- Com esta oficina ele se transferiu para são Paulo e a instalou na Vila Diva. Após algum tempo voltou para Candeias. Finalmente mudou-se para Belo Horizonte, mas era sempre visto em Candeias.
---Na trajetória de Candinho, vamos lembrar agora do seu Bar e Restaurante Esquina. ----- No princípio da década de 60, ele construiu a casa que se encontra até hoje do mesmo jeito, e montou um bar e restaurante, muito bem montado, na periferia da cidade. O empreendimento ficava localizado na esquina da Rua Expedicionário Jorge, com a Rua Professor Portugal. --- Pela localização, tomou-se o nome de Bar e Restaurante Esquina. De forma estratégica foi colocada uma grande placa entre as duas ruas.
---Candeias não possuía um restaurante próprio para receber um freguês exigente. O único restaurante que existia era do Lulu e se limitava a servir pequenas refeições e o prato feito, o chamado PF. --- Candinho tentou mostrar ao povo de Candeias um restaurante que podia atender “a lacarte” ou “à minuta”. Além de refeições normais. Bebidas nacionais e estrangeiras e produtos enlatados.
---Nesse tempo não havia televisão em Candeias e os rádios existentes em sua maioria só eram bem ouvidos à noite. Nesse tempo ainda não existiam as emissoras de rádio FM. --- Durante o dia praticamente, a cidade toda era ligada na Rádio Clube de Campo Belo, onde o principal locutor era o maestro Totó, que tinha uma orquestra, então muito famosa na região, “Totó e Sua Orquestra”. ---- A Rádio de Campo Belo durante uns 15 dias antes vinha anunciando um grande baile e show montado numa tolda a frente do Bar, com a orquestra do Maestro Totó pra a inauguração do Bar e Restaurante Esquina.
---O serviço de alto-falante do cinema também anunciava o grande acontecimento. Nesse tempo, os parques de diversões, circos de cavalinho e tourada, eram armados na Praça Antônio Furtado. Às vezes, saia um e chegava outro. O serviço de alto-falante desses itinerantes fazia propaganda para o comércio local. Não existia televisão e esses pontos de diversões, eram comuns. Lembro-me que na oportunidade daquela inauguração havia um parque do tipo “fuleira”, que durante o tempo todo do seu funcionamento, fazia propaganda da inauguração do bar do Candinho.
-------------------------”Atenção povo de Candeias, vai ser inaugurado bem perto daqui o Bar e restaurante Esquina, de propriedade do Sr. Candido Roberto Teixeira”. Bebidas nacionais e estrangeiras. Os mais variados pratos. Serviço “à lacarte” e “à minuta”, bifes a molho madeira, à milanesa e a parmegiana. Se aceita encomendas de outras preferências. A inauguração contará com a presença da melhor orquestra da região: TOTÓ E SUA ORQUESTRA. ---------------
---O Restaurante do Candinho era, sem dúvida, o maior
propagandista. E, com certeza, foi a primeira vez na vida que muitas pessoas
teriam ouvido uma propaganda de comida de restaurante; uma propaganda tão
ativada, tão movimentada, tão divulgada.
---Com certeza uma boa parte do povo candeense não entendia o que estavam ouvindo, Aqueles nomes comidas era uma incógnita para muitos.
---Finalmente é chegado o grande dia da inauguração. A esquina da Rua Expedicionário Jorge com Professor Portugal ficou lotada; parecia até o dia de baixar o mastro da festa do Rosário. O povo aguardando a chegada da orquestra. O salão preparado na forma de uma grande tolda do outro lado da rua, no entanto cimentada e um palanque para a orquestra. --- Uma coisa chamou muita a atenção do povo. Um banheiro público, tipo uma latrina foi feito nas proximidades... E os comentários: “Tem até privada na rua... Nossa!” -
---A orquestra começa a tocar e a porta da tolda foi liberada para quem quisesse dançar. Pouca gente entrava. Na verdade, ali estava um povo humilde, constrangido, sem dinheiro e curioso. Queria era ver o Totó com a sua voz bonita, pois, ele era o locutor principal da Rádio Clube de Campo Belo. Única emissora que entrava em nossos rádios, durante o dia, naquele tempo, através de ondas médias. Não existiam as emissoras da onda FM. E quando o Totó falava a turma apreciava, pois, a maioria só o conhecia pela voz. Era como se estivesse em Candeias um grande ator de novelas dos dias atuais
---E, nos intervalos, Totó, com aquela sua bela voz de locutor de rádio, exaltava
o Bar e Restaurante Esquina, naquela hora, inaugurado:
---Senhoras e Senhores: Candeias acaba de ganhar um bem montado bar e restaurante, através do espírito empreendedor do jovem empresário, Cândido Roberto Teixeira. O popular, Candinho. ---- Bebidas nacionais e estrangeiras. Enlatados, em geral. Os mais variados pratos nacionais e internacionais. Completo serviço “a La carte”. E não deixem de experimentar os famosos bifes “a parmegiana.” a milanesa e ao molho madeira.
