Total de visualizações de página

quinta-feira, 22 de julho de 2021

CANDEIAS NA DÉCADA DE 50.


                                     ANTIGO POSTO DE HIGIENE DE CANDEIAS

 Eu ouvi, numa entrevista, o cantor Ney Matogrosso detonando a saúde no Brasil. E me despertou a atenção quando ele disse que a saúde no nosso país na década de 50 era decente e um exemplo na América Latina; e mais, que o Brasil era copiado no seu sistema de saúde, disse ele. ----  Como esse período  ainda se encontra acomodado em meu cérebro, eu achei essa informação desencontrada com a realidade e resolvo, então, dar uma volta mental lá pelos idos da década de 50 e lembrar como a saúde em Candeias era naquele tempo. Dar uma conferida no que disse o cantor. Afinal, Candeias é uma partícula do Brasil.

A meu ver, a saúde no Brasil não era nenhum exemplo na década de 50. Isso porque a ciência era ainda muito atrasada, e o país bem mais pobre. Os hospitais raros, não existiam esses planos de saúde que existem hoje, não existia o INSS. Cada seguimento da sociedade tinha o seu instituto de pensão e aposentadoria. O comercio tinha o IAPC Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários. os motoristas era o IAPTC, Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Transportadores de Cargas. O IAPB, Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários. --- E assim por diante. --- Era uma desigualdade social, pois o IAPC, dos comerciários era muito grande e o atendimento era o maior  e precário. --- O dos bancários era considerado de ricos, tinha um atendimento superior. O governo da Revolução Militar unificou todos formando o INPS. Essa unificação naquele momento foi muito complicada, mas foi uma grande ação social, os direitos passaram a ser iguais sobre esses benefícios. Eles só existiam para quem fosse um empregado registrado. E as leis não cobravam tanto como se cobram hoje.

Os trabalhadores chegavam à velhice sem um pingo de proteção. Os seus dias pelas ruas pedindo esmola ou encostados na Vila Vicentina. Muitos morriam à mingua. --- A Vila Vicentina de Candeias poderia ser chamada da casa da miséria. Eu sei porque eu fazia parte da sociedade de São Vicente de Paula e frequentava lá junto com o meu avô e via de perto a miséria. A vila era sustentada apenas pela caridade pública. Hoje podemos dizer que aquilo lá é uma maravilha em vista do que foi.

O trabalhador rural trabalhava de sol a sol. Não tinha assistência médica. Não tinha aposentadoria, não tinha nada, até que surgiu o Funrural.

A assistência médica pública era apenas do Posto de saúde que aliás, tinha o nome de Posto de Higiene. Um posto precário que possuía pouquíssimos recursos  na distribuição de medicamentos e se limitava em lombrigueiros, comprimidos e pequenos curativos, apesar da atenção e da boa vontade do médico chefe, Dr. Zoroastro e os funcionários de então, Hamilton Marques, Zoroastro Filho, João de Sousa Filho, Juca Ricarte e Quintino. --- Nesse tempo não existia um dentista no posto.

A cidade possuía duas farmácias. A pequena farmácia São Geraldo, de propriedade do Sr. Chiquinho Fernandes, administrada pelo seu filho Zé da Farmácia e tinha como farmacêutico responsável o Sr. Darciro Corrêa; e a Farmácia São José do farmacêutico, Sr. Waldemar Lopes dos Santos

----  Atendiam efetivamente a saúde de Candeias, os médicos, Dr. Zoroastro Marques da Silva, este era uma prata da casa. Fundador de Candeias, formado no Rio de Janeiro, onde se casou com a professora Dona Stela Marques. O Dr. Zoroastro atendia em sua residência e no então Posto de Higiene onde era o chefe. O Dr. Zoroastro nunca teve um carro. Ele andava a pé pelas ruas portanto a sua pasta com instrumentos médicos. Não tinha pressa; parava para conversar com os seus amigos. Era um homem facilmente acessível e sem nenhum protocolo. Até as pessoas mais humildes aproximavam dele.

