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sábado, 24 de novembro de 2018

ANTES DO VIAGRA CHEGAR.


Eu tenho a impressão que antigamente não havia tanta hipocondria entre as pessoas. Parece que o povo tinha mais saúde ou era menos preocupado. A medicina, por sua vez era bem atrasada, não existiam tantos remédios nas prateleiras de farmácias e a grande parte das receitas médicas eram aviadas pelos donos das farmácias e os preços não eram esses verdadeiros assaltos ao bolso do doente, como se verifica nos dias atuais depois que transformaram os nome de farmácias em drogarias.

Eu pertenço à era do chá. No meu tempo de criança era difícil tomar um remédio de farmácia. Às vezes, um comprimido de cibalena ou cibazol; fortificante; lombrigueiro feito de semente de abóbora ou bucha. Lombrigueiro do tipo sal de Glauber, sal amargo ou óleo de rícino. Esses purgantes eram tão fortes e ruins que os pais botavam boca-a-baixo nos seus filhos, no que deu o termo “goela a baixo” ---. Não sei, mas parece que o povo tinha mais saúde... Nesse tempo o ditado de que “De médico e louco, todo mundo tem um pouco” era bastante exercido.

No mais eram chás de folha de laranja;  chá de casca de lima de bico; chá de canela;  chá da casca de limão; chá de picão;  chá de hortelã; chá de gengibre;  chá de macela; chá de losna, chá de jalapa... Vejam que eu guardo ainda em minha memória uma verdadeira farmácia fitoterápica.  Eram tantos os  chás que o espaço aqui seria curto para expô-los. Antigamente a fitoterapia caseira é o que falava a verdade. Para cada problema existiam diversos tipos de medicamentos caseiros. Hoje em dia, por qualquer coisinha procura-se uma farmácia ou um médico. Toma-se um medicamento para um mal e cria-se outro, os chamados efeitos colaterais.

Não se conhecia o câncer. Dizia-se “doença ruim” ou então ulcera no estômago. Não existia essa quantidade de exames que os médicos pedem hoje e nem o corpo humano era tão loteado como nos dias atuais. Um médico especialista, praticamente só se encontrava em Belo Horizonte, ou em cidades maiores. No mais, era clinico geral. E mesmo quando o médico tinha uma especialidade, acabava exercendo o ramo da Clinica Geral.

Antes de existir o Viagra os homens viviam buscando fitoterápicos a fim de restabelecer a disfunção erétil.  Eles tinham as suas terapias para não negar o fogo às mulheres fogosas. --- Os afrodisíacos naturais em forma de frutas e raízes eram procurados. ----- Entre eles o jatobá, a casca da fruta ou do tronco em infusão ----  Era o chamado vinho de jatobá, uma fruta silvestre muito comum no cerrado. ----- Uma segunda opção era uma raiz de uma planta rasteira chamada “piãozinho”, colocado na pinga deixava esta vermelha. Muitos faziam uma garrafada das duas. Alguns homens que já não estavam “dando no couro” usavam e abusavam desse tipo de coisa

No sítio do Sr. Américo Bonaccorsi existia uma árvore com o nome de “Quentalha” diziam ser um “tiro” de boa para fazer o homem levantar a moral com a patroa. Certa vez eu perguntei ao Wandinho do Américo se essa árvore ainda existia e ele disse: “Mataram-na de tanto tirar lascas no tronco”.

Às mulheres um medicamento fitoterápico muito usado por elas para uma vida sexual saudável e os problemas ginecológicos, era a casca de barbatimão, principalmente para banhos de assento e banho íntimo. -----

Chico do Viriço, o curador, que falava muito alto, ---- cá de fora se ouvia o que ele dizia com os seus pacientes num quartinho do interior de sua casa, ----- disse, certa vez, a um casal de consulentes: “Se a muié fica muito tempo no banho de barbatimão, ela fica virge de novo”. E deu aquela gaitada... --- E o povo lá de fora, na sala ouvindo tudo. Imaginem a cara deles quando saíram lá fora hem?!

Quando a gente andava pelos matos, as árvores de barbatimão eram vistas com os troncos lascados. As lenheiras recebiam sempre essas encomendas de forma reservada, mas como língua de lenheira não tinha compromisso com o silêncio, elas davam sempre com a língua nos dentes, quem eram usuárias do produto. E ai a língua comia: fulana é larga...

Sendo visto um homem lascando o tronco de uma árvore de barbatimão, --- coitada da mulher dele ---- já o boato corria. A mulher do fulano é usuária da casca de barbatimão. ---- Portanto, isso era sempre feito às escondidas ou de forma astuciosa.

Eu era menino, mas tinha os ouvidos muito afinados e afiados. Lica do João Passatempo era uma lenheira que fornecia por encomenda as cascas de barbatimão. O feixe de lenha custava cinco cruzeiro e o chá de barbatimão era 3. E língua de lenheira não dava nó e nem cabia dentro da boca, as usuárias do barbatimão eram sempre comentadas.

Certa vez eu ouvi a Lica do João Passatempo, que era lenheira e atendia encomendas de casca de barbatimão, falar para Dona Ester, minha amiga, que a Aparecida Pitanga, irmã do Pedro Pitanga, dizia que num tinha um trem mais bão do que casca de barba timão para deixa-las apertadas.

 Eu que nunca tinha ouvido essa palavra guardei-a e muito tempo depois eu pude vir, a saber, o que seria buc... Tite. Pode ser entendido como algum problema de saúde, mas quem explica melhor é a etimologia da palavra de onde vem. --- Bem! Eu sei, mas não conto!...

 A mulher que não se engravidava, ou vivia brigando com o marido; se queria arrumar namorado... Essas gostavam era de um banho de rosas brancas.

 Armando Melo de Castro.





Um comentário:

Wander Sena disse...

Armando, a árvore do sítio do Avô Américo era chamada por ele de 'Quentalha'.
Ele dizia uma pessoa exagerou na dose,
Morreu e não conseguiam Fechar o Caixão... O resto desta 'história', para quem não houviu da fomte, fica por conta da imaginação.
Conta da imaginação