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segunda-feira, 4 de setembro de 2023

A MINHA VIZINHA DONA MARICA.


                                                                           Velha Basílica de Aparecida.


(Numa romaria à Aparecida do Norte)

Eu aprendi com a minha avó que sempre dizia que não sabia comer sem ver um verde no prato. Não existem folhas que eu não goste. Tenho as minhas preferências, é claro, as couves, tanto de folhas quanto a couve flor, o almeirão, repolho, alface, enfim, falou que é verde eu gosto.

No almoço de hoje comi um pé de alface inteiro e foi nesse momento que me lembrei da minha antiga vizinha, da Rua Coronel João Afonso, dona Marica da Melada, esposa do Sr. Quinca Guimarães, numa romaria que ela participou nos bons tempos do Monsenhor Castro. Ela ia todos os anos, e voltava de lá contando Tim-Tim por Tim-Tim para os vizinhos tudo que se passara durante a viagem.

E com isso Dona Marica se esnobava. Dizia que quando ia à Aparecida do Norte tinha lá um restaurante da sua preferência, que servia do que havia de melhor. --- Mas teve uma vez que ela voltou de lá contando desvantagem. Disse que lhe foi servida uma bela de uma salada de alface e outras coisas mais, mas quando chegou no fim da travessa havia ali uma lasca de uma lesma só faltava o caramujo.

Ela chamou garçonete e lhe disse que teria lhe pedido salada de alface e não salada de lesma. --- Quando eu ouvi essa história dela, eu imaginei que bafafá ela não teria arrumado nesse restaurante, porque eu a conhecia e sabia que quando Dona Marica ficava nervosa falava alto, não media o lugar e nem as palavras, Ela detonou o restaurante na vista dos outros fregueses, e disse: eu não vou pagar essa comida, porque isso é um absurdo, uma lesma na minha salada. E é claro, nesta altura do campeonato, a despesa não lhe foi cobrada.

Mas quando ela vai saindo, sempre tem alguém para atiçar lenha no fogo, uma senhora, que também tinha almoçado ali, se aproximou dela. Era do tipo dessas masoquistas e hipocondríacas, que nasceram com um espírito de medica, que entendem de toda doença e sabem curar todas. --- Já disse para a Dona Marica para ficar atenta, porque ela ia ter diarreia, excesso de gases, cólicas, enjoo e muita canseira e disse, olha a lesma transmite um verme muito perigoso; eu tive um tio que morreu disso. A senhora pode tomar cuidado porque deve ter sido infectada. O verme de caramujo causa uma doença terrível. (Eu suponho que essa mulher misturou o caramujo gigante africano, com esse caramujo das verduras.)

Era vésperas de voltar para Candeias. E a viagem de volta foi terrível. Tudo que a velha falou para ela lá na porta do restaurante, foi acontecendo e alguma coisa mais. O ônibus não tinha banheiro nesse tempo, e foi preciso parar várias vezes para ela dar uma “borradinha” na beira da estrada. Tinha medo de soltar gases porque poderia se lambrecar com a diarreia. O estômago estava virado de cabeça para baixo. E quem assistiu o drama chegou contando que durante toda a viagem foi aquele pandemônio, ela falava alto, para o marido: “Quinca eu vô morrê. Aquela lesma vai me matá.”

Agora imaginemos ela contando essa história para a vizinhança em Candeias: “ Eu me lembro só de uma frase, ela contando a história para a minha avó:

“Eu vim cagando, suano, injuano e com medo de peidar e me lambrecar dentro do ônibus. ---

Nunca mais cumi arface.

Armando Melo de Castro.

 


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