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terça-feira, 1 de novembro de 2022

CANDEIAS, E MINHAS LEMBRANÇAS.

O mais antigo hotel de que temos notícia em Candeias é o Hotel do Bitu. --- Esse hotel foi então vendido para a Sra. Geny Resende, esposa do Sr. Manoel Alves, delegado de Polícia. --- O hotel foi remodelado, tinha uma placa luminosa com os dizeres: NOVO HOTEL, de Geny Resende. --- Ele durou muitos anos. Com a morte da Sra. Geny, o hotel continuou administrado pelo marido, Manoel Alves, que posteriormente veio a se casar com a Sra. Vilça Freire. ---

Com a morte do Sr. Manoel, o hotel foi adquirido por uma de suas hospedes antigas que fazia do hotel a sua morada, a Sra. Nely Furtado que dali se transferiu para a sua nova hospedaria próximo da Igreja do Senhor Bom Jesus. --- O local onde era instalado o antigo NOVO HOTEL, foi demolido e ali hoje se encontra a CASA MODERNA MÓVEIS, e na antiga Residência do Sr. Manoel Alves, hoje se encontra a LOJA ZEMA.

Esse local onde se encontrava o antigo Novo Hotel me traz guardado o maior susto que levei em toda a minha juventude quando eu contava 24 anos de idade, no ano de 1970. Eu já residia na cidade de São Paulo, desde 1965. E trabalhava em três empregos. Das 7 da manhã até as 10,30 hs. Com um velho português, que liquidava uma imobiliária. O meu trabalho era de datilógrafo. – Das 12 até as 6 hs eu era continuo do Banco Mineiro da Produção, (posteriormente Bemge onde me aposentei) e das 19 até as 22, de faxineiro, numa Agência do Banco de Crédito Real de Minas Gerais, onde o meu amigo Titoco era contínuo e arrumou para mim esse emprego de faxineiro. ---- Toda essa luta tinha um objetivo, de realizar um sonho. Comprar um carro e consegui. Comprei um carro com 9 anos de uso da marca Simca Chambord, ano 1961.

Viria agora o primeiro problema. Eu não tinha carteira de motorista. Mas não tinha, juízo também. Pois rodava dentro da capital paulista para todo lado naquele carro e sem carteira. Certa vez, naquele espaço frente ao Campo do Pacaembu, tarde da noite, o carro deu um problema, e eu e mais três colegas ali, pelejando para fazer o carro pegar e não pegava, chega a polícia Civil. A sorte é que o Elias filho da Dona Floripes, ele era tenente da Policia de São Paulo, estava junto e conversou com os homens, liberando-lhes a vasculhar o carro para ver se havia alguma coisa de errado, sendo que eles não pediram documentos e ainda nos ajudou a fazer o carro pegar. Foi um aperto aliviado. Coisa de jovens.

Eu imagino que nem Ayrton Senna, nem Emerson Fitipaldi, nem Nelson Piquet puderam ser tão felizes, dirigindo um carro da formula 1, como eu com a minha velha Simca Chambord 61. Quando eu vinha a Candeias, a Fernão Dias, de uma pista só, cheia de buracos e curvas, para mim era como um tapete vermelho. Eu nunca viajava sozinho, sempre vinha comigo um amigo que participava do custo da gasolina. Afinal, o carro bebia bastante e a viagem era longa. --- Eu não tinha carteira até então – Mas na saída eu pedia ao meu Santo Antônio uma ajuda espiritual e nunca me foi negada. Hoje eu vejo que os colegas que viajavam comigo eram mais aventureiros do que eu.

Meu pai me deu uma bronca por não ter carteira e dando direito aos guardas de prenderem o carro e surgir uma série de problemas. Dai eu passei a deixar o carro em Candeias e viajar de ônibus. Mas quando eu chegava a Candeias, eu rodava Cristais, Campo Belo, Camacho Itapecerica e Formiga. O João Cambota teria me dado umas aulas. Dizia que ao ver um guarda, desse uma paradinha e pedisse uma informação e acendesse um cigarro. E parece que isso dava certo, porque nem ele e nem eu, jamais fomos abordados. Mas posteriormente tirei a carteira no bairro do Cambuci em São Paulo no dia 10 de maio de 1971.

Certo dia, eu descia a Avenida 17 de dezembro, em Candeias todo metido, todo gostosão, parecendo ser o Ayrton Senna de Candeias, quando vou passando frente ao NOVO HOTEL, o Sr. Manoel Alves, que tinha os óculos fundo de garrafa, havia comprado um fusquinha, zerinho, vermelho, e estava ainda até com aqueles sinais de novo nas poltronas, Ele não tinha carteira, não sabia dirigir direito além de ter problema de vista. O carro dele que estava de frente para o Alto do Cruzeiro, ele entra no carro dá uma guinada de 90º e atravessa de cheio à minha frente. A frente do meu carro toda amassada e o dele, zerinho, com a porta do motorista toda amassada e a coluna entortada. --- Naquele momento eu pensei que havia lhe matado. Mas felizmente ele saiu lá de dentro cambaleando, assustando, mas inteiro.

Final da história. Ele estava completamente errado. Mas era o delegado, foi feita uma perícia e nomeado o então sub delegado Geraldo da Vargem e os peritos dois motoristas profissionais: Raimundo do Antero e Henrique Pinheiro. --- A sentença do Juiz não me favoreceu. Pois alegara que não teria havido vítimas, então que cada um consertasse o seu. ---- Eu continuei a rodar no meu, mesmo com a frente amassada, até que achei um comprador para quem o vendi a suaves prestações, pela metade do preço. --- Quanto ao Manoel eu nunca mais o vi dirigindo um carro. ---- Mas o que foi bom, é que não ficamos inimigos, fomos sempre bons amigos.

Comecei tudo de novo. E comprei o meu segundo carro, um chevrolet 51 igual ao do Monsenhor Castro. Era 10 anos mais velho do que a minha velha Simca, que eu amava tanto.

É tão bom ser jovem. É tão bom lembrar até dos transtornos da vida em Candeias, minha terra querida.

Armando Melo de Castro

 


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