Total de visualizações de página

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

A MINHA AVÓ E O CINICO.

                                                                      Olinda Gomide dos Reis 

 Quem disser  que a mulher é sexo frágil estará muito enganado. O que acontece é que o homem sempre foi privilegiado na questão do sexo. Mas se imaginarmos um homem gravido, o mundo já teria acabado. O mesmo não acontece com as mulheres, porque elas sempre tiveram a força de ficarem grávidas. Uma gravidez sem ser esperada e não planejada pode vir acompanhada de muitos problemas. No passado A falta de um contraceptivo eficiente prejudicava muito a vida das mulheres em suas relações impensadas dentro do casamento e principalmente fora dele. O crime de aborto era uma constante. Quantas mulheres morriam diante desse desatino. Muitas enfiavam talo de couve na vagina para se abortar. Quantos casos desses eu ouvi contar ocorridos em Candeias.

Já existiam várias formas antigas de evitar a gravidez porem de forma física, mas além de exóticos eram insuficientes e prejudicavam, em muitos casos, a saúde da mulher. O método mais antigo era o chamado coito interrompido, no qual durante o ato sexual, o homem na hora da ejaculação retira o pênis e ejacula fora da vagina. Mas isso também não funciona bem porque trata-se de uma ação que às vezes o homem perde o controle e além disso é de pouca segurança. Já é provado que o pênis excitado pode conter espermatozoides praticáveis. A camisinha era a mais usada antes da pílula também era insuficiente porque não atendia o egoísmo dos homens que diziam que era o mesmo que chupar bala com o papel. As primeiras camisinhas foram produzidas com tripas de animais, eram frágeis e não atendiam a demanda. ---  

Diante disso, era um filho no bucho e outro no saco. Os mais prudentes. Evitar uma gravidez era uma coisa complicada. Separar o sexo do problema da gravidez passou a ser uma grande preocupação da ciência. Além dessas dificuldades existia também, o grande preconceito vivido nos tempos passados. Uma moça que se engravidasse fora do casamento, era motivo para ser expulsa da família; ver o seu nome na lama e o filho como um bastardo. Diante disso, muitas mulheres eram levadas para a prostituição porque era o único lugar em que encontravam abrigo. Isso acontecia, também, quando uma esposa era abandonada pelo marido.

A mulher era uma verdadeira escrava do homem e para isso eram preparadas desde criança para serem mães e donas de casa. As mães ensinavam as filhas a pratica de forno e cozinha; lavar, passar e remendar roupas, remendar e atender com boa vontade os desejos muitas das vezes egoístas dos maridos.

Para os pais as filhas nem sempre tinham razão, teriam que tolerar as ignorâncias e os desmandos dos maridos que em muitos casos eram verdadeiros animais a ponto de saciar os seus maus instintos espancando a esposa; homens ociosos, preguiçosos que não supria a dispensa de suas casas e a mulher tinha que se virar para tratar dos filhos. Mulheres que não tinham em suas mãos sequer um centavo de seu. Contudo, é inegável que ainda encontramos em meio a nossa sociedade casos dessa natureza, apesar da evolução de nossas leis. Os conselhos dos pais, e até a pressão desses, era o perdão Bíblico quando Jesus em 18,22 de Mateus recomendou o perdão por 70 vezes 7. ----- Diante desse clima bastante conhecido a mulher amada e respeitada pelo marido poderia se considerar uma privilegiada de Deus.

Minha avó Olinda Gomide dos Reis, era uma mulher muito bonita. Sua vida com o meu avô Carlito, era tranquila. Não tiveram filhos, minha mãe era filha de criação desde seis meses de idade. Eram primas. Mas a sorte não lhe foi favorável. Ficou viúva aos quarenta e poucos anos, tendo sido o meu avô vítima de um ataque cardíaco fulminante, repentinamente caiu morto.

 Essa ocorrência conta 70 anos, e eu me lembro como se fosse hoje. Minha avó então viúva sem ter chegado a velhice. E nesse tempo era comum uma viúva assim ser assediada através de recados, visitas e padrinhos querendo lhes arrumar outro casamento. Isso porque as viúvas em sua grande parte ficavam desprovidas com a viuvez.

 Cinico era o tipo do homem mal falado na boca das mulheres com as quais ele já teria convivido. Era um sapateiro que existia na Rua Celestino Bonaccorsi, nas proximidades da Padaria Andrade. Sua fama era terrível, como abrutalhado; pão duro; e inconsequente com as mulheres. Era muito amigo do Mario Rigali, o italiano dono do Bar Piloto. Piloto era um homem do povo, fazia qualquer tipo de favor que lhe fosse solicitado. E Cinico pediu a ele para uma aproximação com a minha avó Olinda. --- Piloto foi até a minha casa e combinou com o meu pai uma reunião na casa de minha avó contudo sem antes falar com ela do que se tratava.

 Marcada a reunião para as 7 horas da noite, presentes minha avó Olinda, e meus pais... Ah eu também estava lá. --- Daí a pouco chega o Cinico e o Piloto. Cumprimentos e logo o Piloto com aquela sua amabilidade italiana, começa: “Estamos aqui Dona Olinda, porque queremos ver a senhora feliz, protegida, satisfeita. A vida de uma mulher viúva não é boa e a senhora é muito jovem pode resgatar a sua boa vivencia que tinha com o Carlito. --- Daí a minha vó abre a boca e fala: “É mesmo Sô Piloto, quando a gente fica sozinha é muito triste. --- Mas quem é que o senhor tá querendo arrumar para mim?

 E o Piloto generosamente aponta para o Cinico que dá aquela rizada sem graça que ele tinha e diz: “É eu Olinda, desdo do dia qui ocê ficô viúva eu tô de oio nocê. Ocê é muito bunita pa fica sem home. ---- Nois num precisa casá já não. Nois pode isprementá nuns dois ou treis meis.

 Minha avó ficou de pé e falou alto e em bom som.

Eu sei o qui ocê tá quereno isprementá Cinico mas aqui ninguém vai isprementá não. Isso aqui foi só do Carlito.

 Diante desse barulho o Piloto foi dando um jeito de sumir com o Cinico e como dizem: "Cascou fora"

 Armando Melo de Castro.

 

 

 

 

 

 

 

Nenhum comentário: