Às vezes eu chego a pensar que
morri e estou em outro mundo. Parece até que o mundo que me viu nascer não
existe mais. Tudo que antes era proibido ou pecado hoje em dia é coisa normal.
Mentir, roubar, falar palavrão, faltar com o respeito com os mais velhos ou com
os pais era falta grave dentro de uma família. Uma criança ao se sentar tinha
que ter postura, colocar os pés sobre as traves de uma cadeira fazia merecer
uns tapas. Se chegasse uma visita, o silêncio das crianças era total. Tomar a
bênção dos pais, dos mais velhos e do padre era um dever. Nas escolas a falta
de respeito com a professora era falta grave e isso cominava em expulsão,
ficando o aluno impedido de se matricular em outra escola. Do jeito que vão
indo as coisas, daqui a pouco matar não será crime. Hoje em dia, parece que tudo
isso era um atraso de vida. O que já vi
e tenho visto chega a me assustar de ver tanta indisciplina. Não se trata de
condenar as novas gerações, afinal elas não têm culpa. Afinal, sabemos que
vivemos sobre uma lei de causa e efeito. Portanto, não existe efeito sem causa
e nem causa sem efeito. E quais são essas causas?
Recentemente um grande
político brasileiro disse que sua mãe lhe dizia que a mentira é necessária,
porque ela voa enquanto a verdade engatinha. Um conservador como eu, quase
morre de susto diante de uma coisa dessas.
Não é difícil observar que a
televisão trouxe uma grande mudança para a nossa sociedade a partir da década de
60 quando se espalhou pelo Brasil afora,
trazendo consigo a grande parte dos pecados capitais. O convívio das
pessoas humildes com o poder persuasivo da televisão; os maus exemplos dados
pelas novelas. De outra forma a integração da mulher no
trabalho fora do domestico sem um
preparo devido para isso, deixando os filhos nas mãos de pessoas despreparadas.
E agora para completar a internet, ao alcance de todos. Em suma podemos dizer que as novas gerações vem
sendo vitimas do despreparo do seu meio.
No passado, por exemplo,
roubar era uma das piores expressões. Um ladrão não era condenado apenas pela
justiça, mas sim pela sociedade. Lembro-me de um sacristão chamado Onofre, era
o xodó do Monsenhor Castro. Ele tinha por profissão pintor de paredes. Certa
feita, numa construção de primeira linha em Candeias, vieram pintores de Campo
Belo. Nesse meio tempo foram roubadas algumas latas de tinta naquela
construção, que investigado descobriu-se que o roubo teria sido feito pelo
Onofre sacristão. Foi um escândalo total na cidade. E o Monsenhor Castro que era um homem rico,
pagou os prejuízos para o Onofre e lhe deu o conselho para se mudar de
Candeias, porque ali ele não iria conseguir mais nada. Onofre nunca mais foi
visto em Candeias. Sumiu de vez.
No quintal de nossa casa havia
uma grande parreira a qual o meu pai cuidava muito bem, o que proporcionava uma
boa colheita de uvas, quando na safra tínhamos fartura da fruta que dava para
agradar a vizinhança. Certo dia, a Aparecida do Zé do Leonides, esposa do
Carminho Machado esteve conosco e viu as uvas, minha mãe colheu alguns cachos e
lhe deu de presente. Alguns minutos depois, a Marly, sua irmã estava a
perguntar a minha mãe se ela realmente teria dado aqueles cachos de uva para a
sua irmã. Seu pai mandara conferir.
No ano de 1955, minha
professora era Dona Ninita Alvarenga, que teria se transferido para a cidade de
Divinópolis dada a transferência de seu Marido, Sr. Edson, chefe da Agência do
IBGE em Candeias, antes do Sr. Miguel Albanês. Posteriormente Dona Ninita esteve
a Candeias e levou de presente para os seus ex alunos, um lápis moderno que
tinha anexado na ponta superior uma borracha. --- Quando apareci com esse lápis,
meu pai quis saber a origem e foi até a escola conferir se aquilo teria sido
mesmo um presente da professora.
de de São Sebastião do Paraíso, num
bar de um conterrâneo, o Lelei, irmão do Carmelio Carvalho. Era a primeira vez
que eu saia de casa. Na despedida de meus familiares, minha mãe chorando e meus
irmãos tristes, meu pai se aproximou de mim e disse: “Escuta aqui meu filho,
seja honesto, não ponha a mão no que não for seu. Eu prefiro que você volte
morto para casa, do que com o nome de ladrão. Respeite o seu patrão e a família
dele. Que Deus o abençoe.
Dizem que a oportunidade faz o
ladrão. Eu tive muitas oportunidades na minha vida para roubar, mas não roubei.
--- Machado de Assis, contrariava esse rifão, e dizia que a ocasião faz o
furto, porque o ladrão já nasce pronto, ---- por mim eu não sei se o ladrão
nasce pronto ou se é a ocasião faz o ladrão. Sei dizer que o eco das palavras
do meu pai, naquele momento nunca fugiram dos meus ouvidos.
Armando Melo de Castro.
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