Total de visualizações de página

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

VOCÊ SE LEMBRA DESSA CAPELA?

Ela era chamada capela do cemitério. Ficava localizada no adro do Cemitério são Francisco e era usada para depositar pessoas mortas enquanto aguardava a confecção do caixão na oficina do Sr. Nicodemos Salviano, ou enquanto aguardava, também, o preparo da cova ou do tumulo.

Essa capela era bem usada pelas pessoas da zona rural, que naquele tempo não tinham muito a preocupação de virem morrer na cidade. Candeias não tinha o hospital e muitos moradores das roças não tinham parentes na cidade. Muitos se tratavam lá pelo seu meio através de curadores e quando morriam vinham transportados por um cortejo fúnebre com uma meia dúzia de pessoas em padiolas toscas, do tipo de uma escada larga improvisada de paus roliços coberto por um lençol, que às vezes dava para ver a cara do defunto transportado.

O defunto ficava exposto na capela do cemitério, enquanto alguém ia encomendar o caixão na oficina do Sr. Nicodemos Salviano, e o responsável pelo cemitério furava a cova. Era comum ver subir a Rua Coronel João Afonso, um cortejo desses transportado aos ombros dos acompanhantes como se fosse um andor de santos. Também era comum ver gente parada à porta da capela numa espécie de vigília a um defunto sobre uma mesa.João Ciganinho era o responsável do cemitério numa certa época, e era ele que furava as covas, com o auxilio do seu filho Tiguinho.  Certa vez quando furavam uma cova, começou uma trovoada e eles correram para se acomodar da chuva nessa capela. E exatamente nesse momento cai um raio, que matou João Ciganinho e deixou Tiguinho desmaiado.

Com a construção da praça no adro do cemitério e a ociosidade que veio com o progresso tomar a capela, ela foi desmanchada quando se encontrava em pleno estado de conservação. Infelizmente em Candeias existe um espírito que gosta de desmanchar aquilo que poderia ter sido conservado.

Paira sobre mim uma dúvida nessa questão. Os caixões de defuntos eram feitos na oficina do Sr. Nicodemos, pelo seu filho Antônio no dia da morte da pessoa. A gente sabia que alguém havia morrido se passasse frente a oficina e visse o Antônio do Sr. Nico fazendo um caixão. Mas nunca se ouvia falar que alguém teve problema no enterro porque o oficial dos caixões estava viajando, doente oU com algum impedimento. Não havia por lá um caixão a espera de um morto. Era sempre o morto que aguardava o caixão. Eu suponho que um caixão ali de pronta entrega poderia neutralizar o ambiente, por isso não existia.

As padiolas ficavam encostadas junto ao muro do cemitério. Eu ainda me lembro de vê-las ali onde se ajuntavam. Meu pai contava que quando era solteiro, morava na Rua Coronel João Afonso e quando a lenha se acabava ele corria lá no cemitério e colhia algumas padiolas daquelas para cozinhar feijão.

Parece triste esta história, mas a vida era tão boa... A gente só chorava quando levava um tropeção, tomava uns beliscões da mãe,  sentia dor de dente ou outra dor qualquer. Mas no mais,  Saudade? Eu nem sabia o que era isso...

 

Armando Melo de Castro.

 

 

 

  por isso que eu digo. A minha Candeias era muito diferente.

SELARIA E SAPATARIA SÃO CRISPIN

 

O primeiro e único curtume de couros em Candeias foi de propriedade do meu avô João José de Castro (João Delminda) e posteriormente do meu tio Wantuil de Castro.

Eu não me lembro como foi que o meu avô chegou a esse ramo. O seu curtume era às margens do Ribeirão Maçaranduba (Córrego do Mingote) e a sua pequena produção era vendida para sapateiros em Campo Belo, porque Candeias não tinha sapateiros.

Candeias não era ainda emancipada e quase tudo se buscava em Campo Belo. Não tinha uma loja de calçados e nem uma sapataria. O que acontecia era que de vez em quando aparecia na cidade algum sapateiro consertando sapatos e logo depois ia embora.

Um sapateiro nesse tempo não era limitado a consertos. Era também um artesão, que fabricava e criava tipos de calçados. E nesse tempo apareceram dois irmãos, vindos de Barbacena que se entenderam com o meu avô e abriram uma oficina de selaria e sapataria. Meu avô queria que os seus filhos, João e José aprendessem aquela profissão. Durante um ano aqueles dois profissionais, que eram muito bons, permaneceram em Candeias, quando meu pai e meu tio aprenderam a profissão. Meu pai sapateiro e meu tio seleiro. ---- Mas os dois irmãos sentindo que ali dava pouca produção, quiseram seguir outro rumo e negociaram com o meu avô a parte da oficina, que foi passada para o meu pai a parte da sapataria e para o meu tio a selaria, que foi batizada com o nome de Sapataria e Selaria São Crispim, o santo protetor dos sapateiros.

--- Meu tio fazia qualquer tipo de arreio e o meu pai era especialista em fabricação de sapatos. Um fabricava os sapatos por encomenda e o outro fabricava o tipo de arreio encomendado. --- Essa oficina chegou a ter 4 empregados auxiliares. Eu ainda consigo me lembrar dessa oficina, apesar de ser uma criança.

O progresso industrial sempre esteve incumbido de mudar o rumo das coisas. E nesse tempo como quase tudo era artesanal o ramo de seleiro e sapateiro foi chegando ao fim.

Meu tio mudou de profissão e foi ser pedreiro e meu pai com o advento da Comarca foi ser oficial de Justiça, num tempo em que o salário era muito baixo e teria que inteirar com o conserto e até mesmo ainda fazer alguns calçados numa pequena oficina nos fundos do quintal de casa.

Hoje, nem sei se existe ainda oficina de sapateiro ou seleiro em Candeias. A cultura hoje é diferente, as pessoas já não usam consertar e nem remendar. A chamada meia sola do passado já era. A evolução industrial eliminou, praticamente, muitas profissões como latoeiro, sapateiro, seleiro, alfaiate, engraxate, e mesmo as empresas de pequeno porte se tornaram insustentáveis.

Armando Melo de Castro.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

MEUS AMIGOS E CONTERRÂNEOS CANDEENSES.


 

                              LIVRO CANDEIAS MG CASOS E ACASOS.

 Após ouvir as carinhosas e generosas sugestões de meus amigos e conterrâneos Candeenses, venho lhes comunicar que editamos um livro com o título do nosso Blog Candeias MG Casos e Acasos.

