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quinta-feira, 29 de junho de 2023

UMA INTROMETIDA CANDEENSE.



 

     


 -----Para alguém que inicia uma dieta, e começa a ter resultados satisfatórios, nada melhor  do que ouvir alguém dizer: “Como você emagreceu"!? "Por acaso, está fazendo dieta?” ---Isso é uma observação agradável para quem tem passado fome, caminhando sem destino para se livrar da barriga, do mal estar e das inconveniências que a obesidade proporciona. --- Esse comentário que eu faço sobre esta questão, é porque já tive a experiência de ouvir alguém me analisar cara a cara num momento em que estive fazendo dieta.

     Eu sempre gostei muito de incluir na minha alimentação a beterraba. Faço uso desse alimento, constantemente, seja ela crua, cozida ou nos sucos. E como no Supermercado Teixeira há sempre uma diversificação maior de verduras, certa vez lá estava eu, a procura de beterrabas.

     Ao sair daquele estabelecimento, encontro-me com uma pessoa, há muito minha conhecida e que nunca me poupou com a sua franqueza ou com a sua ignorância ou, talvez, digamos, com a sua humildade. É quem eu costumo chamar de Rainha do Cochicho. Vive preocupada, constantemente, com a vida alheia. Chega às casas dos outros, em horários inconvenientes, se alguém passa com uma sacola por perto quer saber o que vai ali. Vendo-me, aproximou-se com aquela sua admiração desdenhosa:

 ----- Olá, Sô Armando, sumidão! Ondé qui o sinhor tem andado?

 -----Nesse tempo, minha mãe ainda viva e eu morando em Juiz de fora, tirava uma semana para passar com ela em Candeias. E respondi:

 -----Dias em Juiz de Fora e dias aqui em Candeias!

 -----Mintira, eu num tenho visto o sinhor aqui nas Candeia não, só se tá iscundi den de casa. O senhor sabe que eu dô nutícia, né---Claro que sei! E como sei!

-----Mais me conta uma coisa, que magreza é essa? O pasto lá de Juiz de Fora tá tão ruim assim?

 -----Não, é que eu estou fazendo uma dieta e já emagreci 10 quilos?

 -----Deis? Não, Sô Armando!  balança do sinhor tá robano. O sinhor num emagreceu isso tudo nunca. A barriga tá do mesmo tamanho. A anca continua larga. Só a cara que miudou um pouco.

 -----Não sô, eu me pesei em mais de uma balança...

 -----Engana eu que eu gosto, Sô Armando! ----  Bão, Miorou um poco. Mais tem uma coisa, Sô Armando, o senhor tá meio marelo, e o seu pescoço tá  pelancado. O lugar que pudia dechá, o senhor tirou que é na cara ,. Parece que até a vóis do senhor tá meia fraca! Essa bobagera de passá fome pra ficá magro. Eu, hein! Nem morta! Mais o que qui o sinhor come? O que vai levano aí dentro dessa sacola?

 -----Beterraba! Deu-me vontade de comer beterraba cozida, hoje. Isso é muito bom!

 -----Bão!? O senhor fala que esse trem é bão? Eu num como isso pur nada, Sô Armando! Sabe purquê? Eu era casada de pôco e fui cumê na casa da minha sogra. Eu nunca tinha visto esse trem. Cheguei lá tinha uma travessa cheia dessa porcaria com arface. E eu intrei naquilo. Cumi até; eu até qui achei bão. Tudo bem! Fui imbora, quando foi no ôto dia cedo eu fui no banhero. Assim que eu eu fiz a minha necessidade, eu dei uma olhadinha pra dar discarga no trem, e vi que era sangue puro. Eu quase murri de tanto susto. Meu marido tinha viajado e eu curri na casa da minha sogra. Mais o meu sogro é que tava lá querendo sabê o que qui eu tinha. E eu cum vergonha de falar que tava obrano o puro sangue. Fiquei naquele disispero!

----Vortei pa minha casa, rezava, rezava e pidia a Deus e Nossa Senhora pra me curar. Eu pensei que tava com doença ruim, daquelas bem braba. Passei uma noite in claro, chorando e rezano. No ôto dia a minha cunhada apareceu lá in casa eu falei que tinha obrado o puro sangue. Aí que ela me falou que era essa tal de beterraba que nóis tinha cumido. Ai intão eu nunca mais quis sabê de comê essa merda.

 ----Ah! Se eu pudesse contar quem é essa figura!

 Armando Melo de Castro

 

 

terça-feira, 27 de junho de 2023

TESTANDO A MINHA MEMÓRIA


---  Quem tem orgulho de ser candeense não cansa de ver essa beleza que Deus nos deu para os nossos olhos; essa sensação de tranquilidade que esta terra maravilhosa nos proporciona. Ser candeense não é um privilégio apenas daqueles que nasceram em Candeias. Basta vir juntar-se a nós para escrever a nossa história, e passa a ser um conterrâneo, pois ser candeense é possuir um estado de espírito.

    Os idosos, assim como eu, carregam consigo uma carga do passado. E o passado é o pai da saudade, esse sentimento nostálgico guardado dentro de nós. Por isso hoje, bateu em mim uma saudade danada, quando no ano de 1956 eu fui um dos alunos do então Grupo Escolar Padre Américo, sorteado para participar da plantação de uma árvore no pátio da escola, quando todos  encontravam-se reunidos naquele pátio no Dia da Criança, em 12 de outubro de 1956. -----

    Depois da cerimônia a escola em coro abriu o bico até atrás para cantar o Hino de Candeias. E nessa saudade eu fecho os olhos e me transporto a esse dia e testo a minha memória abrindo a caixa das minhas lembranças para solfejar o hino de Candeias, produto de uma bela inspiração da nossa querida conterrânea, já falecida, Professora Niguita Alvarenga, e melodiada pelo maestro candeense, Belmiro Costa:

    Candeias. orgulho de Minas Gerais, aqui vivemos num belo rincão que para nós é sem par, é uma pura fonte de exemplos cristalinos onde o pobre pode encontrar o seu lugar. Candeias é um ninho adorado e idolatrado, a quem nós consagramos os nossos corações e damos a vida triunfantes como nobres e firmes campeões. A clorofila que cobre o solo de Candeias com uma firme lealdade é bela. O céu azul, os ares daqui traduzem a fé, a esperança e a caridade. Candeias é honra de Minas e do povo Candeense, no sublime setor da religião. Portanto, receba o nosso hino o tributo da nossa gratidão.

   Que saudade quando no pátio do Grupo Escolar Padre Américo, hoje Escola Padre Américo, a gente abria o bico até atrás para cantar esse hino maravilhoso.

      Armando Melo de Castro.

 

 

sábado, 24 de junho de 2023

O ANTIGO CARNAVAL DE CANDEIAS (MG)

     Lembro-me, e com saudade, do carnaval de Candeias no meu tempo. Era muito diferente! Diferente, simples, alegre e feliz. As mães levavam as crianças durante o dia na matinê e a noite era a vez de levar às filhas adolescentes para brincar, durante as quatro noites.  A quarta-feira de cinzas era um dia triste, os visitantes partiam deixando a  saudade e a cidade vazia, e o próximo carnaval estaria agora, muito distante. 

