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domingo, 29 de janeiro de 2023

BARRAQUINHAS DE CANDEIAS.


                                         
 Antiga Matriz de Candeias e as barraquinhas.

                                                 Uma Saudade imortal.

dia 20 de janeiro é consagrado ao nosso querido São Sebastião. E quando se fala em São Sebastião, vem à tona de minha memória, as barraquinhas armadas no adro da nossa igreja matriz de Candeias um evento que ficou marcado profundamente em minha memória. Foi nesse tempo que mais vivi a minha infância e adolescência na minha querida terra.

Eram as barraquinhas de São Sebastião e Nossa senhora das Candeias. Além das barraquinhas tinha o leilão das mais variadas ofertas pelos católicos, que variavam desde um bolo, até um frango ou um leitão assado. na porta da igreja, após a benção, num palanque armado. Durante o evento havia, também um leilão de gado, numa doação dos fazendeiros do nosso município.

Como eu gosto de recordar daquelas barraquinhas! É um capítulo de minha vida que retrata a minha infância e adolescência. Na época das reformas da Matriz, na década de 60, foi quando esta festa esteve mais animada, mais aprimorada e organizada. E o Monsenhor Castro em plena campanha para angariar dinheiro para a construção.

Em outras cidades onde eu morei, essas festas paroquiais, tinham o nome de quermesse, mas em Candeias, eu nunca teria visto falar assim e sim barraquinhas. Portanto eu sempre achei esse nome muito carinhoso. Eram poucas barracas, A maior era a do quentão, da cerveja e dos tira-gostos. Tinha a do coelhinho da índia; a de sorteios e a mais importante e a do BINGO.

Nessa do bingo quem gritava as pedras era o meu pai Zé Delminda. Era convocado todos os anos pelo Monsenhor.  Outros que trabalhavam na barraca do bingo eram Pedro do Candola, Alvim do Vico Teixeira e um outro que no momento me falha a memória. O estúdio era na sacristia da Igreja, assim que esta foi demolida, passou para uma casa antiga que existia onde hoje está instalada a COPASA.

Outras festas de igrejas que eu conheci, os sacerdotes não permitiam a venda de bebidas alcoólicas, o que não dava aquele calor de festa na festa. O Monsenhor Castro um sacerdote bastante conservador, abria mão disso e tomava também o seu quentão e ficava todo vermelhão. Aquele padre exigente e sério durante o ano todo, se transformava durante as barraquinhas, era alegre, risonho, e visitava todas as barracas e conversava com todo mundo. A barraca em que ele se aproximava se movimentava.

O bingo era livre, valia dinheiro, mas quem iria mexer com o Monsenhor Castro? Ele era o homem mais respeitado da cidade. Falava no pé da letra e tinha argumento para tudo. Visitou Candeias de casa em Casa, na sua campanha para a reforma da Matriz. Nesse meio tempo ele visitou a Lica do João Passatempo, e a convidou para comprar um bilhete da caminhonete 0K que seria sorteada no fim do ano. O bilhete custava RC$ 30,00 --- A Lica, que era lenheira, nesse tempo o uso era de fogão a lenha, disse-lhe:

“Ó sô monsinhor, eu queria muito compra, mais eu num tenho o menor recurso. O João num ganha quais nada vendeno biete, eu carrego lenha pá ajudá”

Isso não era argumento para o Monsenhor não. Ele na mesma hora achou uma sugestão que deixou a Lica sem alternativa para negar.  --- Perguntou-lhe: Quantas colegas você tem que vendem lenha? Ela disse: 4 e qual o preço do feixe de lenha?  É CR$ 5,00 Nós vamos então dividir o bilhete para seis, você e suas colegas vão dar um feixe de lenha para a igreja, e o João seu marido vai tirar da venda de bilhete 5 cruzeirinhos para completar os 30. Deu uma risadinha e perguntou-lhe: Assim você também vai concorrer e quem sabe vai ganhar? Lica comprou o bilhete e ficou de levar o dinheiro na casa paroquial o dia que tivesse o dinheiro a mão. Ela contou isso para a minha mãe que era freguesa de lenha dela, rindo, satisfeita, e ainda comentou. O Monsenhor ninguém sai da conversa dele não.

As barraquinhas era uma festa feliz, alegre e muito esperada. Nesse tempo não havia ainda a televisão para segurar as pessoas a casa. Se alguém se alterasse por excesso de bebida, o Monsenhor só se aproximava, falava alguma coisa e era o mesmo que jogar uma lata de água fria no fogo.

Certa vez o Monsenhor Castro num desses momentos, perguntou para o Chico Lordino: Chico você quer ganhar um quentão? E chico mais de que depressa disse. Quero sim sô monsinhor. E o Monsenhor de posse de um caixote, disse-lhe suba nesse caixote e faça um discurso pedindo ajuda para o povo para a nossa construção da Matriz:

O DISCURSO DO CHICO.

“Oia aqui meus amigo das candeia das roça. o Padre Juaquim (Chico se esqueceu que ele era Monsenhor e muita gente ainda o chamava de padre) ta fabricano essa beleza de igreja pá cabê todo mundo. Vai tê muito banco e num vai sê preciso de fica gente que tá fingindo assisti missa do lado de fora da igreja grandona. Mas pa essa fabricação precisa de cobre. Intão oceis dá um jeito de ajuda. Ó eu não tenho cobre pra ajuda, mais tô pidino proceis, é uma ajuda tamem. Quem quisé trabaiá de servente  sem ganha tamém pode, ---------------------Monsenhor pediu uma salva de palmas para o Chico que foi muito aplaudido. Mas no outro dia queria ganhar outro quentão, e fazer novo discurso.

No outro dia ele queria fazer discurso de novo.

Assim eram as barraquinhas de Nossa Senhora das Candeias e São Sebastião.

                               Armando Melo de Castro. 


segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

WANDER BONACCORSI, UM GRANDE AMIGO.

                                                                       Wander Bonaccorsi

Hoje, eu estive ouvindo uma música linda, a musica se chama “A Lista” do cantor Oswaldo Montenegro. A canção me deu a impressão de que o cantor estava conversando comigo e alimentando em mim os sonhos humanos.

Começou me recomendando fazer uma lista dos meus grandes amigos, dos que eu mais via há dez anos atrás, daqueles que eu via todo dia e outros que eu não encontro mais. E vem depois sugerindo listar os sonhos e amores perdidos, aquele jurado e o que foi preservado. Ainda recomendava listar os mistérios da vida que não consegui entender; segredos guardados; mentiras que eu tive que contar. Enfim, achei a música linda e bastante filosófica.

A música realmente mexeu comigo e eu entrei numa reflexão sobre o que é a amizade. Agora, como aposentado, no aconchego do aposento, vivendo uma ociosidade com dignidade após ter trabalhado por mais de 40 anos, posso manter os amigos que me restam. Eu não diria que seria um favor da internet, esta pode até facilitar o contato, mas a consideração e a amizade estão muito bem guardadas dentro de mim. Imagino eu que um verdadeiro amigo é um prêmio de Deus, portanto não pode ser esquecido.

Aí então, eu passei a refletir sobre os meus amigos. Em grande parte de minha vida estive exercendo um trabalho que me transferia para cidades distantes o que me levava a conhecer pessoas e locais diferentes. E assim fiz muitos amigos. Mas na sua grande parte eram amigos temporários, entre festas e sorrisos. Foram poucos cuja amizade não se apartaram de mim.

Não é fácil encontrar um grande amigo. As vezes vamos reconhece-los quando nos separamos dele. Isso porque um grande amigo é aquele que entra para o nosso cérebro e desce para morar em nosso coração. Esses não são desfeitos nem pelo tempo e nem pela distância. E nem são lembrados apenas através da internet. Eles são lembrados através das nossas orações e do respeito que temos guardado dentro de nós.

