Total de visualizações de página

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

FESTA E TRAGÉDIA CANDEENSE.








                                                            Corpo do capitão Leônidas Henrique Lannes   (Reedição)

 Candeias, na década de 50, ficou marcada pelo dinamismo do jovem prefeito, Dr. José Pinto de Resende, que era filho de outro ex-prefeito, o sr. João Pinto de Miranda. --- O Dr. José Pinto de Resende era inteligente, muito instruído e honesto, mudou completamente o perfil da nossa cidade. Abriu inúmeras ruas e fez terraplenagem em vias desconsertadas. Entre os seus grandes feitos, três coisas importantes aconteceram na sua gestão:

1) Início das obras de calçamento da cidade;

2) Inauguração do Horto Florestal;

3) Inauguração do Campo de Aviação.

A cidade, até então, não tinha ruas calçadas. Quando os carros passavam, deixavam rastros de poeira que faziam as donas de casa sonharem com a possibilidade de um dia verem suas ruas pavimentadas. Outros logradouros eram cheios de buracos onde um veículo não conseguia circular. O mato nas ruas era tão comum que facilmente eram vistas cobras soltas por ali. As casas da rua em que fui criado, ou seja, na Rua Coronel João Afonso Lamounier (saída para a cidade de Formiga) eram todas da cor da poeira. Era comum ver cavalos pastando e galinhas soltas pelas ruas.

O Dr. José Pinto de Resende foi quem deu início ao calçamento das ruas de Candeias. Daí para frente, todos os prefeitos participaram do processo de manutenção da cidade calçada. Sabe-se que a pavimentação, em forma de paralelepípedo, deixa a cidade menos aquecida em comparação às ruas asfaltadas. Com isso, aproveitou-se a grande reserva de pedras existente no município, o que pode proporcionar, também, uma boa demanda de mão de obra.

Outra importante realização do prefeito, José Pinto, foi trazer para Candeias um horto florestal. Uma área reservada para reproduzir espécimes vegetais e que ficava situado no espaço que se destina, atualmente, ao Estádio do Rio Branco Esporte Clube e ao matadouro municipal. Mudas de árvores variadas eram ali distribuídas gratuitamente. A instituição era administrada por um engenheiro Agrônomo e um gerente que vieram de fora, todavia, empregou-se um grande grupo de funcionários, principalmente meninos no tempo em que não era proibido menino trabalhar. O Horto Florestal de Candeias foi, durante o seu tempo, um ponto turístico que recebia a visita constante de namorados e familiares. O fim desse horto é para mim desconhecido.

A terceira obra importante do prefeito José Pinto foi o Campo de Aviação construído no Bairro da Parmalat e que ocupava um grande espaço no qual se encontra instalada, nos dias de hoje, uma indústria de tábua de granito bem como os eventos referentes às festas do tipo exposição agropecuária.

O campo de aviação e o horto florestal seriam inaugurados no mesmo dia. A previsão era de que seria uma festa de grande repercussão. Pode-se, portanto, acreditar ter sido esta a maior festa de todos os tempos anotada nas lembranças do povo  candeense. ---  Na parte da manhã, seria a inauguração do campo com a presença de autoridades locais, regionais, estaduais e visitantes das cidades vizinhas. Um palanque foi montado e a maior parte da população de Candeias estava presente

Candeias é o berço de um ilustre , da Força Aérea Brasileira, hoje aposentado, o coronel aviador, Renato Paiva Lamounier, filho do Sr. Olinto Lamounier e da professora, Dona Eliza Paiva Lamounier. O Coronel Renato é neto do Coronel João Afonso Lamounier, mais um personagem ilustre da nossa história. --- Nunca esteve ausente de sua Candeias. Sempre aparece, para ver os seus parentes e hospedar-se no Hotel Fazenda Álamo. E sempre leva para o Rio de Janeiro, onde mora, as delícias de nossa terra. O coronel Renato Paiva é um candeense detentor de um currículo brilhante, por ter prestado relevantes serviços à nação brasileira, inclusive à  Presidência da República como comandante aviador do Presidente Ernesto Geisel.

Nesse tempo, Renato Paiva, era cadete da Aeronáutica, e seria um futuro piloto da Esquadria da Fumaça. Entretanto, em uma das visitas a Candeias o prefeito, José Pinto, procurou saber dele  se existia a possibilidade de  conseguir a vinda à Candeias da Esquadrilha da Fumaça, para a inauguração do campo. Renato disse-lhe que sim. Porém ele teria que ir ao Rio de Janeiro e se encontrar com o comandante da Aeronáutica.

O prefeito candeense bastante entusiasmado com a ideia, e acompanhado do deputado federal João Nogueira de Resende, dirigiu-se ao Rio de janeiro, então a capital do país. E na Escola da Aeronáutica, junto também ao cadete candeense, se encontraram com o comandante daquela instituição ficando assim agendada a data de inauguração do campo com a presença da Esquadria da Fumaça para o dia 18 de julho de 1958. Notícia esta que veio trazer ao povo candeense grande alegria. As emoções de ver as acrobacias dos aviões era um assunto que colocava muita gente em dúvida, o que aguçava a mente de todos.