Como eu já disse anteriormente, não se trata a rigor de uma obra literária e sim de um livro de crônicas narrativas na primeira pessoa, retratadas antes da contracultura da juventude, dos movimentos hippies na década de 60, o que poderá fazer com que os nossos jovens de hoje possam notar como era a vida antes desse tempo em nossa cidade e aos contemporâneos recordar como foram vividos esses anos.

Trata-se de uma tiragem mínima de 100 exemplares, por ser uma edição independente. Todavia, procurei fazer um livrinho bem feito, que possa ser lido e relido de maneira prazerosa. Para os interessados em viajar comigo nessa viagem do passado, exemplares do livro encontram em Candeias na papelaria RISQUE E BABISQUE, do Zé Canarinho.  Aqueles que residem fora de Candeias, poderão ser atendidos pelo WhatsApp 32 9 9133-1569.

Desde já agradeço a todos pelo apoio.

 Armando Melo de Castro.

domingo, 18 de dezembro de 2022

PARABÉNS, MINHA QUERIDA CANDEIAS.


 
Neste 17 de dezembro de 2022, a minha querida Candeias completou 84 anos de emancipação. Hoje, assim como eu Candeias ficou idosa, mas a Candeias menina, ainda se encontra bem guardada dentro de mim. Somos contemporâneos pois quando eu nasci, ela era uma menina com apenas 8 anos. Não tinha água tratada como se tem hoje. A luz da Cemig, essa então, nem em sonho. Calçamento de ruas nem na imaginação. Azeite de oliva, era azeite doce; e palmito enlatado era uma coisa esquisita. O pilão ainda era um utensílio de grande utilidade para pilar arroz e café. Chuveiro elétrico, telefone, fogão a gás e panela de pressão eram coisa de outros mundos. — Era comum ver os carros de bois descarregando lenha nas portas. Televisão era uma mentira na boca dos descrentes; rádios eram raros.  Viajar, era praticamente só de trem. E por falar em trem, isso não se via só na estação não... A gente comia trem, bebia trem, lavava os trens e quando uma coisa era boa, era trem “bão.” Ah, tem mais! Mulher bonita também era trem bão demais da conta.

 

Lembro-me de uma vez que a minha avó chegou na nossa casa contando que a vizinha dela havia sido levada para Campo Belo passando muito mal. Naquele tempo quando o doente de Candeias era levado para Campo Belo, era como se fosse um aviso da morte. E quando minha mãe lhe perguntou de que mal ela teria sido vítima a resposta foi positiva. Ela arrumou uma dor forte no peito e o Doutor Renato mandou ir para Campo Belo. Parece que ele não sabia o que era não. A minha mãe já deu logo o seu palpite: “Nossa Coitada! Quando vai pra Campo Belo é porque o trem é brabo.

 

Pois é minha querida Candeias, parabéns pelo seu aniversário; pelos seus 84 anos. Como disse o meu amigo Franz Salviano Borges: --- “Eu sai de Candeias, mas Candeias não saiu de mim”. --- Eu tenho você guardada e muito bem guardada dentro de mim. O tempo essa coisa que nos transforma em monstros, não conseguiu roubar você de mim. Isso porque eu consigo ainda lembrar do cantar de um galo. Vejo ainda, a minha querida Rua da Ponte; cavalos pastando nas ruas. Ainda retratam em meu cérebro o Sr. João do Ibraim, fiscal da Prefeitura, comandando os capinadores das ruas cheias de matos, quando às vezes as enxadas se davam com um ninho de galinha ou uma cobra. --- O berro de um porco entrando na faca. O grito do Zé Morais, com a sua carroça cheia de verduras... O “Au leite” do leiteiro Amélio... E o “Ó o padeiro do Antônio da Zenóbia” O córrego dos Cassianos, para nadar; ainda consigo sentir o sabor das broas de amendoim da Luíza do Miguel Simões e o cheiro da linguiça da Rosa do Augusto. O barulho do caminhãozinho do João do Artur; o apito da Maria Fumaça na estação..., mas tem uma coisa que sai nitidamente do meu cérebro e entra em meus ouvidos:

É o cantar do galo legorne da dona Marica da Melada, a nossa vizinha de frente... Como cantava bonito, aquele galo. Acho que era um galo musico.

 

Armando Melo de Castro

 


sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

ANTIGA IGREJA DO ROSÁRIO DE CANDEIAS.


 

 Essa é a antiga Igreja do Rosário de Candeias que ficava situada onde se encontra edificada hoje a Rodoviária. Essa Igreja foi demolida sobre o lamento de muita gente. Ela estava exatamente nesse estado de conservação, precisando apenas de uma reforma. Nesse tempo já existia a lei 25, de 30 de novembro de 1937 que regulamentava a conservação desse tipo de patrimônio. Mas ninguém ousou mexer na questão, afinal se hoje ninguém gosta de mexer com a Igreja Católica, muito menos naquele tempo.

 Acontece que no âmago da Igreja havia facções antagônicas que eram extremamente conservadoras, e condenavam a festa do Rosário, por ser uma herança cultural da escravatura, que condenava o comportamento dos festeiros, cujos ternos apresentavam uma bandeira com a imagem da Virgem, que era beijada por bêbados e sem respeito.  A festa foi interrompida através desta igreja, e os festeiros edificaram uma pequena capela no Alto da serra do Mingote, onde por muitos e muitos anos a festa foi transferida para aquele local que ficava afastado do centro da Cidade e passou a ser chamado o Alto da Igrejinha.

A Igreja do Rosário ainda ficou trancada por algum tempo até que foi demolida. Lembro-me de quando isso aconteceu. Foi triste ver aquela igreja que poderia durar séculos ser destruída. Lembro-me de ver o Geraldo Dama, um dos homens no triste desmanche mostrar uma moeda que teria encontrado debaixo do assoalho da igreja. Aquele monte de adobe e de pedras e telhas sendo levados pelo caminhão da Prefeitura. Para onde... Eu não sei!

A demolição desta igreja foi um triste capítulo da história de Candeias.

 Armando Melo de Castro.

 

 

 


quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

PREZADA AMIGA MARÍLIA VIGLIONI

                                                                            Karina Viglion

 Lamento profundamente que esteja passando por um momento tão difícil da sua vida. ---- O que eu poderia lhe falar neste momento?  Eu tento buscar uma palavra que possa amenizar o seu sofrimento, mas não encontro nenhuma porque eu sei que elas não existem. O que tenho a lhe dizer é que eu conheço essa dor que você está sentindo. É uma dor sem nome; tão forte que nos dá a impressão de que caímos num buraco do tamanho do mundo. Até a nossa fé fica enfraquecida quando alguém nos diz que Deus nos dará o consolo. Mas isso passa. Sim Deus lhe dará o consolo suficiente para que possa continuar vivendo. Mas a dor é como uma doença crônica. Fica de sobra apenas a saudade. Porque para você Karina não morrerá nunca. Ela apenas se encantou para morar no seu coração.