Dos que eu via há 10 anos atrás muitos morreram e poucos me sobraram. – E eu não os vejo mais todo dia com os olhos, mas os vejo com o coração. Isso porque um grande amigo está sempre bem guardado dentro de nós. Ele nunca morre porque é imortal em nossas boas lembranças.

Eu tenho sim uma lista desses grandes amigos. É uma pequena lista, felizmente alguns ainda vivos e outros já levados por Deus. Mas para mim eles não morreram, e jamais morrerão. Eles apenas se encantaram para vir morar no canto mais feliz do meu coração. Isso porque quando alguém mora em nosso coração, podemos escutar a sua voz, o seu sorriso, a sua tristeza e o seu apoio e até os seus conselhos.

Uma boa amizade hoje em dia está sendo difícil de ser encontrada até mesmo dentro de familiares. Uma boa amizade pode ser revelada até mesmo diante de um pequeno gesto de amor, de carinho, de afinidade e respeito. Uma boa amizade não é perdida por causas antagônicas, como futebol, religião e política.

A maior prova de amizade está num gesto tão simples que a gente nunca se esquece. É ver um amigo chorar com você tentando enxugar as suas lágrimas com as lágrimas dele, provocadas pelo seu sofrimento.

Neste texto eu quero lembrar aqui um dos meus grandes amigos. O meu grande amigo Wander Bonaccorsi. O Vandinho do Américo. Grande candeense, homem inteligente e trabalhador. Bom filho, bom marido, bom pai e grande amigo dos amigos.

Eu descia a Avenida 17 de dezembro, em Candeias, e quando passava próximo da Igreja do Senhor Bom Jesus, encontro-me com o Vandinho. ---- Os nossos encontros sempre foram uma alegria. Desde o meu tempo de Candeias fomos amigos, ele foi um dos diretores do Clube Recreativo Condense, e eu trabalhei lá, mantemos uma grande amizade desde esse tempo. Vandinho foi também, Vice Prefeito de Candeias, grande atleta da AEC, foi sempre um empresário bem sucedido, como produtor de cal, transportes, fazendeiro e outros negócios, sempre muito bem sucedido dada a sua capacidade e inteligência.

Vendo-me Vandinho me abraçou com um semblante triste e me disse: Fiquei sabendo Armando que você perdeu a sua filha que contava 30 anos de vida. --- As minhas lágrimas naquele momento foram inevitáveis. Eu olhei para o Vandinho, aquele Vandinho que eu estava acostumado a vê-lo sorrir e o vi chorando comigo. Colocou-me dentro do seu carro e me levou até a minha casa. No outro dia levou-me de presente um livro de auto ajuda. Teria muito o que falar do meu amigo Vandinho. Mas esse dia... Esse gesto apesar da tristeza merece ser lembrado de forma distinta.

Wandinho faleceu no ano de 2017 aos 83 anos, deixando um grande vazio para a nossa cidade e uma eterna saudade para os seus  familiares e amigos.

Onde você estiver meu caro amigo, receba o meu abraço, o meu grande abraço.

Armando Melo de Castro.

 

 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

AOS AMIGOS CANDEENSES.


 O NOSSO LIVRO CANDEIAS MG CASOS E ACASOS, PODE SER ENCONTRADO EM CANDEIAS NA PAPELARIA RISQUE E RABISQUE OU PELO WATSAPP 9 9133-1569 ATRAVES DOS CORREIOS.

TRATA-SE DE UM LIVRO DE CRÔNICAS EM UMA EDIÇÃO INDEPENDENTE, MINIMA DE APENAS 100 EXEMPLARES E SEM FINS LUCRATIVOS. PORTANTO, ESTÁ SENDO VENDIDO PELO PREÇO DE CUSTO. SERÁ PARA O AUTOR E LEITOR UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTÓRIA DE CANDEIAS. O CONTEUDO DO LIVRO RETRATA COMO ERA A VIDA EM CANDEIAS HÁ 60 OU 70 ANOS NO SEU DIA A DIA CRONICAS ESCRITAS NA PRIMEIRA PESSOA.

