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segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

ONOFRE LACERDA.

Meus amigos:

Na década de 50, ainda no tempo do velho Círculo Operário São José, ou seja, antes do cinema novo de propriedade do Monsenhor Castro, motivo de assunto da nossa ultima postagem, o velho cinema era um convenio da Associação do Círculo Operário com Cine Teatro Sidney de Campo Belo. O filme passava em Campo Belo e depois seguia para Candeias. E o gerente desse antigo cinema de Candeias era o Sr. Onofre Lacerda, uma pessoa que marcou presença em Candeias. Muito comunicativo e deixou grandes amizades entre o povo candeense. Gosto de me lembrar do Onofre porque ele andava pelas ruas e sabia os gostos das pessoas pelo tema dos filmes. Meu pai, Zé Delminda, era muito amigo dele e quando era visto de longe pelo Onofre às vezes do outro lado da rua, como na Avenida 17 de Dezembro, Onofre bracejava dando murros no ar, informando que o filme daquele dia seria faroeste. Se fosse um filme policial ele imitava o saque de uma arma. E se fosse um filme de amor imitava um beijo. Enfim, para cada filme ele tinha um jeito de mostrar de longe o tema da fita.

Onofre Lacerda merece ser lembrado pelos candeenses porque participou da história de candeias. Gostava muito de futebol, e abaixo estaremos mostrando um texto escrito sobre Candeias, pelo seu filho João Luiz Lacerda, para o seu Blog Lembramento JL Lacerda onde ele nos premia com uma foto histórica de nossos atletas e um texto muito carinhoso quando comenta sobre a sua época em Candeias, o que eu confiro, como minha época também. ---- João reside na cidade de  Alfenas,  e na foto do time mostrada está o seu pai Onofre, quando participou no Campo da Associação Esportiva Candeense. --- Ao nosso amigo João Luiz Lacerda, queremos dizer das boas lembranças que temos de seu pai, parabeniza-lo e agradecê-lo pelo carinho que tem pela nossa terra onde passou boa parte de sua infância.

 NB) A foto não trás os nomes dos integrantes. Eu consegui identificar os seguintes: Da esquerda para a direita de pé: -----

Hamilton Marques, (???) Ari Ferreira, Dezinho do Josias, Onofre Lacerda, (???) Tãozinho do Chico Freire, Vadinho da Sota, A moça tudo indica ser uma das filhas do Sr. Inácio Pacheco. E os cartolas Alvim Ferreira e Chico Teixeira Neto.

Os meninos agachados: Eu só consegui identificar o Alceu Pacheco. Seria bom se alguém conseguisse identificar esses nomes que se encontram em (???) e os meninos.

Grande abraço João Luiz Lacerda

Armando.

Comentário em nosso Blog Candeias MG Casos e Acasos do amigo João Luiz Lacerda.

Alfenas MG --- Armando, Sou de Campo Belo e hoje resido em Alfenas. Morei em Candeias de 1951 a 1956. Uma infância deliciosa: sem carros propriamente, futebol na rua, de chuteira na Associação Esportiva Candeense (camisa verde preto). Meu pai, Onofre Lacerda, era gerente do cinema - Cine Círculo Operário São José - do Padre, depois monsenhor Joaquim. Lembro-me do Sr. Quintino (pai da Vanda, PTB e ardoroso fã do Jango). Do velho Bonacorsi com o cigarro dependurado ao lado da boca na Casa Bonacorsi. Do sr. Gabriel que gostava de teatro. E alguns nomes que sempre rodam na minha lembrança. Tenho uma irmã que nasceu em Candeias, em 1951.

No meu blog www.lembramentojllacerda.wordpress.com publiquei filmagem que fiz de Candeias em 1983. E também uma foto do time (aspirante, claro) que meu pai treinou na AEC. Um abraço, (João Luiz Lacerda) –

