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sexta-feira, 2 de setembro de 2022

UMA CAUSA POR DOIS LITROS DE LEITE.


 Reclamar é um direito sem dúvida, e pode ser também até uma necessidade. Mas entendo que uma reclamação tem que ser fundamentada. Reclamar de tudo e de todos mostra ser, a meu ver, uma pessoa pedante e pouco esclarecida.

Uma reclamação merece, portanto, uma causa justa e dirigida ao verdadeiro responsável pela causa. Mas a grande parte das pessoas vivem reclamando de tudo e para quem não tem nada a ver com a causa.

Uma reclamação deve antes ser estudada, pensada e fundamentada. Mas infelizmente tem gente que sai reclamando a torto e a direita. – Reclamam do espinho da roseira, mas não se lembram que o espinho traz a rosa. Não sabem que na vida todo custo traz algum benefício.

Reclama dos preços, para o dono do armazém. Não se lembra por exemplo que aquele ali está é um intermediário, ele vende o que comprou pois não foi ele que plantou ou colheu o feijão que você diz que está muito caro. Aquele que plantou também teve por força  da realidade ter tido os seus custos majorados.

Reclama do preço dos remédios como se o dono da farmácia fosse o dono do laboratório que produz o remédio. Enfim: está reclamando na hora errada e para a pessoa errada. Com certeza aquele que vai enfrentar o consumidor, vive procurando ganhar mais na compra do que na venda. Isso porque o seu fornecedor sendo um para cada produto, o consumidor são vários para cada um.

Eu como os candeenses da minha era, fomos criados comendo esse tipo de produto plantados em nossos quintais e na nossa zona rural.  --- O leite, por exemplo, era trazido pelo leiteiro à nossa porta. Durante anos eu vi o grito do leiteiro à porta de nossa casa em Candeias: “Ó O LEITE!”

 Aqui próximo de minha residência, no parque Halfeld, em Juiz de Fora, tem uma feirinha aos domingos organizada por pequenos sitiantes daqui da região. Ali encontramos ovos caipira, verduras sem agrotóxicos, frango caipira já arrumado, queijo, mel de abelha, enfim, aquilo que se produz num sítio. Não são fazendeiros, são produtores limitados em pequenos pedaços de terra. --- Muitos nem dormem às vésperas desta feira preparando os seus produtos, por morarem em cidades próximas.

Eu não consigo me acostumar com o leite de caixinha, nem ovos e frangos de granja. Sabendo que nesta feira aqui bem próximo tem uma barraca de duas irmãs sitiantes, onde vendem o seu leite produzido por apenas uma vaca. Leite com o qual fazem doces de leite e alguns litros para a feira. Todas as manhãs de quinta feira eu estou lá para apanhar o meu leite. Caso eu não apareça, elas já o deixa reservado para mim quando me atraso em chegar lá. Se não vou aparecer aviso isso para elas.

São pessoas, humildes e pobres que vivem do seu trabalho no pequeno sítio do qual tiram a sua sobrevivência. E eu sempre brinco com elas perguntando se eu encontrar um lambarí no fundo da garrafa, o que é? E elas sorridente me respondem é um brinde para o senhor que é um bom freguês nosso.

Ontem quando lá estive chegou junto comigo chegou uma senhora, do tipo reclamador de tudo e de todos. – Pegou os seus dois litros de leite, normalmente vendidos em garrafas aproveitadas de refrigerantes e ao dar o preço, $ 12,00 – O preço teria sido alterado de $ 10,00 para $ 12,00 = A velha berrou em termos agressivos. Isso é um absurdo, passar o leite para 6 contos o litro. E não duvido que esse leite de vocês tem água... Essa feira aqui está uma verdadeira ladroagem. Falou, falou e ainda bordou. E olhando para mim disse: E o senhor vai pagar calado?

Eu olhei para ela e lhe disse: Minha senhora, eu não pretendia entrar nessa conversa. Mas já que a senhora me dirigiu essa pergunta cabe-me responde-la:--- Eu não penso como a senhora. Um litro de leite de caixinha, de qualidade inferior ao leite dessas senhoras, está custando mais caro  e não tem a mesma qualidade. Se a senhora ver como estão as pastagens, atualmente, o gado para sobreviver estão sendo tratados à base de ração. E ração é cara. E além disse o trabalho que essas senhoras têm para fazer chegar às nossas mãos esses dois litros de leite por apenas $ 12,00 Reais... --- Quando eu falei assim, ela virou as costas e me disse alto e em bom som: o senhor deve ser muito rico né?

E eu respondi: e o que essas senhoras tem com a sua pobreza?

Olhei para a senhora que me serviu o leite e ela estava chorando, eu tive que acalenta-la.

A palavra, às vezes, fere mais do que uma faca!

Armando Melo de Castro.

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