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terça-feira, 17 de julho de 2018

MAU HALITO, UM MAU TERRÍVEL.

     
                                                  Avenida 17 de Dezembro - Candeias MG

Antigamente, principalmente aos sábados e domingos, a praça de frente o Bar Piloto, era muito movimentada, principalmente aos sábados e domingos. ---- A pracinha tinha um lago iluminado e uma estátua de pescador. --- À noite, antes da sessão do cinema, ali as moças ficavam rodando, como diziam, “fazendo avenida” uma de braços dados com a outra, e a rapaziada de pé vendo quem passava num gesto de paquera. --- 

Os rapazes mexiam com as moças e se fossem correspondidos havia a aproximação, e normalmente um convite para o cinema. ---- Se aceito era o início de um namoro. Isso acontecia sempre antes da sessão de cinema, que quando dava o segundo sinal o povo subia.

Parece até que a praça simbolizava a pescaria. Isso porque a moça era o peixe, o rapaz o pescador, e o convite para o cinema seria a isca.

Nessa época, quando eu contava os meus 17 anos eu era um tatu de galocha muito tímido o que poderia ser resumido numa só palavra: um bobão. --- Alias naquele tempo a timidez era uma coisa comum, não como hoje, tendo em vista à forma com que os filhos eram educados. Não havia televisão e nem filmes pornográficos. ---- Se um filme mexicano mostrasse as pernas lindas da Sara Montiel, era censurado pelo Monsenhor Castro --- Havia muita festa religiosa e tudo era pecado. Portanto, eu acho que fui me tornar num pecador quando conheci a Boate Mil Beijos, do Pedro Pitanga. Lá se perdia a timidez. 

As moças daquele tempo eram muito vigiadas pelos pais. O flerte era uma coisa muito discreta um beijo era muito escondido. --- Muitos casamentos aconteciam sem ambos se conhecerem direito.  --- 

Aos jovens de hoje, talvez fique difícil até imaginar como era naquele tempo. E é por isso que as gerações antigas, às vezes, ficam assustadas com a liberdade de hoje.  ------

Nesse tempo, havia em Candeias duas moças oriundas da zona rural e que tinham residência no Alto do Cruzeiro, e como eu morava do outro lado da cidade, não fazia ideia de quem pudesse ser as suas familias. De quando em quando estavam presentes naquele giro do flerte. ----- Uma delas era uma verdadeira flor, linda de morrer como se diziam; educada, bem trajada e boa postura. ------ A outra já não tinha tantos dotes. Tinha um buço avantajado, um nariz pronto para cheirar o mundo; um andar trôpego como se estivesse com as cadeiras podres e as pernas tortas. -----

Para não citar os nomes dessas donzelas, vou trata-las de “bonita” e “feia”.

A “bonita”, era sempre vista com algum rapaz, enquanto a “feia” ficava sozinha. E quando alguém saia em companha da “bonita”, a rapaziada ficava morrendo de inveja da sorte daquele novo namorado. ---- Mas tinha uma questão: ninguém seguia o namoro com aquela donzela apesar dos seus dotes. Eram dois ou três encontros e pronto.

Lembro-me de certo dia, era véspera de natal, eu estava por ali de pé junto a um daqueles postes da pracinha, com o meu paletó de brim, estreando sapatos e meias novas, uma camisa nova e com um bolso cheio de balas e o outro com algum dinheiro. ---- Afinal era natal ------ Atrás da minha timidez conseguia imaginar-me ser o jovem mais feliz do mundo, dentro da minha alma de adolescente, se por ventura aparecesse alguém me querendo para ir ao cinema.  ----- De repente, chega junto de mim à feia e disse-me: “Alguém ali quer falar com você”. ---- Eu imaginei que fosse a bonita e era. ---- Quando me aproximei daquela prenda, eu quase perdi a voz, e pensei: Não é possível. Mas sim, estava sendo possível. ------

Mas eu era realmente um bobão e sabia disso, só não sabia puxar conversa, não sabia agradar, não sabia conquistar e nem paquerar. 
Com a voz entrelaçada convidei-a para irmos ao cinema, e o convite foi aceito de pronto. ----- Sem pegar na mão, nem nada, afinal não podia. Os primeiros encontros eram como se fossem dois irmãos. ---- No cinema é que poderia rolar alguma coisa. ---- E a minha esperança seria se ela tivesse a iniciativa e me desse um trato. ----- Para falar a verdade eu não sei que filme era, mas lá dentro do cinema, eu muito receoso comecei dar uma de atrevido, tive coragem de começar e ela cuidou do resto. ---- Só que eu custei a esperar a terminar o filme. O mau hálito daquela moça era uma coisa indescritível. Eu jamais teria visto coisa igual. 

Estava explicado porque não fixava com nenhum namorado. Esta questão confere preconceitos até mesmo em família. Fala-se ou não se fala. 

Afinal, dizer “Você está com um mau hálito terrível” é complicado porque seja lá de quem for o aviso à pessoa não gostará de ouvir. --- 

É importante saber ouvir isso – Mesmo porque se trata de um incômodo que transforma uma pessoa de forma lamentável. E nem sempre o portador do problema consegue saber. E as causas podem ser as mais diversas.

E o interessante é que aquela menina além dos dotes que possuía tinha os dentes lindos.

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.