Abaixo o texto de João Luiz Lacerda

A foto diz que… todos estão sérios, momento solene do registro para a posteridade. Vê-se que é um modesto time de futebol, campo de terra e, ao longe, a vegetação invade o céu. Então, no silêncio misterioso da fotografia, pequena e quase inaudível voz vagueia e diz que… de um lado do campo, o barranco. Do outro, barreira de bambus protegia um pequeno curso d’água. Era o campo da Associação Esportiva Candeense (AEC) nas cores verde e preto, cá embaixo, de difícil descida da praça, sofrida e cansativa subida de retorno. Semelhante, e menos árduo, tomar rumo para fora da cidade em direção da estrada de terra para Campo Belo e Formiga para adentrar o campo do Clube Atlético Candeense (CAC) com sua camisa azul-amarela. Ah, sim, ainda ouço o matraquear de catracas em volta da igreja nos dias silenciosos e fúnebres da semana santa, medrosos e temerosos durante a quaresma. Bem-vindo o fim religioso com a alegria e a cantoria de um grito de carnaval no clube social. Ali, naquela igreja, a correria da meninada no domingo do catecismo para o cine Círculo Operário São José, do padre/monsenhor Joaquim. Igreja renasceu daquela que foi para o chão. O cinema despedaçou-se para um novo e repousa no esquecimento. A praça então era imensa, de terra, a água da chuva a encharcar de barro pés, descalços ou não, que se atrevessem. O dedo da voz, baixinha, faz desenho no tampo da mesa e aponta indefinido e imaginário, a oficina e posto de gasolina para minguados carros. Aqui, o bar do Afonso, onde a jardineira apanhava viajantes e as malas eram colocadas em cima dela. Ao lado, a casa dos Bonacorsi e, do outro lado da praça, a casa Bonacorsi, do velho Bonacorsi, com suspensórios a manter pregado o constante cigarro no lábio inferior. Mais à frente, na esquina, o Clube Social a enviar noites de danças, bebidas e alegria para a outra igreja ao lado, sempre fechada. Para lá, em direção do campo do Clube Atlético, no meio da subida, uma pequena igreja, velha, misteriosa, parecia abandonada. Conheceu o sr. Quintino, orgulhoso compadre do Jango Goulart e ferrenho político do PTB? E o Antônio, quase vizinho dele, que montava presépio mecânico ma-ra-vi-lho-so! Tinha o dr. Zoroastro, e também o dr. Vandick Del Fávero que foi pro Rio com despedida emocionada e concorrida. Bem perto, com pés na estrada, a fazenda do João Marques, de pescaria, cachaça, garapa e rapadura. Houve sonho para uma praça de esporte, a cidade merecia. Também uma rádio, a tocar música com alguns discos pretos e pesados, que ocuparam por poucos dias os ouvintes. Foi fechada, claro, clandestina, né? Todos estão sérios na foto como sempre acontecia antigamente, os retratados não sabiam como sorrir para o retratista. Mas… veja, a moça segura um ramalhete, está sorrindo e não olha para a máquina, para quem será o olhar dela? Só tem essa foto? Que pena!

NB) O bar do Afonso, citado, trata-se do Bar Piloto, então do Sr. Afonso Ferreira de Oliveira

Texto de João Luiz Lacerda

Postagem, Armando Melo de Castro

domingo, 13 de dezembro de 2020

AS MÁSCARAS DA IMORALIDADE


                                                                             IDI AMIM DADA.

No decorrer de minha vida, as gerações pelas quais passei, fez me defrontar com tantas incoerências humanas. Tantos desajustes e tantos desencontros que me buscam a entender o quanto a vida se transforma, e o quanto o ser humano vive distante de Deus. Mas tenho visto que as gerações que outrora eram contadas aos 25 anos, hoje não passam de 10. Não é difícil observar o quanto as nossas vidas já se modificaram nos 10 últimos anos. O ser humano já não é o mesmo. Ser bom hoje em dia, já não é um dever é uma virtude.

Navegando no lago de minha memória, por exemplo,  lembro-me do polêmico, general Ugandense, Idi Amin Dada, presidente do pequeno país de Uganda, de 1971 a 1979, que foi considerado um dos mais brutos e déspotas da história. Esse excêntrico ditador africano chegou a ser considerado o terror de Uganda pelos seus crimes e aberrações.

Decretou a proibição do uso de cosméticos pelas mulheres de seu país, inclusive cremes, loções, de beleza ou bronzeadores. Ele alegava que  os produtos de beleza tirava a beleza natural das mulheres ugandenses e poderia fazer com que elas perdessem o seu prestígio. Idi Amin achava que a maquiagem rouba a beleza natural das mulheres, pois seria uma parceira da máscara, pois elas escondem o verdadeiro rosto de alguém.

-- Não bastassem as atitudes cômicas do ditador ugandense, como comprar na Inglaterra, as  medalhas com as quais auto o homenageava; o seu governo ficou marcado por violações dos direitos humanos; perseguição de todas as formas; nepotismo e assassinatos.

Idi Amin Dada foi responsabilizado por observadores internacionais e grupos de direitos humanos como responsável por mais de cem mil mortes.

E eu pergunto aos meus amigos: Qual a diferença entre um presidente de Uganda e um ex presidente brasileiro quando ambos apesar de armas diferentes mataram. Isso porque quem rouba o dinheiro público está matando também. E a corrupção é uma arma sanguinária.

Enfim eu pergunto, também, a Deus: Meu pai Celestial, que mundo é este no qual estou meu Pai? Por que  o povo não cumpre os Dez mandamentos de Sua lei? Ajude-nos Pai! Livre-nos dessas máscaras não de cosméticos, da imoralidade que tomou conta do nosso país, quando um ladrão sacramentado, julgado, condenado e preso, consegue se soltar e sair dizendo que é honesto e usando a sua voz pastosa para julgar alguém que acredita em Deus e demonstra virtudes.

Armando Melo de Castro.






quarta-feira, 2 de dezembro de 2020


                                                            Antiga Casa Celestino Bonaccorsi

A FAMÍLIA BONACCORSI EM CANDEIAS.

Prezados amigos:

Cada povo constrói a sua história extraída de sua memória. Portanto, um povo sem memória é um povo sem história, assim diz o filósofo. E um povo sem história, naturalmente irá repetir os erros do passado. ---- A história de Candeias tem dois tempos importantes: antes e depois  dos Bonaccorsi.  E isso é de todo patente que as novas gerações não poderão estar alheias a essa história. Eu suponho que os jovens de hoje ao passarem frente ao prédio onde durante anos foi instalada a CASA CELESTINO BONACCORSI e ver esse nome cravado na parede poderá sentir o desejo de saber quem foi Celestino Bonaccorsi, ou então quem foi a família Bonaccorsi. ------------------------ À vista disso, eu pedi ao nosso querido amigo Armando Bonaccorsi, remanescente da “velha guarda” da família Bonaccorsi e que escreveu um livro sobre essa importante família para Candeias, o qual preparou esse resumo para conhecimento das pessoas interessadas e registro na história de Candeias.

Armando Melo de Castro.

Por Armando Bonaccorsi:             

O ramo da família Bonaccorsi que veio para Minas Gerais, tem origem na Comune di Barga, região Toscana da Itália. Dos nove filhos de Pietro Rocco Bonaccorsi e Maria Lucia Notini, cinco viveram na vila de São Francisco de Oliveira, então distrito desta cidade; Candeias e Timboré, vilarejo situado no município de Formiga. Todos retornaram definitivamente para a Itália. Um deles ficou no fundo do mar!

Pietro Bonaccorsi possuía um sítio em Latriani, muito próximo a Barga. Seus filhos eram nove: padre Rocco, Giovanni Pietro (faleceu ainda criança), Iacopo Bernardino, Luigi, Clementina, Seraphino, Celestino, Eletta e Pietro. Os nomes dos que viveram no Brasil foram aportuguesados e Iacoppo Bernardino passou a ser chamado de Bernadino, Luigi de Luiz, Seraphino de Serafim e Pietro de Pedro.

Das duas irmãs, Clementina era a mãe de Pietro Nardi, que ficou conhecido como Pedrinho Bonaccorsi, pois desde que chegou a Candeias nos primeiros dias de janeiro de 1930, trabalhou no comércio com o tio na Casa Celestino Bonaccorsi até o encerramento da firma. Eletta, casou com Antônio Pieroni em 1910 e foram para os Estados Unidos da América, onde deixaram muitos descendentes. O padre Rocchino e as irmãs não vieram ao Brasil.

Bernardino foi o pioneiro da família a vir para Minas Gerais; desembarcou no porto do Rio de Janeiro no dia 28/06/1890. Chegou sozinho aos 21 anos de idade, mas aguardava-o no porto o tio Antônio Notini, que o havia chamado para trabalhar com ele. Assim, ajudava também a irmã e o cunhado na Itália, ainda se recuperando política e economicamente de tempos difíceis que o povo italiano passava. Dois dias depois rumaram para a vila de Carmo da Mata, distrito de Oliveira/MG.

Antônio Notini era comerciante em Fornaci di Barga e proprietário de terras rurais, onde cultivava cereais, oliveiras e uvas; extraía azeite e fazia vinho para vender. Mas a Itália estava muito confusa, com a economia estraçalhada devido à guerra de sua unificação, quando resolveu vender seu comércio e mudar para o Brasil. Encheu vários baús com diversas mercadorias de sua loja, especialmente tecidos, e embarcou em Gênova rumo ao Rio de Janeiro no ano de 1869. Nesta cidade encontrou dificuldades para se estabelecer, por isso resolveu adentrar os sertões de Minas Gerais com mercadorias transportadas em vários burros para vender por onde passasse; deu certo e tornou-se mascate pelas estradas, arraiais e cidades. Retornava à capital para repor o estoque para novas jornadas, até se estabelecer com uma ‘venda’em Claudio/MG. Voltou a Fornaci di Barga para se casar com Diamante Vitoi e já com duas filhas mudaram para Carmo da Mata. A família cresceu com dez filhos. Os Notini proSperaram e foram os maiores comerciantes do local e proprietários vários negócios e terras rurais. Os filhos diversificaram suas atividades e tornaram-se industriais, mudando e estabelecendo-se em Divinópolis/MG. e Petrópolis/RJ.

Dos irmãos Bonaccorsi que vieram para o Brasil,  Bernardino foi o pioneiro a migrar para o Brasil. Com a família Notini residiu e trabalhou cerca de quatro anos; aprendeu com as primas a falar e escrever em português; com o tio e primos os ofícios do comércio. Preparado e ajudado por Antônio Notini, este o encaminhou à vizinha vila de São Francisco de Oliveira em 1894; com seu aval alugou uma ‘venda’ no Largo do Rosário, situada a uns 150 metros abaixo da única capela da localidade.

No ano seguinte, chegaram a São Francisco os irmãos Luiz e Serafim, constituindo-se a sociedade Bernardino Bonaccorsi & Irmãos. Em agosto de 1896 chegou o quarto irmão, Celestino, com 15 anos de idade. Seguindo a tradição italiana, o irmão mais velho era o cabeça ou chefe, expressada como “il capo” e Bernardino tornou-se o líder nos negócios.

Todos os irmãos e alguns sobrinhos residiram em São Francisco e na mesma casa, estabelecidos com comércio e presencialmente, de 1894 até 1937, cinco anos depois que os irmãos Luiz e Serafim regressaram definitivamente para a Itália.

Os negócios dos irmãos cresceram de maneira extraordinária, pois, em 1898, compraram o imóvel alugado e situado no centro da vila; era um casarão integrado pela área residencial e comercial. Também compraram um terreno vago numa rua abaixo com 7.800 m². de área, que se destinava a pasto para os cavalos dos fregueses; era o estacionamento daquela época! Passaram a ser os principais comerciantes da localidade e recolhiam os maiores impostos junto à Prefeitura de Oliveira. Abriram uma filial no povoado de Vieiras Bravos e tiveram uma destilaria de cachaça.

Trabalharam com muito empenho e privações. Saiam com tropas de burro para vender variadas mercadorias de porta em porta pelos sertões, fazendas e arraiais vizinhos. Levavam mantimentos para cozinhar e muitas noites dormiram debaixo de árvores e em paióis de fazendas. Ao regressar à vila, traziam produtos rurais que pudessem dispor para vender aos seus fregueses.

Nas “vendas’ de antigamente havia de tudo: variados gêneros alimentícios, carne de porco e banha; tecidos e aviamentos; bijuterias e cheiros; calçados; ferragens; ferramentas; arame farpado; sal; querosene; cimento...etc. 

Com a finalidade de expansão, Bernardino foi para Candeias e estabeleceu seu comércio no Largo da Matriz em 1897, cuja firma foi denominada Bernardino Bonaccorsi & Cia. No ano seguinte comprou o imóvel de Cassiano Maximo da Cunha, pai do João Cassiano, fabricante da famosa cachaça local; sendo: “um prédio para residência e comércio”. Hoje é a Av. 17 de Dezembro, onde funcionou a Casa Celestino Bonaccorsi. A área de terreno tinha mais de 6.000 m². e se estendia até a antiga Rua dos Fernandes, também denominada Rua dos Capãos; é a atual Rua Pedro Vieira de Azevedo.

Dez anos após a chegada ao Brasil, Bernardino voltou à Itália pela primeira e última vez no início de junho de 1900, junto com o irmão Luiz para se casarem. Os dois irmãos casaram com duas irmãs, Luiz com Armida em outubro e Bernardino com Guilhermina em dezembro. Embarcaram em Gênova para retornarem em 15 de janeiro de 1901, acompanhados das esposas e do irmão caçula Pietro, então com 11 anos de idade. Após alguns dias de navegação, Bernardino foi acometido de grave infecção que o levou à morte no dia 28/01/1901, (naquela época não existia antibiótico). Seu corpo foi lançado ao fundo do mar, 59 dias após seu casamento. Guilhermina não se sentia bem, com enjoos constantes que atribuía ao balançar do navio. Entretanto, dias depois se revelou a gravidez do primeiro filho.