---Dionísio Passatempo era uma pessoa bastante conhecida na cidade, principalmente, ali, naquele pedaço. Morava nas proximidades do Vicente Vilela. Ganhava a vida comprando e vendendo aves e ovos; cabrito e carneiro; leitão e vitela etc. Naquele tempo, não existiam granjas nem de galinhas e nem de porcos. E Dionísio viajava pelas roças, a cavalo, comprando e vendendo coisas, transportadas em seus burros de cargas montados com cangalhas.
---Dionísio, quando bebia, ficava todo afoito e
eufórico. Falava alto e gastava o ouro por quem teria dado o couro. Empanado,
em um terno branco e gravata preta. Zoava em meio àquela festa até, então,
singular. E, com o carburador queimando álcool, Dionísio, para fazer bonito,
ofereceu um litro de uísque para os músicos. Naturalmente, teria sido a melhor
garrafa do estoque do Candinho. Com certeza, um “Jonhy Walker” e a sugestão,
naturalmente, teria sido do Candinho porque Dionísio nada entenderia de uísque.
---O presente causou uma reação no maestro da orquestra que, gentilmente, agradeceu o presente oferecendo-lhe uma série de baiões do repertório do famoso cantor de muito sucesso, Luiz Gonzaga. ---- Candinho, para popularizar a festa, recomendou ao Totó que convidasse o Dionísio para subir ao palanque.a pouco, Totó interrompe a música e anuncia:
---Senhoras e senhores.Temos o prazer de receber, em nosso palco, a presença do nosso amigo candeense, Sr. Dionísio Passatempo, o qual nos dirigirá algumas palavras.
---Sobe o Dionísio sobre o olhar atento do Candinho e do povo e então começa:
---Gente! Eu vou falá procéis! Esse trem do Candinho tá bão dimais, mas eu tenho umas coisa que eu num tô intendendo nada. Até agora, eu só tô intendendo o batidão desse jazz do nosso amigo de Campo Belo. Mas, o trem do Candinho eu vô falá a verdade, num tô intendeno nada. Tem umas palavra no negócio dele que num dá pra intendê.(E em tom de brincadeira) Ele tá muito mitido com esses nome das cumida que ele arrumô. Isso aqui pudia cê uma coisa mais pobre igual o povão qui tá aqui. Sirviço de alicate, bife da Dona Megiana, temperado com madeira; bife de rola... Sei não! bife pra mim é bife cum cebola. As cumida do Candinho parece que vei tudo do ôto mundo do outo. Num sei mais eu sô mais um torresminho com feijão, ovo mixido na farinha ou, intão, uma pratada de macarrão Pieroni, daquele bem grosso com massa de tumate.
---E resolve convocar o Candinho que se encontrava na entrada da tolda.
---Vem cá, Candinho. Ixplica esse trem pra nóis.
---E Candinho puto da vida, atravessou às pressas a rua e entrou no restaurante e disse para o seu garçom, o Wilson do Dé Cassiano: Aquequele Fi-fi-filho dada pupuputa do Diodiodionísio mee chachachamando no palpalco.... (Candinho era gago)
Candinho faleceu no dia primeiro de outubro de 1991.
Meu caro e bom amigo Candinho; a notícia de sua morte me deixou realmente muito sentido. Onde quer que esteja meu amigo, receba o meu abraço.
