O primeiro e único curtume de couros em Candeias foi de propriedade do meu avô João José de Castro (João Delminda) e posteriormente do meu tio Wantuil de Castro.
Eu não me lembro como foi que o meu avô chegou a esse ramo.
O seu curtume era às margens do Ribeirão Maçaranduba (Córrego do Mingote) e a
sua pequena produção era vendida para sapateiros em Campo Belo, porque Candeias
não tinha sapateiros.
Candeias não era ainda emancipada e quase tudo se buscava em
Campo Belo. Não tinha uma loja de calçados e nem uma sapataria. O que acontecia
era que de vez em quando aparecia na cidade algum sapateiro consertando sapatos
e logo depois ia embora.
Um sapateiro nesse tempo não era limitado a consertos. Era
também um artesão, que fabricava e criava tipos de calçados. E nesse tempo
apareceram dois irmãos, vindos de Barbacena que se entenderam com o meu avô e
abriram uma oficina de selaria e sapataria. Meu avô queria que os seus filhos,
João e José aprendessem aquela profissão. Durante um ano aqueles dois
profissionais, que eram muito bons, permaneceram em Candeias, quando meu pai e
meu tio aprenderam a profissão. Meu pai sapateiro e meu tio seleiro. ---- Mas
os dois irmãos sentindo que ali dava pouca produção, quiseram seguir outro rumo
e negociaram com o meu avô a parte da oficina, que foi passada para o meu pai a
parte da sapataria e para o meu tio a selaria, que foi batizada com o nome de
Sapataria e Selaria São Crispim, o santo protetor dos sapateiros.
--- Meu tio fazia qualquer tipo de arreio e o meu pai era
especialista em fabricação de sapatos. Um fabricava os sapatos por encomenda e
o outro fabricava o tipo de arreio encomendado. --- Essa oficina chegou a ter 4
empregados auxiliares. Eu ainda consigo me lembrar dessa oficina, apesar de ser
uma criança.
O progresso industrial sempre esteve incumbido de mudar o
rumo das coisas. E nesse tempo como quase tudo era artesanal o ramo de seleiro
e sapateiro foi chegando ao fim.
Meu tio mudou de profissão e foi ser pedreiro e meu pai com
o advento da Comarca foi ser oficial de Justiça, num tempo em que o salário era
muito baixo e teria que inteirar com o conserto e até mesmo ainda fazer alguns
calçados numa pequena oficina nos fundos do quintal de casa.
Hoje, nem sei se existe ainda oficina de sapateiro ou
seleiro em Candeias. A cultura hoje é diferente, as pessoas já não usam
consertar e nem remendar. A chamada meia sola do passado já era. A evolução industrial
eliminou, praticamente, muitas profissões como latoeiro, sapateiro, seleiro,
alfaiate, engraxate, e mesmo as empresas de pequeno porte se tornaram
insustentáveis.
Armando Melo de Castro.
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