O destino do casal era Candeias, mas devido ao inesperado e trágico falecimento do marido, Guilhermina acompanhou sua irmã Armida com os cunhados para São Francisco de Paula, onde ficou morando. Nesta vila, Celestino ficou cuidando dos negócios durante as ausências dos sócios em viagem à Itália, e Serafim em Candeias.

Com o falecimento do irmão, Luiz tornou-se o ‘il capo’, assumindo a direção dos negócios e alterou as denominações das sociedades para Luiz Bonaccorsi & Irmãos.

Luiz e Armida tiveram quatro filhos nascidos e batizados em São Francisco de Paula: José, Américo, Alberto e Mario. O casal foi várias vezes  a Fornaci di Barga,  onde a esposa permanecia longos períodos e lá nasceram os demais filhos; Alvarina, Itálo e Mara. As duas filhas só vieram para o Brasil depois de casadas; a primeira casou com o primo Sylvio Bonaccorsi e tiveram  oito filhos; Mara casou com Nicolò Umana e tiveram a filha Ana Maria. Eles residiram em Candeias e depois mudaram para o Rio de Janeiro e Brasília. José e Mario foram morar na Itália; Alberto foi para o Rio de Janeiro, tornando-se comerciante e faleceu com idade avançada.

Américo, o único filho que permaneceu em Candeias, casou com Alice Viglioni e tiveram uma vida social muita ativa, com cinco filhos: Luizinho, Armida, Vander, Sonia e Enio. Atuou em vários negócios comerciais, destacando-se o Hotel Candeense, sempre com grande procura pelos viajantes e outros hóspedes devido às boas instalações e elogiada comida. Ficou muito conhecido na região pela dedicação a arte musical e versatilidade com a clarineta e o saxofone. Além de lider do conjunto musical Jazz Tiro e Queda, foi maestro da Corporação Nossa Sernhora das Candeias e da Banda Musical Santa Cecília de Campo Belo.

Os irmãos Serafim e Pedro também casaram com duas irmãs em Barga; Serafim com Ida em 1910, e Pedro com Marianna em 1919; após seus casamentos retornaram a São Francisco. O primeiro casal não teve filhos, e em São Francisco nasceu a primeira filha do segundo casal, Carolina, em 1920. No ano seguinte, Pedro com a família foram a passeio à terra natal e ocorreu que a esposa não quis voltar; ele é que ia visitá-los  e permanecia longos períodos na Itália, onde nasceram os filhos Francesco e Antônio, que depois de casados vieram com as esposas para Timboré para trabalhar com o pai na sua ‘venda’, máquinas de beneficiar arroz e café, com cultivo agr[iocola e pecuária.

Celestino cuidava dos negócios em Candeias desde 1902, onde casou com a viúva de seu irmão em 1903. Do casamento anterior nasceu Bernardino, o primeiro filho de Guilhermina e com o mesmo nome  do pai. O novo casal teve mais seis filhos, Brasilina (faleceu com poucos meses); Sylvio, Maria, Josephina (Pepina), Celestina e Julieta, que é viva e próximo de completar 105 anos de idade em dezembro.

As sociedades foram divididas com as saídas de Luiz e Serafim que retornaram para a Itália em 1932, ocorrendo a alteração da sociedade em Candeias para a firma Casa Celestino Bonaccorsi Ltda., mantendo-se a filial em Timboré.

Um dos maiores feitos de Celestino ocorreu depois de um período de 17 meses passados na terra natal com toda a família, após o retorno em 1923, quando deu início a constituição da Empresa Força e Luz Candeense S/A., com a necessária autorização dos orgãos competentes para instalação da hidrelétrica. Assim como o planejamento e ionício das construções da barragem no Rio Santana, do canal de desvio das águas para a tubulação de ferro, da casa conjugada para os operadores da usina e da casa das máquinas; aquisição das turbinas geradoras de energia, e especialmente a captação de recursos para a necessária capitalização da sociedade.