Armando Melo de Castro
Candeias – Minas Gerais
terça-feira, 16 de agosto de 2011
VICENTE E A TURMA DO VIAGRA
Vicente Barbeiro
O raposão, com o seu tipão de intelectual, dá aquela risada discreta e diz:
---Traga-me um martelo para eu pregar essa piada no teto deste salão e na torre, ali da igreja.
E o Milton, com aquela sua cara “lambida”, até se levantou para se manifestar:
É a vez de o Bastião Goiaba falar:
Isso aí, gente, depende do tanto de viagra que ele tomou. Eu vi dizê que esse trem é bão memo, mais é caro pá daná...
O Neném, como que engolindo a voz, fez o seu comentário sucinto:
E o Carlos, num canto calado, resolve falar:
Enfim, após tantos argumentos, Tatá, num afã de se defender, toma a palavra e diz:
Tendo em vista o tamanho da barriga do réu, os dentes estufados, um bafo suspeito, olhos remelentos e avermelhados, cabelos pintados e desbotados, bigode torto, passos trôpegos e idade acumulada o que traduz, de forma explícita, a improdutividade dessa máquina humana para o quê se propõe, com exceção da língua que, ainda, poderá deter funções alternativas, considero-o, contudo, sem a mínima chance de alcançar uma nota 10 no exercício de alcova.
Armando Melo de Castro
candeiasmg.blogspot.com
Candeias – Minas Gerais
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
O RONCO DO DEFUNTO
Eu fui criado dentro de um conceito religioso próximo do rigoroso. Se não participasse da missa aos domingos, não poderia sair de casa. Se não fosse ao catecismo ministrado pela catequista, Maria Brasileira, neta do Padre Américo, não poderia ir à matinê do cinema. ---- Minha avó me colocou na irmandade de Santo Antônio existente em Divinópolis, quando eu tinha apenas um ano de idade. E ela sempre dizia, “Olha meu filho não se esqueça de dar um pãozinho para os pobres na primeira terça feira do mês.” E eu faço isso há quase setenta anos.
O cristão trabalhava a vida inteira e quando não tinha mais forças para tal e nem algum parente para acolhê-lo, era entregue para a Vila Vicentina onde terminava os seus dias na mais completa miséria. ----- Não porque a Vila fosse omissa, mas pela falta de recursos. A procura era maior do que a oferta. E é por isso que, até hoje, existe certo preconceito sobre levar alguém para a Vila, apesar das melhoras vividas atualmente naquela instituição.
sábado, 6 de agosto de 2011
DESNUDANDO A VIDA
O celibato tornou-se numa questão política; interessante e atraente àqueles cujo casamento não lhes oferece conforto e o estado de solteiro incomoda a sociedade.
1-27: “Deus criou o homem a sua imagem. Criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: Frutificai e multiplicai-vos”.
2.24 “Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe para unir-se a sua mulher”
terça-feira, 2 de agosto de 2011
UM CHUMBO NA ASA
Há certos momentos em que somos levados a um passado distante. É como se
olhássemos de repente no retrovisor de nossas vidas e lá estivesse à mostra
algo quase esquecido. ----- Basta, às vezes, um pequeno fato para que se abram
as cortinas de nossa mente e nos faça presente o que teria nos marcados na
vida.
Ontem, quando eu saboreava um tutu de feijão daqueles para mineiro nenhum botar defeito, veio à tona de minha memória o nome de um grande amigo já falecido: Wanderley Alvarenga, conhecido por Lei Careta. ----- E naquela sintonia entre o cérebro, a boca e o estômago, eu puxo a ponta de uma meada vinda de um estímulo neurônico me fornecendo uma frequência, o que me fez experimentar um reflexo engastalhado no meu cérebro mesclado de tutu de feijão.
Ley Careta tinha um barzinho junto ao cinema, e no fim da noite, quando ia fechar o estabelecimento, pegava a sua marmita e fazia sob um pequeno fogareiro aquela porção de tutu, do qual me era dado algumas colheradas para tirar o gosto de uma cachaça João Marques, a pinga famosa em Candeias naquele tempo quando ainda não existia a João Cassiano.