 Nos dias que antecediam o carnaval, as pessoas, principalmente os jovens, ficavam de ouvido atento nos rádios para decorar as músicas novas. --- Eram marchinhas e sambas. ---- Músicas essas, sempre incluídas com as mais antigas e sempre eram executadas aquelas de maior sucesso. As músicas antigas e de sucessos anteriores, nunca eram esquecidas e podem ser lembradas até hoje depois de várias décadas, como, ---- a Jardineira, Mamãe eu quero, Chiquita Bacana, Aurora, Me dá um dinheiro Aí, Saca Rolha, Abre Alas e muitas outras. ----

 O carnaval em Candeias contava com a presença de pessoas idosas também. Lembro-me de alguns como Zé Pacheco, com a sua filha Salete, Nestor Lamounier, Tonico furtado, José Ribeiro, e muitos outros, que mesmo sem entrar no salão marcavam presença.

 Muito tempo antes dos dias da festa, o Jaz do Sr. Américo Bonaccorsi, já começava os ensaios com as músicas novas, com as partituras recebidas do Rio de janeiro. Esses ensaios, executados, então, no interior do Candeense Hotel, chamavam a atenção de muitas pessoas. ---- O tempo de carnaval em Candeias era um tempo alegre e festivo. ----

   luía músicas feitas por autores candeenses, como me faz lembrar o meu amigo Domiciano Pacheco, quando ensaiava entre a rapaziada a sua marchinha do ano, no reservado do Bar do Sebastião Cassiano, posteriormente Bifão do Lulu-- Lembro-me de uma dessas músicas que se chamava “Dalila de Candeias”. --- Uma marchinha que inclusive retratava a pureza das jovens de Candeias. ----

  O carnaval era abrilhantado pelo nosso querido Jaz Tiro e Queda, do maestro, Américo Bonaccorsi, composto pelos músicos: Américo Bonaccorsi, Saxofone, --- Zinho Borges, Trombone, ---- João Virgílio, Pistom --- Violão ou banjo, Zé Delminda (meu pai) ---- Cavaquinho, Pedrinho do Candola ---- Bateria, Luizinho do Américo,

  Suponho que esteja gravada na memória da criançada candeense daquele tempo, a figura do Sr. “Dequeche”. (Não sei se a grafia está correta, mas assim era pronunciado o nome dele.) --- Esse senhor, uma figura muito simpática, era um engenheiro que morava em Belo Horizonte, e era casado em Candeias, com a senhora Terezinha, da família Teixeira, cujos pais moravam ao lado da Casa Melo. ---- O Sr. Dequeche que passava o carnaval todos os anos em Candeias, nas matinês, liquidava com o estoque de refrigerantes e balas do barzinho do Clube, quando oferecia a bebida para toda a meninada. Era uma alegria total.

  Já residindo fora vivi outros carnavais, mas nunca mais senti a mesma alegria, que aquele carnaval familiar de Candeias me proporcionara durante a minha infância e adolescência.

  como adulto pude aproveitar um resto. Mas o tempo se incumbiu de acabar com aquela festa tão boa, que distinguia Candeias de outros carnavais. --- Pessoas de Campo Belo e Formiga e outras cidades apareciam; viajantes em trânsito paravam em Candeias para aproveitar do nosso carnaval. --- E houve até quem se casou em Candeias.

   Após muitos anos, quando esta festa para mim já teria perdido o brilho, passei um carnaval em Candeias, e este serviu apenas para que eu pudesse fermentar em meu cérebro uma saudade profunda. -----Eu não teria visto nada que pudesse comparar. ------ Nas ruas uma verdadeira falta de respeito. --- Moças seminuas --- rapazes completamente bêbados, urinando pela rua sem o menor cuidado. Jovens drogados. ---- Conclui que para mim o carnaval de Candeias teria se transformado radicalmente e que nada do passado havia sido preservado. ----- Era eu de cara com o conflito de gerações... Lamentei! Hoje para mim o carnaval tem outro sentido e não é mais o meu carnaval.

   Armando Melo de Castro

sexta-feira, 23 de junho de 2023

PERGUNTA AOS CANDEENSES.

     

     Não faz muito tempo, eu estive na Avenida Brasil aqui em Juiz de Fora, a fim de encontrar uma oficina mecânica para examinar um problema que apareceu no meu carro. Conversa vai, conversa vem, notei que o mecânico tinha um sotaque bem carregado de um baiano. Eu tenho muito respeito pelos baianos, afinal a Bahia é um Estado Brasileiro que merece todo o respeito dos brasileiros. Segundo a história, o Brasil começou em Porto Seguro, na Bahia.

    Perguntei-lhe se era baiano, quando ele disse, sim sou baiano de Candeias. --- Aquilo me assustou --- e entrou pelos meus ouvidos de forma baratinada. No fundo fiquei enciumado ao conhecer um candeense baiano. Parecia que a frase dita tinha perfurado o âmago da minha alma. E me senti agredido no meu íntimo, quando eu lhe disse que a minha cidade, também, se chamava Candeias, e o Baiano, me fez uma pergunta de forma displicente, sentida por mim desprezível: “AONDE FICA ISSO” – E eu não tive outra resposta: Isso, fica bem próximo do céu.

    E o meu ego começou a trabalhar, em defesa de nossa Candeias. Ora, ora, A nossa Candeias mineira, nasceu em 1938, a Candeias da Bahia apareceu em 1958. Portanto, nós somos candeenses por vinte anos a mais. --- Se a nossa Candeias não cresceu tanto quanto a deles, também não cresceu a corrupção e nem a criminalidade existentes por lá.

   Eu já estou frouxo de ver a nossa Candeias se misturando com a Candeias da Bahia. Na internet nós candeenses costumamos ficar complicados com as notícias, imaginemos então uma pessoa que não seja de nenhuma das duas Candeias. Isso significa que a Candeias de Minas é uma “Candeinha” dando o direito para alguém perguntar “Onde fica isso?”

    Pergunta:

  Se você fosse, por ventura, o prefeito, um vereador, ou um político do município de Candeias, Minas Gerais, o que você faria logo no início da sua gestão?:

   Eu, responderia a essa pergunta dizendo que iria trabalhar já de inicio para um plebiscito no sentido de alterar o nome de Candeias, para CANDEIAS DE MINAS. E acabar com essa mistura de Candeias Baiana com Candeias Mineira.

  Afinal, se a nossa Candeias já existia, porque não puseram Candeias da Bahia?

 

  Armando Melo de Castro.

 

 

quarta-feira, 21 de junho de 2023

ANTIGAS FARMÁCIAS DE CANDEIAS.


 Na década de 50 e 60, quando eu me encontrava no verdor dos meus anos, Candeias tinha duas farmácia. A Farmácia São José, hoje de propriedade do farmacêutico, Júlio Maia, o nosso amigo Julinho, era então, de propriedade do Farmacêutico Waldemar Lopes do Santos. Esta foi a primeira e com certeza a instituição comercial mais antiga de Candeias. Por pouco ela não levou o nome de botica no lugar de farmácia. Hoje, com a nova nomenclatura trazida pela evolução comercial, passou a se chamar Drogaria Popular. --- No recinto da farmácia há um painel interessante que fala sobre a vida desta instituição centenária e que sempre mereceu a credibilidade do povo candeense. --- O nosso Blog, Candeias MG Casos e Acasos, tembém tem uma página com o resume da são José: CANDEIAS-MG: Casos e acasos: FARMÁCIA SÃO JOSÉ LTDA (candeiasmg.blogspot.com)

 A segunda era a Farmácia São Geraldo, de propriedade  do Sr. Francisco Fernandes. Era um pequeno Chalé. Francisco era fazendeiro, e o responsável pela farmácia era o seu filho José, que acabou recebendo a alcunha de “Zé da Farmácia”. Ele não era farmacêutico. Nesse tempo não havia a obrigatoriedade da presença de um farmacêutico na instituição. O profissional credenciado poderia ser de fora, ele apenas assinava como responsável. ---  Hoje, não precisa ser formado para abrir uma farmácia, mas precisa ter um farmacêutico no local para a prestação do serviço.

 A farmácia São Geraldo funcionou muitos anos nesse pequeno chalé. Posteriormente o seu proprietário fez um grande investimento, pois construiu uma sede, própria para farmácia, e veio residir em Candeias o seu farmacêutico, oriundo da cidade de Campo Belo, o Sr. Darciro Corrêa, que veio a ser o futuro proprietário da farmácia são Geraldo. Darcíro era pai da Sra. Neli Corrêa, que no futuro veio a se casar com um dos filhos do antigo proprietário da Farmácia, o Sr. Antônio Carlos Fernandes.

   Com a morte do Sr. Darcíro, a farmácia São Geraldo passou para outras mãos, e acabou sendo fechada. E o local chegou a ser até uma casa comercial de rações.  E anos depois reaberta por outros proprietários com outros nomes. Hoje no mesmo local funciona a Entrefarma, a farmácia da Jô. ---

    Naquele tempo os remédios receitados pelos médicos, então Dr. Renato Vieira, Dr. Zoroastro Marques da Silva e Dr.Willian Elias, eram manipulados no laboratório da farmácia. Portanto, os farmacêutico quase sempre se encontravam no laboratório. E no balcão se encontravam os funcionários. Na farmácia São José, Waldemar tinha duas funcionárias: A Eneida, filha do Sr. Inácio Pacheco, avó do atual prefeito de Candeias Rodrigo Lamounier e A Alba Salviano, filha do Sr. Nicodemos Salviano,  residente em Campo Belo. --- Na farmácia São Geraldo, o balconista era o amigo, já falecido, Guilherme Ribeiro, irmão do Coronel Deoclécio Ribeiro. E lá, também auxiliava a filha do Sr. Darcíro a Sra. Neli Corrêa.

     Certa vez eu presenciei um fato lá na São Geraldo que até hoje não me fugiu da memória. Eu aguardava a manipulação de um remédio, quando chegou um cidadão acompanhado de sua esposa. Pela conversa notava-se tratar de moradores da comunidade dos Arrudas. --- O homem encostou-se no balcão enquanto aguardava o Guilherme atender um outro freguês. --- Guilherme falava alto, por hábito. Mas do Sr. Darcíro tinha, parece, uma certa deficiência auditiva, e portanto falava, também bastante alto.

    Guilherme pergunta ao cidadão o que ele desejava, e ele olha para mim, meio desconfiado, como quem não queria que eu ouvisse. Dá um sinal de quem queria falar baixo no ouvido e o Guilherme abaixa o rosto e ele quase enfia a boca no ouvido dele. ---- Guilherme, então, lá de fora, chamou o Sr. Darcíro em voz alta. E O farmacêutico vem, e Guilherme disse: Ele quer te fazer uma consulta. --- Quase enfiando a boca no ouvido do Darcíro, também, o cidadão consegue falar, mas Darcíro não conseguia ouvir o que ele dizia  e perguntou para o Guilherme: “O que ele está falando?” E Guilherme que era um rapagão divertido, e acostumado a falar alto com o farmacêutico, reproduziu em bom som, no pé da letra, o que o homem disse  ----  “Ele está falando que a mulher dele está com problema de “murróia” e quer um remédio pra miorá o butão dela.

 Armando Melo de Castro.

sábado, 17 de junho de 2023

CANDEIAS, É UM AMOR DE CIDADE.


Semana passada, eu postei em nosso Grupo, “Sou das Candeias com muito orgulho”, e no nosso Blog Candeias Casos e Acasos”, um texto sobre o comentário de um elemento que nasceu em Candeias, morador em São Paulo e que teria dito que não entendia os meus elogios por Candeias, pois somos contemporâneos, e Candeias era uma verdadeira merda. Pobre infeliz. Naturalmente ao nascer se envolveu em suas próprias fezes; e sua mãe não teve talco Gessy para lhe passar.

Esta postagem a fim de contar para os meus amigos essa agressão verbal, foi redigida num momento em que eu me encontrava bastante contrariado com esse elemento, cujo nome prefiro omitir em respeito aos diversos homônimos candeenses. Estaria, naturalmente, sendo como um desabafo diante da afronta recebida porque o seu comportamento indicava que ele tinha conhecimento pelo carinho que tenho pela terra onde nasci.

Mas o resultado da postagem foi surpreendente, pois bateu todos os recordes de nossas postagens. E eu me senti como que cantando o Hino a Candeias e todos os candeeneses nativos e adotivos fazendo coro comigo. Amigos que nunca comentaram e nem curtiram os nossos textos; amigos de diversos pontos do Brasil e do mundo; estiveram presentes demonstrando o carinho pela nossa terra mãe.

Eu lamentei profundamente a agressão verbal desse conterrâneo, tentando fazer prevalecer a sua opinião subjetiva não somente pelo fato de Candeias não ter nenhuma relação com o que lhe fez julgá-la de forma pejorativa, insultuosa ou depreciativa. Mas, por sentir que essa pessoa não insultava somente a mim, mas como conheço o meu povo, senti que a afronta atingiria toda a nação candeense. Afinal, nós candeenses, não nos consideramos como simples conterrâneos, somos como uma grande família, somos quase que irmãos. Respeitamos e agradecemos aos nossos conterrâneos adotivos como verdadeiros candeenses que vieram de outros pontos para se juntarem a nós na construção de nossa história. Se mora em Candeias, é Candeense. Se mudamos de Candeias, continuamos candeenses pois a levamos em nossos corações, mesmo respeitando a cidade que nos recebe.

Infelizmente a sociedade está cheia de gente assim. Pessoas que pensam que a sua opinião e a melhor, única e perfeita. Não entendem que uma opinião precisa ser discutida. Dar uma opinião, um parecer sem ser solicitado é coisa muito séria. --- Essas pessoas alimentam um ego elevado que os deixam a pensar que suas opiniões são absolutas e verdadeiras. Infelizmente são pessoas que não se dão bem na sociedade, vivem criando problemas, nos negócios, no convívio familiar, estão sempre errando, mas os erros não lhes servem de aprendizado.

Eu tenho mantido contado com pessoas, de vários cantos do Brasil e muitos pontos do mundo; filhos de candeeneses, que nem conhecem a nossa cidade, que herdaram de seus pais o carinho por Candeias. Atendo pedidos de informações para árvores genealógicas e ou para conhecer melhor suas origens. Esses contatos me deixam realmente feliz.

Assim disse o filósofo:

“Floresça onde Deus te colocou mesmo que tenha sido numa rocha”

Armando Melo de Castro.

 

 


sexta-feira, 16 de junho de 2023

A HISTÓRIA DO JUVENAL.


       A história do Juvenal é baseada numa história verídica acontecida em Candeias num passado muito distante, cujos nomes não serão revelados. Os fatos e personagens aqui descritos são fictícios.  Portanto, qualquer semelhança com a realidade será simples coincidência.

    Juvenal era um cidadão tranquilo, contava mais ou menos uns 40 anos de idade. Fala mansa, cabeça tipo cuité, cabelo no corte curto, rosto bem escanhoado, pouco pescoço, um corpo médio e meio cheio. Era sempre visto trajando uma calça de brim xadrez e uma camisa cor de burro fugido, de mangas compridas abotoada até ao colarinho. Uma cara de safado, não podia ver uma mulher por detrás que a gente já podia imaginar o seu pensamento. Parecia até que ele não tirava o pensamento daquilo.

   O esquisito é que o protagonista da nossa história, não teria dado certo com o casamento. Primeiro ele casou-se com Geralda que lhe abandonou na noite de núpcias. Um ano depois arrumou uma amásia de Campo Belo que se chamava Anita, que também o abandonou no outro dia após terem se unido em segunda lua de mel. E a terceira foi uma concubina que se chamava Margarida oriunda da cidade de Formiga. Essa última, também o deixou dois dias após ter dormido com ele a segunda noite. Interessante que nenhuma dessas três esposas, contaram o motivo, de terem desfeito da união em tão pouco tempo. O que sem dúvida causava uma grande tensão nos curiosos.

   Ele tinha um pequeno armazém num canto da cidade e era até bastante considerado pela freguesia. Próximo dali veio se estabelecer uma boate dessas  onde permanecem mulheres que fazem favores amorosos em troca de dinheiro. E isso veio alimentar a esperança de Juvenal, no sentido de ajeitar uma quarta companheira que pudesse lhe atender.

  Logo no início Juvenal já marcou a sua presença a fim de contratar uma profissional da casa. Foi logo muito bem atendido, por uma jovem bonita e atenciosa, de nome Erika, talvez um nome de guerra, esta então, já lhe propôs tomarem uns drinks antes de começar o brinquedo, o que foi muito bem aceito por Juvenal. Depois disso, seguiram-se para um quarto, quando daí há pouco ouviu-se um grito. Era a Erika, que fugira do quarto completamente nua, desesperada e dizendo, ele é um jumento.

  Coitado do Juvenal. Depois desse dia quando ele entrava no recinto, as mulheres corriam dele e algumas até saiam do salão. --- Mesmo com a tentativa de conseguir uma outra oportunidade, ele deixou um recado que daria metade do seu armazém para a mulher que suportasse os seu 25 centímetros, referindo-se àquilo...

   Mas é claro que nenhuma das doidivanas ali presentes aceitaram a proposta depois de verem o que teria acontecido com a sua colega. Mas teria chegado ali uma rameira dessas bastante experientes, já passando de balzaquiana, e ouviu a conversa e disse: “Vocês precisam aprender a trabalhar meninas, pois eu vou ganhar metade desse armazém!” Isso é comigo. Vou lhe mandar um recado que aqui estou à sua disposição.

    Naquele mesmo dia Juvenal apareceu para o encontro. Tomaram umas pingas e foram para o quarto onde Juvenal iria receber o favor se o favor em troca de metade do seu armazém. E lá permaneceram por muito tempo no maior silêncio.                            

   Na saída Juvenal disse: “Ê muié, cê ganhou a metade do meu armazém, mas cê viu né o que é cumprimento e grussura?” --- E ela responde: “ E ocê num  viu o que fundura e largura?

 Dá procê?

Armando Melo de Castro.

terça-feira, 13 de junho de 2023

CANDEIAS É UMA MERDA!?


 Eu recebi um comentário em um dos meus textos do nosso Blog Candeias MG Casos e Acasos, quando um conterrâneo criticou-me dizendo como pode eu elogiar Candeias o quanto eu elogio, sendo que Candeias no seu tempo era uma verdadeira merda. A sua opinião partiu do fato de que somos contemporâneos e se não estou enganado trata-se de um condiscípulo meu, do terceiro ano no Padre Américo em 1956.

Eu não vou aqui falar de quem se trata esta pessoa, naturalmente nunca foi feliz. Vou fazer um comentário para esse conterrâneo distante, como resposta ao chamar Candeias, de merda. Afinal quem chama a terra onde nasceu de merda, está contando que nasceu na bosta, pois afinal este é o sentido que ele deu à palavra.

 Meu conterrâneo:

Falar que a vida em Candeias antigamente era melhor de que nos dias atuais, seria o mesmo que dar um atestado de ignorância e falta de discernimento com a evolução da vida. Mas, tanto naquele tempo, como nos tempos atuais, a vida tem dois lados: o lado bom e o lado ruim. Se você se entende que nasceu na merda, eu não penso assim. Se você acha que Candeias era uma merda, para mim era o melhor lugar do mundo. Eu sempre agradeci a Deus por ter nascido em Candeias. Foi ali que eu aprendi amar a Deus e a natureza; os meus pais e a vida. Foi ali que aprendi a distinguir  o mal e o bem. Afinal eles andam juntos. Foi ali que aprendi a fazer coisas erradas para aprender fazer o certo. Foi em Candeias essa terra querida que eu aprendi a tomar a benção de meus pais e dobrar a língua para tratar os mais velhos. Saber reconhecer o valor dos amigos. Foi ali que conheci a força do trabalho. Foi nas minhas queridas Candeias que dei o primeiro sorriso para a vida, sem negar que foi ali que derramei a primeira lágrima. Foi nessa terra abençoada, que ainda na flor da idade, tive um pai e uma mãe para me orientar a fim de poder viver em qualquer lugar do mundo.

O que eu sinto ao receber o seu comentário, onde diz que Candeias era uma merda eu imagino porque você disse isso:  A palavra merda é sem dúvida uma das palavras mais pronunciadas da língua portuguesa. Ela pode ser considerada como um coringa do duplo sentido. Contudo ao pronuncia-la estamos mostrando, também, o que queremos dizer. Não é preciso explicação aqui porque todo mundo a conhece bem e já vão entender que você a pronunciou como um sinônimo de fracasso e vão naturalmente imaginar que você deve ter passado fome em Candeias, deve ter sido preguiçoso, deve ter roubado frutas e galinhas de vizinhos. Deve ter aprendido a beber bebidas alcóolicas ainda no verdor da adolescência... brigador na escola; tinha as costas conhecida pela vara da professora. Podem estar pensando  que o seu pai bebia? E quando bebia por acaso não dava uns sopapos na sua mãe na sua presença? Ele nunca terá sido preso? No seu meio isso era bem comum... Desculpe-me, eu não falei mal de você, eu só me lembrei de algumas coisas.

Candeias para mim nunca foi uma merda. Eu até poderia usar a palavra merda para fazer referência a Candeias, mas veja como eu diria: “Puta merda! como eu amo a minha terra!

 Armando Melo de Castro.


 AINDA EXISTEM ALGUNS EXEMPLARES DO LIVRO, CANDEIAS MG CASOS E ACASOS, A VENDA NA PAPELARIA RISQUE E RABISQUE EM CANDEIAS. ---- TRATA-SE DE UMA EDIÇÃO DE APENAS 100 LIVROS DE CRÔNICAS,  RELATANDO COMO ERA A VIDA EM CANDEIAS NAS DECADAS DE 50 E 60. --- É UMA EDIÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS E O PREÇO É EXATAMENTE O PREÇO DE CUSTO.

Armando Melo de Castro.
 

segunda-feira, 12 de junho de 2023

CANDEIAS TEM O TICO-TICO DO FUBÁ


  ··                          

Quando eu estudei no meu querido e amado Grupo Escolar Padre Américo, hoje Escola Estadual Padre Américo, eu aprendi muitas coisas boas e entre elas, tomei conhecimento das poesias de grandes poetas. E entre eles eu sempre fui um grande admirador do poeta Olavo Bilac. Para mim o maior poeta brasileiro. E parece que aprendi com ele a ser patriota. Eu não me esqueço de suas poesias, principalmente desta que até hoje mexe comigo:

A PÁTRIA,

Ama, com fé e orgulho a terra em que nasceste! Criança! Não verás nenhum país como este! Olha que céu que mar! Que rios! Que floresta! A natureza aqui perpetuamente em festa! É seio de mãe a transbordar carinhos. E eu, aqui numa emulação a Olavo Bilac, quero reverenciar a minha querida terra onde nasci. Candeias, Estado de Minas Gerais Brasil. E quero recomendar aos amigos candeenses:

------------- Ame, com fé e orgulho essa terrinha linda em que você nasceu! Você não verá nenhum lugar como este! Olha que praças lindas; que arvoredo em plena praça pública, onde podemos sentar descansar, encontrar amigos e apreciar a beleza da natureza. Sentados nos bancos dessas praças, podemos ver um tico-tico andar de pulinho como pula no fubá, como dizia em música o maestro Zequinha de Abreu. Ver uma rolinha do fogo apagou; ouvir o pio do canarinho amarelinho da terra... e até o sabiá o mais chique da turma. Sem dúvida estamos numa festa da natureza. E a festa da natureza é como um seio de mãe a transbordar carinho. Você que visita Candeias, tire um tempinho para se sentar num banco da praça e apreciar a natureza que Deus, o Pai, nos reservou.

Meu conterrâneo amigo! Não deixe de amar com fé e orgulho essa cidade de Candeias onde Deus nos colocou.

Armando Melo de Castro.


CANDEIAS TEM HISTÓRIAS DE TODO JEITO.


(Caso em metáforas)

No princípio da década de 60 minha família se transferiu da Rua Coronel João Afonso, para a Rua Gabriel Passos, hoje Rua José Hilário da Silva. A rua não tinha calçamento e ainda existiam lotes vagos. Era nosso vizinho o Sr. Vicente Faceiro, um cidadão que teria se transferido da zona rural para a cidade.

Vicente Faceiro, era casado e tinha um filho. Muita gente dizia até que o filho, que contava uns 10 anos de idade, não teria saído de sua bica, situada abaixo do umbigo, pois essa bica dele era seca.

A bem da verdade de faceiro ele não tinha nada. Se ser faceiro é gostar de andar elegante, Vicente estava bem fora disso. Andava de chinelos da marca havaiana, roupas sem cores e batidas. Era um cidadão de porte médio, mais para baixo do que para alto, sem barba e de cabelo curto. Devia contar uns 40 anos mais ou menos. Trazia consigo características de um gênero duvidoso quando visto pela primeira vez. Já na segunda já podia analisar o seu olhar, o seu andar e a voz melosa e notar que em termos de gênero, ele era coluna do meio.

O seu jeito de olhar para um mancebo ou um quarentão, dizia: “Como eu queria ser cortado por um tesouro assim...” ---- O andar exclamava: “Meu Deus porque eu não tropeço e caio sentado nesse colo?.” -- E aquela voz mole que dizia suavemente: “Beija-me, com força e arranca-me os dentes com a rijeza dessa broca louca.”

Tínhamos um vizinho naquela rua, que era exatamente o padrão preferido do Vicente. Era um quarentão, pedreiro, que dizia ter uma pua para brocas de grosso calibre, ---- Parece até que só pensava naquilo. ---- Dizia sempre quando contava as suas vantagens másculas de que o serviço dele era completo, o que podia traduzir: atras e na frente. – Gostava de brincar dizendo que se a fruta fosse verde ele chupava, se fosse madura ele comia. E se aparecesse uma cova adubada ele plantava e aguava com o óleo da pua. No caso o Vicente era o dono da cova. Dizia que seu “falo da fertilidade” dormia como ferro e acordava como aço. Contava que tomava uma garrafada inventada pelo seu avô à base de cipó cabeludo e nó de cachorro, para engrossar o caldo. (Nesse tempo não havia azulinho) E o que lhe aparecesse para comer ele nunca mandava nem para padres e nem para o bispo. Mesmo se fosse rango de urubu, o negócio dele era injetar o caldo lá ou cá, bastava o buraco ser quente.

Vicente Faceiro arrumou um emprego de cozinheiro no Candeense Hotel, do Sr. Américo Bonaccorsi. Quando saia do hotel vinha parando em todos os pontos de bares. E assim, voltava para casa tarde da noite sempre com uma desculpa amarela. ---- Certa vez ao chegar até a rua onde morava, tinha ali em construção uma casa. Ele se encontra com o garanhão da rua, o homem da pua e da broca grossa, e resolve lhe fazer uns chamegos. No que foi convidado a entrar para os fundos da construção próximo dali – Ai então “aquilo” aconteceu. ----

No outro dia, mancando feito um cavalo de pisadura, eu me encontro com ele perto da Escola Padre Américo e pergunto: “ O que lhe aconteceu Vicente? E ele responde com uma voz fanhosa: “Eu tô achando que peguei fio.” Ele não escondia para ninguém a sua preferência para aquilo. Se naquele tempo, vindo da roça já era assim... Imagine hoje...

“Dá procê?”

Armando Melo de Castro


quinta-feira, 8 de junho de 2023

A CARTEIRA ENCONTRADA.


 Eu tinha dezesseis anos de idade quando fui ser cobrador em uma jardineira velha de propriedade do Zé do Anjo a qual fazia a linha Candeias a Oliveira, via São Francisco de Paula. Candeias não tinha, nesse tempo, uma estação rodoviária. Apenas um ponto de ônibus à porta do bar do Raimundo do Antero e sua mulher Luzia do Vico Teixeira. O Bar e Restaurante Rodoviário, era estabelecido numa velha casa edificada onde, atualmente, se encontra um lote vago ao lado da clinica dentária do Dr. Giordani Bonaccorsi, na Avenida 17 de Dezembro.

O veículo transportava poucos passageiros. Partia às seis horas da manhã e retornava às quatro da tarde. Ao término da viagem, era minha tarefa dar uma limpeza no carro e prepará-lo para o dia seguinte.

Certo dia, quando executava esse trabalho, me deparei com uma carteira de dinheiro abaixo de uma poltrona. Ao abri-la e verificar o seu conteúdo, vi uma cédula de identidade em nome de José Messias da Silva além da importância avultada de uns 540 reais em dinheiro e um cheque de 200. comparando-se ao dinheiro de hoje. Para se ter uma ideia, essa importância correspondia a mais de um mês do meu salário.

Eu que nunca sentira a emoção de achar uma carteira e sabendo que um encontro dessa natureza era então, tido como um fato de sorte para quem acha e de azar para quem perde, fiquei trêmulo e, consequentemente, preocupado. Mas não com o que acabara de encontrar e sim com a aflição que deveria estar sentindo a pessoa que a tivesse perdido.

Seria difícil até mesmo imaginar quem a tivesse perdido porque a jardineira com capacidade para 25 passageiros, de São Francisco de Paula até Oliveira, andava lotada inclusive com passageiros de pé.

Imediatamente, levei o objeto ao patrão que, após conferi-lo e anotar o conteúdo, disse-me: "guarde-a durante trinta dias, se não aparecer o dono, fique com ela para você." Aquela resposta mexeu com todas as minhas entranhas. Contudo, é claro que o patrão sabia que alguém a procuraria e, com certeza, aproveitou para apalpar a minha honestidade.

Naquela noite, eu não dormi. Pensava na hipótese de não aparecer o dono do dinheiro durante os trinta dias, após os quais, eu dele tomaria posse. Isso representava mais de um mês de trabalho. Eu poderia comprar muitas roupas e alimentar a minha vaidade de adolescente. Comer do bom e do melhor na rodoviária de Oliveira onde vendiam diversas guloseimas, principalmente, um tipo de casadinho delicioso que era um biscoito da minha maior preferência. E nem sempre eu tinha dinheiro para isso. Esse prazer só me era dado nos dias de pagamento para atender a ânsia alimentar dos meus dezesseis anos.

Os mais variados pensamentos começaram a atrofiar os meus neurônios e, no outro dia, ao partir em viagem, já fui pensando quem seria o dono desta carteira que ia bem acomodada no bolso da minha blusa. E os pensamentos continuavam e eu já não sabia o que pensar se pensava bem ou se pensava mal. A minha consciência, talvez, fosse me condenar no caso daquele dinheiro ser convertido a meu favor.

Seria um lucro em detrimento do azar de outrem. Eu no auge dos meus dezesseis anos, passava por uma das maiores emoções de um menino pobre. Meu pai teria me recomendado rezar para que o perdedor aparecesse. E eu estava naquele conflito... Se aparecer ou não aparecer...

E assim foi até que a velha jardineira chegou à São Francisco de Paula. E logo ao descer da jardineira defrontei-me com um cidadão magro, vergado e meio giboso, meio careca, olhos fundos e rosto meio barbado; contando mais ou menos uns sessenta anos com um tipo de tosse nervosa que me fez pensar tratar-se de um incômodo pela perda da carteira. Eu o reconhecera como um viajante no dia anterior.

---Por acaso você achou uma carteira dentro da jardineira ontem eu viajei com vocês? Perguntou-me

---Sim! Aqui está...

E o cidadão ao invés de me agradecer, sorrir, ou falar alguma coisa, abriu a carteira e pôs-se a conferir o seu conteúdo e foi dando as costas sem ao menos me dizer, obrigado.

Aquilo me deixou desapontado porque eu quisera que a minha honestidade fosse ressalvada. Não haveria a necessidade de me gratificar, entretanto, pelo menos, me agradecer. Afinal, a jardineira no itinerário Oliveira / São Francisco de Paula andava lotada e poderia ter sido a carteira, encontrada por outra pessoa. O meu encontro com aquele objeto valioso não teria sido testemunhado. Acho que pelo menos um agradecimento eu merecia. Mas um senhor que acompanhava esse mal agradecido, disse-lhe: Você não vai dar uma gorjeta para o cobrador? E de muita má vontade pegou uma nota de 2 cruzeiros, daquelas antigas e me deu.

E eu peguei, afinal o casadinho do bar da rodoviária de Oliveira estava naquele dia a me esperar.

Armando Melo de Castro.

 

terça-feira, 6 de junho de 2023

CANDEIAS, COM MUITO ORGULHO.

Com a mudança de minha mãe para a cidade de Poços de Caldas, e posteriormente com a sua morte em 2019, as minhas idas a Candeias ficaram limitadas. --- As viagens , ficaram restritas para a cidade de Luz, terra de minha mulher. E na volta, antes de chegar ao trevo de Candeias, não consigo passar direto sem parar para receber a atenção e o sorriso amigo do Sudarinho, no seu comercio onde só tem delícias da roça.

Mesmo sendo uma viagem longa, em torno de 500 quilômetros e dada a evitação de viajar à noite, mesmo assim, eu não deixo de dar uma entrada rápida no meu quinhão natal, para respirar por algum momento o ar que respirei durante a minha infância e adolescência.

Nessas viagens, que infelizmente eu quase não tenho tempo para me encontrar com os amigos, eu passo pelo Supermercado Faria para comprar café, queijos e aquela farinha de milho caseira, comparada a antiga farinha do Sebastião da Possidônia na sua antiga fábrica situada na Rua Celestino Bonaccorsi, esquina com a Rua Padre Dionísio.

Não deixo, também, de comer um pastel da terra do pastel, sem nunca esquecer do pastel da Dalva do Bebé da Mariazinha. Isso porque aquele era o melhor pastel do mundo. Como não me esqueço, também, das broas de amendoim, nunca vistas por mim fora de Candeias. Não deixo de visitar a sede da pinga João Cassiano, não só para mim, mas também agradar algum amigo que gosta do líquido fermentado; onde além da pinga pode ser é encontrado um excelente mel de abelha.

Ver a matriz onde fui batizado; me encantar com a reforma da Igreja do Senhor Bom Jesus; passar defronte a velha casa do Sr. Vico Teixeira, onde se localizava o Cartório de Registro Civil onde fui registrado. Não deixo, jamais, de dar uma corridinha esperta na minha querida Rua Coronel João Afonso, onde me soltei das asas da cegonha. Finalmente passar pelo cemitério São Francisco onde meus pais e antepassados dormem o sono eterno.

Eu sinto, como disse o meu amigo Franz Salviano Borges:

“Eu saí de Candeias, mas Candeias não saiu de mim”

A razão está com o poeta Adalberto Dutra:

“ Não mates a saudade! Deixe a saudade viver! Um coração, sem saudade, perde a razão de bater.”

Armando Melo de Castro.

O FEIRANTE

O bom comerciante já nasce pronto. Nem sempre os exemplos podem ajuda-lo porque ele, às vezes, não tem o temperamento suficiente para tolerar os fregueses dentro da sua maior modalidade. --- O comerciante nato não perde a paciência com o freguês nunca. Ao contrário está sempre a ganhar mais um porque esta é a sua meta. Para ele o mesmo interesse que ele tem de vender a sua mercadoria ele tem de conquistar um novo freguês. O comerciante é um lutador numa luta desproporcional; ele estará vendendo a sua imagem para todos. Conheci em Candeias um comerciante que via e atendia todos os fregueses que entravam em sua loja num só tempo. Ele sempre tinha um bom dia, um aguarde um pouquinho, um sorriso e um olhar. Foi o comerciante mais competente que eu conheci até hoje. Era o Vicente Vilela.

Aqui próximo de minha residência tem uma feira, no Parque Halfeld, todas as quintas feiras. Trata-se de uma pequena feira onde os feirantes oferecem os produtos diretamente de seus sítios, vindos das cidades da região próximos de Juiz de Fora: leite direto da vaca, ovos caipiras legítimos, frango caipira daqueles criados no terreiro, enfim os produtos são muito bons e legítimos lá da roça. E eu gosto muito de dar lá uma chegada logo de manhã para comprar algo do meu agrado, principalmente o franguinho caipira, o queijinho de Minas artesanal, a goiabada cascão e outras coisas mais. Uma forma que encontro de ir até Candeias sem sair de Juiz de Fora.

Certa vez, quando cheguei lá, vi numa barraca de um fornecedor desconhecido umas mexericas ponkan muito bonitas. E o preço dessa fruta na quitanda nas proximidades estava 50% mais barata. --- Eu então, num impulso natural, disse-lhe, o seu preço está muito acima do preço de mercado... E ele me respondeu de forma muito desencontrada com a de um bom vendedor. “Então vai comprar lá uai” ---

Eu fui saindo e a esposa dele me chamou de volta com toda a educação e disse. Dependendo do tanto de mexerica que o senhor levar eu faço uma diferença. Os nosso produtos são um pouco mais caros porque nós temos a despesas de viagem para chegar aqui, não são produtos que vem de longe, como lá na Quitanda, o senhor pode ver que são produtos que vem do Rio de Janeiro ou então do Ceasa. Essas nossas mexericas foram colhidas à noite pra chegar aqui bem fresquinhas. Deu um sorriso e me disse: “ Eu garanto que o senhor vai ver superioridade nos nossos ovos, nas verduras sem agrotóxicos, o nosso leitinho direto da vaca. --- E eu já estava aflito para a mulher parar de falar para que eu pudesse começar a comprar. E comprei na época 80 reais de mercadoria, pelas mãos da mulher, enquanto o marido dela ficou assistindo a compra e venda. --- Ao sair eu olhei para o homem e lhe disse, a sua esposa é uma excelente vendedora, agora você precisa lembrar que eu já ia embora depois de você ter me dispensado.

Ele ficou um pouco acanhado, mas não disse nada. --- Todas as quintas feiras eu voltava lá na barraca dele, e quando ele vinha me atender eu lhe dizia: Vou aguardar a sua esposa. E assim foi por muito tempo, ele já nem me atendia, mas me cumprimentava. --- Certo dia eu casualmente o encontrei na rua, ele me abordou dizendo: Eu tenho vontade de pedir desculpas para o senhor, mas eu sou tão desajeitado que eu tenho até vergonha.

Eu lhe disse, você tem uma coisa que supera os seus problemas, é a vergonha e a humildade. Eu não tenho o que lhe desculpar. Naturalmente você deve ter visto que o comerciante por dentro de um balcão está lidando com todo tipo de gente. E ele é preciso entender que antes de vender a mercadoria, ele estará vendendo a sua imagem, o seu sorriso, as suas palavras. Você tem uma grande professora ao seu lado. --- Fique tranquilo que a próxima compra minha será feita a você. E hoje nós somos grandes amigos. E ele já me disse:

“ chega o tempo de mexerica ponkan eu me lembro de você!”

Armando Melo de Castro.

 

UMA VIAGEM VIRTUAL A CANDEIAS.


  Dando uma vasculhada nas gavetas do armário de minha memória, encontro-me lá nas minhas Candeias --- no meu rincão querido --- visitando a casa onde nasci em 1946 e vivi até o final da década de 50. --- Aí então, encontro-me com o tempo em que eu era muito feliz, mas ainda não conhecia a felicidade.

E nesse passeio virtual eu vi à porta de nossa casa um carro de bois dos Honório descarregando a lenha que meu pai havia comprado. Nesse tempo não existia ainda, fogões a gás tudo era na base da lenha. A lenha tinha quatro tipos de fornecedores. Os que vendiam em caminhões, vendiam por metro cúbico. Era um metro, dois metros ou meio metro. Entregavam quando vendiam uma carga para ser distribuída. Às vezes demoravam a entregar e isso era meio complicado. --- Tinha os roceiros que vendiam uma carga de um carro de bois. Os carroceiros que vendiam uma carroçada e as lenheiras que vendiam os feixes. Quando a lenha era despejada a porta da rua, a tarefa de guardá-la era minha. E quando chegava, às vezes, já de tardinha, me dava uma tristeza danada, ficava guardando lenha até tarde.

As compras de lenha na minha casa dependiam do bolso do meu pai. Se o bolso estive bom, ele comprava uma carga de carro do Juca Honório. --- Se tivesse mais ou menos, comprava uma carroçada do Serafim, e se tivesse fraco comprava feixes da Lica do João Passatempo. Muita gente ia com carroças nos matos buscar lenha para o seu gasto. Não era fácil achar lenha próximo da cidade. As lenheiras iam longe. Para muitas isso era uma fonte de renda.

Como eu gosto de me lembrar do tira-jejum diário que era muito variado. Farinha com açúcar e queijo; angu doce; banana marmelo frita, ovos remexidos; broas de fubá feitas pela dona Maria do Juca, mãe da Iveta. Tinha, também, o bolo de fubá assado na caçarola. Usava-se muito fazer esse bolo. Colocava a massa do bolo numa caçarola e cobria com uma tampa cheia de brasas. A receita do bolo era fácil e pobre: --- 2 xicaras de fubá – 2 xicaras de açúcar – 2 xicaras de leite – 2 colheres de banha – 3 ovos – 1 colher de bicabornato de sódio, como fermento, e uma colher de sobremesa de erva doce. Quando tinha queijo acrescentava um pouco de queijo ralado. --- batia essa mistura com uma colher até borbulhar e colocava na caçarola Esse bolo era eu quem fazia, de uma receita fornecida pela Maria, esposa do Sr. Erasto de Barros.