--- O Dr. Renato Vieira, natural do Triangulo Mineiro. Veio para Candeias trazido pelo casamento com a senhora Jandira, da família Furtado. Não tiveram filhos. --- Ele atendia no seu consultório, junto a sua residência. Teve grande participação na história de Candeias. Foi Vice Prefeito na Gestão do Sr. João Pinto de Miranda. --- Era comum ver o carro dele, um Dodge Verde e depois branco, transitando pelas ruas, indo visitar doentes. -Interessante lembrar que quando caia uma chuva, Dr. Renato saia com o seu carro, naturalmente para lhe dar  um banho de chuva... E as pessoas gostavam de comentar.

---- Outros médicos que passaram por Candeias em períodos alternados, e tiveram presentes em Candeias na década de 50: Dr. Wandick que veio do Rio de Janeiro, na década de 40, integrando uma força tarefa no combate ao surto violento da lepra que existia em Candeias. Casou-se com a candeense Tuitti de Paiva, filha do Sr. Américo de Paiva, -----  da família da professora Dona Elisa Paiva. --- Depois de vários anos residindo em Candeias retornou-se ao Rio de Janeiro na década de 50.

Dr. Pery Malheiros, veio com o mesmo grupo do Dr. Wandick. Casou-se, também, em Candeias com Dona Maria Diniz. Retornou à sua origem após a força tarefa, mas depois voltou e estabeleceu residência em Candeias, por alguns anos. Seu consultório era junto de sua residência, na Praça da Fraternidade onde hoje mora a Sra. Wilba. ---- Foi vereador, presidente da Câmara e teve também uma boa participação na história candeense. Depois de algum tempo retornou ao seu lugar de origem.

Dr. Willian Elias, filho do empresário da comunidade dos Vieiras, Sr. Carmo Elias, de origem árabe. Dr. Willian estabeleceu-se em Candeias por algum tempo e posteriormente se transferiu para Campo Belo no fim da década. O seu consultório ficava ali onde hoje é a Relojoaria do Alex. O Dr. Willian Elias, também era visto sempre rodando em seu carro, um Dodge cinza,  parado ou na porta de algum paciente. Aliás, quando os carros do Dr. Renato ou do Dr. Willian eram vistos estacionados à porta de alguém, as pessoas já comentavam... Ali tem alguém doente! Fulano deve estar passando mal.... Despertava a curiosidade.

Já no final da década de 50 estiveram por algum tempo o Dr. Daniel Barbato, casado com a Dra. Rosalba, neta do Sr. Celestino Bonaccorsi, também médica. Os dois atendiam no consultório na Av. 17 de Dezembro, onde posteriormente veio estabelecer o Pon’s Bar (fechado) -------- Dr. Daniel Barbato também não tinha carro, era visto para baixo e para cima com a sua pasta de médico. Ele e também a Dra. Rosalba, sua esposa. Dr. Daniel era um jovem médico comumente visto pelas ruas nas madrugadas atendendo doentes quando era chamado. Certa vez meu pai o chamou para a minha mãe em plena madrugada. Ele ficou em nossa casa até o amanhecer. Meu pai pensou que ele iria cobrar um preço alto, e no entanto acabou achando que ele cobrou barato. --- Achar que um médico cobrou barato numa visita dessas, só mesmo na década de 50.----Todos esses médicos foram brilhantes em Candeias. Parece que naquele tempo os médicos eram mais dedicados e não se preocupavam muito com dinheiro. Era comum visitarem os doentes em suas casas. O preço de uma consulta era acessível.