Eu, na flor da minha juventude, diante daquelas colheradas do saboroso tutu de
feijão do Ley, mais a dose de cachaça do João Marques, por pouco não sentia um
orgasmo alimentar à moda, Gabi Jones, aquela americana que sentia um orgasmo
quando comia os seus alimentos preferidos.
Tínhamos uma diferença de idade de quase dez anos. Portanto, fiz dele um
professor na minha escola da vida. Não teria sido um bom professor se eu
tivesse sido um aluno exemplar. Infelizmente o meu grande amigo Ley exagerava
na bebida e não relacionava bem com a família. Tinha sérios problemas
psicológicos e o final de sua vida foi dramático. Mas era um amigo que eu
prezava muito e o entendia. Eu sempre fui para ele uma caixa de desabafo.
Não sei porque ele confiava tanto em mim. ---- Éramos tão amigos que ele me
convidou para ser seu compadre antes mesmo de se casar: “Um dia Armando,
você será o padrinho do meu primogênito”. E assim fui quando nasceu o seu
primeiro filho o Cristian Alvarenga. E ele nunca mais me chamou de Armando e
sim de compadre.
De repente, numa evocação virtual sinto-me tomado por um transe mediúnico
e volto ao passado, bem no início da nossa amizade, quando eu entrava na adolescência
e o meu amigo Ley já era um rapaz adulto.
Eu um meninão inocente, muito mais bobo do que inocente. Época em que entrava
para a escola do mundo e recebia algumas aulas do Ley. E numa mexida
no retrovisor da minha vida vejo, lá atrás, eu e o meu amigo descendo a Avenida
17 de dezembro:
---Armando, amanhã eu vou a Campo Belo. Vamos?
---Você vai de quê?
---De carona no caminhão leiteiro do Renato do Zico.
(Nesse tempo não havia ônibus para Campo Belo, era o trem em apenas um horário e uma jardineira, somente na parte da tarde. O caminhão leiteiro era um transporte para quem ia até Campo Belo na parte da manhã. Caso contrário tinha que dormir lá.)
---Vai fazer o que lá, nessa poeirada toda?
(Ainda não havia estrada asfaltada para Campo Belo nesse tempo, era a estradinha passando pelos arrudas)
---Vou consultar.
---Consultar? Você está doente?
---Bem! Estou e não estou!
--- Se não está porque vai consultar?
---Eu estou com um pequeno problema.
---Se é pequeno, vai ao Posto daqui...
---Não, não posso. Eu tenho vergonha do Dr. Zoroastro.
---Vergonha de quê?
---É um negócio meio complicado.
---Complicado como?
---Eu peguei um negócio aí.
---Negócio? Que negócio?
---Olha, Armando, eu vou contar, mas não espalha tá?
---Tudo bem! Mas o que é?
---Tomei um chumbo na asa?
---Chumbo na asa? O que é isso?
---Doença!
---Você disse que não está doente!
---Bem quero dizer... Mais ou menos...
---Eu não estou entendendo. Você está ou não está doente?
---Estou com um incômodo. Bem, acaba sendo doença.
---Mas que diabo de doença é essa que é e não é?
---Doença de rua.
---Doença de rua!? E o que é doença de rua?
---Blenorragia.
---Nunca vi falar nisso?
---É o mesmo que gonorreia.
---Gonorreia? E o que é isso?
---Doença de rua...
---Mas que diabo de doença é essa? Afinal onde dói em você?
---No pênis...
---O que é pênis?
---O Pinto.
---O quê? Você está com pinto doente? Nossa!
---E onde você arrumou isso?
---No Zé Bolinha.
---Quem é Zé Bolinha?
---O dono do cabaré.
---Cabaré?!... E ele te pegou a doença?
---Não!!! Foi uma das mulheres dele!!!!!
---O quê? A mulher dele te pegou doença no pinto?
---Ah, Armando, Assim, não dá você é bobo demais!
(E o meu amigo Ley tinha razão, eu era bobo demais)
Coitado do Ley. Ficou desorientado com o chumbo na asa. Afinal, pinto que leva chumbo na asa não consegue trepar no poleiro...
Que Deus o tenha meu amigo! Onde quer que esteja receba o meu abraço.---
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos