No princípio da década de 60
nós tínhamos em Candeias o Grêmio Teatral Monsenhor Castro. A televisão nesse
tempo ainda não existia em Candeias, como também em outras cidades pequenas, e
o cinema, o teatro amador, os parques de diversões e os circos que visitavam a
nossa cidade eram as diversões da época. A televisão ainda engatinhava no
interior.
Já em outras postagens eu
comentei sobre o meu grande amigo Gabriel Carlos da Costa. Ele era o pintor de
paredes com quem eu trabalhei por algum tempo dos meus 17 para 18 anos. Nessa
época do Grêmio Teatral Monsenhor Castro, Gabriel era o nosso diretor
artístico. Quem via ele fazer os comentários, poderia imagina-lo um diretor de
teatro de São Paulo ou Rio de Janeiro.--- Isso até me leva a pensar, que se num
grêmio amador, a pessoa se entusiasma tanto, imaginem então um profissional
famoso? ---
Lembro-me que certa vez nós
levamos uma peça chamada A Escrava Isaura, e foi um sucesso total. Naquele
tempo a televisão era muito ruim e não havia essas novelas que hoje prendem as
pessoas em casa. A diversão do povo era ir até ao, então, chamado largo, onde
havia uma “avenida” As moças normalmente de braços dados uma com a outra,
passava para lá e para cá, enquanto a rapaziada ficava por ali dando bola,
piscando os olhos para elas. E quando eram correspondidos, daí poderia sair um
namoro. --- Esse movimento era defronte ao cinema.
Mas voltando ao Gabriel, nós
estávamos pintando, nesses dias a casa do Sr. João Pinto de Miranda e quando
descemos, no outro dia de manhã para o trabalho, as pessoas que nos encontrava
nos davam os parabéns pelo desempenho. Gabriel que teria feito o papel de um
comendador, já estava se sentindo um comendador também. ---
Ali naquelas imediações da
estátua do soldado, encontramos com a professora Maria do Carmo Bonaccorsi, que
nos deu os parabéns pelos nossos trabalhos artísticos. Eu pelo menos ouvi
calado e agradeci, mas o Gabriel abriu a sanfona e eu comecei a ficar com
vergonha para ele:
--- “Por que eu já tinha
falado que num quiria morrê sem trabaia nessa peça” Eu pudia ter feito o meu
papel bem melhor, mas acontece Ducarmo, que tudo era eu, eu tinha que dirigir a
peça, falar como tava o som, orientar a maquiladora, enfim eu sô faltava ser a
Isaura.
Nessas alturas do campeonato,
a Maria do Carmo Bonaccorsi, que era uma pessoa bastante atenta, olhou para
mim, deu um sorriso e disse: “ Uai Gabriel, você nunca pensou em ir para São
Paulo ou Rio de Janeiro e fazer um teste num teatro, no cinema, e até mesmo na
televisão que vem sendo muito desenvolvida?
“Oh Ducarmo eu vou fala procê,
eu já tive essa chance, mas num quis não. Eu já morei em São Paulo, e pudia ter
feito isso do jeito que ocê tá falano, mas não fiz não. O meio de artista é
muito ruim. Eu prefiro atuar no teatro amador.
Maria do Carmo deu mais um
sorriso e saiu se despedindo. Aguardei o comentário suscinto do Gabriel que
viria com toda a certeza logo em seguida:
Eu tô pensando Armando, o
cinema incheu onte, o povo tá me dando muitos parabéns, Quem sabe oceis ainda
vai me vê na tela do Cinema, num filme assim do tipo dos filmes do Arfredo
Riticoque --- (Alfred Hitchcock). Uma coisa eu sei, eu ia ser miò do que o
Jamestil. (James Stewart), com aquela cara de tonto que ele tem. Eu num sei
como o Alfredo Riticoque põe um home daquele para trabaia nos seus filmes. Vai
sê rum assim...
E eu que era um bobão, sabia
lá quem era Alfred Hitchcock ou James Stewart???... Achei foi o Gabriel danado
de sabido.
Armando Melo de Castro.
CANDEIAS MG CASOS E ACASOS.
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