Na década de 50 um médico à noite em Candeias não era difícil. Hoje, talvez, mesmo com o hospital não seja tão fácil. Os médicos iam às casas e não precisava estar morrendo para serem chamados. Era comum o atendimento em casa. E nem sempre essas visitas tinham o preço acrescido. Ou então atendiam em seus consultórios a qualquer hora da noite. ---- Eu aos 2 anos de idade fui salvo pelo Dr. Wandick, pois fui acometido por um crupe e fui atendido de madrugada. Ele salvou, também a minha irmã Diana, recém nascida e tomada por um andaço de coqueluche. Minha mãe chegou a entende-la morta, pois ela era recém-nascida

Nesse tempo Candeias, tal qual a grande parte do Brasil, tinha poucos recursos. O dinheiro era mais difícil e a ciência era ainda muito atrasada. Comparando-se com os dias atuais a coisa era feia. Barriga d’água; papo, mulheres morriam  de parto; as gripes pareciam mais fortes; câncer confundido com ulcera estomacal etc. Os andaços um em cima do outro: Catapora, sarampo, varicela, coqueluche, crupe, cachumba. Isso sem falar nas pandemias, que não tinham os recursos hospitalares que existem hoje. Não tinha vacinas. Era comum caso de tuberculose nesse tempo. Em 1957 houve uma pandemia da Gripe Asiática e Candeias não ficou livre de algumas mortes e nem do terror pandêmico. E a vacina veio sair muitos anos depois.

Em termos de atendimento médico concluo que o cantor Ney Matogrosso tem alguma razão. A saúde no Brasil está uma indecência. A indústria farmacêutica está arrancando o couro do povo e naquele tempo não explorava tanto. A grande parte dos medicamentos era manipulada nas farmácias e os preços eram muito mais baixos.   O custo de uma consulta naquele tempo não se compara jamais com os preços de hoje. O que se paga por uma consulta atualmente chega a ser desumano. Afinal, nem todo médico gasta para se formar. Formam-se em faculdades públicas e não dão nenhum retorno a sociedade que lhe custeou o curso. Eu digo isso porque era comum a gente via os médicos visitando doentes nas suas residência e não eram clientes ricos. Ser médico hoje é sinônimo de riqueza. Um diploma de médico pode ser visto como um bilhete premiado. Naquele tempo eram raríssimas as pessoas aposentadas; e poucos tinham uma renda fixa e o atendimento era bom. Parecia que os médicos eram mais humildes e tinham mais amor na sua profissão, menos ambição pelo dinheiro e levavam mais a sério o juramento de Hipócrates.

 Armando Melo de Castro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

AOS MEUS AMIGOS ANA ZÉLIA E CACÁ.

A dor da morte de um cônjuge dá ao que permanece vivo, o nome de viúvo. A morte de um pai ou da mãe, dá ao filho o nome de órfão, mas a dor de um pai ou mãe que perde um filho? Para essa dor não existe nome. É uma dor sem nome. O sofrimento dos pais que perde um filho é imensurável em comparação a qualquer outra pessoa da família, que vem a ser levada pela morte. É dolorosa demais a morte de um filho seja criança, adolescente ou adulto.

--- E o pior é quando existem atenuantes que levam os pais ao sentimento de culpa, se em vida pais e filho não tinham boa convivência; eles podem vir a se sentirem um tanto culpados. Se o relacionamento era bom a dor será jamais aliviada por isso, pode até ser acrescida. A perda de um filho, às vezes, pode até causar o desequilíbrio de um casal dada, talvez, circunstâncias que podem ser ajuntadas. E assim ocorre essa dor intensa; essa dor cruel e sem nome. É preciso muita fé em Deus. No entanto, num momento desses, há quem possa, até fragilizar a sua fé por falta de entendimento com o fato de estar passando por um sofrimento tão intenso.

Ontem, ao navegar pela internet deparei-me com uma notícia que me deixou deveras abalado. A morte do Italo Freire, o filho do casal, meus grandes amigos conterrâneos. Ana Zélia e Antônio ítalo Freire, o Cacá do gás, e para mim, ainda o caveirinha do nosso tempo do Grupo Escolar Padre Américo.

