Neste 17 de dezembro de 2022, a minha querida Candeias completou 84 anos de emancipação. Hoje, assim como eu Candeias ficou idosa, mas a Candeias menina, ainda se encontra bem guardada dentro de mim. Somos contemporâneos pois quando eu nasci, ela era uma menina com apenas 8 anos. Não tinha água tratada como se tem hoje. A luz da Cemig, essa então, nem em sonho. Calçamento de ruas nem na imaginação. Azeite de oliva, era azeite doce; e palmito enlatado era uma coisa esquisita. O pilão ainda era um utensílio de grande utilidade para pilar arroz e café. Chuveiro elétrico, telefone, fogão a gás e panela de pressão eram coisa de outros mundos. — Era comum ver os carros de bois descarregando lenha nas portas. Televisão era uma mentira na boca dos descrentes; rádios eram raros. Viajar, era praticamente só de trem. E por falar em trem, isso não se via só na estação não... A gente comia trem, bebia trem, lavava os trens e quando uma coisa era boa, era trem “bão.” Ah, tem mais! Mulher bonita também era trem bão demais da conta.
Lembro-me de uma vez que a
minha avó chegou na nossa casa contando que a vizinha dela havia sido levada
para Campo Belo passando muito mal. Naquele tempo quando o doente de Candeias
era levado para Campo Belo, era como se fosse um aviso da morte. E quando minha
mãe lhe perguntou de que mal ela teria sido vítima a resposta foi positiva. Ela
arrumou uma dor forte no peito e o Doutor Renato mandou ir para Campo Belo.
Parece que ele não sabia o que era não. A minha mãe já deu logo o seu palpite:
“Nossa Coitada! Quando vai pra Campo Belo é porque o trem é brabo.
Pois é minha querida Candeias,
parabéns pelo seu aniversário; pelos seus 84 anos. Como disse o meu amigo Franz
Salviano Borges: --- “Eu sai de Candeias, mas Candeias não saiu de mim”. --- Eu
tenho você guardada e muito bem guardada dentro de mim. O tempo essa coisa que
nos transforma em monstros, não conseguiu roubar você de mim. Isso porque eu
consigo ainda lembrar do cantar de um galo. Vejo ainda, a minha querida Rua da Ponte;
cavalos pastando nas ruas. Ainda retratam em meu cérebro o Sr. João do Ibraim,
fiscal da Prefeitura, comandando os capinadores das ruas cheias de matos,
quando às vezes as enxadas se davam com um ninho de galinha ou uma cobra. --- O
berro de um porco entrando na faca. O grito do Zé Morais, com a sua carroça
cheia de verduras... O “Au leite” do leiteiro Amélio... E o “Ó o padeiro do
Antônio da Zenóbia” O córrego dos Cassianos, para nadar; ainda consigo sentir o
sabor das broas de amendoim da Luíza do Miguel Simões e o cheiro da linguiça da
Rosa do Augusto. O barulho do caminhãozinho do João do Artur; o apito da Maria
Fumaça na estação..., mas tem uma coisa que sai nitidamente do meu cérebro e
entra em meus ouvidos:
É o cantar do galo legorne da
dona Marica da Melada, a nossa vizinha de frente... Como cantava bonito, aquele
galo. Acho que era um galo musico.
Armando Melo de Castro
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