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quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

SELARIA E SAPATARIA SÃO CRISPIN

 

O primeiro e único curtume de couros em Candeias foi de propriedade do meu avô João José de Castro (João Delminda) e posteriormente do meu tio Wantuil de Castro.

Eu não me lembro como foi que o meu avô chegou a esse ramo. O seu curtume era às margens do Ribeirão Maçaranduba (Córrego do Mingote) e a sua pequena produção era vendida para sapateiros em Campo Belo, porque Candeias não tinha sapateiros.

Candeias não era ainda emancipada e quase tudo se buscava em Campo Belo. Não tinha uma loja de calçados e nem uma sapataria. O que acontecia era que de vez em quando aparecia na cidade algum sapateiro consertando sapatos e logo depois ia embora.

Um sapateiro nesse tempo não era limitado a consertos. Era também um artesão, que fabricava e criava tipos de calçados. E nesse tempo apareceram dois irmãos, vindos de Barbacena que se entenderam com o meu avô e abriram uma oficina de selaria e sapataria. Meu avô queria que os seus filhos, João e José aprendessem aquela profissão. Durante um ano aqueles dois profissionais, que eram muito bons, permaneceram em Candeias, quando meu pai e meu tio aprenderam a profissão. Meu pai sapateiro e meu tio seleiro. ---- Mas os dois irmãos sentindo que ali dava pouca produção, quiseram seguir outro rumo e negociaram com o meu avô a parte da oficina, que foi passada para o meu pai a parte da sapataria e para o meu tio a selaria, que foi batizada com o nome de Sapataria e Selaria São Crispim, o santo protetor dos sapateiros.

--- Meu tio fazia qualquer tipo de arreio e o meu pai era especialista em fabricação de sapatos. Um fabricava os sapatos por encomenda e o outro fabricava o tipo de arreio encomendado. --- Essa oficina chegou a ter 4 empregados auxiliares. Eu ainda consigo me lembrar dessa oficina, apesar de ser uma criança.

O progresso industrial sempre esteve incumbido de mudar o rumo das coisas. E nesse tempo como quase tudo era artesanal o ramo de seleiro e sapateiro foi chegando ao fim.

Meu tio mudou de profissão e foi ser pedreiro e meu pai com o advento da Comarca foi ser oficial de Justiça, num tempo em que o salário era muito baixo e teria que inteirar com o conserto e até mesmo ainda fazer alguns calçados numa pequena oficina nos fundos do quintal de casa.

Hoje, nem sei se existe ainda oficina de sapateiro ou seleiro em Candeias. A cultura hoje é diferente, as pessoas já não usam consertar e nem remendar. A chamada meia sola do passado já era. A evolução industrial eliminou, praticamente, muitas profissões como latoeiro, sapateiro, seleiro, alfaiate, engraxate, e mesmo as empresas de pequeno porte se tornaram insustentáveis.

Armando Melo de Castro.

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