Eu quero aqui enviar o meu abraço e a minha mensagem a esse casal tão querido por mim e por seus amigos:

Eu imagino Ana Zélia o quando você está sofrendo... Eu sei Cacá o que é perder um filho. E posso garantir que somente quem já perdeu um filho sabe avaliar a intensidade dessa dor. --- Minha filha Regina de 30 anos voltou para Deus levada por uma morte cruel e sofrida. Eu sofri muito e posso dizer que ainda sofro. Contudo, hoje, felizmente entendo que ela foi apenas devolvida para Deus, mas continua presente comigo. É como dizia Guimarães Rosa, ela se encantou para viver no meu coração. Mas essa mãozinha só o tempo poderá lhes dar.

Essa dor que vocês experimentam meus bons amigos, não se compara com nenhuma dor. Para cada pai, para cada mãe a sua será sempre a maior. Chegamos a pensar tão fundo que podemos até pensar tratar-se de um castigo de Deus. Mas não. Deus não castiga ninguém.

Enquanto julgarmos que perdemos o filho o sofrimento é maior. E só poderá amenizar quando entendemos que o filho apenas voltou para Deus. A grande verdade é que um filho não morre enquanto ele possa permanecer em nossa lembrança. --- Há 14 anos eu convivo com a ausência de minha filha levada por Deus. Mas aprendi a conviver com a sua ausência física, sempre presente com ela espiritualmente. Porque ela nunca se foi do meu coração.

Portanto, meus caros amigos. Busque em Deus o conforto que poderá lhes advir. Nenhum outro lenitivo vai lhes amenizar essa dor incomparável.

Armando Melo Castro.

Candeias MG Casos e Acasos.

EMULAÇÃO POETICA.


 

Bom dia meu sol!

Aqui estou de novo para cumprir a missão

desta triste pandemia que sem piedade

veio para me assustar.

No entanto, sem maldizer o destino,

prefiro sentir saudade da aurora da minha vida,

assim como sentiu Casimiro de Abreu

Assim como também sinto a falta

do meu torrão natal, da minha Candeias querida,

 que os anos não trazem mais,

relembrando Gonçalves Dias poder pensar

nas palmeiras onde cantava o sabiá

e hoje não canta mais... 

Saudade do meu rincão sem par,

fonte de exemplos cristalinos

onde este pobre encontrava o seu lar.

Ah! Neguita Alvarenga, como é belo,

esse seu hino...


Agora, neste contexto isolamento pandêmico

ainda posso reservar o direito de sentir saudade;

esse sentimento nostálgico!

Que invade o meu presente

comandando um futuro incerto

propiciando um passado

que não deixará saudade.

-------------- Por favor Drumond!

Tire essas pedras do meio do caminho!

Armando Melo de Castro.

 

domingo, 18 de julho de 2021

LEMBRANDO OS MOTORISTAS CANDEENSES.


 A indústria automobilística no Brasil chegou com o advento do governo de Juscelino Kubitschek no final da década de 50. Juscelino que teria prometido ao povo Brasileiro fazer do Brasil cinquenta anos em cinco de progresso, trouxe a indústria automobilística para o país quando foram fabricados os primeiros veículos. Até então, o Brasil só tinha montagens de carros estrangeiros. Em 1959 chegou a Candeias o primeiro caminhão chevrolet-Brasil, de propriedade do Waldir do Zé Alves. E logo apareceu o primeiro fusca de propriedade do Zé Pulhes.

Os proprietários de automóveis em Candeias na década de 50 eram poucos e todos importados, e se limitavam à família Furtado, Nestor Lamounier, Dr. Renato Vieira, João Bernardo; José Pinto de Resende, João Pinto de Miranda, Monsenhor Castro, Ângelo Afonso. --- Algumas poucas caminhonetes dos fazendeiros mais abastados, como João Pinto, Mariano Bernardo e família Carrilho. E um único carro de praça pertencente ao Sr. Edson Cordeiro. Um Ford 1946. Os demais que existiam afora esses citados, eram os chamados ximbicas que viviam mais na oficina mecânica do Nestor Lamounier.

