Lembro-me, e com saudade, do carnaval de Candeias no meu tempo. Era
muito diferente! Diferente, simples, alegre e feliz. As mães levavam as
crianças durante o dia na matinê e a noite era a vez de levar às filhas
adolescentes para brincar, durante as quatro noites. A quarta-feira
de cinzas era um dia triste, os visitantes partiam deixando a saudade e a
cidade vazia, e o próximo carnaval estaria agora, muito distante.
Nos dias que antecediam o carnaval, as pessoas, principalmente os
jovens, ficavam de ouvido atento nos rádios para decorar as músicas novas. ---
Eram marchinhas e sambas. ---- Músicas essas, sempre incluídas com as mais
antigas e sempre eram executadas aquelas de maior sucesso. As músicas
antigas e de sucessos anteriores, nunca eram esquecidas e podem ser lembradas
até hoje depois de várias décadas, como, ---- a Jardineira, Mamãe eu quero,
Chiquita Bacana, Aurora, Me dá um dinheiro Aí, Saca Rolha, Abre Alas e muitas
outras. ----
O carnaval em Candeias contava com a presença de pessoas idosas também.
Lembro-me de alguns como Zé Pacheco, com a sua filha Salete, Nestor Lamounier,
Tonico furtado, José Ribeiro, e muitos outros, que mesmo sem entrar no salão
marcavam presença.
Muito tempo antes dos dias da festa, o Jaz do Sr. Américo Bonaccorsi, já
começava os ensaios com as músicas novas, com as partituras recebidas do Rio de
janeiro. Esses ensaios, executados, então, no interior do Candeense Hotel,
chamavam a atenção de muitas pessoas. ---- O tempo de carnaval em Candeias era
um tempo alegre e festivo. ----
luía músicas feitas
por autores candeenses, como me faz lembrar o meu amigo Domiciano Pacheco,
quando ensaiava entre a rapaziada a sua marchinha do ano, no reservado do Bar
do Sebastião Cassiano, posteriormente Bifão do Lulu-- Lembro-me de uma dessas
músicas que se chamava “Dalila de Candeias”. --- Uma marchinha que inclusive
retratava a pureza das jovens de Candeias. ----
O carnaval era abrilhantado pelo nosso querido Jaz Tiro e Queda, do
maestro, Américo Bonaccorsi, composto pelos músicos: Américo Bonaccorsi,
Saxofone, --- Zinho Borges, Trombone, ---- João Virgílio, Pistom --- Violão ou
banjo, Zé Delminda (meu pai) ---- Cavaquinho, Pedrinho do Candola ---- Bateria,
Luizinho do Américo,
Suponho que esteja gravada na memória da criançada candeense daquele
tempo, a figura do Sr. “Dequeche”. (Não sei se a grafia está correta, mas
assim era pronunciado o nome dele.) --- Esse senhor, uma figura muito
simpática, era um engenheiro que morava em Belo Horizonte, e era casado em
Candeias, com a senhora Terezinha, da família Teixeira, cujos pais moravam ao
lado da Casa Melo. ---- O Sr. Dequeche que passava o carnaval todos os anos em
Candeias, nas matinês, liquidava com o estoque de refrigerantes e balas do
barzinho do Clube, quando oferecia a bebida para toda a meninada. Era uma
alegria total.
Já residindo fora vivi outros carnavais, mas nunca mais senti a mesma
alegria, que aquele carnaval familiar de Candeias me proporcionara durante a
minha infância e adolescência.
como adulto pude aproveitar um resto. Mas o tempo se incumbiu
de acabar com aquela festa tão boa, que distinguia Candeias de outros
carnavais. --- Pessoas de Campo Belo e Formiga e outras cidades apareciam;
viajantes em trânsito paravam em Candeias para aproveitar do nosso carnaval.
--- E houve até quem se casou em Candeias.
Após muitos anos, quando esta festa para mim já teria perdido o brilho,
passei um carnaval em Candeias, e este serviu apenas para que eu pudesse
fermentar em meu cérebro uma saudade profunda. -----Eu não teria visto nada que
pudesse comparar. ------ Nas ruas uma verdadeira falta de respeito. --- Moças
seminuas --- rapazes completamente bêbados, urinando pela rua sem o menor
cuidado. Jovens drogados. ---- Conclui que para mim o carnaval de Candeias
teria se transformado radicalmente e que nada do passado havia sido preservado.
----- Era eu de cara com o conflito de gerações... Lamentei! Hoje para mim o
carnaval tem outro sentido e não é mais o meu carnaval.
Armando Melo de Castro
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