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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O CANDEENSE ZÉ GALINHA.

Foto para ilustração do texto.
Hoje, pela manhã, quando eu descia a Avenida Barão do Rio Branco, em Juiz de Fora, defrontei-me com um anão. O pigmeu, que deveria ter no máximo um metro de altura, tinha uma pose de artista de circo e vestia-se, exageradamente, com uma camisa de várias cores, uma calça azul celeste, uma bota branca e estava acompanhado por uma mulata que, da mesma forma, parecia se tratar de uma figura circense.
Apesar do minúsculo talhe, o pequeno cidadão não se intimidava com o olhar curioso das pessoas, principalmente, os das crianças. Ele impunha uma postura elegante. Sorria para as pessoas enquanto as crianças paravam para observá-lo. Até que um engraçadinho, talvez torcedor do Galo, falou alto:
---“Peida aí, anão, pra gente ver a poeira levantar”.
Daí, o anãozinho virou-se para trás e deu uma enfezada fisgada no olhar e gritou:
---“Vai à puta que lhe pariu, seu desgraçado!”.
Isso foi um show a céu aberto para as pessoas que estavam por perto.
À vista da reação do anão, veio à borda das minhas lembranças o nome de uma pessoa que há muitos anos se encontra guardado no armário das minhas memórias: Zé Galinha.
Zé Galinha era um candeense dos mais viajados. Estatura mediana, cabelo liso, barba bem feita, pele branca, contudo, sempre foi bem chegado a uma neguinha. Chegou até mesmo a se casar com uma que, logo depois da noite de núpcias, deu um jeito de cair fora. Diziam as más línguas que a mulher não o teria aguentado. É que ele era bem avantajado quanto a sua sexualidade. Alguns diziam que ele era um raro cavalo de cinco pernas e outros, ainda, afirmavam que Zé Galinha era um autêntico jumento.
Certa vez, recém-chegado a Candeias, ele recebeu uma carta pela qual o missivista, um gay, naturalmente, iniciava a sua narrativa assim:
---Querido, como o seu “Falo” me deixou sem fala. Você é maravilhoso!!!
Eu era um menino bobo, sem maldade e ainda não sabia interpretar o que as más línguas diziam de forma metafórica e nem como os gays se expressavam relativamente a uma adoração.
Sei apenas que Zé Galinha era um cara legal, muito alegre e brincalhão. Era como um meninão. Gostava de fazer mágicas para as crianças, enfiava um palito de fósforo pela boca e o fazia sair pelo nariz. Até hoje eu não consigo entender como que o Zé Galinha fazia aquilo. Acho que aprendeu essas coisas acompanhando os circos. Nos vários circos que chegavam a Candeias, Zé Galinha, rapidamente, se enturmava com os membros da trupe. Às vezes, fazia papéis de figurantes nas peças teatrais, outras vezes era contratado para ajudar a montar e a desmontar o itinerante. Não foram poucas as vezes que Zé Galinha foi embora acompanhando um circo ou um parque. Entretanto, depois de algum tempo, sempre acabava voltando, fazendo as suas graças e mágicas. Entre as inúmeras piadas e casos que eu ouvira de Zé Galinha, houve um que jamais me esqueci cujo tema era um anão:
Dizia para todos que havia trabalhado em um circo no qual havia um anão maneta, ou seja, que possuía apenas um braço normal, e, nesse caso, era o esquerdo. O braço direito ele já não o tinha desde o nascimento. Existia apenas um cotó com dois dedinhos e neste cotó ele usava o relógio de pulso.
Certo dia, Zé Galinha sugeriu ao anão que usasse o relógio no braço esquerdo. Afinal, costumeiramente, usa-se o relógio no braço esquerdo. E depois, este braço do anão era normal. Foi quando o anão, muito irritado, lhe disse:
---E na hora de dar corda no relógio, eu chamo a puta da sua mãe, seu corno?!
É isso aí, aquele que pensa que anão é manso porque é pequeno, está muito enganado.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.

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