Tendo chegado o “Dia D”, logo de manhã o campo de aviação a ser inaugurado encontrava-se lotado para ouvir os discursos e a chegada da tão prometida Esquadrilha da Fumaça, prometida para as 9 horas daquela manhã.

E ela não chegou. Esse atraso seria um fato anormal porque a esquadrilha teria já chegado a Campo Belo no dia anterior e lá iriam pernoitar e aguardar o momento de vir para Candeias, tempo que seria de apenas três minutos de Campo Belo a Candeias. E esse atraso causou uma grande inquietação nas autoridades candeenses e no povo em geral. O meio de comunicação em Candeias era precário; praticamente apenas pelos telegramas da estação ferroviária. E por isso a notícia desastrosa demorou muito a chegar, abalando e frustrando toda aquela expectativa do povo, não só de Candeias, como também de cidades vizinhas. Afinal, a Esquadrilha da Fumaça era uma coisa nova, com poucos anos de existência. E numa cidade de interior isso era muito raro. -

Ocorreu, todavia, que ao levantar voo para se dirigir para Candeias, a uma velocidade de 400 quilômetros por hora, o que não levaria mais de 3 minutos, o comandante, Capitão-aviador, Leônidas Henrique Lannes, decidiu dar uma pequena apresentação para o povo de Campo Belo, e nessa demonstração, o seu avião perdeu o controle e foi bater com a ponta da asa na torre da Igreja Matriz em Construção e foi cair num terreno onde morava a família do Sr. Clóvis Rios, atual esquina da Rua Ana Jacinto Rios com a Rua Joaquim Murtinho. Morreram o piloto, comandante da Esquadrilha e  duas crianças filhos do Sr. Clovis e Dona Tereza Trindade. A notícia trouxe para Candeias uma grande comoção.

Os outros três aviões, durante a festa de inauguração do campo, passaram timidamente pelos céus de Candeias sob os nossos olhares tristonhos. Mas enquanto aqueles aparelhos sumiam nas nuvens, com certeza, estava havendo uma reciprocidade de sentimentos quando o nosso povo sentia uma grande tristeza e frustração, enquanto  aqueles três aviadores voltavam as suas origens com os corações partidos por deixarem para trás o seu companheiro e comandante.

O capitão Leônidas Henrique Lannes, era um homem tido como prudente e cauteloso que além de ser o comandante da Esquadria era instrutor de voo de cadetes do ar, morto quando teria vindo com o objetivo de alegrar o nosso povo. Esse acidente de repercussão nacional foi, por muitos anos, lembrado pelo povo candeense num sentimento de frustração por ter perdido uma oportunidade que nunca mais, talvez, pudesse vir tê-la de novo. Mas como tudo não estaria perdido, o nosso cadete, hoje, aposentado, coronel Renato Paiva Lamounier, nas suas vindas a Candeias, em visita a sua mãe, vinha num desses aviões e sempre nos dava uma mostra do que teria sido feito por quatro aviões num só momento. O avião pilotado por ele subia como uma flecha e depois vinha cambalhotando, o que deixava o povo da nossa cidade assustado e imaginando o que seria aquilo feito por quatro aviões, como poderia ter sido feito na inauguração do noss campo.

Naquele momento não havia clima para a festa de inauguração do horto Mas não havia como cancela-la. Tratava-se da parte mais festejada das comemorações. Um consórcio de fazendeiros teria proposto uma churrascada para todo o povo de Candeias. Diversas rezes haviam sido abatidas para esse churrasco. Muito refrigerante estava pronto para ser servido. Assim, apesar da frustação da nossa população, a inauguração do horto, marcada para a parte da tarde, estava de pé, quando o povo já ia diretamente do campo, para o horto, do outro lado da cidade.

Eu que já contava os meus 12 anos, não perdi um foco sequer dessa grande festa. De manhã sofremos, mas à tarde carnívoro como é o ser humano, deu-se um branco na cabeça de todo o mundo, sobre a ausência da Esquadrilha da Fumaça. Carne e refrigerante à vontade. Cerveja eu não me lembro se existia, eu não bebia nesse tempo, mas refrigerante... Meu pai! Eu jamais vira tanta fartura. --- Para o churrasco foram abertas várias valas onde grandes espetos eram expostos. O povo comia, levava para o parente de casa, e apanhava no chão para levar para o cachorro.

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. (Chaplin)

NB) Neste texto eu fui auxiliado pelo meu amigo, Coronel Renato Paiva Lamounier, que me falou sobre a Esquadrilha da Fumaça. Mas a festa frustrada do campo, e a alegria no horto florestal, eu estive o tempo todo presente, e teria muito mais o que falar... Muito mais!

