O medo, a meu ver, nada
mais é do que um problema de inquietação imaginária, de ordem psicológica,
criado pelas religiões. Existem religiões que falam mais do diabo do que em
Deus. Afinal, dominar alguém com medo é muito mais fácil. Para mim, o medo
é um verdadeiro diabo que vive dentro de nós. Será que existe alguém que
realmente nada tema? Eu duvido. Parece que, para cada caso, existe um tipo de
medo. É o medo da morte, o medo de feitiço, medo de avião, medo de assombração,
medo de doença, medo da velhice, medo disso e medo daquilo, enfim, são tantas situações
causadoras do medo que seria difícil enumerá-las todas aqui.
Eu não acredito que exista
alguém, em sã consciência, que possa dizer que não tem medo de nada.
Entretanto, no caso de existir alguém que, na realidade, não sinta qualquer
tipo de medo, com certeza, um medo lhe estará reservado: o medo do diabo.
Conheci um candeense chamado
Lázaro da Dica. Um homem enorme que bebia um litro de cachaça, que brigava com
a polícia e se escondia no cemitério. Um dia, ele fez a seguinte confissão:
tinha muito medo do diabo.
Zé Queijo, um padeiro candeense, que também foi coveiro no cemitério São
Francisco, não tinha cismas, contudo, um dia ouviram-no dizer que o seu medo
era do diabo porque esse bicho andava solto...
Joaquim Meia-noite, um roceiro das bandas da localidade dos Arrudas, andava
somente à noite e, principalmente, depois da meia noite. Dizia ser um
apreciador do barulho das matas na madrugada. Mas, em compensação, dizia sempre
ter medo dos malefícios oriundos de um feiticeiro porque eles tinham parte com
o diabo.
O medo, do ponto de vista
científico, é um sentimento inerente ao ser humano. Pode ser definido como uma
sensação de que algo ruim está para acontecer a qualquer momento seguindo-se
por sintomas físicos que incomodam ou por um sentimento vivenciado diante do
perigo. Quando esse medo é excessivo e irracional em relação à ameaça,
apresentando fortes sinais de perigo e acompanhado de comportamento de esquiva
diante das situações causadoras do medo transforma-se em fobia, crise de pânico
e outras situações específicas. A fobia é, portanto, um dos transtornos de
ansiedade mais apresentados pelo ser humano e um dos distúrbios psicológicos
mais estudados.
Sob o ponto de vista religioso, as crenças criaram um conjunto de dogmas
doutrinários no sentido de cultuar a Deus onde o medo do diabo é ingrediente
indispensável para aqueles que se dizem evangelizadores. Existem, por aí,
igrejas que vivem assustando os seus fiéis com ameaças psicológicas. Criam-se
um diabo que causa medo e que faz oposição a Deus. Ora, se Deus é onipotente,
onipresente, onisciente e bom; se Deus é o Criador de todas as coisas, por que
ter medo do poder desse diabo? Mesmo se existir, não será opositor a
Deus.
Tanto Deus quanto o diabo estão dentro de nós mesmos. Agora, o que me implica
são esses pastores vigaristas, exploradores da fé de pessoas humildes sem
qualquer conhecimento teológico e sem qualquer cultura. Pessoas que vivem em um
clima místico, criado por esses ladrões da ingenuidade humana que vão
infiltrando na cabeça dessa pobre gente ignorante uma pressão psicológica, um
temor imensurável, inclusive, ameaçando-lhes diante do medo do diabo, colocado
na cabeça desse povo, ao lado de Deus, propondo-lhes curas milagrosas. É claro
que milagres existem, mas não do jeito que prometem. As religiões se
tornaram um comercio onde se vendem milagres.
À bem da verdade, esses
hipócritas acharam o caminho da mina, pois, Deus e o diabo, por uma questão
cultural bíblica, sempre andaram juntos e é muito mais fácil alimentar o medo
do que eliminá-lo, mesmo tendo Deus como forte e bom. Afinal, o diabo é o
símbolo do mal que causa medo e que pode ser transformado em fobia, cuja cura
está em Deus.
