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sexta-feira, 21 de abril de 2023

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO EM CANDEIAS.


Eu vejo hoje o comportamento das pessoas numa sexta-feira da paixão, e fico pensando o quando era diferente no meu tempo de criança em Candeias. Era muito diferente! O comercio todo fechado, nem as farmácias tinham plantão no dia de hoje. --- Certa vez o Lelei da Maria do Juca, que tinha um bar com jogo de sinuca no sobrado, onde hoje se encontra um escritório de contabilidade, ele abriu o seu bar na sexta Feira da paixão, tomando certos cuidados. Ele amarrou os tacos sobre a mesa de sinuca, o que significava que naquele dia não haveria jogo; escreveu um aviso de que, também, não serviria bebidas alcoólicas. Mas como a sua mãe era quitandeira, as vitrines estavam cheias de biscoitos, bolos etc. Um pequeno fogareiro onde estaria coando café. --- Aliás, seria até uma contribuição com a festa, porque o seu bar ficava muito próximo da igreja Matriz e muita gente vinha das roças e não tinha como comprar ou tomar um café ou comer alguma coisa. --- Mas quem viu o Bar do Lelei aberto, naturalmente se lembrou de que era uma sexta-feira santa apenas para mostrar o seu egoísmo, a sua falsa fé, pois saíram excomungando o comerciante que a bem da verdade não estava faltando com o respeito.

Candeias nesse dia era um dia morto, não se ouvia o tocar dos sinos, apenas as matracas pelas ruas e o grito dos meninos vendendo velas com o bordão: “ Olha a vela, quem tem cobre compra ela quem não tem fica sem ela.” As velas mais solicitadas eram umas velas amarelas de pura cera, fabricadas pelo Sr. Nelo Gianasi, que tinha uma produção de mel de abelhas. --- Não se ouvia nenhum sinal de rádio ligado. Nesse tempo, quem tinha um rádio o deixava no ultimo furo do som, para a vizinhança escutar. Rádio era um produto de gente rica ou de boa renda. Era um dia muito triste sem nenhum sinal de alegria. As pessoas em grande parte jejuavam nesse dia. E para os que não jejuavam produtos com carne e ou os seus derivados, era como veneno. Os açougues durante a quaresma praticamente não funcionavam. --- Eu obedecia a todas essas regras ensinadas pelos meus pais e pela catequista Maria Brasileira, neta do Padre Américo Brasileiro.

Há muitos anos não passo uma sexta-feira santa em Candeias. Não sei se lá acompanhou as evoluções que houve nesse sentido. Mas por mais que tenha mudado, podemos notar que ainda existem pessoas que cumprem a tradição, não comem carne durante a quaresma e a sexta feira santa é o dia santo mais guardado do ano. Esse, portanto, é um costume exclusivamente dos católicos. Entendo que naquele tempo em Candeias havia apenas a Igreja Católica, e a Semana Santa é um evento católico que os evangélicos e outros segmentos religiosos não experimentam. Mas com a evolução dessas outras religiões a Semana Santa não tem mais o mesmo perfil do passado. Para os evangélicos que fazem referência a um grande número de brasileiros, e hoje estão espalhados por todos os cantos do Brasil, a Sexta Feira Santa é um dia como outro qualquer.

Essa questão de não comer carne na quaresma e na Sexta Feira Santa é uma cultura católica. Temos observado uma evolução em que estamos vendo o comercio de carne durante a quaresma, porque com o crescimento das outras igrejas, especialmente dos evangélicos, essa cultura passou a não ser tão fechada. Certa vez eu estive conversando com um pastor regional, de uma igreja evangélica e ele no seu comentário me disse que essa história de não comer carne em abstinência religiosa é um desencontro com a Bíblia, pois o próprio Jesus Cristo disse que o que entra pela boca não faz mal, o que faz mal é o que sai dela. Percebi, naquele momento, que realmente, religião não se discute.

Para muitos, inclusive católicos, a proibição de se comer carne na sexta-feira caiu em desuso. Contudo, para grande parte dos católicos continua valida e no seu vigor. Isso trata-se de uma prática secular e não vai ser descartada assim de um ano para o outro. Essa prática pode levar o cristão a alcançar a virtude definida pelo catecismo, que os católicos acompanham desde a infância.

Existem pastores cristãos que pregam em seus púlpitos referindo-se ao que disse o Santo Católico, São Tomás de Aquino, que o jejum estabelecido pela Igreja Católica foi para reprimir o exagero da carne, cujo objetivo são os prazeres sensíveis das relações sexuais, dando a entender de que os católicos trocaram uma noite de prazer sexual por um bife. --- Lamentavelmente essa teoria de alguns pastores, bate de frente com a filosofia de São Tomaz de Aquino. E ao ouvir tamanha aberração, devemos buscar o verdadeiro conhecimento de que São Tomas de Aquino fez sim referência ao sexo, mas incluía, também, os prazeres da mesa.

Finalizando entendo que não comer carne na Sexta Feira Santa, é um princípio que está arraigado no coração de muitos cristãos. A meu ver, isso é um gesto maravilhoso. uma das formas de manutenção da fé no nosso tão querido Salvador. É a certeza da ligação com o Espírito Santo. É poder falar com certeza que ama Jesus Cristo.

Armando Melo de Castro.

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