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quarta-feira, 4 de julho de 2012

O VENDEDOR DE BROAS.

BROA DE AMENDOIM.


A broa é um alimento difícil de ser definido. Em cada ponto do Brasil, é conhecida por nomes diferentes. Para uns, é pão redondo; para outros, é um tipo de biscoito. Há quem diga que a broa é um bolinho. Em Candeias, a broa é considerada uma espécie de quitanda e pode ser encontrada entre várias receitas de sal ou de doce. Qualquer quitanda que seja do formato de uma bolacha redonda pode ser chamada de broa.

 O dicionário do Aurélio define a broa como pão arredondado, feito de fubá de milho ou de arroz, de cará, de polvilho, etc. e ainda como uma pessoa gorducha. No dicionário chulo, há quem diz que broa é sinônimo da vulva feminina.

Em Candeias, pode ser encontrado com facilidade um tipo de broa não muito comum no mercado. É a broa de amendoim. Eu, por exemplo, nunca a vi em padarias de outros lugares. Não conheço a receita, sei apenas que é muito gostosa e tradicional nas padarias e quitandeiras candeenses.

No meu tempo de criança, não havia calçamento e nem jardins no centro da cidade. Uma linha de postes de iluminação pública cortava o chamado Largo. E, no local onde se encontra, atualmente, o coreto havia um poste com duas luminárias. Ali, era o ponto vigoroso da cidade, principalmente, nos fins de semana, com as atividades da igreja, dos dois bares que existia (um no sobrado da esquina e o outro ao lado do cinema). Normalmente, nos fins de semana, havia duas sessões de cinema no Cine Círculo Operário São José. Naquele tempo, não existia a televisão e poucos eram os rádios. Sair à tarde e ir para o Largo era um hábito de grande parte da população.

Debaixo do poste, acima citado, estava sempre um senhor magro com rosto miúdo, de chapéu de lebre, camisa surrada, mas, bem cuidada, abotoada até ao colarinho que escondia o gogó. Um bigodinho fino orlando o lábio superior, rosto bem escanhoado, vestindo calças bem frisadas e com as botinas bem engraxadas. Sob a luz do poste, aguardava os fregueses que vinham lhe comprar as famosas broas de amendoim que eram feitas por sua esposa. Em suas mãos, estava o tabuleiro cheio de broas, cobertas por uma toalha bem alvejada, demonstrando, pelo porte do produto e do vendedor, um extremo capricho e asseio pela esposa daquele homem.

Entretanto, mais do que a qualidade das broas e a higiene da esposa do quitandeiro, ênfase maior havia de ser observada na postura daquele cidadão humilde, no seu jeito de trabalhar. Gostava de falar ao pé da letra e, diante da sua simploriedade, a rapaziada nadava e rolava, colocando maldade no seu palavreado. Sem, contudo, deixar de comprar o delicioso produto. Todavia, havia sempre alguém puxando a conversa:

----Como vai o senhor, Sô Juca?
----Na paz de Deus Pai, Deus Filho, vou bem, obrigado!
----E a patroa? Como vai?
----Com aquelas coisas de mulher, mas, felizmente, vamos levando na Graça de Deus Pai e Deus Filho.
----Tem vendido muitas broas?
----Sim, na Graça de Deus Pai e de Deus Filho, tenho vendido todas. Tenho voltado sempre para casa com o tabuleiro vazio.
----É o senhor mesmo que faz essas delícias?
----Não, senhor! Essas deliciosas broas são obradas pela minha senhora. Ela aprendeu com a minha sogra e a minha sogra aprendeu com a mãe dela. A fabricação de broas na família de minha mulher vem de longe. Todos nós somos chegados a uma boa broa.
---Faz muito tempo que o senhor vende a broa da patroa?
---Desde que vim para Candeias. Há uns dois anos, mais ou menos. E, Graças a Deus Pai e a Deus Filho, eu suponho que grande parte do povo candeense já conhece a deliciosa broa da minha mulher.

Zé da Zenóbia, irmão do Mozar da Padaria, pai do Bola, era rapaz novo e um dia estava com umas pingas na cabeça e tomou um papo com o Sô Juca:

---Oia, aqui, Sô Juca! Eu quero comer a broa da sua muié é lá na sua casa! Cumé qui fica?!

---Como é que fica?Vai ser o maior prazer servir o senhor na minha residência! Agora, escuta aqui, Sô Zé, acredito que o senhor não está falando com má intenção, não é? Um dia desses esteve aqui um filho de mulher da vida, um desses filhos que não conheceram o pai... e na conversa ele misturou broa com babaca. Acontece que a minha esposa é uma senhora de respeito! E aquele que faltar com o respeito com ela eu o entrego de mão beijada para o diabo, lá nos quintos dos infernos.

E o Zé, meio assustado, e com uma voz meio pastosa disse logo:

---Que isso, Sô Juca?! Eu to é brincano. Eu nunca cumi broa não. Meu irmão tem padaria e eu num guento nem vê o chero de broa .Agora, babaca! Eu nem sei o que é isso!?
---Então, o senhor está apenas me atordoando?!... To Vendo!...

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos
                                             





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