Celina Guimarães Viana
Recentemente numa viagem
que fiz a Belo Horizonte, tomei aqui próximo de minha residência um taxi para
me conduzir até a rodoviária. E o condutor do taxi era uma mulher muito
simpática e atenciosa. ---- Chegando a rodoviária, ao tomar o ônibus,
defrontei-me novamente com uma mulher motorista daquele ônibus. -------
Uma mulher miúda e
sorridente. Diante da baixa estatura daquela motorista, inspirei-me
a lhe dizer: “Minha vida está em suas mãos, cuide bem dela” E ela gentilmente
com um sorriso espontâneo me disse: “O senhor pode ficar tranquilo porque as
minhas mãos estarão nas mãos de Deus”. Observei durante a viagem tratar-se de
uma excelente motorista, tranquila e com gosto pela profissão.
Eu tenho observado que a
mulher, felizmente, pouco a pouco vem tomando o seu lugar na sociedade, fazendo
sumir dos ouvidos o antigo termo de que a mulher é o sexo frágil. Se
observarmos podemos ver que existem muito mais viúvas do que viúvos. E a mulher
de frágil não tem absolutamente nada. Entendo que o homem pode até ser
fisicamente mais forte, mas nos demais termos a mulher é bem mais resistente.
No passado eu me recordo
o quanto a vida das mulheres era difícil. Elas se levantavam cedo e já
começavam com a luta pela vida. Fazer o café... O café era torrado e moído em
casa; lavar roupa, cuidar dos filhos, arrumar a casa etc. Isso era uma rotina
diária. Fazer as refeições diárias não era tão fácil como nos dias atuais.
Não existiam geladeiras,
e nem fogões a gás e as donas de casa tinham que fazer almoço e janta. Até hoje
existem homens criados neste esquema, que não se acostumaram a jantar com comida
requentada. – E a esposa tem que arcar com a labuta de fazer almoço e
janta. As casas, nem todas, tinham água corrente, muitas tinham que ir para os
córregos lavar as roupas de suas família, e muitas dessas donas de casa ainda
lavavam roupa para fora. ---
Meu Deus! Como era
difícil a vida de uma dona de casa. Elas não tinham sábado, domingo e nem
feriado. Muitas trabalhavam doentes. O dinheiro nesse tempo era raro
principalmente nas pequenas cidades como a nossa Candeias, num tempo em que as
famílias não tinham controle de natalidade. E como diziam, era um no bucho e
outro no saco. --- Saia um entrava outro. --- Quantas mães morriam durante o
parto sem ter a gloria de criar o seu filho... Principalmente nas roças. ----
Quando se via uma mulher grávida, era como se visse alguém sob o jugo da morte.
Um exemplo, foi a Sra. Mãe do nosso querido Monsenhor Castro, que não conheceu
a sua mãe, que teria falecido 20 dias após o seu nascimento com complicações
com o parto. O Monsenhor foi criado pelos seus avós maternos.
E quantas não tinham que
ainda tolerar os maridos que muitas das vezes bebiam e pioravam a vida dessas
mulheres ainda mais. --- Por mais abastada que fosse a família, a vida da
mulher era difícil. Seria difícil relatar tudo aqui neste pequeno texto, porque
ainda tinham que enfrentar o machismo de certos maridos, que além disso não
tinham a responsabilidade com a manutenção da casa, deixando faltar alimentos,
levando essas senhoras a buscar recursos na lavação de roupas e na costura.
Hoje, as coisas ficaram
muito mais fácil. O feijão é fácil de ser escolhido porque praticamente não
existem pedras como antigamente. Um par de cuias era a ferramenta
das mulheres para lavar o arroz e apurar as pedras. Lembro-me de minha querida
mãe, cantando e lavando arroz para o almoço e quando às vezes ouvi ela dizer:
“Nossa esse arroz é a pura pedra. Hoje, o arroz nem precisa ser lavado e pedra
no arroz é coisa do passado. ---
A mulher de hoje,
principalmente as filhas de famílias de pouca renda, não faz ideia como foi a
vida de suas avós. Ainda falta muito para a mulher ser verdadeiramente
reconhecida. Mas estamos chegando lá. Hoje a mulher está integrada com mais
força na sociedade, apesar de ainda estar faltando muito para assumir o seu
verdadeiro lugar. Mas não podemos negar que elas estão vencendo a batalha da
igualdade. Afinal, a nossa população de 216 milhões de brasileiros, 52% é de
mulheres e 48% são dos homens. Isso quer dizer que existem mais
mulheres e em bom número, do que homens. E hoje já estamos vendo as
mulheres em todos os seguimentos da sociedade, inclusive se despontando na
politica.
Uma mulher que não pode
nunca ser esquecida, principalmente pelas mulheres, é o da
professora CELINA GUIMARÃES VIANA que faz parte da história
brasileira como a primeira eleitora mulher registrada a votar no nosso país.
--- Celina não foi a primeira eleitora por acaso. ---- Ela lutou muito por isso
como ativista. Ela foi uma mulher que voou, navegou e caminhou no seu tempo.
Foi protagonista em seu trabalho de professora no Estado, no Rio Grande do
Norte. Naquele tempo os estados tinham autonomia na legislação eleitoral e a
Constituição do Brasil, não proibia as mulheres de fazer o uso do voto. E o Rio
Grande do Norte foi o primeiro estado a se organizar sobre o primeiro voto da
mulher cujo registro data de 25 de novembro de 1927.
Celina Guimarães Viana,
era potiguar, nasceu em Natal Rio Grande do Norte, em 15 de novembro 1890.
Casou-se em 1911 com Eliseu Oliveira Viana, com quem viveu por toda a vida.
Faleceu em Belo Horizonte,
em 11 de julho de 1972. Um exemplo para a mulher brasileira que vem lutando
pelo seu espaço.
Armando Melo de Castro.