 Eu passei por isso minha boa amiga e sei avaliar essa dor.

 A única palavra que eu tenho para você neste momento tão delicado, tão triste e sofrido, é lhe dizer que somos irmãos na dor e com certeza, Karina está melhor agora.

 O meu abraço a você Marília, ao seu pai, e a toda a família Viglioni.

 Você não perdeu uma filha, apenas a devolveu para Deus.

 Armando Melo de Castro.

 

 

 

 

 

 

A MINHA AVÓ E O CINICO.

                                                                      Olinda Gomide dos Reis 

 Quem disser  que a mulher é sexo frágil estará muito enganado. O que acontece é que o homem sempre foi privilegiado na questão do sexo. Mas se imaginarmos um homem gravido, o mundo já teria acabado. O mesmo não acontece com as mulheres, porque elas sempre tiveram a força de ficarem grávidas. Uma gravidez sem ser esperada e não planejada pode vir acompanhada de muitos problemas. No passado A falta de um contraceptivo eficiente prejudicava muito a vida das mulheres em suas relações impensadas dentro do casamento e principalmente fora dele. O crime de aborto era uma constante. Quantas mulheres morriam diante desse desatino. Muitas enfiavam talo de couve na vagina para se abortar. Quantos casos desses eu ouvi contar ocorridos em Candeias.

Já existiam várias formas antigas de evitar a gravidez porem de forma física, mas além de exóticos eram insuficientes e prejudicavam, em muitos casos, a saúde da mulher. O método mais antigo era o chamado coito interrompido, no qual durante o ato sexual, o homem na hora da ejaculação retira o pênis e ejacula fora da vagina. Mas isso também não funciona bem porque trata-se de uma ação que às vezes o homem perde o controle e além disso é de pouca segurança. Já é provado que o pênis excitado pode conter espermatozoides praticáveis. A camisinha era a mais usada antes da pílula também era insuficiente porque não atendia o egoísmo dos homens que diziam que era o mesmo que chupar bala com o papel. As primeiras camisinhas foram produzidas com tripas de animais, eram frágeis e não atendiam a demanda. ---  

Diante disso, era um filho no bucho e outro no saco. Os mais prudentes. Evitar uma gravidez era uma coisa complicada. Separar o sexo do problema da gravidez passou a ser uma grande preocupação da ciência. Além dessas dificuldades existia também, o grande preconceito vivido nos tempos passados. Uma moça que se engravidasse fora do casamento, era motivo para ser expulsa da família; ver o seu nome na lama e o filho como um bastardo. Diante disso, muitas mulheres eram levadas para a prostituição porque era o único lugar em que encontravam abrigo. Isso acontecia, também, quando uma esposa era abandonada pelo marido.

A mulher era uma verdadeira escrava do homem e para isso eram preparadas desde criança para serem mães e donas de casa. As mães ensinavam as filhas a pratica de forno e cozinha; lavar, passar e remendar roupas, remendar e atender com boa vontade os desejos muitas das vezes egoístas dos maridos.

Para os pais as filhas nem sempre tinham razão, teriam que tolerar as ignorâncias e os desmandos dos maridos que em muitos casos eram verdadeiros animais a ponto de saciar os seus maus instintos espancando a esposa; homens ociosos, preguiçosos que não supria a dispensa de suas casas e a mulher tinha que se virar para tratar dos filhos. Mulheres que não tinham em suas mãos sequer um centavo de seu. Contudo, é inegável que ainda encontramos em meio a nossa sociedade casos dessa natureza, apesar da evolução de nossas leis. Os conselhos dos pais, e até a pressão desses, era o perdão Bíblico quando Jesus em 18,22 de Mateus recomendou o perdão por 70 vezes 7. ----- Diante desse clima bastante conhecido a mulher amada e respeitada pelo marido poderia se considerar uma privilegiada de Deus.

Minha avó Olinda Gomide dos Reis, era uma mulher muito bonita. Sua vida com o meu avô Carlito, era tranquila. Não tiveram filhos, minha mãe era filha de criação desde seis meses de idade. Eram primas. Mas a sorte não lhe foi favorável. Ficou viúva aos quarenta e poucos anos, tendo sido o meu avô vítima de um ataque cardíaco fulminante, repentinamente caiu morto.

 Essa ocorrência conta 70 anos, e eu me lembro como se fosse hoje. Minha avó então viúva sem ter chegado a velhice. E nesse tempo era comum uma viúva assim ser assediada através de recados, visitas e padrinhos querendo lhes arrumar outro casamento. Isso porque as viúvas em sua grande parte ficavam desprovidas com a viuvez.

 Cinico era o tipo do homem mal falado na boca das mulheres com as quais ele já teria convivido. Era um sapateiro que existia na Rua Celestino Bonaccorsi, nas proximidades da Padaria Andrade. Sua fama era terrível, como abrutalhado; pão duro; e inconsequente com as mulheres. Era muito amigo do Mario Rigali, o italiano dono do Bar Piloto. Piloto era um homem do povo, fazia qualquer tipo de favor que lhe fosse solicitado. E Cinico pediu a ele para uma aproximação com a minha avó Olinda. --- Piloto foi até a minha casa e combinou com o meu pai uma reunião na casa de minha avó contudo sem antes falar com ela do que se tratava.

 Marcada a reunião para as 7 horas da noite, presentes minha avó Olinda, e meus pais... Ah eu também estava lá. --- Daí a pouco chega o Cinico e o Piloto. Cumprimentos e logo o Piloto com aquela sua amabilidade italiana, começa: “Estamos aqui Dona Olinda, porque queremos ver a senhora feliz, protegida, satisfeita. A vida de uma mulher viúva não é boa e a senhora é muito jovem pode resgatar a sua boa vivencia que tinha com o Carlito. --- Daí a minha vó abre a boca e fala: “É mesmo Sô Piloto, quando a gente fica sozinha é muito triste. --- Mas quem é que o senhor tá querendo arrumar para mim?

 E o Piloto generosamente aponta para o Cinico que dá aquela rizada sem graça que ele tinha e diz: “É eu Olinda, desdo do dia qui ocê ficô viúva eu tô de oio nocê. Ocê é muito bunita pa fica sem home. ---- Nois num precisa casá já não. Nois pode isprementá nuns dois ou treis meis.

 Minha avó ficou de pé e falou alto e em bom som.

Eu sei o qui ocê tá quereno isprementá Cinico mas aqui ninguém vai isprementá não. Isso aqui foi só do Carlito.

