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quinta-feira, 26 de julho de 2012

UM BANHO DE BARBATIMÃO.

 Barbatimão
O carvão vegetal, obtido com a queima da madeira, é uma das fontes de energia mais usadas. O Brasil é responsável por quarenta por cento da produção mundial de carvão. No consumo doméstico, é usado para aquecer churrasqueiras, fogões ou lareiras. Na indústria, o carvão vegetal é usado como combustível. Pode ser, também, usado como um produto medicinal. Para tal é extraído de uma forma diferente, um tipo de queima incompleta em que se usam madeiras isentas de resina. É o chamado carvão ativado com poderes fototerápicos.

Atualmente, os defensores e a consciência do meio ambiente vêm combatendo, assiduamente, a produção de carvão vegetal. De outra forma, as leis atuais têm rigoroso controle sobre a produção desse tipo de combustível porque ele é um devastador da natureza. Nos dias de hoje, quase já não se produz carvão com madeiras nativas e sim com o plantio de eucalipto.

Antigamente, quando não havia o gás de cozinha, a lenha era usada nos fogões e o corte de madeira não tinha nenhum controle. Em Candeias havia grande produção de dormentes, lenha e carvão para sustentar a ferrovia. Sendo o carvão vegetal um tipo de coque, tinha dupla serventia nas siderurgias de ferro-gusa.

Com o aumento dessas indústrias, na vizinha cidade de Divinópolis, o carvão passou a ser uma grande fonte de renda na região. Existiam muitas das chamadas carvoeiras, com a construção de enormes fornos e picadas de matas e cerrados até que chegaram o gás de cozinha, o óleo diesel para as máquinas e as leis para inibir o desmatamento desenfreado. Havia quem comprasse todo um terreno com o objetivo de tirar a lenha, sem nenhuma obrigação de reflorestamento ou se havia, não era cumprido.

Nesse clima, aparece, em Candeias, o João Carvoeiro, entre outros, que aqui vieram para explorar o comércio de carvão vegetal. João era um cidadão de porte médio, contando uns quarenta anos de idade, mais ou menos. Boca grande e cheia de dentes, nariz empinado, cabelo amarelado, barba mal feita, cabeça coberta por um chapéu de aba larga, surrado pelo sol e pela chuva. Ficava a semana toda lá pelos lados do Bugio e chegava a sua casa aos sábados, à tarde, montado em um cavalo pangaré que ficava, quase sempre, amarrado à porta de sua casa, na Praça Geraldo Cândido da Costa. Às vezes, seu cavalo era visto pastando ali por perto o capim-marmelada muito abundante nas ruas de Candeias quando essas não tinham calçamento.

João chegava cheirando o suor misturado com carvão de uma semana toda. Tomava o seu banho de sábado, trocava de roupa e ficava parecendo outra pessoa. Quando entrava na venda, saía somente na hora que esta estivesse para fechar e quando já se encontrava bem turbinado. Bebia e pagava para os outros. Portanto, onde ele estava era vista, também, a turma do serrote. Aos domingos, logo de manhã, já começava a mamar o leite que gato não bebe. E não havia ninguém mais chato, mais abominado, mais rançoso, mais aborrecível, do que ele!... Aguentar o João Carvoeiro tonto era um martírio para qualquer dono de bar. Entretanto, ele gastava e gastando os donos de botecos toleram quaisquer gambás.

Pai de duas mocinhas adolescentes. Ambas bonitas e parecidas com a mãe, uma mulata gostosa e vistosa que esticava o olho de muito homem por onde passava. O Antonio do Orcilino, açougueiro, que era um garanhão das ruas de baixo, ficava feito um faisão enfeitado quando ela chegava com a sua voz doce, macia e dizia: “Sô Antonio, eu vou querer uma capinha de costela”. E o Antonio, com aquele seu olhar sorrateiro, quase sentia um orgasmo e, quando ela saía, ele dizia suspirando: “Ê, Muié! Minha vontade era de te dá a minha custela todinha procê mordê!”. Os demais homens presentes olhavam com a testa e lambiam com os olhos.

João chegava a sua casa nas tardes de sábado. Tomava banho e logo saía. Entrava em um bar e bebia até se embriagar. No outro dia, de manhã, voltava para o bar, bebia, até na hora do almoço. Almoçava e logo pegava o cavalo e voltava para a sua carvoeira. Nessas alturas do campeonato, deixava uma mulher bonita, carente de carinho, carente de amor, e por que não dizer carente de sexo? E havia quem dizia: “Essa mulher é um bife na boca de um cachorro”.

Até que um dia, João Carvoeiro, talvez desconfiado, chegou de madrugada a sua casa quando flagrou um cidadão fazendo as honras da sua cama. Era o Gentil de Souza, conhecido como o consolador das mulheres carentes. E aí, o pau comeu. Gentil teve que sair correndo daquele local enquanto João tentava carregar uma espingardinha pela boca do cano.

A mulher foi dispensada da família sobre uma saraivada de palavrões, mas continuou dentro de casa. E mais tarde, lá no bar do Edmundo Simões, o João comentava:

----Agora, ocêis vê qui disaforo. Eu trabaiano feito um burro lá no mato e a mula sorta aqui na cidade. Pra mim a vaca negava o buraco da cobra. Aí, eu discunfiei. Eu num sô bobo.... Antes, ela vivia no cio. Chegava a me atentá. Agora, ficava fazeno cudoce! Eu num sô bobo. Eu fiquei mais discunfiado foi dispois que me pidiu uma casca de barbatimão. Aí, eu fiquei cabrero e pensei: tem boi na linha. Essa égua tá quereno agradá o jumento com um banhozinho de barbatimão! Pra mim nunca teve barbatimão!... Se eu num tô cumeno a fruta, vai lavá e apertá ela pra quem?!, Uai!Pensei cumigo: Esse trem tá muito isquisito e fiquei pensano!!!???? Eu pego essa cadela!...E pegueiiiiiiii!

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos
























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