A década de 60 chegava para balançar o mundo. E Candeias não poderia ficar indiferente. Foi quando começou uma grande revolução comportamental como a onda do feminismo e os movimentos de defesa dos negros e dos homossexuais. O Papa João XXIII deu uma remexida forte na Igreja Católica, o movimento hippies protestando; a revolução musical; o começo da anarquia em Cuba o que levou Fidel Castro ao poder. Enfim o espaço aqui é curto para falar da mudança que o mundo teve a partir da década de 60. Portanto, vamos limitar a falar da época antes de antevir a década de 60.

O Brasil experimentava a revolução industrial muito bem orientada pelo governo Juscelino Kubitschek, já iniciado com a Construção de Brasília. A impressão que se tinha antes de Brasília, seria de que o Brasil era Rio e São Paulo. O Nordeste dava a entender que estaria do outro lado do mundo. Goiás era sertão. Aliás, em Candeias, por exemplo, chamava Bambuí de sertão. Qualquer coisa que vinha de Bambuí para baixo, era produto do sertão, queijo, farinha de mandioca, feijão roxinho... eram produtos do sertão.

O termo “caminhoneiro” era simplesmente motorista de caminhão. E os motoristas que viajavam para outras cidades eram chamados de Chofer de Estrada. Eram poucos os caminhões em Candeias na década de 50. Posso até citar todos aqui e seus respectivos proprietários e motoristas.

--- Sebastião Redondo, tinha um chevrolet 1940 o qual ele usava para transportar tijolos de sua olaria. Ele o motorista.

---Chico de Assis tinha um Ford 1942 com o qualfazia pequenos transportes dentro da cidade. Motorista era ele mesmo.

---João Sidney de Sousa tinha um chevrolet 1946 que era usado para transporte de dormentes para a RMV. (Rede mineira de viação) o motorista era o meu amigo, o meu grande amigo Henrique Pinheiro.

---Celestino Bonaccorsi tinha um chevrolet 1946 para fazer os transportes de seu grupo empresarial. O motorista era o Sr. Geraldo do Emídio.

---Sebastião Freire tinha um Ford 1946 para carretos dentro da cidade. Motorista era o Nenê seu filho.

---João do Artur tinha um chevrolet 1949 para carretos em geral, motorista era ele.

---César Paixão, tinha um Internationale 1950 leiteiro de Candeias a Campo Belo.

---Joãozinho da Fazenda, tinha um Ford 1960 para os seus transportes rurais.

---Prefeitura, tinha um chevrolet 51 e o motorista era o Zé Cacheiro.

---Américo Bonaccorsi tinha um GMC, para transportar galinhas para o Rio de Janeiro. O motorista era o Vandinho seu filho.

---Zico do Carrinho, tinha um chevrolet 51 com o qual era para transporte de leite para Campo Belo. Ainda não existia a CACISA.

---Zé Maria, tinha um chevrolet 51 com o qual ele

atendia os carretos dentro da cidade e nas roças.

--- Barroso tinha uma caminhonete Ford com o qual ele fazia transporte de Creme das roças para o seu depósito num açougue onde está localizada Instituto Simetria.

Até então não existiam caminhões fabricados no Brasil. A partir de 1960 já começaram a aparecer os caminhões, outros automóveis. Com o advento da fábrica de laticínios CACISA, vinda de Cristais, do Sr. Calimério Alves Costa, os transportes de leite cresceram e surgiram outros caminhões para atender a demanda.

Não existiam nesse tempo grandes transportes rodoviários em Candeias. A maior parte dos produtos era transportada através da ferrovia. Os carroceiros e faziam ponto na estação, porque quando as mercadorias chegavam, eles já as levavam para os seus destinatários. Lembrando alguns deles: Serafim, Arlindo Barrilinho, Juca Cordeiro, Nego da Zenóbia, João Branco e outros mais.