 Diante desse barulho o Piloto foi dando um jeito de sumir com o Cinico e como dizem: "Cascou fora"

 Armando Melo de Castro.

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 3 de dezembro de 2022

GOSTO NÃO SE DISCUTE.


 (Relâmpagos da minha mente)

 Chico Buarque de Holanda, tem uma fama danada. Mas coitado, se dependesse de mim para comprar um de seus discos ou assistir um de seus shows, ele morreria de fome. Eu o acho o tipo do Chico cantor cujas músicas pode ter de tudo que a cultura, a arte e a filosofia exprimem, mas eu não gosto. Eu sei que tem gente que fala que gosta dele apenas para se exaltar. Deve achar chique falar do Chico. Pois para mim, que me desculpem os seus fãs: ser fã de chico Buarque de Holanda é um tremendo mal gosto. Eu o acho um cara chato; aborrecível; metido, e quando ouço alguém falar que o adora, que é seu fã, vem logo na minha imaginação a compatibilidade de ambos. --- Eu digo assim com toda franqueza, porque naturalmente estou lhes dando o direito de falar que sou um adepto da brega. E sou mesmo. Sou um “bregão”. Eu gosto de música cantada por cantor de boa voz e musica que fala de amor, mas um amor que eu aprendi a entender. Gosto de música que mostre cultura, mas a cultura que eu conheço; gosto de musica que tem filosofia, mas filosofia que entende as batidas do coração. Portanto, que Chico Buarque de Holanda continue não entrando nos meus ouvidos.

 Mas temos que entender que a diversidade humana deve mesmo existir. Eu conheci Em Candeias duas pessoas, o Alvino Ferreira o carcereiro, e Dona Ester a esposa do Sr. João de Paiva. --- Alvino adorava lavar defuntos. E como ele era barbeiro, não deixava ninguém lá da Vila vicentina ser enterrado barbudo ou cabeludo. Eu era rapazinho, também irmão de São Vicente, o ajudei por várias vezes nesse trabalho.

 Dona Ester, quando não era chamada para lavar uma defunta ela ficava aborrecida. Dizia que teriam feito pouco caso dela. E quando ela chegava se achava a dona da morta. Já chegava com um punhado de flores, e preparava o banho com folhas de alecrim e umas outras folhas que ela colocava no banho quando dizia que era para a morta ir embora bem limpinha.

 O enfermeiro Francisco Quintino, que prestou serviço na saúde por muito anos em Candeias, como também jogador e técnico do meu querido Rio Branco de Candeias, adorava comer sardinha com marmelada ou goiabada. E eu experimentei e gostei. Quando falo isso para alguém dizem que tenho mau gosto. Ora se tenho mau gosto... eu já comi cobra, tatú, rã e vou ser verdadeiro, uma das carnes mais exóticas que já experimentei, foi a de gambá. O Gambá é o bicho mais asseado que existe. O cheiro não agradável que ele exala, é simplesmente a sua defesa. Afinal, todo animal tem a sua forma de se defender, inclusive nós humanos.

 Certa vez eu fui com o meu avô que era muito amigo do Sr. André Pulhez, no Beco do Botafogo, hoje Rua com o nome desse morador daquela rua, e quando lá chegamos ele estava vindo da manteigueira do Bonaccorsi, que ficava um pouco mais abaixo de sua casa. --- Sr. André teria ido até lá buscar gelo para colocar no seu café. Ele gostava de café gelado. E nos ofereceu. Meu avô quis experimentar, e claro eu também experimentei e gostei. Aqui na minha casa de vez enquanto eu coloco uma garrafinha de café na geladeira e depois ao tomar fico a lembrar do Sr. André Pulhes.

 Armando Melo de Castro

Candeias MG Casos e Acasos.


 


quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

É PRECISO SABER VIVER.

                                                                             ERASMO CARLOS

Hoje de manhã ao me despertar, cheguei até a janela do meu quarto e ouvi soar suavemente uma música vindo do apartamento do vizinho. Uma música muito conhecida, composição de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, cantada por Erasmo, nessa gravação.  --- Naquele momento fui invadido por uma nostalgia profunda. A música entrava pelos ouvidos, subia ao cérebro e ao mesmo tempo descia para o coração, balançando as paredes dessa máquina que já bate a quase 77 anos dentro de mim.

 Mas que nostalgia é essa?

 É claro, a nostalgia é uma saudade daquilo que guardamos dentro de nós, de algo que nos tenha feito felizes. --- Portanto, naquele momento, fui transportado através desse sentimento, para São Paulo, na década de 60 quando Erasmo Carlos fazia grande sucesso com Roberto Carlos, no programa “Jovem Guarda” na TV Record, onde eu estive presente tantas vezes.

 As músicas de Roberto e Erasmo Carlos, passaram por várias gerações, naturalmente por transmitir diferentes sentimentos e despertando os corações dos jovens de um tempo presente que lhes faria acompanhar até ao passado. Tempo esse que transformaria o nosso físico recalcando o nosso semblante; o nosso sorriso através da contagem dos dias e dos anos.  Mas as causas da saudade nunca envelhecem dentro de nós.

 Saudade é um sentimento que a ciência ainda não soube como explicar corretamente. Sabemos que apenas a Língua portuguesa tem uma palavra específica para a saudade que naturalmente é uma exclusividade para quem fala essa língua. Nos dicionários a saudade é definida como um sentimento triste, devido à ausência da presença dos momentos felizes que geraram a saudade. Mas não creio que a saudade venha a ser um sentimento ruim ou melancólico como diz a nostalgia. A saudade é o reconhecimento de que o tempo não tem controle e pode deixar marcas inesquecíveis como cicatrizes no coração. O que causa a grande dor da saudade e a ausência demorada ou impossível da presença deixando um vazio totalmente diferente do nada o que vem a insistir sempre de forma impiedosa nos levando a uma grande emoção.

 A saudade às vezes aponta para diversos pontos. Saber que a causa da saudade ainda vive, é uma coisa, mas saber que esta causa deixou de existir e será alimentada apenas pela lembrança... Dói, mas não se trata de sofrimento. A criança é sempre mais feliz, e um dos motivos é porque não convive com a dor da saudade. Erasmo Carlos teve muitos problemas na vida, teve câncer; perdeu a esposa, um filho e muitos outros problemas, mas ele inspirava música e respirava alegria e disse: “É PRECISO SABER VIVER”

----------------------------------------- Quem espera que a vida, seja feita de ilusão, pode até ficar maluco ou morrer na solidão. É preciso ter cuidado pra mais tarde não sofrer; é preciso saber viver.