Armando Melo de Castro.

domingo, 8 de janeiro de 2023

ERA ASSIM A MINHA ESCOLA PADRE AMÉRICO.

                                                  Antigo pátio do Grupo Escolar Padre Américo.

 Hoje, aos 77 anos de idade, olhando para essa fotografia, é como dar um mergulho nas profundezas do oceano da minha vida. Eu chego a emocionar-me, pois é como se eu estivesse voltando a minha infância quando nesse pátio eu convivi durante o meu curso primário desde o primeiro ano que começou no dia 3 de fevereiro de 1953 e terminou no dia 8 de dezembro de 1958, aí no meu querido e amado Grupo Escolar Padre Américo, hoje Escola Estadual Padre Américo. Eu tinha, então, há poucos dias, completado 7 anos de idade. Ainda sem o uniforme, pois era o dia da chamada. --- Trajando calça curta, cor de burro fugido, camisinha de meia e uma blusa de tricô vermelha, com um bolsinho do lado esquerdo do peito com as iniciais AMC bordadas em branco com letras garrafais. --- No primeiro dia minha mãe me levou até ao portão da Escola, me beijou e eu entrei, todo acanhado, retraído e amedrontado. Era um menino tímido e talvez tenha sido esta a primeira vez em que eu me senti sozinho. Assim que ouvi o meu nome ser chamado, me aproximei e fui orientado pela professora dona Ninita Alvarenga. É bom lembrar que nesse tempo os pais não iam à escola fazer a matricula dos filhos. As professoras é quem iam às casas.

No primeiro ano de escola as aulas eram na parte da tarde e o segundo, terceiro e quarto anos, ainda tinham poucos alunos, eram na parte da manhã. A escola tinha apenas três anos e matriculava alunos de idades desiguais com conhecimentos totalmente diferentes. Apesar de já estar funcionando há três anos, ainda estava com o problema da heterogeneidade dos alunos na forma multicultural, como também em sua capacidade de adquirir conhecimentos. Muitos alunos já teriam estudado em casa com os pais, ou em escolas particulares, ou também nas escolas reunidas. Interessante dizer que havia alunos que sabiam ler, mas não sabiam escrever. Não existia, até então, um local onde agrupassem todas as classes de alunos. O Grupo Escolar Padre Américo foi, então, um grande avanço para a educação em Candeias.,

A escola contava, portanto, com 6 salas destinadas para as aulas; uma sala para a diretora e a cantina. Não existia uma sala para as professoras. A diretora era a Dona Stela Marques da Silva, esposa do Dr. Zoroastro Marques. Compunham o corpo docente da escola na parte da tarde para o primeiro ano as professoras: Maria do Carmo Alvarenga, a minha professora que no ano seguinte seria a nova Diretora em substituição a Dona Stela que iria se aposentar. Ieda Bonaccorsi, Ione Bonaccorsi; Neném Eleutério; Carmelita Albanez e Dona Elisa Paiva no seu último ano de magistério. A diretora não tinha auxiliares.

Os horários das aulas do turno da manhã era das 7 às 11 horas. E do turno da tarde das 12 às 16. Após os horários de início havia 15 minutos de carência. Daí o portão era fechado e para entrar era complicado. --- Dentro desses 15 minutos, a classe já estava reunida, o aluno abria a porta e perguntava para a professora se ela o aceitava, se o aluno era visto como indisciplinado ou costumeiro naqueles atrasos não era aceito e ele voltava para casa. Se tinha alguma justificativa pelo atraso era permitida a sua entrada. --- Nesse caso havia desculpas de todo jeito; uns porque estavam com dor de barriga; outros porque o despertador não despertou; outros porque estavam com dor de dente; mais aqueles que estavam esperando a mãe ir comprar café ou açúcar. E assim aconteciam as desculpas mais engraçadas e se algum dos colegas rissem das desculpas, a professora punia de alguma forma.