Armando Melo de Castro


13 comentários:

Giuliano de Souza disse...

Está é a Memória de CANDEIAS!
Nunca soube disso!
Ainda bem que alguém a contou e a eternizou.
"A importância da escrita para a história e para a conservação de registros vem do fato de que estes permitem o armazenamento e a propagação de informações não só entre indivíduos, mas também por gerações"
Nota: Gostei da data, 18 de julho de 1958, exatamente 30 anos após eu sentaria praça na Marinha Brasileira, 18 de julho de 1988...

Giuliano de Souza disse...

Está é a Memória de CANDEIAS!
Nunca soube disso!
Ainda bem que alguém a contou e a eternizou.
"A importância da escrita para a história e para a conservação de registros vem do fato de que estes permitem o armazenamento e a propagação de informações não só entre indivíduos, mas também por gerações"
Nota: Gostei da data, 18 de julho de 1958, exatamente 30 anos após eu sentaria praça na Marinha Brasileira, 18 de julho de 1988...

josefina disse...

estive lá.

Anônimo disse...

Pois eu morava em Campo Belo nessa época justamente na rua onde caiu o avião. De fato, o avião bateu na torre da nova matriz e se espatifou a menos de 50 metros de minha casa. Como eu era uma pequena criança corri para me esconder debaixo da cama, mas sem antes subir no terraço de minha casa para ver o alvoroço causado pelo acidente. Vai que caísse outro ...

Gambogi

Anônimo disse...

Olá, obrigado a quem fez esta matéria, pois só quem viu e esteve no local ou arredores pode realmente detalhar com fidedignidade.

Gostaria de que por favor disponibilizassem fotos ou imagens deste acidente para que eu possa conhecer mais a fundo o ocorrido do Lannes.

Qualquer coisa, enviar para este email: demontiervieira@hotmail.com

Mário Moreira de Resende disse...

Que fato triste que passara o povo da região nesta época, mas fico satisfeito em saber hoje desta história, embora triste porém rica em detalhes, mais uma para eu contar para os meus filhos.. Obrigado Armando.

Jmartins1313 disse...

"Me lembro muito bem daquele fatídico dia. Não era igreja em construção. Ele bateu na torre da nova Matriz, e parte da asa caiu na porta da nossa casa, passando bem rente ao teto do nosso banheiro onde, no momento eu tomava banho. Em seguida caiu no quintal de Tereza......(me esqueci o sobrenome) ceifando também a vida de 2 crianças desta senhora," comentário de minha prima Theresinha filha do tio Antonio Machado Alvarenga.

hilton disse...

Parabéns ao autor do blog pelo registro que abrange a tragédia com o avião da FAB pilotado pelo Capitão Leônidas. Minha família mudou-se de Campo Belo para Brasília no final de 1959 e nunca mais ouvira relatos precisos do acontecimento que marcou minha infância/juventude (sou de 1945). Caminhava nas proximidades da nova matriz, estava maravilhado com os aviões e pude ver o acidente de perto. O avião esbarrou na cúpula da Igreja, descontrolou-se, passou próxima da casa do meu tio Antonio Machado e espatifou-se mais adiante! Foi terrível!
Em família, cheguei a tocar no assunto, mas sem lembrar os dados precisos (a data exata). Pensava até que a apresentação da Esquadrilha teria sido no aniversário de Campo Belo – 28 de setembro - e também não lembrava o ano do acontecimento.
Minha mãe – a dona Nega – é candeense e aos 93 não lembra do acontecido. Meu pai – Anésio - lembra, mas achava que a data era anterior ao 18/julho/1958.
Congratulo-me com a minha prima Terezinha (filha do Tio Antonio) por informar-nos sobre o BLOG.
Hilton M. Ferreira

peathon disse...

Gostei muito do artigo, queria saber a data em que minhas primas haviam falecido naquele acidente, na época eu tinha pouco mais de um ano, agradeço pela informação.

Edson disse...

A matéria acrescentou muito para minhas pesquisas sobre a FAB, aviões e acidentes.
Li que o Museu da cidade de Campo Belo ou Candeias mantem em seus acervos fotos sobre o avião acidentado.Interessa-me saber o número de matrícula da aeronave T-6D sinistrada?
Alguém ajudaria?
Atenciosamente,
Edson Pom

Unknown disse...

Não tinha conhecimento desse fato ocorrido em Candeias, muito bom receber notícias de nossa terra,nos trás muitas lembranças de nossa juventude.

Anônimo disse...

Bom dia, Edson Pom!
Também pesquiso sobre acidentes da FAB (data, matrícula FAB, tripulação, mortos, local, etc). Estou fazendo também uma lista de todas as aeronaves da FAB desde a criação do Ministério em 1941, com informações de acidentes e de monumentos. Poderíamos trocar informações para enriquecer nossas pesquisas. Meu contato é (51)99500-0427. Forte abraço!

peathon disse...

Minhas primas morreram nesse acidente.