-----------------------------------------Toda pedra no caminho, você pode retirar, numa flor que tem espinhos você pode se arranhar. Se o bem e o mal existem, você pode escolher. É preciso saber viver.”                                             

                                                                                                             Erasmo Carlos)

 Nós os velhos jovens da era “Jovem Guarda” estamos tristes e não é para menos. Erasmo Carlos deixou um vazio muito grande dentro da música para a sua geração.

Armando Melo de Castro

Candeias MG Casos e Acasos.

 

domingo, 27 de novembro de 2022

O PINTO DO GALO.

 Eu vi numa feirinha aqui perto de casa, uns ovos maravilhosos E o vendedor afirmando que eram ovos caipira. Só de falar que eram ovos caipira a minha boca já foi enchendo d'água e eu comprei uma dúzia para experimentar. Eu não estaria muito confiante, pois já teria sido enganado, com esse tipo de ovo. Pedi a minha mulher para fazer fritos para mim, pois deveriam estar com a gema amarelinha, conforme o vendedor teria prometido.

Uma gema amarelinha de ovo caipira misturada no arroz é o meu sistema --Realmente os ovos estavam com a gema amarelinha. Mas quando caiu na minha boca, a língua os dentes, a úvula palatina, aquilo que eles chamam de sininho deram bronca, A garganta não queria dar passagem. E mais uma vez eu fiquei puto da vida por causa de ovo falsificado. ---- Eu que fui criado comendo ovos caipira, de galinhas que comiam rato, escorpião, merda e outras porcarias mais, para dar aquele sabor delicioso do ovo caipira, a minha boca logo repudiou aquele sabor de ração. Daí então, fermentou em meu cérebro a lembrança dos ovos que eu comia no tempo que ainda não existiam esses ovos de granja.

Eu tinha, mais ou menos, uns 10 anos de idade quando o miolo da minha caixa craniana se fermentou tal qual um líquido numa pipa de mosto. ---Eu estaria impressionado com a forma de reprodução das galinhas. Já teria tomado conhecimento de como a gente chegava ao mundo. Meu pai cuidadosamente teria me contado. E como o seu vocabulário era bem no coloquial e sem rodeios, eu fui logo entendendo que os fazedores de xixi tinham outras funções. Essa mania de substituir o espermatozoide por sementinha não era do seu feitio - (Acho isso uma incongruência) – Portanto, aos oito anos de idade, eu já teria tomado conhecimento como fui parar na barriga da minha mãe.

Meu pai, Zé Delminda, foi um filho criado sem mãe e que teve apenas três meses de escola, mas lia muito e era uma pessoa muito inteligente e bem orientada por si próprio.

Chegou a ser professor da Prefeitura de Candeias na zona rural, num tempo em que os professores de roça eram leigos. ----- Meu pai ensinou-me coisas que as escolas e nem os pais ousavam ensinar. E a bem da verdade, as crianças e adolescentes, na sua maioria, viviam de curiosidade e a rua era a escola da vida. Eu sabia muita coisa, mas fingia que não sabia de vergonha da minha mãe, mas do meu pai eu não tinha nem um pingo de receio.

Minha mãe sempre dava o contra do jeito que meu pai me tratava e sempre dizia: “Ocê tá pondo o Armando perdido zé” --- E meu pai sempre dizia, eu ensino em casa para não aprender na rua. A primeira pinga que eu bebi, a primeira cerveja, foram servidas pelo meu pai, com um pequeno discurso: “Você pode beber, mas nunca pode deixar a bebida beber você e se estendia. – Ele ia à Biblioteca da prefeitura, e pegava livro de histórias infantis e lia para mim e meus irmãos.

Meu pai foi um cara muito bacana. No momento em que escrevo este texto os meus olhos lacrimejam de saudade do meu querido velho. Uma recomendação que ouvi do meu pai desde menino era de que onde a gente estiver na escola, no trabalho ou em qualquer lugar, devemos nos aproximar dos colegas mais bem sucedidos. Preste bastante a atenção nessas pessoas. Geralmente elas falam mais de ideias, além disso o homem é um produto do meio onde convivemos.

Mas voltando à reprodução da galinha, eu perguntei ao meu pai como que o pinto saia da barriga da galinha. Foi quando ele me disse que o pinto não saia da barriga e sim do ovo. E, por mais que ele me explicasse, não conseguia entender. E o pinto do galo? Onde ficava? Eu já tinha pego um franguinho e vasculhado ele todo e não teria visto o pinto dele. Eu queria saber também, porque que pinto chamava pinto... As minhas perguntas quando eram muito complexas, o meu pai sempre dizia: Depois eu te falo, mas ia ficando.

Encontrava-me totalmente perdido e muito curioso. Mesmo porque, o meu pai me explicou direito como eu teria nascido. Como nasce um bezerro ou um cavalo, o gato e o cachorro. Mas, a galinha eu não sei se por falta de paciência, ou por falta de palavras adequadas, ele não teria me convencido de como era o processo da reprodução através dos ovos.

 A nossa morada era uma casa germinada onde moravam o meu tio João e meu pai. Os quintais eram juntos e bastante grandes. Tia Eliza criava muitas galinhas e o galinheiro dela ficava no fundo do quintal. Eu sempre estava por perto estudando as suas vidas. E por mais que eu tentasse entender o modo de  procriação desses animais, estava muito difícil para eu associar a diferença entre um mamífero e uma ave. Quando uma galinha botava um ovo, o galinheiro virava um frege. Cacarejavam como se houvesse botado um asteroide. Aquilo parecia uma grande festa pelo nascimento de um filho. Mas, eu não tinha visto o processo de incubação. Como que um pinto saia do ovo se eu via sair era uma gema amarelinha dos ovos que minha mãe fritava?  As explicações do meu pai sobre a incubação eu não teria entendido absolutamente nada.

Certo dia, fiquei horas e horas, de tocaia sobre um ninho para ver como o ovo saia de dentro da galinha. E vi! Vi tudo, inclusive o sofrimento da pobre ave. Roubei-lhe o ovo e o quebrei para ver se saia um pinto. Mas, que nada! Minha tia vendo a minha curiosidade me explicou direitinho, dizendo que a galinha ficava dormindo sobre os ovos durante 21 dia, dai saia os pintinhos. Ai já bateu em mim o remorso de ter quebrado o ovo da galinha, e a dó de comer ovos, imaginava que cada ovo comigo era uma galinha perdida. Aquela coisa da galinha ficar durante dias sobre os ovos fez a minha cabeça rodopiar. Parece que os meninos de antes eram mais curiosos e menos inteligentes.