Esses pastores são como baratas: “mordem e depois assopram” e o
lamentável é que essa gente que não tem uma condição cultural lógica para se
livrar desses mercenários do Cristo, tiram o seu alimento da boca para enfiá-lo
nos bolsos desses exploradores. O que muitos não sabem é que para se aproximar de um desses pastores, durante um programa de
televisão, é feito uma triagem na qual são aproveitados os pobres alucinados e
fanáticos.
É de todo patente que as
pessoas, em um estado emocional desajustado, têm uma reação orgânica cujas
dores somem. Outros são hipocondríacos e sofrem de doenças criadas pela própria
mente. E existem ainda as chamadas dores fantasmas quando alguém, por exemplo,
tem uma perna ou um braço amputado e continua a sentir a dor e a coceira na
parte do corpo atingida. E, assim, diante dessas lavagens cerebrais, veem,
temporariamente, os seus males extirpados que, entretanto, logo depois estão de
volta. A mente humana inventa, acrescenta, destrói e guarda coisas
impressionantes e, para isso, esses vigaristas são bastante organizados.
Eu tenho um amigo morador na
Avenida JK, no Bairro Bom Pastor, em Divinópolis. Trata-se do Silvano, técnico
em consertos de geladeiras. Ele tem um problema sério de coluna. Já teria
consultado com diversos médicos e feito vários tratamentos e nada de se curar.
Envolvido como telespectador desses programas de televisão religiosos, nos
quais aparecem esses religiosos milionários como RR Soares, Valdomiro Santiago,
Edir Macedo e outros tantos que se dizem curadores em nome de JESUS CRISTO,
Silvano foi parar em Brasília por intermédio de parentes que afirmavam que um
vigarista dessa estirpe o curaria do seu grave problema de coluna.
Silvano voltou curado de
Brasília para a surpresa de pessoas que, como eu, jamais dava crédito a esse
tipo de conversa fiada. Chegou quase que pregando o evangelho, dizendo ter
encontrado Jesus e, enfim, ter sido curado pelo Senhor Jesus. Dizia-se curado
por obra do Divino Espírito Santo. Dizia-se curado pelas mãos de um pastor
curador.
Ao me encontrar com o Silvano,
cheguei a ficar assustado e, no meu íntimo, pensei: “Será que estarei
errado em meus pensamentos meu Deus?!” Cheguei, sinceramente, a ficar
em dúvida com os meus conceitos e imaginei, talvez, que eu, no fundo, não
acreditasse suficientemente em Deus?! Assim, me questionei: “Será que
falta a fé cristã em mim”?!
Após vinte e um dias ou três
semanas, encontrei-me, novamente, com o Silvano, em plena Rua Goiás, centro de
Divinópolis e num impulso perscrutável, perguntei:
---E aí, Silvano! E a coluna?
Sarou mesmo?
E ele, com um semblante
desanimado, doentio e de pouca esperança disse:
---Ah! Nada, Armando... Voltou
tudo de novo! Sinceramente, parece que estou até pior. O meu medo é ficar
prostrado em uma cama.
Todavia, como esses religiosos
costumam dizer: Foi a fé do Silvano que foi fraca... Então, por que não o
alimentam com a fé? Se eu devo levar a fé para ser curado é como se eu devesse
levar o banco para me assentar dentro da igreja porque de pé eu não suportaria
as dores nas pernas. E depois tem mais:
Jesus Cristo ressuscitava os mortos e o seu último milagre foi curar uma orelha
decepada de um judeu na hora da sua prisão. (Lucas 22.49.51) Onde se encontrava
a fé dessas pessoas? Puro efeito placebo.
Armando Melo de Castro.
Candeias MG Casos e Acasos.
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