Uma coisa eu devo admitir: no meu time de aposentados tem
“nego” manso. Essas filas prioritárias, às vezes, me leva a pensar que não
foram criadas porque o idoso não aguenta ficar muito tempo de pé numa fila, mas
sim, porque quando ele chega ao caixa do supermercado, ou do Banco, numa
bilheteria ou em qualquer outro lugar onde tenha uma fila, ele não olha para
trás e como aposentado, está sempre procurando uma chance de puxar conversa,
especular, interrogar, bisbilhotar, tendo em vista a sua disponibilidade de tempo;
ai ele está sempre congestionando as filas.
Ontem eu estava na fila prioritária do supermercado e havia
três idosos na minha frente que monopolizaram o processo em mais ou menos meia
hora. O primeiro queria saber o nome da funcionária do caixa, de quem ela era filha, se era solteira ou se casada. Depois
tirou um cartão fornecido pelo próprio supermercado e não se lembrava do número
da senha e ai foi um custo. E eu ali, com uma cesta na mão --- atrás de mim um
velho não muito velho, resmungava: Holy shit ...
Veio o segundo e já começou perguntando à moça se era parenta
do Clemente funcionário do antigo Credireal. Estava lhe achando parecida com
uma filha de um amigo seu. Ainda lhe perguntou se era casada ou tinha filhos.
Pagou um pacotinho de caixas de fósforos com uma nota de 100 e ficou o tempo
todo justificando porque não teria trazido o dinheiro mais miúdo. E eu ali com
uma cesta na mão, ficando, cada vez, mais pesada e o cara atrás de mim
resmungando: But that
fucking!
Depois veio o terceiro. Esse então deixou o saco bem cheio,
principalmente pelo fato de estar na minha frente. Primeiro, ele reclamou de
estar muito tempo na fila. Alegava que o supermercado não tinha consideração
com os velhos; tinha que por mais caixas; tinha que ter mais respeito com os
idosos... E eu ali com uma cesta na mão, agora resolvo coloca-la no chão... E
atrás de mim o chato resmungando: More that fucking! E o cidadão da minha
frente continuava dizendo que o custo de vida está muito caro, que o dinheiro
dele só a farmácia come a metade... Dai elogiou os dentes da moça, dizendo que
ela tem um sorriso muito bonito... Não contente, falou do calor e da falta de
chuva... E eu ali com a cesta no chão e o
chato atrás de mim, resmungando: But that fucking. O velho, para ser
mais chato, ainda queria, porque queria ter informações técnicas sobre um
produto, e a moça do caixa mais perdida do que cego em tiroteio... E eu ali,
com o saco cheio, a cesta no chão e um chato atrás de mim coçando a minha
língua dizendo: But that fucking! E para finalizar o velho arrumou um banzé
sobre esta questão dos “99”. Dizia que os supermercados inventam esses preços
de 99 centavos, mas nunca lhes devolvem esse danado desse 1 centavo. Isso é
propaganda enganosa dizia ele. Depois saiu.
Agora era a minha vez... A moça do caixa com uma cara de quem estava
indo para um cadafalso, naturalmente, também, com a capanga cheia, pediu
licença e chamou uma coordenadora e saiu
apressada. E eu ali, com o saco cheio, a cesta no chão e um chato atrás de mim
coçando a minha língua dizendo: But that fucking!
A coordenadora vem, pede um minutinho e alega que a moça
volta já. Mas, voltou num minutinho?
Deve ter descarregado toda a sua produção de excremento do mês inteiro. Veio de
lá com uma cara de quem fez um cocô muito duro, ou então muito mole. Felizmente
agora era de novo a minha vez... Olhei para trás e disse para o cara, vou ser
prático... E ele com uma cara de merda diz: But that fucking... Essa frase,
também, já estava enchendo o saco,
quando uma senhora com perfil de curiosa, atrás dele, perguntou: “ o senhor esta
falando se tivesse uma faca?” O cara riu, se divertiu à custa da pobre velha e
se negou a traduzir.
A moça do caixa parecia ter tido uma baixa de pressão de tão
mole, um rosto meio desbotado de mulher que vai ser mãe. Na sua camiseta estava
escrito nas costas: “Funcionária em Treinamento.”
Fui rápido e em silêncio fui atendido.
Agora era a vez do cidadão que vinha atrás, quando a moça do
caixa de novo, pediu licença e chamou a coordenadora que veio e pediu mais um
minutinho... Ai o cara avermelhou-se e alto e em bom som, traduziu a frase: "Puta Merda".
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos
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