Os bons costumes estão ligados a moral. Mas nas residências nem sempre
está o morador ligado a moralidade. Seria necessário, por exemplo, que um
morador, principalmente de um apartamento, entendesse que não é apenas ele que
habita a morada; a morada também o habita apesar de não ser isso uma questão
determinada.
É uma questão de consciência para discernir o que é moral e o que é
moralidade. ---- A meu ver os bons costumes têm que estar de acordo com a moral
----- Saber se comportar a uma mesa; respeitar idosos: evitar barulhos, enfim
por em prática os princípios da boa educação são os bons costumes que se juntam
a moral como não roubar; ser honesto; ser honrado etc. ----.
Meu pai sempre dizia que a política da boa vizinhança tem que ser bem
administrada, porque o vizinho é o parente mais próximo.
Eu como gerente de Banco morei em diversas cidades, e convivi com
diversas pessoas e nunca tive problemas com vizinhos, porque dizem que quando
um não quer dois não brigam. E, eu sempre procurei me enquadrar nos
conceitos da moralidade. ---- Quando eu tinha alguma coisa que me incomodava,
eu procurava um jeito amigável de resolver, como foi na cidade de Patrocínio,
MG uma médica vizinha com um baita cachorro que latia debaixo das janelas do
meu quarto e da minha gerência. Ali se localizava o canil há dois metros de
distância da divisa. ---- O latido do seu cão perturbava-me durante o
trabalho e durante à noite no meu sono.
Eu conversei com ela a primeira vez, educadamente, porém ela não me
atendeu. ---- Conversei a segunda vez e ela também não me atendeu. ---- A
terceira vez eu bati pesado, e disse-lhe que daria a ela três dias para retirar
o cão de debaixo da minha janela, pois caso contrário ele amanheceria morto e
depois a gente iria resolver o problema na justiça. ----– porque na prefeitura
não adiantaria minha queixa dada a sua amizade como médica da prefeitura e
parentesco com o prefeito. -------
No outro dia o cão sumiu. Ela mandou fazer, às pressas, um canil
bem nos fundos do seu quintal, e eu passei a ter sossego. ---- Quero ressalvar,
contudo, que jamais eu mataria o seu cão, isso seria contra o meu princípio de
amor aos animais, principalmente aos cães. A ameaça foi apenas uma estratégia
de guerra de um inimigo mais fraco. ----- Este foi, portanto, o meu único
problema com vizinhos durante quase vinte anos de vida de cigano.
Já depois de aposentado, vim morar em Juiz de Fora, trazendo a minha
filha para estudar. ---- Aluguei um apartamento bem no centro da
cidade, à Rua Barbosa Lima. Escolhi com carinho o local, e o
apartamento. Fiquei conhecendo logo no primeiro dia da mudança o vizinho dos
fundos cuja divisa era um vão que separava as nossas janelas da sala e do
banheiro. ---- Era ele um aposentado da Rede Ferroviária Central do Brasil,
chamava-se Plínio, careca, estatura média, dentes bem tratados, camisa esporte
e bermuda coloridas; sandálias de boa qualidade e um relógio de chamar a
atenção. Era, o vizinho, realmente um tipo gente fina. -----
E eu fiquei entusiasmado com ele.
Perguntei-lhe pelos seus gostos e vi tratar-se de um contemporâneo amante da
cervejinha, da pinguinha e do bolero e ainda completou dizendo que gostava de
violão, cantar principalmente aqueles boleros de Gregório Barrios e Anísio
Silva... Pensei: o cara é dos meus...
Diante da simpatia daquele vizinho e das parecenças de nossos costumes
eu fiquei entusiasmado. ----- Mas o meu entusiasmo durou pouco. ---- Logo no
segundo dia em que me mudei o porteiro já me disse: “Tomara que o senhor demore
aqui Sô Armando. Naquele apartamento do senhor num para
ninguém”. ---- Pronto! Com isso eu já fiquei “cabreiro” O que será
isso meu Deus!? -------------
Como eu disse, havia apenas um vão que separava os nossos apartamentos –
E todo o som do apartamento dele era como se estivesse acontecendo dentro do
meu. --- No outro dia, já de manhã, quando ele estava no banheiro dava nojo à
barulhada. Raspava a garganta como se estivesse raspando uma lama numa área
cimentada. E aquilo não era rápido... --------
Com uma semana de moradia, já vi que seria difícil aguentar aquele
ritual de “raspação” de garganta, “escarração” no banheiro.
E o pior: a “soltação” de flatos... Quer dizer de puns... ou melhor
dizendo, para ser bem claro. A “peidação” daquele
homem. Eu nunca pensei que houvesse no mundo alguém tão peidorreiro.
Ele peidava em todos os tons e em todos os sons. Na hora do almoço na hora da
janta e na hora do café. Sua esposa era acamada há mais de dois anos. E pouco
ligava pelos seus peidos. Era ele que cuidava da faina da casa.
Sabe-se que um homem entre duas mulheres acaba sendo dominado. Minha
mulher e minha filha, falando na minha cabeça dia e noite que não aguentaria mais
quando havia pouco mais que uma semana naquela moradia... Eu saí logo
procurando outro apartamento. Paguei multa contratual; não tomei cerveja; não
ouvi boleros de Gregório Barrios, não pude ouvi-lo tocar violão... Ora o que eu
queria era sumir daquele local.
A.M.Castro.
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