Nesta oportunidade eu quero lembrar aqui um grande amigo meu, o motorista Renato do Zico do Carrinho, que era o motorista do seu pai. Começou a dirigir o caminhão ainda garoto. Ele tinha como ajudantes o seu irmão Zé do Zico, casado com a Dalva do Cassinho. e o Geraldo que tinha o apelido de Cigano.

 Armando Melo de Castro

 

CANDEIAS, E UMA SAUDADE.


Nesta época os dias são tão pequenos. Seis horas da tarde estamos no escuro. Agora, no principio do mês de julho, quando deixamos mais um junho para trás. O mês das festas juninas, dos grandes eventos, com as exposições agropecuárias estão a todo vapor, prometendo shows com artistas famosos e outras coisas mais. Completamos, portanto dois “junhos” sem festa junina, sem exposição. iSSO QUER DIZER Isso quer dizer que estamos mais pobres. Pobreza não é simplesmente a falta de dinheiro. Pobreza é falta de lazer, falta de falta de liberdade. Mas numa pandemia, quando ficamos reféns de um vírus, que não sabemos quando nos livraremos dele, isso é um sinônimo de uma grande pobreza em todos os sentidos.

 A infância é um trecho da viagem cuja estrada não há buracos e nem tropeços. Ela é alegria e sem dramas. Mas se pinta uma pandemia, consequentemente esta contamina a infância. --- A inocência e isenção de maldade é um lugar de onde viemos e que não voltamos jamais. É algo que fica guardado dentro de nós como um livro de história gostoso de ler. No entanto as crianças estão guardando para o resto da vida, nos armários de suas memórias, esse tempo que será lembrado assim com muita tristeza, pela perda de de mãe, pai, avós, irmãos etc.

O tempo passa e por vezes nos perdemos nessas encruzilhadas da vida. O presente, o futuro e o passado. Aí dá vontade de voltar... Mas como não tem volta ficamos na busca, como se procurássemos aquilo que não perdemos.Hoje me despertei ainda com o escuro. Como disse, os dias são pequenos nessa época do ano . Parece até que o dia voa. E que esse tempo de pandemia está correndo mais. Acordar com o escuro inspira-me ficar pensando. Isso me faz lembrar o meu amigo Zé Mori, porteiro da Escola Presidente Kenedy, quando ele dizia que colocava uma garrafa de café na cabeceira da cama, acordava as 4,30 horas da manhã, tomava um gole de café acendia um cigarro e ficava ali pensando, afinal levantar-se para fazer o quê?. Do jeito que o Zé Mori contava dava vontade de acordar as 4,30 e imita-lo 

Hoje aconteceu isso comigo, só que eu não tinha café e nem cigarros, porque fumei durante 40 anos mas felizmente deixei o vício há mais de 20. E se eu tenho um conselho para quem fuma, é deixar disso. A saúde melhora muito para quem deixa de fumar.

Mas numa emulação ao meu antigo amigo Zé Mori, eu resolvi acordar, fui até a cozinha e tomei um gole de café frio e amanhecido, voltei para a cama e fiquei pensando. E pensando resolvi dar uma voltinha na minha terrinha, na minha Candeias querida. E o frio estava tão bravo que resolvi ir passear na década de 50, lá em Candeias na praça defronte a Igreja do Senhor Bom Jesus

Ali todo mês de junho aconteciam as comemorações de São João. --- E sempre quem organizava era o Lico do Matadouro, para outros o Lico da Sinhana. Alguém trazia um bom tanto de lenha num caminhão, e lico fazia a grande fogueira. Bem alta com toras de paus que dariam para queimar até o dia posterior. A fogueira ainda fomegava no outro dia. ---- No centro dessa fogueira eram colocados gomos de bambus cheios de água e lacrados. E aquilo dava cada estouro muito violento.

