Entre os meus maiores amigos o que ao conta-los com os dedos das mãos sobraria dedos, o mais importante deles era o meu pai, José Delminda. ---- Somos uma prole de seis irmãos, sendo eu o mais velho, depois de mim vieram três meninas e depois delas que vieram os outros dois homens. Parece que isso favoreceu para o meu agarramento com o meu pai. Minha mãe chegou a apelidar-me de rabo. Isso porque onde o meu pai punha o pé, eu punha o nariz. Sem mencionar o amor natural entre pai e filho, eu posso exaltar, também, a nossa grande amizade e o diálogo que existia entre nós.
Às
vezes eu fico recordando como o meu pai me dava tanto papo, sendo eu ainda uma
criança. Com os outros eu me considerava um menino bobo, calado, vergonhoso ou
tímido, sei lá, mas com o meu pai o papo era aberto. Dava para a minha mãe
dizer:” Cê vai por esse menino perdido Zé”. Minha mãe não entendia a nossa
amizade. O tempo me levou a pensar que ela tinha até um pouco de ciúme.
Lembro-me
de ver o meu pai rindo quando eu lhe fazia algumas perguntas. E ele me
respondia atentamente nos mínimos detalhes. Me ensinava as coisas consideradas
erradas para não as aprender na rua.
Na
esquina da Rua Professor Portugal, com a Rua Coronel João Afonso Lamounier,
onde hoje se encontra o Bar da família do Vicentinho Vilela, tinha ali a venda
do Zé Lara, próximo de nossa casa, ali era o ponto predileto do meu pai tomar o
seu aperitivo e bater papos com os amigos. E eu ali junto escutando as prosas,
mas não falava sequer: “Essa boca é minha”. Depois dali era hora do
questionamento. Meu pai tomava uma ,, pedia ao Zé Lara um outro copo, colocava
um pouquinho no copo e passava para mim com a seguinte recomendação: “ Olha
aqui meu filho, ou estou ensinando a você a beber certo, para não aprender na
rua. Às vezes ele tomava um copo de vinho, e a minha pequena dose era servida
sempre com o mesmo ritual.
Um
dia eu perguntei para ele após sair da missa:
Pai, o que é que o padre bebe naquele copo bonito, com uma boca tão boa, dá até vontade na gente beber um golinho. Meu pai riu e disse: Aquilo é um vinho bento. Aí então, eu queria saber qual era o gosto do vinho bento, se não era igual aquele que a gente bebia la na venda do Zé Lara. E queria que ele comprasse do vinho da igreja para ficar bento.
Quando
o Zezé meu irmão nasceu eu queria saber como chegava um neném na casa da gente
e quem o trazia e como era.--- Dessa vez ele me enrolou e disse que era a
Cegonha, uma ave muito grande. Eu quis saber detalhes desse transporte e meu
pai prometia a me explicar quando eu tivesse maior. E cumpriu a promessa.
Uma
galinha de pinto, apareceu depois de ter chocado os ovos, e eu então queria
saber como que um ovo virava pinto. E o que o galo fazia para ser o pai. Meu
pai então explicou detalhadamente, quando eu contestei, se os neném que vinha
para as mulheres vinham era filho da cegonha ou se a mãe do nenê botava um ovo
grande. Eu deixava o meu pai muitas das vezes numa sinuca de bico.
Certo
dia quando íamos passando próximo do Correio, que ficava ao lado da Casa da
Elda Riani, eu vi aquele home com aquele baita saco nas costas e fiquei
admirado com o tamanho do saco. Perguntei ao meu pai o que aquele homem
carregava naquele saco tão grande, e meu pai então me explicou que ele era
empregado dos correios, que levava as cartas para o trem na estação e buscava
para o correio. O nome dele era Joaquim Estafeta. --- Passado algum tempo,
quando nós saímos do Candeense Hotel, o Joaquim Estafeta vinha saindo da Rua
Coronel Marques, carregando o seu baita saco e eu mais do que depressa disse:
Pai, oi lá o homem do saco grande. E o saco dele hoje tá bem cheio.
Meu
pai ria e eu nunca sabia onde estava a graça.
Armando
Melo de Castro.
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