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terça-feira, 24 de julho de 2012

A VIDA E A MORTE

                          Parte da equipe de enfermagem            
É noite. Encontro-me no Hospital Nossa Senhora Aparecida na cidade de Luz. Estou junto de minha mulher que acompanha ansiosa o estado de saúde de sua avó, Elza Silva Vieira, hospitalizada em estado grave no apartamento 119. A paciente sofre. Ela grita fazendo uma corruptela com o nome de sua filha, Áurea e a palavra ai... “Aureai!” Aureai! E isso se repete. Daí a pouco, a porta se abre cautelosamente com uma descrição quase caridosa e aparecem como dois anjos de branco duas enfermeiras. Elas vêm amenizar a dor daquela paciente que trás no rosto a palidez de uma vida presa por um fio. O quadro parece um ringue onde a vida luta contra a morte, desesperadamente. Contudo, nesse quadro de dor já se conhece o vencedor. A ciência já foi vencida. A esperança já não existe e a vida desprotegida, pelos 88 anos, está para receber um nocaute da morte. Resta apenas esperar o desenlace fatal. É triste! É muito triste! Todavia, estão aí os desígnios de Deus. E um quadro desses merece uma reflexão.

É tarde da noite. Ouvem-se passos das enfermeiras nos corredores. Elas vão e vêm. Levam e trazem aquilo que a ciência inventou para enfrentar a morte e aliviar a dor humana. E quando em quando, se escuta um ruído de porta se abrindo. É a portaria recebendo alguém em busca de socorro. Ouve-se, às vezes, um choro quase surdo de uma criança. Resolvo sair um pouco. Vou até ao corredor. Por ali, há uma capela. Alguém chora e reza por alguém. Rezo também. Peço a Mãe de Cristo para dar alívio àquela alma que assisto. Saio, dou uma volta pelo corredor. Vou até à portaria. O porteiro navega pela internet. De repente um chamado. É um peão de rodeio que chega machucado. Trata-se de um jovem que desafiara a morte um pouco antes, na festa de rodeio que acontece na cidade. Penso: Meu Deus! Quantos que lutam pela vida para se salvarem e esse jovem debulhando a sua juventude no lombo de um cavalo bravio?! O quadro me assusta. Volto ao corredor que me leva aos fundos do edifício. A área verde que cerca o hospital tem as suas árvores sossegadas. Parece que os passarinhos pediram silêncio. De longe, o ruído meio apagado da festa de rodeio dá sinal de vida. Enquanto por aqui, tudo parece quase morto.

É madrugada. O sofrimento persiste. É Dona Elza entre a vida e a morte. De novo, abrem-se as portas, vagarosamente, com uma cautela piedosa. São os anjos brancos que estão sempre voltando, trazendo apenas o calor humano, entregando aquilo que o dinheiro não compra em um leito de hospital: amor e piedade. Porque a ciência já desistiu. A vida e a morte ali, agora, estão na balança de Deus. Uma é a medida e a outra é o peso. Agora, o silêncio é maior. Apenas se ouve os passos das enfermeiras indo e vindo, atentas ao sofrimento humano.

Amanhece o dia. O silêncio se foi e veio a inquietação. A cantineira passa distribuindo café nos quartos. Outros passam levando instrumentos hospitalares, roupas, para trocar as camas. Enfermeiras e enfermeiros se cruzam nos corredores. Da capela, sai o Ministro da Eucaristia para fazer o seu trabalho religioso, inclusive, distribuindo o pão sagrado. O médico, Dr. Aristides, examina Dona Elza. Com a lucidez de sua experiência diz: como é forte este coração! E as enfermeiras do turno da noite agora saem com destino às suas casas. Vão descansar para depois voltar e dar continuidade a difícil missão que Deus lhes concedeu.

Hospital N.S.Aparecida - Luz Minas Gerais. 


Através do poema de Ary Bueno, eu quero homenagear todas as enfermeiras lotadas no Hospital Nossa Senhora Aparecida, da cidade de Luz, Estado de Minas Gerais.



O ANJO BRANCO

Em meio ao sofrimento, a tristeza e a dor
Surge um anjo de branco espalhando esperança e amor
Com carinho trata a todos que dela necessita cuidado
Sempre com um sorriso nos lábios, apesar do semblante cansado

Pois às vezes vara noites e noites, cuidando com ternura o paciente
Que devido às dores ao sofrimento, se torna irritado, impaciente
E ela com doçura e educação, procura ao mesmo aliviar sua dor
Aplicando o medicamento com cuidado, com desvelo e com amor

É você, bela enfermeira, que sempre esta prestando socorro ao doente
Está cuidando de todos, evitando que o mal se agrave no paciente
Mesmo com os problemas inerente a toda família sua, que pode estar sofrendo
Ela alivia da forma mais humana e carinhosa, o sofrer de quem está quase morrendo

Nunca esmorece no seu trabalho cotidiano, corre pra lá e pra cá, sem parar
A todos procura medicar na hora certa, e com carinho todo seu trabalho realizar
Por isto que és abençoada por Deus, de quem você com certeza é uma extensão

Pois cabe tantos e tantos doentes, e você com carinho os carrega no coração
E se por acaso algum venha, por força da doença, e do destino a morrer
Você chora, se entristece, e junto com a família também ficas a sofrer

Por isto está profissão, é tão bonita, tão cheia de ternura e de calor
Pois a enfermeira traz dentro de si apenas... RENUNCIA TRABALHO E AMOR.

NB) Dona Elza Silva Vieira faleceu no dia 14 de julho de 2012.

Armando Melo de Castro
Candeias MG casos e acasos



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