De ontem para hoje o meu coração que já bate há 75 anos,
bateu mais forte. Isso porque ele foi tomado pela saudade dos meus natais do
passado. Saudade essa que me transportou lá para o princípio da estrada da
minha vida. Estrada que começou na Rua Coronel João Afonso Lamounier, na minha
querida Candeias, que hoje já não sou tão dela, mas ela continua sendo minha.
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A saudade às vezes se transforma no sentimento que
transcende as forças de nossa alma. Se nós a matamos ela ressuscita e essa
ressureição chega a ser dorida. É verdade que esse tipo de sentimento às vezes,
dói mais como se fosse uma dor sem nome. Trata-se de algo que entra pelo
cérebro e desce ao coração para ali permanecer, todavia nem sempre fazendo
parte da felicidade do nosso coração.
Há quem diga que a saudade e a felicidade andam de mãos
dadas. Eu acho que não. Eu entendo que a saudade e a felicidade são sentimentos
diferentes e sendo a saudade muito mais forte, pode transformar uma felicidade
em tristeza principalmente quando moram no coração quem sabe amar, aí são dois
sentimentos que se unem. É natural lembrarmos de uma fotografia feliz e
chorarmos de saudade.
A vida é assim: Nascemos, vivemos e morremos de saudade,
antes de morrer para Deus. Quando mais tempo a pessoa vive, mais lembranças
estarão embaladas no saudosismo que habita o coração. Cabe, então, a cada um de
nós administrar esses sentimentos que se transformam. ---- Afinal, não vivemos
no mesmo mundo em que nascemos. Ele se transforma e nós também nos
transformamos em monstros em comparação de quando nascemos. Afinal, quem
compara um idoso de oitenta anos, com uma criança de 10 sendo a mesma pessoa?
O natal é uma festa significativa, afinal uma festa que
comemora o nascimento de Jesus Cristo, já é por si um símbolo de felicidade.
Mas nos dias atuais essa religiosidade vai se esvaindo; não é uma felicidade
generosa e nem generalizada. Porque cada um tem o seu natal diferenciado. Para
mim o natal se transformou completamente. Era uma festa religiosa. Uma festa
apenas do papai Noel e do menino Jesus.
---- As igrejas em Candeias ficavam cheias com a entrada e
saída de pessoas visitando o grande presépio montado junto a um dos altares da
igreja matriz . As crianças adoravam o natal porque sempre, por mais humilde
que fossem ganhavam um presentinho, muitas das vezes caseiro, de coisas que
naturalmente já estavam precisando, mas aquilo seria como se fosse um presente
de papai Noel. A missa a meia noite, era a chamada missa do galo que lotava
tanto a igreja, que foi um dos motivos que levaram o Monsenhor Castro a se
entusiasmar em construir uma grande matriz. Essa missa fazia com que as pessoas
permanecessem na rua até tarde pois o seu horário era à meia noite. --- Logo
após essa missa as pessoas voltavam para casa quando iam cear com a família.
Muitos teria se jejuado nesse dia para participar da ceia para festejar a
chegada do menino Jesus.
---- Os filhos do Sr. João Bernardino Langsdorff , Antônio e
Olímpio, criaram um presépio elétrico onde os personagens bíblicos do presépio
se movimentavam. Um invento tão extraordinário que vinham pessoas de fora para
conhece-lo.
A noite de natal em Candeias era muito movimentada, pois
vinham das roças o pessoal para habitar as suas casas que ficavam fechadas para
essas oportunidades e assistir a missa do galo, como também visitar o menino
Jesus então exposto. Nesse tempo o pessoal da comunidade rural permanecia mais
em suas terras e só apareciam na cidade em épocas de festas ou por outras
necessidades. Portanto, as festas religiosas como, Festa do Rosário, Semana
Santa e Natal, a cidade ficava lotada, pois aqueles que residiam fora, também,
vinham nessas oportunidades visitar os parentes.
Eu, no verdor dos meus anos não havia recebido essa frase
“Feliz Natal Armando” Eu nunca teria sequer visto um cartão de natal. Quando a
cidade toda movimentada, naquela noite de natal de 1959, com a espera da missa
e duas seções de cinema antes da missa, eu entro no Bar Piloto, com as mesas
todas ocupadas, eu entro, procurando o meu pai, quando eu vejo o Cabo comandante
do destacamento policial da cidade, pegando na mão de todo mundo. E logo ele
veio para o meu lado, me estendeu a mão e perguntou o meu nome e me disse:
“Feliz Natal Armando” deixando-me trêmulo de susto, pela minha timidez. --- Foi
a primeira vez que eu ouvi alguém me dirigir aqueles votos. Eu nunca o esqueci,
pena que não me lembro o nome daquele senhor. Mas onde quer que ele esteja está
sempre no meu natal recebendo a minha resposta. “Para o senhor também sô Cabo”.
O badalar do sino e os dobrados e as músicas natalinas
tocadas na matriz antes da missa; os sermões do monsenhor Castro; A grande
parte daquelas pessoas que não existem mais e que estavam sempre presentes nas
solenidades religiosas. São como um grito da minha saudade.
Armando Melo de Castro.
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