Quando o aluno faltava de aula, ele era questionado porque não teria marcado presença no dia anterior. Certa vez uma menina do bairro da Lage, --- parece que ela tinha uma certa debilidade,--- ao justificar a sua falta anterior, disse que faltou porque teria feito xixi na cama, e ela dormia com o uniforme para se levantar pronta. Os alunos que riram da história foram condenados a escrever 50 vezes a frase “Devo respeitar os meus colegas” --- O lamentável disso era porque viria a gastar várias folhas do caderno do “Para casa”. A pobreza naquele tempo era tanta que os alunos escreviam nas capas dos cadernos para aproveita-lo ao máximo.

Havia nesse tempo a existência de um inspetor municipal, alguém da sociedade comum que era nomeado pelos partidos políticos. Eles raramente apareciam na escola e se apresentavam como inspetores e se colocavam a disposição dos alunos. A bem da verdade ninguém sabia afinal o que era a atribuição desses inspetores. --- A palavra inspetor tem como sinônimo fiscalizar, cobrar etc. E ninguém sabia o que eles inspecionavam. Diziam que estariam a nossa disposição, mas ninguém sabia que disposição era essa. As professoras também não diziam. O diploma de curso primário era assinado pela diretora, a professora do aluno e o inspetor. Lembro-me de que tivemos por muito tempo como inspetor, que inclusive assinou o meu certificado de aprovação do curso primário, o Sr. Nestor Lamounier.

As cantineiras eram as filhas do Sr. João do Ibraim, assim chamadas, Toninha, a chefe da Cantina e as suas irmãs, aparecida e Tereza. Quando o aluno fazia algo errado que precisava do conhecimento dos pais, a Tereza é quem ia levar o bilhete da professora para os pais. Eu gostava muito da Aparecida. Nunca mais a vi depois que sai da escola.

O porteiro era o Sr. Erasto de Barros. Ele tinha a língua solta, e quando ficava nervoso falava o que vinha na boca. Quando entupia um dos vasos dos banheiros, era dele a tarefa de desentupi-lo. E se a tarefa estivesse difícil ele ficava falando sozinho, coisa assim como: “Vai cagar duro assim lá no inferno.” “Esse diabo deve ter comido estanho”

A terça feira era o dia da revista. A professora revistava o pescoço, os ouvidos e as unhas. Se as unhas não tivessem aparadas, no dia seguinte seria novamente revistado, se não tivesse sido aparadas o aluno tinha que ir à sua casa especialmente para isso e voltar.

No horário do recreio uma das professoras era designada para a disciplina no pátio. Essa professora ficava rodando o pátio com uma vara de marmelo na mão, cedida pelo Sr. Erasto de Barros que tinha pés de marmelo no seu quintal. Os meninos daquele tempo eram muito briguentos. E quando começava uma briguinha a professora já chegava e dava uma varada em cada lombo e os dois saiam correndo. Para quem não sabe o que é vara de marmelo, eu posso dizer que basta uma varada para dispensar a segunda. Algumas professoras chegavam e bancavam a juíza; repreendiam, dava conselhos e acalmavam os ânimos. Mas tinham outras que já chegava riscando o mapa nas costas do briguento, principalmente aqueles já famosos. Esses apanhavam dobrado Na sala de aula além do medo da vara tinha que ir para a frente, dependendo da falta, ficava de pé ou de joelhos com os braços abertos com o rosto próximo da parede. E se alguém risse, ia também fazer companhia ou era expulso para fora da sala. Ser colocado para fora da sala até o término da aula era humilhante porque ficava manjado por quem transitava por ali. Esse castigo quem era um grande freguês dele era o Renê, para quem se lembra do Renê, era filho do Chico de Assis e da Ponica Viglioni. O Renê era verbalmente agressivo e respondia as professoras. O dico do Josias era freguês de ficar sem recreio. O Marly Reis por dar cola para os colegas era sempre convidado a ficar de pé lá na frente. O interessante é que a gente não ficava com raiva das professoras, ficava sim era com vergonha delas depois. Além disso as professoras eram consideradas a primeira mãe e os pais davam a elas o maior apoio. Se o aluno apanhasse na escola chegava em casa apanhava também. E eu acho que ninguém saiu revoltado por causa dessa cultura. Pelo contrário havia muito respeito e aquele aluno que não se consertava, ele acabava sendo expulso da escola pelo resto do ano. Praticamente todos os dias tinha uma briga na saída da escola. Mas nessas as professoras não entravam.

Na base dessa caixa d’água vista na foto, tinha uma torneira, era onde a gente bebia água. A escola não tinha água filtrada. Ainda na foto pode-se ver os canteiros do nosso Clube Agrícola. Quinzenalmente os alunos eram levados a aprender fazer canteiros e plantar hortaliças. Quando tinha o que colher eram vendidas pelas cantineiras e o dinheiro era destinado ao Clube de Leitura. O Clube de leitura era um caixote bem grande, que ficava num canto da sala com uma cortina de chita, e três prateleiras. Ali ficava algo comprado com o dinheiro das verduras. Era o protótipo da pobreza. Os alunos que faziam parte do Clube Agrícola não pagavam para ler o que tinha no Clube de leitura, os demais pagariam $0,50 por mês e muitos não podiam pagar.

Os alunos do Clube Agrícola tinham a obrigação de chegar mais cedo ou sair mais tarde para regar as plantas com regadores improvisados ou doados pelos latoeiros da cidade que nesse tempo eram muitos. As tarefas eram revezadas. A minha tarefa e mais 3 colegas era arrumar esterco para adubar as plantas. Isso teria que ser feito fora o horário de Escola. Eu e o Zé Teixeira, filho do Chico Teixeira (Zé Pança) como dois dos encarregados de arrumar esterco de vaca para os canteiros de nossa responsabilidade, certa vez, nesta busca, o Silvio do Juca do Nico gentilmente nos ofereceu e nos disse que poderíamos buscar tal adubo lá no curral da fazenda do seu pai. --- Eu e Zé Pança, ficamos alegres com a proposta, pegamos a carrocinha do Zé e fomos, chegamos lá não vimos ninguém, enchemos um saco do produto, mais a carrocinha e quando íamos saindo do curral, o Juca do Nico Chega e nos fez devolver o esterno no mesmo lugar em que pegamos. Falamos a ele que o Silvio é quem tinha dado o esterco, que não estávamos roubando, ele disse que era nossa mentira. – Esse tipo de coisa a gente não esquece. 

Nesse pátio plantei uma árvore na semana da árvore. Eu fui o aluno sorteado para plantar a árvore ao redor de todos os alunos da escola. O Sr. Erasto furou o buraco e eu coloquei a muda e todos os meninos ajudaram a jogar um pouquinho de terra no pé da árvore. Durante anos eu passava e via aquela árvore. Era como uma filha para mim, até que um dia eu não a vi mais. É tão bom ter isso na cabeça para poder lembrar de vez em quando... 

Eu não sei, mas me parece que os meninos daquele tempo eram mais à vontade durante o recreio.  As meninas brincavam de dama, de roda, e de outras coisas. Os meninos era garrafão, futebol e pegar. --- 

As provas finais consistiam em uma prova oral e outra escrita que era corrigida na cidade de Formiga. Depois desta prova o aluno ficava vários dias aguardando o resultado para saber se ia participar ou não da festa de formatura. Isso era um martírio porque se não fosse aprovado teria que repetir o ano. Repetir o ano era triste. A gente ficava manjado em casa, manjado pelas professoras além de sentir que teria perdido não um ano de escola, mas um ano de vida.

 Armando Melo de Castro