 O meu projeto de descobrir como aqueles ovos poderiam se transformar em pintos deixou-me aguardando com ansiedade o dia em que a minha tia fosse colocar uma galinha para chocar. E essa hora chegou. Todos os dias, assim que eu vinha da escola, corria para visitar a choca que estava lá inerte sobre os ovos.

Um belo dia, quando cheguei para ver a minha amiga mamãe-galinha, lá estava  tota pimpona e alguns pintinhos já estavam com o bico fora das penas dela. E a minha tia me recomendou, Não mexa porque senão ela fica brava. No outro dia quando voltei da escola e fui correndo visitar a mamãe-galinha, o ninho estava vazio, ela ciscando e alimentando os pintinhos. E eu mais do que depressa fui pegar um pintinho e quando fiz essa tentativa, essa galinha me avançou e eu tive que sair correndo morrendo de medo. Mas eu passava horas pastorando essa galinha de pintos, um pouco mais distante, porque tinha medo da choca me avançar de novo.

 Aos domingos era dia do frango com macarronada. Quem o matava era a minha avó, pois minha mãe tinha dó de fazê-lo. E neste momento, quando o pobre galináceo se estrebuchava para morrer, eu já o apalpava para examiná-lo, pois uma incógnita ainda mexia com os meus neurônios. Fiquei observando com a maior atenção a minha mãe depenar, sapecar, lavar e desventrar o frango, já quase galo.

Ansioso eu aguardo a chegada do meu pai para me dar a resposta que iria satisfazer a mais funda das minhas curiosidades:

Pai, como que o galo faz pinto se ele não tem pinto!?

 E meu pai rindo, satisfeito por ver-me interessado num assunto macho, responde:

“Vamos lá fora. Eu vou explicar tudo pra você. ”Ouvi quando minha mãe bradou!

 “Ê Zé! Cê vai acabar deixando esse menino perdido!”

 Armando Melo de Castro

Candeias-Minas Gerais


terça-feira, 8 de novembro de 2022

JOVENS! CULPADOS OU INOCENTES?


 Às vezes eu chego a pensar que morri e estou em outro mundo. Parece até que o mundo que me viu nascer não existe mais. Tudo que antes era proibido ou pecado hoje em dia é coisa normal. Mentir, roubar, falar palavrão, faltar com o respeito com os mais velhos ou com os pais era falta grave dentro de uma família. Uma criança ao se sentar tinha que ter postura, colocar os pés sobre as traves de uma cadeira fazia merecer uns tapas. Se chegasse uma visita, o silêncio das crianças era total. Tomar a bênção dos pais, dos mais velhos e do padre era um dever. Nas escolas a falta de respeito com a professora era falta grave e isso cominava em expulsão, ficando o aluno impedido de se matricular em outra escola. Do jeito que vão indo as coisas, daqui a pouco matar não será crime.

 Hoje em dia, parece que tudo isso era um atraso de vida.  O que já vi e tenho visto chega a me assustar de ver tanta indisciplina. Não se trata de condenar as novas gerações, afinal elas não têm culpa. Afinal, sabemos que vivemos sobre uma lei de causa e efeito. Portanto, não existe efeito sem causa e nem causa sem efeito. E quais são essas causas?

 Recentemente um grande político brasileiro disse que sua mãe lhe dizia que a mentira é necessária, porque ela voa enquanto a verdade engatinha. Um conservador como eu, quase morre de susto diante de uma coisa dessas.

 Não é difícil observar que a televisão trouxe uma grande mudança para a nossa sociedade a partir da década de 60 quando se espalhou pelo Brasil afora,  trazendo consigo a grande parte dos pecados capitais. O convívio das pessoas humildes com o poder persuasivo da televisão; os maus exemplos dados pelas novelas.   De outra forma a integração da mulher no trabalho fora do domestico  sem um preparo devido para isso, deixando os filhos nas mãos de pessoas despreparadas. E agora para completar a internet, ao alcance de todos. Em  suma podemos dizer que as novas gerações vem sendo vitimas do despreparo  do seu meio.

 No passado, por exemplo, roubar era uma das piores expressões. Um ladrão não era condenado apenas pela justiça, mas sim pela sociedade. Lembro-me de um sacristão chamado Onofre, era o xodó do Monsenhor Castro. Ele tinha por profissão pintor de paredes. Certa feita, numa construção de primeira linha em Candeias, vieram pintores de Campo Belo. Nesse meio tempo foram roubadas algumas latas de tinta naquela construção, que investigado descobriu-se que o roubo teria sido feito pelo Onofre sacristão. Foi um escândalo total na cidade.  E o Monsenhor Castro que era um homem rico, pagou os prejuízos para o Onofre e lhe deu o conselho para se mudar de Candeias, porque ali ele não iria conseguir mais nada. Onofre nunca mais foi visto em Candeias. Sumiu de vez.

 No quintal de nossa casa havia uma grande parreira a qual o meu pai cuidava muito bem, o que proporcionava uma boa colheita de uvas, quando na safra tínhamos fartura da fruta que dava para agradar a vizinhança. Certo dia, a Aparecida do Zé do Leonides, esposa do Carminho Machado esteve conosco e viu as uvas, minha mãe colheu alguns cachos e lhe deu de presente. Alguns minutos depois, a Marly, sua irmã estava a perguntar a minha mãe se ela realmente teria dado aqueles cachos de uva para a sua irmã. Seu pai mandara conferir.

 No ano de 1955, minha professora era Dona Ninita Alvarenga, que teria se transferido para a cidade de Divinópolis dada a transferência de seu Marido, Sr. Edson, chefe da Agência do IBGE em Candeias, antes do Sr. Miguel Albanês. Posteriormente Dona Ninita esteve a Candeias e levou de presente para os seus ex alunos, um lápis moderno que tinha anexado na ponta superior uma borracha. --- Quando apareci com esse lápis, meu pai quis saber a origem e foi até a escola conferir se aquilo teria sido mesmo um presente da professora.

de de São Sebastião do Paraíso, num bar de um conterrâneo, o Lelei, irmão do Carmelio Carvalho. Era a primeira vez que eu saia de casa. Na despedida de meus familiares, minha mãe chorando e meus irmãos tristes, meu pai se aproximou de mim e disse: “Escuta aqui meu filho, seja honesto, não ponha a mão no que não for seu. Eu prefiro que você volte morto para casa, do que com o nome de ladrão. Respeite o seu patrão e a família dele. Que Deus o abençoe.