Não existiam os chamados “forninhos” de fogão. Isso só apareceu em Candeias com a chegada do Oswaldo Bombeiro, que veio de Campo Belo e que lançou esse produto de sua fabricação na cidade. Antes muitas pessoas tinham o forno de lenha, quando eram varridos com vassoura de alecrim do mato e dava aquele cheiro gostoso onde estava sendo assado alguma quitanda. --- Eu tinha uma carrocinha e com ela eu ajuntei pedaços de tijolos jogados fora pelos pedreiros, até ter o suficiente para que eu e meu pai pudessem fazer um pequeno forno no quintal de nossa casa. Ai de vez enquanto botava lenha nesse forno, e fazia uma lata de biscoitinhos de farinha de trigo. Farinha de trigo era cara e ruim. Os pães não prestavam porque ficavam duros, a farinha de trigo era misturada com fécula de mandioca. A variedade do tira-jejum, também, era de acordo com a verba disponível no bolso do meu pai. Ele era sapateiro num tempo em que a profissão ainda dava para sobreviver. Portanto, variava a qualidade, mas a quantidade era sempre boa.

Arear o caldeirão de cozinhar feijão; varrer terreiro, aguar as plantas, escolher o feijão e catar os marinheiros do arroz, também eram tarefas minhas e ai de mim se deixasse uma pedra no feijão. E não podia reclamar. --- Os exercícios da escola também eram fiscalizados pelo meu pai toda noite. Ainda não tinha ajuda de minhas irmãs porque elas eram ainda pequenas. O horário de brincar também era disciplinado.

Grande parte dos produtos eram comprados à porta, normalmente de alguém que vinha da roça. Aliás, nesse tempo a rua Coronel João Afonso era uma verdadeira via-sacra de vendedores das roças. Tudo vindo por intermédio dos pequenos produtores rurais, era arroz, feijão, farinha, fubá, polvilho, rapadura, ovos, café carne de porco salgada para feijoada, mandioca, abóbora, queijo, banana, requeijão e o franguinho que vinha dependurado na manguara. Lembro-me também de uma encomenda que o meu pai fazia para um desses vendedores, era de a cabeça de um coqueiro. Meu pai adorava Deus, e amava um molho de coqueiro.

As frutas quase todas tinham as suas épocas exceto as bananas que apareciam durante o ano inteiro. Mas as frutas cítricas, o abacate, o abacaxi, as mangas, eram as frutas mais conhecias e mais consumidas. Outras eram sempre uma novidade. ---- As frutas silvestres mais conhecidas era a gabiroba e a araçá. Essas também, em sua época de novembro a dezembro apareciam à venda.

Parece que naquele tempo as coisas quase não subiam de preço. A gente não via as pessoas ficarem reclamando. O que eu me lembro que subia de preço naquele tempo era os ovos na época da quaresma. Mas quem subisse o preço e depois não o baixasse, perdia o freguês.

Na época do frio uma coisa que a minha mãe fazia muito era o mingau de fubá ao leite, quando jogava sobre o prato um pouco de canela moída. E a gente às vezes queria mais e não tinha...

Como eu gosto de lembrar daquela cozinha com as paredes cheias de fuligem, onde tinha sempre dependurado um pedaço de toucinho, ou uma linguiça que meu pai comprava ainda fresca e colocava ali para se defumar. Aquele baita caldeirão cozinhando feijão com uns pedaços de pele de porco. De vez enquanto a gente roubava um pedaço daquele pele...

Como era bom ser pobre!

Armando Melo de Castro.

sábado, 3 de junho de 2023

UM CANDEENSE DIFERENTE.

 Hoje, remexendo aqui nas gavetas dos armários da minha memória, encontrei-me com um candeense do qual eu guardo boas lembranças.: Zé da Celestrina.

Eu não sei se Celestrina era sua esposa ou sua mãe. Isso porque em Candeias quase todo mundo  tem dono. E os homens, quando não são propriedade da mãe é da esposa ou da avô. E as mulheres do mesmo jeito. --- Eu não conheci nenhum familiar do Zé da Celestrina. Sei que ele morava lá pelas bandas da chácara do Cinico. E naquele tempo o trânsito de mulheres era bem curto. Tinha mulher que ficava até meses sem sair à porta de suas casas. Além de cuidar da faina da casa tinha também que trabalhar em serviços domésticos para ajudar ao marido, através de costuras, quitandas, sabão de cinzas, e outras atividades que lhes rendiam algum dinheiro para o complemento das despesas.

A vida nesse tempo era bem mais difícil do que nos dias atuais. Os homens não tinham um emprego e nem serviço certo. E as casas eram cheias de filhos. Muitas das vezes os pais comiam pouco para que sobrasse comida para os filhos. Na época das águas a situação piorava porque por causa das chuvas não aparecia trabalho todos os dias para diversos trabalhadores, que ganhavam pelo dia de trabalho.

E Zé da Celestrina tinha como fonte de renda, capinar quintais, fazer cercas de bambu, canteiros nas hortas, rachar lenha e não aguentaria trabalho pesado pois era uma pessoa extremamente morosa e humilde, pois chamava até os rapazinhos de senhores e as mocinhas de senhorinhas. Era também muito educado, respeitoso, e tinha sempre uma historinha para contar enquanto trabalhava.

A sua morosidade era admirável, Mas todo mundo gostava dele. Um serviço que uma outra pessoa fazia num dia, ele gastava dois dias, mas fazia bem feito e o seu preço era de acordo com a sua morosidade. Portanto vivia agradecendo a Deus por não lhe faltar serviço. –

Onde trabalhava ele aceitava o rango, e ainda levava alguma coisa para casa. --- Meus pais e minha avó gostavam muito dele. E quando precisava arrumar a cerca de bambu que era os tapumes de nosso quintal, ou capina-lo, pois era bem brande, já ouvia meu pai falar: “Está na hora de chamar o Zé da Celestrina”

A sua alegria era quando chegava a festa do Rosário. Ele era visto com a sua roupa branca e o casquete branco, como na foto, acompanhando o tempo todo o  terno do Moçambique.

Certa vez a minha mãe fez uma cirurgia e arranjou uma mulher para fazer as lidas da casa. E Zé da Celistrina estava trabalhando lá nesse dia.  --- Minha mãe recomendou que coasse o café e para servi-lo. A moça preparou o café e perguntou se levaria o café lá no quintal, quando minha mãe lhe disse que não precisava, pois era só chamá-lo e servi-lo na cozinha, pois ele já era acostumado.

O café pronto, a moça o chamou e lhe disse: “Eu ia levar o café pro sinhor lá na horta, mas a Dona Luca falou que num pricisava, purque o senhor já tá costumado a tomar na cuzinha...”

Nessa hora o Zé da Celestrina parecia que estava carreando um carro de bois, e abriu a sua garganta até ao último furo do volume:

“Ouá, ouá, minina, tó fora desse negoço de tomar na cuzinha, eu vou é bebê na cuzinha, ouá! Ah eu cumêdocê... “ E deu aquela risadinha sem dente, com a cara mais lambida do mundo.

Quando ele saiu, a empregadinha foi lá no quarto virou e disse pra minha mãe:

“Esse véio é mei doido, ele falô uns trem aqui que eu num intindi nada, sei não!...

E a minha mãe admirada: Uai é!?

 

Armando Melo de castro.