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segunda-feira, 21 de junho de 2021

VICENTE DA GERALDA DA NITA E O OLEO LIRIO.

 Grande parte dos candeenses tem em seus nomes uma espécie de dono. É uma cultura a inclusão  do nome do pai ou da mãe para identificar a pessoa. Por exemplo: João do Nestor; Wandinho do Américo; Zé da Zenóbia;  Juca do Nico; Armando da Quinha; Getúlio da Virgínia; Maria do Firmino. Em outros casos acrescem, também, o nome do cônjuge, como Maria do Erasto, Rola do Estevão etc. O nome do qual eu vou falar da sua história, leva até o nome da avó: Vicente da Geralda da Nita.

Vicente, era funcionário da Casa Celestino Bonaccorsi. Fazia parte do grande grupo de caixeiros que exercia a função nos balcões daquela loja. Entre eles, ali estavam os irmãos, Paulo, e Aurélio Vilela, Wantuil e Francisco de Castro, meus tios. Os irmãos Aurélio e Antônio Breias, Cristóvão Alvarenga e seu filho Tovinho, Lulu, Bebé da Mariazinha, Zé Mori,   e muitos outros, que no momento me falham a memória e que prestaram os seus serviços ali na grande casa comercial,  tão bem lembrada. --- O gerente era o Pedrinho Bonaccorsi. Todos aqui citados são de saudosa memória.

Alguns dos balconistas da Casa Celestino Bonaccorsi,  entrosados no ramo de comércio, resolviam sair do emprego e montar um negócio e começar a vida de comerciante, como o caso  do Lulu e o Zé Mori que montaram um Bar no cômodo de comercio do casarão do Sr. Torquato Viglioni, localizado onde hoje está o Banco do Brasil. Posteriormente Zé Mori foi ser o porteiro do Grupo Escolar Presidente Kenedy e Lulu continuou até se aposentar. --- Vicente e Paulo Vilela, também ao deixarem a Casa Bonaccorsi, abriram as suas lojas. ---- Os nomes citados neste texto se referem a amigos meus já falecidos, porque foram pessoas com as quais eu convivi.

O caso que estaremos especificando, o Vicente da Geralda da Nita, foi um dos vendedores que resolveu deixar o emprego e começar um pequeno negócio. E o fez num limitado cômodo de venda junto a sua residência, uma pequena casa por ele construída na Rua Celestino Bonaccorsi,  onde hoje se encontra a antiga  residência do Sr. Antônio Virgílio, já falecido.

Vicente, era filho único;  casado e tinha uma escadinha de filhos. Lembro-me de ver a esposa dele sempre gravida. --- Ele era um tanto ágil e não parava dentro do seu pequeno balcão. Se visse um produto mal colocado na prateleira estava ele lá o colocando o seu lugar certo. A sua pequena venda tinha pouca mercadoria, porque o seu capital era curto, mas o seu esforço era muito grande.

Tendo trabalhado na Casa Celestino Bonaccorsi, ficou amigo de muitos fregueses e como era um bom vendedor, foi conquistando a simpatia de muitos. Assim, quando abriu o seu pequeno comercio, começou a trabalhar no peito a peito. E as vezes deixava a sua mulher tomando conta do negócio e saia pelas ruas no sentido de encontrar fregueses que ele estava acostumado a atender no seu antigo emprego. Enfim, o seu ponto não era estratégico para comercio. --- Lembro-me o dia em que ele se encontrou com o meu pai, bem próximo do Hotel do Américo, quando ele disse:

--- Zé, estou precisando de você.

---O que foi Vicente?

---Eu abri uma vendinha e eu preciso que você compre alguma de mim para me ajudar.

--- Onde é o seu comercio?

--- É perto da padaria do Mozart, junto de minha casa.

--- Vicente, lá é muito longe; e u moro lá na Rua da Ponte,      (R.Cel. João Afonso) E quem faz compra é o menino(eu)...

--- Não Zé, eu estou lançando um produto que é só eu que o tenho. Breve ninguém mais vai comer gordura de porco, porque a gordura de porco tem um tal de colesterol que faz dar derrame. E eu já tenho esse óleo de fazer comida, Chama-se Lírio e é feito de amendoim e sai mais barato que a gordura de porco, cheia de vermes e lombrigas.

E o Vicente acabou convencendo o meu pai. Que se propôs a comprar pelo menos o óleo de cozinha Lírio, de amendoim. O primeio óleo de cozinha que apareceu em Candeias, pelas mãos do Vicente. Logo depois vieram óleo de caroço de algodão, soja e milho, já de outras marcas, e as propagandas contra a banha de porco foi crescendo, e o comercio de porco foi sendo abalado.

Era de entender que Vicente iria prosperar no comercio. Dinâmico, educado, humilde, e parecia que gostava da sua profissão de comerciante. Ele era tão atencioso com a sua freguesia que parecia que os fregueses além de serem bem servidos, tinham o prazer de comprar dele com o fito de ajuda-lo. A sua vendinha foi crescendo a ponto dá área física não o atender mais e ele teve que procurar um espaço maior.

Na avenida 17 de dezembro, onde se encontra o Salão do Nenê, Sorveteria Celinho, Planeta Vídeo, era uma área ocupada por uma grande casa de comercio e residência que se encontrava fechada. --- Vicente a alugou e mudou-se para lá com a família e o comercio. Todos viram o quanto Vicente teria melhorado de vida graças ao seu esforço. Homem honesto, educado e dedicado a família e ao trabalho. Hoje sua loja teria se transformado no que dava para observar o quanto vale um trabalho bem feito, com amor e dedicação. Desde o tempo em que Vicente teria começado com o seu pequeno negócio, eu vinha o acompanhando, porque meu pai sempre lembrava, de mandar comprar alguma coisa na sua venda dada a sua atenção.

Comumente a gente via a sua mãe assentada numa cadeira num canto da loja e a sua esposa com um filho no colo.

Certo dia quando eu entrei ali para comprar alguma coisa, Vicente teria recebido um estoque de papel higiênico e já teria preenchido as prateleiras com as unidades e recolhendo algumas caixas do produto para o interior da casa. Disse numa força de expressão:

Tenho papel higiênico para o resto de minha vida! Sua mãe exaltando-se disse: “ O que é isso Vicente, como você fala uma bobagem dessas? --- e ele sorrindo disse: “Ora mãe, quem sabe?”

Uma semana depois Vicente morria de repente. Deixando na orfandade uma escadinha de filhos, a esposa e a mãe.

Armando Melo de Castro.

 

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