 Dizem que a oportunidade faz o ladrão. Eu tive muitas oportunidades na minha vida para roubar, mas não roubei. --- Machado de Assis, contrariava esse rifão, e dizia que a ocasião faz o furto, porque o ladrão já nasce pronto, ---- por mim eu não sei se o ladrão nasce pronto ou se é a ocasião faz o ladrão. Sei dizer que o eco das palavras do meu pai, naquele momento nunca fugiram dos meus ouvidos.

 Armando Melo de Castro.

 

 

 

 

 

 

sábado, 5 de novembro de 2022

MORTOS QUE VOLTARAM.


                                                       Erasmo Carlos

Semana passada a mídia informava a morte do cantor Erasmo Carlos. Naquele momento eu fiquei muito chateado porque eu sempre fui fã desse cantor, vivi e convivi com a era da Jovem Guarda, da qual Erasmo era um dos principais junto de Roberto Carlos. Mas ainda chocado com a notícia, vim a saber que se tratava de uma notícia falsa da Folha de São Paulo, que pedia desculpas aos seus leitores e desmentia a notícia. ---  Fiquei feliz ao saber que o cantor estava bem, ainda internado, mas que já era prevista a sua alta.

 Esse equívoco sobre Erasmo Carlos trouxe a boiar no lago da minha imaginação, um fato que aconteceu comigo no ano de 1994 quando eu morava e trabalhava como gerente do Banco do Estado de Minas Gerais na cidade de Luz. Eu apesar de católico, resolvi fundar naquela cidade um Centro Espírita. ---- Por ser a cidade sede de um bispado, o povo da cidade tinha esse desejo, mas não tinha a coragem por receio da resistência  dos padres.  

 Eu entendo o espiritismo como religião, ciência e filosofia. --- A minha profissão me imponha contato com todos os seguimentos da sociedade, portanto eu tinha como clientes, adeptos e pastores de todas as religiões, o que me levou a respeitar todas as religiões. Isso porque toda visita que fazia a uma igreja diferente, lá estava Jesus Cristo, e eu como cristão entendi por ser um católico na minha essência, sem impedimento para me considerar um ecumênico.

 Eu passava por um momento muito difícil de minha vida, e teria encontrado no espiritismo uma fonte de conforto para a minha sobrevivência. Assim estudei profundamente o Kardecismo e resolvi fundar um centro espírita na cidade de Luz, o qual está lá até hoje e funcionando dentro de suas normas rígidas, prestando um excelente serviço as pessoas carentes dentro do sentido humano. Trata-se da Confraria Espírita Allan Kardec, hoje com sede própria e seu espaço ampliado.

 O Espiritismo exerce uma religião sem culto externo, sem sacerdócio organizado, sem cerimônias de qualquer natureza, sem intermediários entre a criatura e o Criador, podendo ser considerada como uma religião cósmica

 Neste mesmo tempo eu era também, envolvido com o rádio amador e sua história. Eu tinha a minha aparelhagem, o meu prefixo e conversava com os chamados amigos macanudos, a quem envio aqui agora um 73 bem apertado. Pois já teria decorado as gírias do radioamadorismo.

 Na cidade de Luz havia um radio técnico bastante entendido em radio transmissor. E  ele que me acudia nos problemas que apareciam na minha estação. E com isso firmou entre nós uma grande amizade. Mas o tempo, como já disse, tratou-se de fragilizar o radioamadorismo, além dos problemas que isso causava aos vizinhos, pois as conversas entravam nos rádios e televisões da vizinhança, e quase entrava também nos fogões, pois o sinal era bem forte, pois conseguia-se comunicar até no exterior.

 Posteriormente fui transferido da cidade de Luz, e num determinado dia fiquei sabendo que o meu grande amigo Zé do Heitor teria falecido, já há mais de um mês. Fiquei deverás triste com essa notícia, e na minha primeira ida a Luz, na chegada da noite, corri até a casa do meu amigo, para dar os pêsames a sua esposa e lamentar a sua morte. A casa dele fica próximo do cemitério. Cheguei bati na porta e ouvi lá de dentro já vou... Espera um pouco... Aquela voz parecia ser a dele, do meu amigo. Demorou um pouco e nada, bati de novo e a voz torna a responder já vou espera um pouco...  Apesar de ser médio lá no centro, comecei a imaginar que o Zé estava se comunicando comigo. E estava tão envolvido com a doutrina que já comecei a conversar com ele lá de fora como se ele fosse um espírito.

 Demorou algum tempo, ele veio e abriu a porta e eu assustado, parecia que o meu cabelo havia crescido até aos pés. E lhe disse? Uai Zé você não morreu? Ele deu aquele seu sorriso sorrateiro e como sempre engraçado disse:

 “Murri, mais São Pedro me mandou ir para o inferno, o capeta não me aceitou lá e me mandou de vorta aqui pra terra” Ceis vai tê qui me aguentá mais muncado”.

Cê discurpa a demora é que eu tava dando uma cagadinha.

Ai então fiquei tranquilo. Afinal, espírito não caga.

 Armando Melo de Castro

terça-feira, 1 de novembro de 2022

CANDEIAS, E MINHAS LEMBRANÇAS.

O mais antigo hotel de que temos notícia em Candeias é o Hotel do Bitu. --- Esse hotel foi então vendido para a Sra. Geny Resende, esposa do Sr. Manoel Alves, delegado de Polícia. --- O hotel foi remodelado, tinha uma placa luminosa com os dizeres: NOVO HOTEL, de Geny Resende. --- Ele durou muitos anos. Com a morte da Sra. Geny, o hotel continuou administrado pelo marido, Manoel Alves, que posteriormente veio a se casar com a Sra. Vilça Freire. ---

Com a morte do Sr. Manoel, o hotel foi adquirido por uma de suas hospedes antigas que fazia do hotel a sua morada, a Sra. Nely Furtado que dali se transferiu para a sua nova hospedaria próximo da Igreja do Senhor Bom Jesus. --- O local onde era instalado o antigo NOVO HOTEL, foi demolido e ali hoje se encontra a CASA MODERNA MÓVEIS, e na antiga Residência do Sr. Manoel Alves, hoje se encontra a LOJA ZEMA.

Esse local onde se encontrava o antigo Novo Hotel me traz guardado o maior susto que levei em toda a minha juventude quando eu contava 24 anos de idade, no ano de 1970. Eu já residia na cidade de São Paulo, desde 1965. E trabalhava em três empregos. Das 7 da manhã até as 10,30 hs. Com um velho português, que liquidava uma imobiliária. O meu trabalho era de datilógrafo. – Das 12 até as 6 hs eu era continuo do Banco Mineiro da Produção, (posteriormente Bemge onde me aposentei) e das 19 até as 22, de faxineiro, numa Agência do Banco de Crédito Real de Minas Gerais, onde o meu amigo Titoco era contínuo e arrumou para mim esse emprego de faxineiro. ---- Toda essa luta tinha um objetivo, de realizar um sonho. Comprar um carro e consegui. Comprei um carro com 9 anos de uso da marca Simca Chambord, ano 1961.

Viria agora o primeiro problema. Eu não tinha carteira de motorista. Mas não tinha, juízo também. Pois rodava dentro da capital paulista para todo lado naquele carro e sem carteira. Certa vez, naquele espaço frente ao Campo do Pacaembu, tarde da noite, o carro deu um problema, e eu e mais três colegas ali, pelejando para fazer o carro pegar e não pegava, chega a polícia Civil. A sorte é que o Elias filho da Dona Floripes, ele era tenente da Policia de São Paulo, estava junto e conversou com os homens, liberando-lhes a vasculhar o carro para ver se havia alguma coisa de errado, sendo que eles não pediram documentos e ainda nos ajudou a fazer o carro pegar. Foi um aperto aliviado. Coisa de jovens.

Eu imagino que nem Ayrton Senna, nem Emerson Fitipaldi, nem Nelson Piquet puderam ser tão felizes, dirigindo um carro da formula 1, como eu com a minha velha Simca Chambord 61. Quando eu vinha a Candeias, a Fernão Dias, de uma pista só, cheia de buracos e curvas, para mim era como um tapete vermelho. Eu nunca viajava sozinho, sempre vinha comigo um amigo que participava do custo da gasolina. Afinal, o carro bebia bastante e a viagem era longa. --- Eu não tinha carteira até então – Mas na saída eu pedia ao meu Santo Antônio uma ajuda espiritual e nunca me foi negada. Hoje eu vejo que os colegas que viajavam comigo eram mais aventureiros do que eu.

Meu pai me deu uma bronca por não ter carteira e dando direito aos guardas de prenderem o carro e surgir uma série de problemas. Dai eu passei a deixar o carro em Candeias e viajar de ônibus. Mas quando eu chegava a Candeias, eu rodava Cristais, Campo Belo, Camacho Itapecerica e Formiga. O João Cambota teria me dado umas aulas. Dizia que ao ver um guarda, desse uma paradinha e pedisse uma informação e acendesse um cigarro. E parece que isso dava certo, porque nem ele e nem eu, jamais fomos abordados. Mas posteriormente tirei a carteira no bairro do Cambuci em São Paulo no dia 10 de maio de 1971.

Certo dia, eu descia a Avenida 17 de dezembro, em Candeias todo metido, todo gostosão, parecendo ser o Ayrton Senna de Candeias, quando vou passando frente ao NOVO HOTEL, o Sr. Manoel Alves, que tinha os óculos fundo de garrafa, havia comprado um fusquinha, zerinho, vermelho, e estava ainda até com aqueles sinais de novo nas poltronas, Ele não tinha carteira, não sabia dirigir direito além de ter problema de vista. O carro dele que estava de frente para o Alto do Cruzeiro, ele entra no carro dá uma guinada de 90º e atravessa de cheio à minha frente. A frente do meu carro toda amassada e o dele, zerinho, com a porta do motorista toda amassada e a coluna entortada. --- Naquele momento eu pensei que havia lhe matado. Mas felizmente ele saiu lá de dentro cambaleando, assustando, mas inteiro.

Final da história. Ele estava completamente errado. Mas era o delegado, foi feita uma perícia e nomeado o então sub delegado Geraldo da Vargem e os peritos dois motoristas profissionais: Raimundo do Antero e Henrique Pinheiro. --- A sentença do Juiz não me favoreceu. Pois alegara que não teria havido vítimas, então que cada um consertasse o seu. ---- Eu continuei a rodar no meu, mesmo com a frente amassada, até que achei um comprador para quem o vendi a suaves prestações, pela metade do preço. --- Quanto ao Manoel eu nunca mais o vi dirigindo um carro. ---- Mas o que foi bom, é que não ficamos inimigos, fomos sempre bons amigos.

Comecei tudo de novo. E comprei o meu segundo carro, um chevrolet 51 igual ao do Monsenhor Castro. Era 10 anos mais velho do que a minha velha Simca, que eu amava tanto.

É tão bom ser jovem. É tão bom lembrar até dos transtornos da vida em Candeias, minha terra querida.

Armando Melo de Castro

 


sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O MEU AMIGO ZÉ PORTELA.

                                                                     José Santos Portela

Recebi, agora há pouco, por intermédio do meu amigo Wander Sena, uma notícia que me deixou sentido. Trata-se do falecimento, nesta data, de um amigo; de um grande amigo:

JOSÉ SANTOS PORTELA.

Fomos amigos no nosso tempo em Candeias e depois, num outro tempo em Divinópolis.

Zé Portela, como era mais conhecido, era natural de Bambui, MG e chegou a Candeias levado pelo médico Dr. Pery Malheiro Simões, o médico que cuidava do surto da lepra no nosso município.

Posteriormente, esse serviço foi transferido para Divinópolis o que o levou para aquela cidade. Lá eu acompanhei o seu trabalho, digno do maior respeito.

 Zé Portela lidava com os leprosos de forma natural, uma doença tão cheia de cuidados e preconceitos, coisa que Zé Portela deixava passar longe de si. Um ser humano maravilhoso. Posteriormente, tendo sido encerrado esse tipo de trabalho, ele foi transferido para a Receita Federal.

Zé Portela morou muitos anos em Candeias onde era muito estimado pelos Candeenses. Foi vereador e Presidente da Câmara Municipal, num tempo em que Vereador não tinha salário. Homem inteligente e que prestou relevantes serviços ao nosso município.

Casou-se com Dona Celinha, filha do Sr. João Eleutério, irmã da Dona Zélia Eleutério e de Enir Parreira.

Por mais de uma vez eu fiz contato com ele, pois queria colocar aqui no nosso Blog a sua biografia e o Candeense por adoção que Candeias havia ganhado. Mas talvez, pela sua humildade não tivemos esta oportunidade.

Esta nota que eu faço, é para que seja lembrado pelos nossos conterrâneos que o conheceu como um grande amigo que participou da nossa história. Aos familiares fica aqui o meu abraço e o meu sentimento.

 E a você meu caro Portela, eu tenho a certeza de que você vai estar bem junto de Deus porque o seu trabalho aqui na terra terá sido por uma boa escolha do Pai Celestial. Aqui vai o meu abraço.  Não de despedida, porque pessoas como você a gente não se despede, porque elas continuam vivas dentro de nós quando os respeitamos e admiramos.

 Armando Melo de Castro.