Avenida 17 de Dezembro - Candeias MG
Antigamente, principalmente aos sábados e domingos, a praça de frente o Bar Piloto, era muito movimentada, principalmente aos sábados e domingos. ---- A pracinha tinha um lago iluminado e uma estátua de pescador. --- À noite, antes da sessão do cinema, ali as moças ficavam rodando, como diziam, “fazendo avenida” uma de braços dados com a outra, e a rapaziada de pé vendo quem passava num gesto de paquera. ---
Os rapazes mexiam com as moças e se fossem correspondidos havia a aproximação, e normalmente um convite para o cinema. ---- Se aceito era o início de um namoro. Isso acontecia sempre antes da sessão de cinema, que quando dava o segundo sinal o povo subia.
Parece até que a praça
simbolizava a pescaria. Isso porque a moça era o peixe, o rapaz o pescador, e o
convite para o cinema seria a isca.
Nessa época, quando eu
contava os meus 17 anos eu era um tatu de galocha muito tímido o que poderia
ser resumido numa só palavra: um bobão. --- Alias naquele tempo a timidez era
uma coisa comum, não como hoje, tendo em vista à forma com que os filhos eram
educados. Não havia televisão e nem filmes pornográficos. ---- Se um filme
mexicano mostrasse as pernas lindas da Sara Montiel, era censurado pelo
Monsenhor Castro --- Havia muita festa religiosa e tudo era pecado. Portanto,
eu acho que fui me tornar num pecador quando conheci a Boate Mil Beijos, do
Pedro Pitanga. Lá se perdia a timidez.
As moças daquele tempo eram
muito vigiadas pelos pais. O flerte era uma coisa muito discreta um beijo era
muito escondido. --- Muitos casamentos aconteciam sem ambos se conhecerem
direito. ---
Aos jovens de hoje, talvez
fique difícil até imaginar como era naquele tempo. E é por isso que as gerações
antigas, às vezes, ficam assustadas com a liberdade de hoje. ------
Nesse tempo, havia em
Candeias duas moças oriundas da zona rural e que tinham residência no Alto do
Cruzeiro, e como eu morava do outro lado da cidade, não fazia ideia de quem
pudesse ser as suas familias. De quando em quando estavam presentes naquele
giro do flerte. ----- Uma delas era uma verdadeira flor, linda de morrer como
se diziam; educada, bem trajada e boa postura. ------ A outra já não tinha tantos
dotes. Tinha um buço avantajado, um nariz pronto para cheirar o mundo; um andar
trôpego como se estivesse com as cadeiras podres e as pernas tortas. -----
Para não citar os nomes
dessas donzelas, vou trata-las de “bonita” e “feia”.
A “bonita”, era sempre vista
com algum rapaz, enquanto a “feia” ficava sozinha. E quando alguém saia em
companha da “bonita”, a rapaziada ficava morrendo de inveja da sorte daquele
novo namorado. ---- Mas tinha uma questão: ninguém seguia o namoro com aquela
donzela apesar dos seus dotes. Eram dois ou três encontros e pronto.
Lembro-me de certo dia, era
véspera de natal, eu estava por ali de pé junto a um daqueles postes da
pracinha, com o meu paletó de brim, estreando sapatos e meias novas, uma camisa
nova e com um bolso cheio de balas e o outro com algum dinheiro. ---- Afinal
era natal ------ Atrás da minha timidez conseguia imaginar-me ser o jovem mais
feliz do mundo, dentro da minha alma de adolescente, se por ventura aparecesse
alguém me querendo para ir ao cinema. ----- De repente, chega junto de mim à feia e
disse-me: “Alguém ali quer falar com você”. ---- Eu imaginei que fosse a bonita
e era. ---- Quando me aproximei daquela prenda, eu quase perdi a voz, e pensei:
Não é possível. Mas sim, estava sendo possível. ------
Mas eu era realmente um
bobão e sabia disso, só não sabia puxar conversa, não sabia agradar, não sabia
conquistar e nem paquerar.
Com a voz entrelaçada convidei-a para irmos ao
cinema, e o convite foi aceito de pronto. ----- Sem pegar na mão, nem nada,
afinal não podia. Os primeiros encontros eram como se fossem dois irmãos. ----
No cinema é que poderia rolar alguma coisa. ---- E a minha esperança seria se
ela tivesse a iniciativa e me desse um trato. ----- Para falar a verdade eu não
sei que filme era, mas lá dentro do cinema, eu muito receoso comecei dar uma de
atrevido, tive coragem de começar e ela cuidou do resto. ---- Só que eu custei
a esperar a terminar o filme. O mau hálito daquela moça era uma coisa
indescritível. Eu jamais teria visto coisa igual.
Estava explicado porque não
fixava com nenhum namorado. Esta questão confere preconceitos até mesmo em
família. Fala-se ou não se fala.
Afinal, dizer “Você está com um mau hálito terrível”
é complicado porque seja lá de quem for o aviso à pessoa não gostará de ouvir.
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É importante saber ouvir isso – Mesmo porque se trata de um incômodo que
transforma uma pessoa de forma lamentável. E nem sempre o portador do problema
consegue saber. E as causas podem ser as mais diversas.
E o interessante é que aquela
menina além dos dotes que possuía tinha os dentes lindos.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.