Eu como devoto de Santo Antônio, já pela terceira vez na
minha vida, nessas minhas mudanças de domicílio, sou levado a morar perto de
uma igreja do meu querido Santo Toinzinho, a quem me refiro com muito carinho.
Agora, estou morando próximo da sua catedral aqui em Juiz de Fora, onde ele é o
padroeiro.
Na Rua Santo Antônio, que passa pelo fundo da catedral tem um
barzinho onde eu costumo ir encontrar com uma pequena confraria de amigos da
mesma faixa de idade, onde discutimos o futebol antigo, as músicas antigas, os
costumes antigos, enfim tudo antigo como nós somos. A maioria da turma come é
banha de porco, ovos caipira, gosta de cachaça, pé de porco, não pensa em se
separar da mulher e quem ainda tem pai ou mãe, tios ou padrinhos, tomam a bênção.
Não vou contar o que eles falam do viagra porque senão fica feio. Mas nas
trocas de ideias cada um acaba sendo representante de uma doencinha. Contudo,
estão ali reunidos e tomando uma cervejinha, uma pinguinha e comendo um
rebatizinho. Parece que as coisas no sufixo diminuitivo “inho” ficam mais
leves.
Para chegar nesse local eu tenho que passar pelo adro da
Catedral, que representa uma grande área onde existem um estacionamento para
automóveis; dois velários onde os fieis colocam velas para queimar; uma gruta
de orações e um tipo de chafariz de cimento onde as pessoas lavam as mãos;
moradores de rua fazem uso para encher as suas garrafas etc. Enfim, trata-se de
uma área que fica bem movimentada com a chegada da noite, com pessoas
transitando e visitando a catedral.
Ontem, ao anoitecer eu passava de volta pelo local e deparei-me
com um quadro inusitado. E como meus olhos não são cercados, eu dei uma
paradinha para apreciar a tranquilidade de uma pequena família que se banhava
naquela bica. Um homem, uma mulher e uma criança de uns oito ou dez anos, com
características de nordestinos recentemente chegados à cidade. O pai da família
de média estatura, contando uns trinta anos mais ou menos, cabelo e barba bem
aparados, camisa azul claro e calça jeans. A mulher com uma bermuda azul; blusa
amarela, cabelos curtos, corpo chamativo e olhar reservado. A menina com
aparência de ter sido modelada na mãe; bastante parecidas. --- Que Deus me
perdoe, mas quando vi aquilo eu fiquei parado a uma média distância para
observar a tranquilidade humana.
O homem com uma marmita vazia colhia a água na bica do
chafariz e no corpo sem camisa se banhava como se banham os passarinhos. Via-se
que a sua preocupação maior era com os sovacos peludos; fazia isso enquanto era
aguardado pela mulher e a filha. Depois abaixou as calças e com um pano molhado
o fez passear por dentro de uma cueca tipo ceroulas. Terminado o seu banho foi
a vez da criança. A mãe veio com um pano molhado enfiava por dentro do vestido
da menina atingindo todas as partes. --- Finalmente chegou a vez da mulher. Ai
foi a melhor parte, porque a assistência teria aumentado, já não era só eu, e
eles não estavam nem um pouco preocupados. Estavam como atores numa filmagem
muito séria.
A mulher esticando o cós da bermuda enquanto o marido vinha
com a marmita cheia de água e jogava nas suas partes íntimas e assim ela as
esfregava como se estivesse passando por uma coceira. Parece que a genitália da
patroa estava carente de asseio. Logo ela tirou a blusa e ficou só de sutiã e
por dentro deste, passava a mão molhada.
Finalmente os três banhados, rostos lavados, roupas molhadas,
cabelos molhados e penteados, fresquinhos, colocaram a marmita no saco e desceram
tranquilamente a via dentro do adro da catedral, como se estivessem saído da
piscina de um hotel 5 estrelas, quando se ouvia o homem dizer: “Agorinha mesmo
nois tá tudo inxutinho”.
--- Nisso, dois
rapazes que haviam presenciado tudo de dentro de um carro estacionado pouco
acima, cantarolavam numa alusão a música de carnaval de Dercy Gonçalves:
"A perereca da vizinha agora ficou lavadinha, bem lavadinha,
bem lavadinha"!
E eu descia a via e refletia: Viver é uma arte!
Armando Melo de Castro
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