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sexta-feira, 21 de abril de 2023

REMINISCÊNCIAS CANDEENSES.


A Semana Santa tem início no Domingo de Ramos. Esse dia é muito importante porque é a celebração da entrada de Jesus Cristo em Jerusalém, quando o povo o recebeu com ramos de palmeira aclamando-o como o Messias. Nessa semana é quando os católicos comemoram os mistérios da salvação recordando a ultima semana de vida de Jesus Cristo, crucificado na Sexta-Feira e morte, finalizando no Domingo da Ressureição.

No meu tempo de criança e adolescência em Candeias a Semana Santa era agitada. Aquela cidadezinha parada, onde rolava pouco dinheiro, nessa semana era bastante movimentada. Nesse tempo a zona rural também era bastante habitada, os fazendeiros tinham as suas casas fechadas na cidade e apareciam sempre de um dia para o outro, quando vinham fazer compras ou em casos diferentes, como casamentos, doenças, batizados etc. No mais aquelas casas ficavam fechadas quase sempre e muitos vinham para passar uns dias apenas no fim de ano para assistir a missa do galo, uma missa que começava a meia noite. Isso fazia com que Candeias ficasse acordada a noite toda. Outra oportunidade em que a cidade aumentava a população era festa do Congado.

Contudo, a festa que deixava a nossa Candeias mais agitada, quando a população até dobrava, era a Semana Santa. --- O povo da zona rural não participava da vida da cidade como nos dias atuais. Mas na Semana Santa, eles eram fieis com a participação. --- E nessas oportunidades o comercio dobrava as suas vendas, os vendedores de rua aumentavam e o dinheiro circulava muito mais na nossa pobre Candeias.

A procissão da Sexta-Feira Santa, acontecia da ponta dela, a cruz processional, estar na praça da bandeira e o final estar ainda saindo da porta da Matriz. E poderia ver muito mais gente naquele tempo de que nos dias atuais. As pessoas superlotavam a antiga Igreja Matriz e muitos ficavam do lado de fora, até mesmo numa cerimônia simples. Imaginemos , então numa Semana Santa? --- Naturalmente isso inspirou o Monsenhor Castro a construir um igreja bastante espaçosa como a atual Matriz de Candeias.

O calor era demais em meio ao tamanho da aglomeração. Não existiam ventiladores na igreja. E devemos admitir que nesse tempo, como as atividades numa cidade como Candeias eram bastante reduzidas, as pessoas que vinham para assistir a festa, tanto das roças como de outras cidades para se encontrar com a família, não perdiam nada e a Igreja era muito movimentada.

Mas em meio a todo esse evento em que a população se multiplicava, nesses dias, um problema surgia. Como fazer uma necessidade fisiológica no caso dessa necessidade surgir na hora que a pessoa estivesse lá dentro da igreja naquele sufoco? Ou na rua onde não existia banheiros públicos? Os idosos consequentemente com problemas de próstatas que os faz necessitar de um banheiro... As pessoas com incontinência urinária... Ou aqueles que com a alteração da alimentação, por ter saído do seu ritmo normal, tenha conseguido um desequilíbrio intestinal? ---- As pessoas mesmo sabendo desses problemas se arriscavam e não deixavam de ir até mais cedo para obter um local nos bancos.

Nesse tempo não existiam essa modalidade de banheiro público. O único bar que tinha um banheiro era o Bar Piloto. Mas era um banheiro tão sujo, que parecia que havia 50 anos que não era lavado. Só entrar nele, já saia fedendo. Os homens, principalmente os mais jovens ainda se remediavam com essa única opção, mas os idosos, e as mulheres? E o povo desse tempo não usava fazer como se faz hoje, urinar na rua descaradamente.

Raríssimas eram as casas que existiam banheiros com descarga d’água. Eram latrinas no fundo dos quintais. Muitos nem isso tinham; e era muito comum o uso de penicos. Agora imaginemos a cidade com todo aquele movimento... Comumente saia alguém “mijado” da igreja ou até mesmo “cagado”. E a gente nunca ouvia alguém falar que na igreja deveria ter um banheiro. Isso era uma coisa inimaginável, impensável, igreja ter um banheiro.

Quantas vezes nós vimos o Osmar da Sota, o dentista, que era Congregado Mariano dos mais fervorosos sempre com a sua fitinha azul claro no pescoço. Na hora de começar a missa ele chegava no lugar do Padre Joaquim (Posteriormente Monsenhor) e dizia: “Gente hoje o nosso querido padre Joaquim não está passando bem, portanto nós vamos fazer aqui a nossa oração comunitária e puxava um terço.

Às vezes no mesmo dia, a gente via o Padre Joaquim, fumando o seu cigarrinho, da marca Columbia, bem tranquilo a porta da casa paroquial. Talvez, por esse motivo de não ter um banheiro sequer para o padre, na igreja, quando o padre faltava com o compromisso da missa. não faltava quem dissesse:

O Padre Joaquim hoje não celebrou missa, deve estar de caganeira.

Armando Melo de Castro.

 


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