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quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

VOCÊ SE LEMBRA DESSA CAPELA?

Ela era chamada capela do cemitério. Ficava localizada no adro do Cemitério são Francisco e era usada para depositar pessoas mortas enquanto aguardava a confecção do caixão na oficina do Sr. Nicodemos Salviano, ou enquanto aguardava, também, o preparo da cova ou do tumulo.

Essa capela era bem usada pelas pessoas da zona rural, que naquele tempo não tinham muito a preocupação de virem morrer na cidade. Candeias não tinha o hospital e muitos moradores das roças não tinham parentes na cidade. Muitos se tratavam lá pelo seu meio através de curadores e quando morriam vinham transportados por um cortejo fúnebre com uma meia dúzia de pessoas em padiolas toscas, do tipo de uma escada larga improvisada de paus roliços coberto por um lençol, que às vezes dava para ver a cara do defunto transportado.

O defunto ficava exposto na capela do cemitério, enquanto alguém ia encomendar o caixão na oficina do Sr. Nicodemos Salviano, e o responsável pelo cemitério furava a cova. Era comum ver subir a Rua Coronel João Afonso, um cortejo desses transportado aos ombros dos acompanhantes como se fosse um andor de santos. Também era comum ver gente parada à porta da capela numa espécie de vigília a um defunto sobre uma mesa.João Ciganinho era o responsável do cemitério numa certa época, e era ele que furava as covas, com o auxilio do seu filho Tiguinho.  Certa vez quando furavam uma cova, começou uma trovoada e eles correram para se acomodar da chuva nessa capela. E exatamente nesse momento cai um raio, que matou João Ciganinho e deixou Tiguinho desmaiado.

Com a construção da praça no adro do cemitério e a ociosidade que veio com o progresso tomar a capela, ela foi desmanchada quando se encontrava em pleno estado de conservação. Infelizmente em Candeias existe um espírito que gosta de desmanchar aquilo que poderia ter sido conservado.

Paira sobre mim uma dúvida nessa questão. Os caixões de defuntos eram feitos na oficina do Sr. Nicodemos, pelo seu filho Antônio no dia da morte da pessoa. A gente sabia que alguém havia morrido se passasse frente a oficina e visse o Antônio do Sr. Nico fazendo um caixão. Mas nunca se ouvia falar que alguém teve problema no enterro porque o oficial dos caixões estava viajando, doente oU com algum impedimento. Não havia por lá um caixão a espera de um morto. Era sempre o morto que aguardava o caixão. Eu suponho que um caixão ali de pronta entrega poderia neutralizar o ambiente, por isso não existia.

As padiolas ficavam encostadas junto ao muro do cemitério. Eu ainda me lembro de vê-las ali onde se ajuntavam. Meu pai contava que quando era solteiro, morava na Rua Coronel João Afonso e quando a lenha se acabava ele corria lá no cemitério e colhia algumas padiolas daquelas para cozinhar feijão.

Parece triste esta história, mas a vida era tão boa... A gente só chorava quando levava um tropeção, tomava uns beliscões da mãe,  sentia dor de dente ou outra dor qualquer. Mas no mais,  Saudade? Eu nem sabia o que era isso...

 

Armando Melo de Castro.

 

 

 

  por isso que eu digo. A minha Candeias era muito diferente.

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