Às vezes aparecia por ali uma dupla de cantores sertanejos que ficavam de fora de uma barraca montada próxima ao chafariz, existente ali até hoje, claro, inoperante. ---- A barraca preparava um quentão distribuído gratuitamente para os adultos, um quentãozinho, sem pinga para os meninos não aguar como diziam

Eu tinha a impressão que a nação candeense parava ali naquele local para esta festa. Naquele tempo as pessoas se locomoviam muito pouco, principalmente as mulheres donas de casa. Se viam nas missas às vezes, mas nem sempre. E também não podiam conversar se viam nas igrejas ou na semana santa, mas nem sempre paravam para bater um papo. Mas nas comemorações juninas, era um verdadeiro encontro de amigos do alto do cruzeiro, da laje ou da região da ponte. Eram os três pontos fortes da nossa cidade.

Quem preparava a fogueira e o pau de cebo era o Lico do Matadouro. O pau de cebo consistia numa longa vara de eucalipto, previamente preparada pelo Lico. Ela não era seca e nem verde. Dias antes, a gente passava por ali e estava o lico uma hora descascando-a outra ora já lixando-a. Essa vara era fincada à alguns metros da fogueira. E na sua ponta havia um envelope com a maior cédula do momento. Hoje seria uma cédula de $100,00 reais. E a meninada ficava muito doida para ganhar esse dinheiro, que naturalmente seria um bom dinheiro.

Mas só que o pau era lubrificado com cebo ou óleo queimado. E os meninos se vestiam das suas roupas velhas, que naturalmente ficariam perdidas, para concorrer ao evento. Os mais espertos subiram mais, e logo derrapavam indo parar até o pé do pau. Eles faziam escada. Um subia no ombro do outro, E à medida que fosse limpando o cebo eles iam atingindo o topo . E no final, aquele que pegava o envelope saia correndo e a turma atrás dele querendo parte do dinheiro. ---- Lembro-me de um vencedor --- meu conterrâneo, contemporâneo, e condiscípulo no Grupo Escolar Padre Américo. “O MOSQUITO” (Antônio Canarinho) Eu nunca participei desses eventos. Afinal eu era um menino bobo, e gostava só de olhar e torce

Naquela mesma noite havia outros bailes na cidade. Na antiga fábrica de Farinha do Sebastião da Pecidonha, na esquina de frente o Posto do Itamar. O pagode era animado pelo Sebastião com um tambor e a sua filha Toninha, casada com o Paulo Gomide, cantando e tocando o acordeom. Ali se misturavam músicas de São João, carnaval, sertanejo, boleros e muita pinga. O local tomou o apelido de “Caldeirão do Diabo”.

Na máquina de Café do Emídio Alves, era o pagode do Chiquinho Ferreira, irmão do Alvino Ferreira, animado pelo seu genro Amarlene, um sanfoneiro de primeira e ele num tambor e a sua filha cantando. O repertório era sempre o mesmo, músicas sertanejas, boleros, carnaval, São João. Nos bailes de carnaval, quando o salão ficava meio fraco, Chiquinho dizia para a sua filha, Solta a jardineira minha filha (Música de carnaval) Aí a coisa fervia.

No Clube Recreativo Candeense durante todo o mês havia quadrilha todas as noites, animadas pelos Srs. Geraldo Vilela e Alvino Ferreira.

Quando faltava luz na cidade por problemas técnicos na usina hidroelétrica do Sr. Bonaccorsi, o povo ia para as portas das ruas e os vizinhos interagiam-se nos mais diversos assuntos.

A cidade não era tão deserta como nos dias atuais. O povo saia mais; convivia mais; visitava mais, e era mais solidário porque não existia a televisão. Infelizmente as novelas prendem as pessoas em silêncio a conviver com os dramas criados na cabeça de uma só pessoa, que seja o autor de uma novela nem sempre benéfica.

Eu gosto do mundo de hoje. Sem dúvida temos mais conforto, temos mais dinheiro, temos mais recursos. Mas eu sinto que o povo antigo, era mais tranquilo, era mais amigo, era mais sincero. Desculpe-me meus amigos. Eu falo por mim. Posso estar enganado. Afinal sou de gerações ultrapassadas.

Armando Melo de Castr

Foto Clara Borges.