Adorar é um tratamento dado aos deuses, mas é a melhor forma
que eu encontro para dizer como gosto de um frango ao molho, bem entendido, um
franguinho caipira, caipirinha mesmo, ao molho pardo ou de qualquer outro jeito
de molho. Eu adoro! Que me perdoem os deuses! Mas eu adoro um franguinho
caipira! Quando eu vou até a cidade de Luz, terra da minha mulher, eu tenho o
prazer de saborear por lá, um cabidela feito por minha sogra que é especialista
no assunto.
Em Candeias, minha mãe sempre encomenda ao João do Taxi um desses
para que eu possa matar esse gosto parecido com o de mulher grávida. O frango
caipira ao molho, com quiabo e angu, é um prato incomparável para mim, pois me
leva aos distantes anos da minha infância.
Infelizmente, quem mora em apartamento e em cidade grande,
como no meu caso, esse luxo torna-se difícil e só acontece em raras
oportunidades.
Eu já criei muita galinha em fundo de quintal; mato e preparo
um frango em 40 minutos em condições apropriadas. Piso com o pé direito nos pés
da ave e com o esquerdo nas asas. Com a mão esquerda, pego a cabeça, e com uma
faca bem afiada, com a mão direita raspo o pescoço, dou uma batidinha para o
sangue subir, dou um corte certeiro, e vejo o sangue cair sobre um prato e o
bicho esmorecer. Eu sinto um pouco de pena, mas já que o frango existe com o
objetivo apenas de alimentar o homem, isso faz com que me sinta perdoado. O meu
corte é tão preciso que parece até corte de médico numa cirurgia.
Esta semana eu fui até à feira e vi lá uma gaiola cheia de
frangos caipiras, bastante apetitosos. Nesse caso resolvi fazer uma proeza.
Pensei: Vou experimentar ajeitar um bicho desses lá no apartamento. Comprei um
frango que foi colocado dentro de um saco e vim para casa, satisfeito da vida,
porque era o frango no saco e os planos na cabeça. Vou comer primeiro o sangue,
depois o fígado, depois a moela, depois as costelas tomando uma cervejinha etc.
e tal. Toda essa empolgação, com a minha
mulher, do lado, feito ave agourenta, tentando me tirar de cabeça. “Olha que
isso não vai dar certo! Compra um de granja!” --- O negócio é que eu não gosto
de molho de frango de granja e ela não gosta de frango caipira.
Assim que cheguei a casa preparei o ambiente para sangrar o
bicho, escaldar, depenar, sapecar, lavar com sabão e limão, abrir, destrinchar,
colocar na panela, esperar e começar a saborear.
Só que deu tudo errado. O diabo do frango quando eu pensei
que estava morto saiu feito um danado pelo apartamento afora, espalhando sangue
para todos os lados, Assim que o tive nas mãos, era hora de enfia-lo numa
panela cheia de água fervente e ai foi outra tragédia. O danado do frango ainda
não tinha morrido direito e deu aquela rabanada.
Foi uma lambança total e o pior: ter que ouvir a minha mulher
o tempo todo dizendo: “Eu falei que isso não ia dar certo! Eu bem que falei... Mas
você é teimoso! Podia ter comprado um frango de granja era muito mais fácil...”
Mulher fique quieta!!! Se eu gostasse de coisa fácil eu não
teria me casado com você!
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos
Nenhum comentário:
Postar um comentário