Antiga Matriz de Candeias e as barraquinhas.
Uma Saudade imortal.
O dia 20 de janeiro é consagrado ao nosso querido São Sebastião. E quando se fala em São Sebastião, vem à tona de minha memória, as barraquinhas armadas no adro da nossa igreja matriz de Candeias um evento que ficou marcado profundamente em minha memória. Foi nesse tempo que mais vivi a minha infância e adolescência na minha querida terra.
Eram as barraquinhas de São Sebastião e Nossa senhora das Candeias. Além das barraquinhas tinha o leilão das mais variadas ofertas pelos católicos, que variavam desde um bolo, até um frango ou um leitão assado. na porta da igreja, após a benção, num palanque armado. Durante o evento havia, também um leilão de gado, numa doação dos fazendeiros do nosso município.
Como eu gosto de recordar daquelas barraquinhas! É um capítulo de minha vida que retrata a minha infância e adolescência. Na época das reformas da Matriz, na década de 60, foi quando esta festa esteve mais animada, mais aprimorada e organizada. E o Monsenhor Castro em plena campanha para angariar dinheiro para a construção.
Em outras cidades onde eu morei, essas festas paroquiais, tinham o nome de quermesse, mas em Candeias, eu nunca teria visto falar assim e sim barraquinhas. Portanto eu sempre achei esse nome muito carinhoso. Eram poucas barracas, A maior era a do quentão, da cerveja e dos tira-gostos. Tinha a do coelhinho da índia; a de sorteios e a mais importante e a do BINGO.
Nessa do bingo quem gritava as pedras era o meu pai Zé Delminda. Era convocado todos os anos pelo Monsenhor. Outros que trabalhavam na barraca do bingo eram Pedro do Candola, Alvim do Vico Teixeira e um outro que no momento me falha a memória. O estúdio era na sacristia da Igreja, assim que esta foi demolida, passou para uma casa antiga que existia onde hoje está instalada a COPASA.
Outras festas de igrejas que eu conheci, os sacerdotes não permitiam a venda de bebidas alcoólicas, o que não dava aquele calor de festa na festa. O Monsenhor Castro um sacerdote bastante conservador, abria mão disso e tomava também o seu quentão e ficava todo vermelhão. Aquele padre exigente e sério durante o ano todo, se transformava durante as barraquinhas, era alegre, risonho, e visitava todas as barracas e conversava com todo mundo. A barraca em que ele se aproximava se movimentava.
O bingo era livre, valia dinheiro, mas quem iria mexer com o Monsenhor Castro? Ele era o homem mais respeitado da cidade. Falava no pé da letra e tinha argumento para tudo. Visitou Candeias de casa em Casa, na sua campanha para a reforma da Matriz. Nesse meio tempo ele visitou a Lica do João Passatempo, e a convidou para comprar um bilhete da caminhonete 0K que seria sorteada no fim do ano. O bilhete custava RC$ 30,00 --- A Lica, que era lenheira, nesse tempo o uso era de fogão a lenha, disse-lhe:
“Ó sô monsinhor, eu queria
muito compra, mais eu num tenho o menor recurso. O João num ganha quais nada
vendeno biete, eu carrego lenha pá ajudá”
Isso não era argumento para o Monsenhor não. Ele na mesma hora achou uma sugestão que deixou a Lica sem alternativa para negar. --- Perguntou-lhe: Quantas colegas você tem que vendem lenha? Ela disse: 4 e qual o preço do feixe de lenha? É CR$ 5,00 Nós vamos então dividir o bilhete para seis, você e suas colegas vão dar um feixe de lenha para a igreja, e o João seu marido vai tirar da venda de bilhete 5 cruzeirinhos para completar os 30. Deu uma risadinha e perguntou-lhe: Assim você também vai concorrer e quem sabe vai ganhar? Lica comprou o bilhete e ficou de levar o dinheiro na casa paroquial o dia que tivesse o dinheiro a mão. Ela contou isso para a minha mãe que era freguesa de lenha dela, rindo, satisfeita, e ainda comentou. O Monsenhor ninguém sai da conversa dele não.
As barraquinhas era uma festa feliz, alegre e muito esperada. Nesse tempo não havia ainda a televisão para segurar as pessoas a casa. Se alguém se alterasse por excesso de bebida, o Monsenhor só se aproximava, falava alguma coisa e era o mesmo que jogar uma lata de água fria no fogo.
Certa vez o Monsenhor Castro num desses momentos, perguntou para o Chico Lordino: Chico você quer ganhar um quentão? E chico mais de que depressa disse. Quero sim sô monsinhor. E o Monsenhor de posse de um caixote, disse-lhe suba nesse caixote e faça um discurso pedindo ajuda para o povo para a nossa construção da Matriz:
O DISCURSO DO CHICO.
“Oia aqui meus amigo das
candeia das roça. o Padre Juaquim (Chico se esqueceu que ele era Monsenhor e
muita gente ainda o chamava de padre) ta fabricano essa beleza de igreja pá
cabê todo mundo. Vai tê muito banco e num vai sê preciso de fica gente que tá
fingindo assisti missa do lado de fora da igreja grandona. Mas pa essa
fabricação precisa de cobre. Intão oceis dá um jeito de ajuda. Ó eu não tenho
cobre pra ajuda, mais tô pidino proceis, é uma ajuda tamem. Quem quisé trabaiá
de servente sem ganha tamém pode,
---------------------Monsenhor pediu uma salva de palmas para o Chico que foi
muito aplaudido. Mas no outro dia queria ganhar outro quentão, e fazer novo
discurso.
No outro dia ele queria fazer
discurso de novo.
Assim eram as barraquinhas de
Nossa Senhora das Candeias e São Sebastião.
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