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domingo, 24 de abril de 2022

UM SONHO DE ARTISTA.


 

No princípio da década de 60 nós tínhamos em Candeias o Grêmio Teatral Monsenhor Castro. A televisão nesse tempo ainda não existia em Candeias, como também em outras cidades pequenas, e o cinema, o teatro amador, os parques de diversões e os circos que visitavam a nossa cidade eram as diversões da época. A televisão ainda engatinhava no interior.

Já em outras postagens eu comentei sobre o meu grande amigo Gabriel Carlos da Costa. Ele era o pintor de paredes com quem eu trabalhei por algum tempo dos meus 17 para 18 anos. Nessa época do Grêmio Teatral Monsenhor Castro, Gabriel era o nosso diretor artístico. Quem via ele fazer os comentários, poderia imagina-lo um diretor de teatro de São Paulo ou Rio de Janeiro.--- Isso até me leva a pensar, que se num grêmio amador, a pessoa se entusiasma tanto, imaginem então um profissional famoso? ---

Lembro-me que certa vez nós levamos uma peça chamada A Escrava Isaura, e foi um sucesso total. Naquele tempo a televisão era muito ruim e não havia essas novelas que hoje prendem as pessoas em casa. A diversão do povo era ir até ao, então, chamado largo, onde havia uma “avenida” As moças normalmente de braços dados uma com a outra, passava para lá e para cá, enquanto a rapaziada ficava por ali dando bola, piscando os olhos para elas. E quando eram correspondidos, daí poderia sair um namoro. --- Esse movimento era defronte ao cinema.

Mas voltando ao Gabriel, nós estávamos pintando, nesses dias a casa do Sr. João Pinto de Miranda e quando descemos, no outro dia de manhã para o trabalho, as pessoas que nos encontrava nos davam os parabéns pelo desempenho. Gabriel que teria feito o papel de um comendador, já estava se sentindo um comendador também. ---

Ali naquelas imediações da estátua do soldado, encontramos com a professora Maria do Carmo Bonaccorsi, que nos deu os parabéns pelos nossos trabalhos artísticos. Eu pelo menos ouvi calado e agradeci, mas o Gabriel abriu a sanfona e eu comecei a ficar com vergonha para ele:

--- “Por que eu já tinha falado que num quiria morrê sem trabaia nessa peça” Eu pudia ter feito o meu papel bem melhor, mas acontece Ducarmo, que tudo era eu, eu tinha que dirigir a peça, falar como tava o som, orientar a maquiladora, enfim eu sô faltava ser a Isaura.

Nessas alturas do campeonato, a Maria do Carmo Bonaccorsi, que era uma pessoa bastante atenta, olhou para mim, deu um sorriso e disse: “ Uai Gabriel, você nunca pensou em ir para São Paulo ou Rio de Janeiro e fazer um teste num teatro, no cinema, e até mesmo na televisão que vem sendo muito desenvolvida?

“Oh Ducarmo eu vou fala procê, eu já tive essa chance, mas num quis não. Eu já morei em São Paulo, e pudia ter feito isso do jeito que ocê tá falano, mas não fiz não. O meio de artista é muito ruim. Eu prefiro atuar no teatro amador.

Maria do Carmo deu mais um sorriso e saiu se despedindo. Aguardei o comentário suscinto do Gabriel que viria com toda a certeza logo em seguida:

Eu tô pensando Armando, o cinema incheu onte, o povo tá me dando muitos parabéns, Quem sabe oceis ainda vai me vê na tela do Cinema, num filme assim do tipo dos filmes do Arfredo Riticoque --- (Alfred Hitchcock). Uma coisa eu sei, eu ia ser miò do que o Jamestil. (James Stewart), com aquela cara de tonto que ele tem. Eu num sei como o Alfredo Riticoque põe um home daquele para trabaia nos seus filmes. Vai sê rum assim...

E eu que era um bobão, sabia lá quem era Alfred Hitchcock ou James Stewart???... Achei foi o Gabriel danado de sabido.


Armando Melo de Castro.

CANDEIAS MG CASOS E ACASOS.