Contudo, a maioria das ações foi por ele integralizada junto com seus familiares. Concluídas as etapas da linha transmissora, construção da distribuidora central com transformadores de energia contínua para energia alternada, rede elétrica com postes ade iluminação pública e instalações domiciliares, foi inaugurado o fornecimento de energia elétrica na Vila de Nossa Senhora das Candeias, em 26 de junho de 1926. Fato contínuo foi que a inauguração da energia elétrica resultou em grande lucro para ele, pois só a Casa Bonaccorsi vendia as lâmpadas e os materiais necessários para as instalações domiciliares!

Independente da sociedade com os irmãos, que cessou em 1937, Celestino decidiu investir por conta própria em outras atividades rurais e industriais, com a fábrica de queijos e manteiga; comprando terras e plantando café em Candeias e em Campos Altos/MG.; ampliou os armazéns e galpões para as máquinas de beneficiar arroz e café, com motores novos e mais potentes. Foi uma época oportuna com bons resultados, que o fez decidir pela construção do prédio para instalar sua nova loja comercial no mesmo local da velha. Destinou o piso térreo à área comercial,  com seções de calçados, tecidos e armarinhos, papelaria, bijouterias, ferramentas, gêneros alimentícios; nas vitrines ficavam expostas louças, talheres  e vários artigos para presentes, além das famosas acordeons italianas da marca Scandalli. No 1º andar destinou à moradia da família com muitos cômodos; no 3º andar há uma espaçosa área envidraçada.

Além do comércio tradicional, foi grande negociante de arroz, feijão e milho, tornando-se grande produtor e exportador de café pelos portos de Santos e Rio de Janeiro, através da ferrovia, cujos  vagões destinados ao carregamento do produto ficavam  estacionados em linha exclusiva e ao lado dos seus armazéns, construída especialmente para esse fim. Na época da safra, trabalhavam em seus armazéns e máquinas beneficiadoras vários funcionários, além de cerca de trinta mulheres para a escolha do café, descartando os defeituosos e as impurezas. Atualmente a seleção de vários grãos são feitos eletronicamente por raios laser ou outros métodos. Entretanto, foi muito importante para a comunidade candeense naquela oportunidade pela quantidade de empregos que gerou para tantos e em variadas atividades.

Importante destacar que na época não existiam agências bancárias instaladas na vila e a Casa Bonaccorsi era correspondente do Banco do Comércio e Banco Hipotecário, para diversos serviços financeiros e cobrança de duplicatas mercantis.

Na expressiva atividade comercial e industrial que exerceu em Candeias durante 58 anos, foi fundamental a intermediação econômica para os produtores rurais, nos quais depositava confiança e eram fieis cumpridores de seus compromissos, fornecendo-lhes créditos em todas as compras necessárias em seu comércio, cujos pagamentos eram feitos por ocasião das colheitas de seus produtos. Verdadeiras trocas!

Deve-se destacar que no movimento de emancipação política e administrativa do município, atuou de maneira discreta porque era um estrangeiro, apoiou e ajudou financeiramente para cobrir despesas dos envolvidos na causa, especialmente para as viagens à capital nas trativas políticas.

Celestino era um brasileiro de coração e alma. Adotou Candeias como sua terra e por isso decidiu naturalizar-se brasileiro. Em seguida se engajou efetivamente na política; foi eleito vereador com o maior número de votos e presidente da Câmara Municipal durante todo o seu mandato no período de janeiro de 1951 a janeiro de 1955.

No princípio do ano ano de 1960 passou sentir alguns problemas de saúde e sua família decidiu que fosse para a Itália para tratamento médico, porque em Candeias não haveria como tratá-lo adequadamente, onde insistia em permanecer. Foi para o Rio de Janeiro para tomar o navio rumo à Gênova, porto mais próximo de Barga, sua cidade natal.

Interessante destacar que chegou ao Brasil no dia 16 de agosto de 1896, retornando à Itália em agosto de 1960, depois de 64 anos vividos em São Francisco de Paula e Candeias. Viveu mais 6 anos em Fornaci di Barga, sempre esperançoso de voltar para sua terra adotiva. Eram constantes seus sonhos nas funções de atendimento aos amigos e fregueses da Casa Bonaccorsi, a ao acordar, lágrimas rolavam pelo rosto de saudades.

Celestino faleceu no Hospital de Lucca, capital da Província, no dia 03 de setembro de 1966, aos 85 anos de idade... “morrendo” de saudades de Candeias!

Texto de Armando Bonaccorsi.

Editado por Armando Melo de Castro

 Blog Candeias MG Casos e Acasos.