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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

SAUDADE QUE NUNCA MORRE.

De ontem para hoje o meu coração que já bate há 75 anos, bateu mais forte. Isso porque ele foi tomado pela saudade dos meus natais do passado. Saudade essa que me transportou lá para o princípio da estrada da minha vida. Estrada que começou na Rua Coronel João Afonso Lamounier, na minha querida Candeias, que hoje já não sou tão dela, mas ela continua sendo minha. ---

A saudade às vezes se transforma no sentimento que transcende as forças de nossa alma. Se nós a matamos ela ressuscita e essa ressureição chega a ser dorida. É verdade que esse tipo de sentimento às vezes, dói mais como se fosse uma dor sem nome. Trata-se de algo que entra pelo cérebro e desce ao coração para ali permanecer, todavia nem sempre fazendo parte da felicidade do nosso coração.

Há quem diga que a saudade e a felicidade andam de mãos dadas. Eu acho que não. Eu entendo que a saudade e a felicidade são sentimentos diferentes e sendo a saudade muito mais forte, pode transformar uma felicidade em tristeza principalmente quando moram no coração quem sabe amar, aí são dois sentimentos que se unem. É natural lembrarmos de uma fotografia feliz e chorarmos de saudade.

A vida é assim: Nascemos, vivemos e morremos de saudade, antes de morrer para Deus. Quando mais tempo a pessoa vive, mais lembranças estarão embaladas no saudosismo que habita o coração. Cabe, então, a cada um de nós administrar esses sentimentos que se transformam. ---- Afinal, não vivemos no mesmo mundo em que nascemos. Ele se transforma e nós também nos transformamos em monstros em comparação de quando nascemos. Afinal, quem compara um idoso de oitenta anos, com uma criança de 10 sendo a mesma pessoa?

O natal é uma festa significativa, afinal uma festa que comemora o nascimento de Jesus Cristo, já é por si um símbolo de felicidade. Mas nos dias atuais essa religiosidade vai se esvaindo; não é uma felicidade generosa e nem generalizada. Porque cada um tem o seu natal diferenciado. Para mim o natal se transformou completamente. Era uma festa religiosa. Uma festa apenas do papai Noel e do menino Jesus.

---- As igrejas em Candeias ficavam cheias com a entrada e saída de pessoas visitando o grande presépio montado junto a um dos altares da igreja matriz . As crianças adoravam o natal porque sempre, por mais humilde que fossem ganhavam um presentinho, muitas das vezes caseiro, de coisas que naturalmente já estavam precisando, mas aquilo seria como se fosse um presente de papai Noel. A missa a meia noite, era a chamada missa do galo que lotava tanto a igreja, que foi um dos motivos que levaram o Monsenhor Castro a se entusiasmar em construir uma grande matriz. Essa missa fazia com que as pessoas permanecessem na rua até tarde pois o seu horário era à meia noite. --- Logo após essa missa as pessoas voltavam para casa quando iam cear com a família. Muitos teria se jejuado nesse dia para participar da ceia para festejar a chegada do menino Jesus.

---- Os filhos do Sr. João Bernardino Langsdorff , Antônio e Olímpio, criaram um presépio elétrico onde os personagens bíblicos do presépio se movimentavam. Um invento tão extraordinário que vinham pessoas de fora para conhece-lo.

A noite de natal em Candeias era muito movimentada, pois vinham das roças o pessoal para habitar as suas casas que ficavam fechadas para essas oportunidades e assistir a missa do galo, como também visitar o menino Jesus então exposto. Nesse tempo o pessoal da comunidade rural permanecia mais em suas terras e só apareciam na cidade em épocas de festas ou por outras necessidades. Portanto, as festas religiosas como, Festa do Rosário, Semana Santa e Natal, a cidade ficava lotada, pois aqueles que residiam fora, também, vinham nessas oportunidades visitar os parentes.

Eu, no verdor dos meus anos não havia recebido essa frase “Feliz Natal Armando” Eu nunca teria sequer visto um cartão de natal. Quando a cidade toda movimentada, naquela noite de natal de 1959, com a espera da missa e duas seções de cinema antes da missa, eu entro no Bar Piloto, com as mesas todas ocupadas, eu entro, procurando o meu pai, quando eu vejo o Cabo comandante do destacamento policial da cidade, pegando na mão de todo mundo. E logo ele veio para o meu lado, me estendeu a mão e perguntou o meu nome e me disse: “Feliz Natal Armando” deixando-me trêmulo de susto, pela minha timidez. --- Foi a primeira vez que eu ouvi alguém me dirigir aqueles votos. Eu nunca o esqueci, pena que não me lembro o nome daquele senhor. Mas onde quer que ele esteja está sempre no meu natal recebendo a minha resposta. “Para o senhor também sô Cabo”.

O badalar do sino e os dobrados e as músicas natalinas tocadas na matriz antes da missa; os sermões do monsenhor Castro; A grande parte daquelas pessoas que não existem mais e que estavam sempre presentes nas solenidades religiosas. São como um grito da minha saudade.

Armando Melo de Castro.

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