O mais antigo hotel de que
temos notícia em Candeias é o Hotel do Bitu. --- Esse hotel foi então vendido
para a Sra. Geny Resende, esposa do Sr. Manoel Alves, delegado de Polícia. ---
O hotel foi remodelado, tinha uma placa luminosa com os dizeres: NOVO HOTEL, de
Geny Resende. --- Ele durou muitos anos. Com a morte da Sra. Geny, o hotel
continuou administrado pelo marido, Manoel Alves, que posteriormente veio a se
casar com a Sra. Vilça Freire. ---
Com a morte do Sr. Manoel, o
hotel foi adquirido por uma de suas hospedes antigas que fazia do hotel a sua
morada, a Sra. Nely Furtado que dali se transferiu para a sua nova hospedaria
próximo da Igreja do Senhor Bom Jesus. --- O local onde era instalado o antigo
NOVO HOTEL, foi demolido e ali hoje se encontra a CASA MODERNA MÓVEIS, e na
antiga Residência do Sr. Manoel Alves, hoje se encontra a LOJA ZEMA.
Esse local onde se encontrava
o antigo Novo Hotel me traz guardado o maior susto que levei em toda a minha
juventude quando eu contava 24 anos de idade, no ano de 1970. Eu já residia na
cidade de São Paulo, desde 1965. E trabalhava em três empregos. Das 7 da manhã
até as 10,30 hs. Com um velho português, que liquidava uma imobiliária. O meu
trabalho era de datilógrafo. – Das 12 até as 6 hs eu era continuo do Banco Mineiro
da Produção, (posteriormente Bemge onde me aposentei) e das 19 até as 22, de
faxineiro, numa Agência do Banco de Crédito Real de Minas Gerais, onde o meu
amigo Titoco era contínuo e arrumou para mim esse emprego de faxineiro. ----
Toda essa luta tinha um objetivo, de realizar um sonho. Comprar um carro e
consegui. Comprei um carro com 9 anos de uso da marca Simca Chambord, ano 1961.
Viria agora o primeiro
problema. Eu não tinha carteira de motorista. Mas não tinha, juízo também. Pois
rodava dentro da capital paulista para todo lado naquele carro e sem carteira.
Certa vez, naquele espaço frente ao Campo do Pacaembu, tarde da noite, o carro
deu um problema, e eu e mais três colegas ali, pelejando para fazer o carro
pegar e não pegava, chega a polícia Civil. A sorte é que o Elias filho da Dona
Floripes, ele era tenente da Policia de São Paulo, estava junto e conversou com
os homens, liberando-lhes a vasculhar o carro para ver se havia alguma coisa de
errado, sendo que eles não pediram documentos e ainda nos ajudou a fazer o
carro pegar. Foi um aperto aliviado. Coisa de jovens.
Eu imagino que nem Ayrton
Senna, nem Emerson Fitipaldi, nem Nelson Piquet puderam ser tão felizes,
dirigindo um carro da formula 1, como eu com a minha velha Simca Chambord 61.
Quando eu vinha a Candeias, a Fernão Dias, de uma pista só, cheia de buracos e curvas,
para mim era como um tapete vermelho. Eu nunca viajava sozinho, sempre vinha
comigo um amigo que participava do custo da gasolina. Afinal, o carro bebia
bastante e a viagem era longa. --- Eu não tinha carteira até então – Mas na
saída eu pedia ao meu Santo Antônio uma ajuda espiritual e nunca me foi negada.
Hoje eu vejo que os colegas que viajavam comigo eram mais aventureiros do que
eu.
Meu pai me deu uma bronca por
não ter carteira e dando direito aos guardas de prenderem o carro e surgir uma
série de problemas. Dai eu passei a deixar o carro em Candeias e viajar de
ônibus. Mas quando eu chegava a Candeias, eu rodava Cristais, Campo Belo,
Camacho Itapecerica e Formiga. O João Cambota teria me dado umas aulas.
Dizia que ao ver um guarda, desse uma paradinha e pedisse uma informação e
acendesse um cigarro. E parece que isso dava certo, porque nem ele e nem eu,
jamais fomos abordados. Mas posteriormente tirei a carteira no bairro do
Cambuci em São Paulo no dia 10 de maio de 1971.
Certo dia, eu descia a Avenida
17 de dezembro, em Candeias todo metido, todo gostosão, parecendo ser o Ayrton
Senna de Candeias, quando vou passando frente ao NOVO HOTEL, o Sr. Manoel
Alves, que tinha os óculos fundo de garrafa, havia comprado um fusquinha,
zerinho, vermelho, e estava ainda até com aqueles sinais de novo nas poltronas,
Ele não tinha carteira, não sabia dirigir direito além de ter problema de
vista. O carro dele que estava de frente para o Alto do Cruzeiro, ele entra no
carro dá uma guinada de 90º e atravessa de cheio à minha frente. A frente do
meu carro toda amassada e o dele, zerinho, com a porta do motorista toda
amassada e a coluna entortada. --- Naquele momento eu pensei que havia lhe
matado. Mas felizmente ele saiu lá de dentro cambaleando, assustando, mas
inteiro.
Final da história. Ele estava
completamente errado. Mas era o delegado, foi feita uma perícia e nomeado o
então sub delegado Geraldo da Vargem e os peritos dois motoristas
profissionais: Raimundo do Antero e Henrique Pinheiro. --- A sentença do Juiz
não me favoreceu. Pois alegara que não teria havido vítimas, então que cada um
consertasse o seu. ---- Eu continuei a rodar no meu, mesmo com a frente
amassada, até que achei um comprador para quem o vendi a suaves prestações,
pela metade do preço. --- Quanto ao Manoel eu nunca mais o vi dirigindo um
carro. ---- Mas o que foi bom, é que não ficamos inimigos, fomos sempre bons
amigos.
Comecei tudo de novo. E
comprei o meu segundo carro, um chevrolet 51 igual ao do Monsenhor Castro. Era
10 anos mais velho do que a minha velha Simca, que eu amava tanto.
É tão bom ser jovem. É tão bom
lembrar até dos transtornos da vida em Candeias, minha terra querida.
Armando Melo de Castro
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